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Em 1922, o PCP apenas iniciara a sua edificação. Apesar do enorme prestígio da revolução russa e de Lenine entre as massas exploradas, os progressos do Partido eram lentos. Havia só algumas centenas de membros e a organização de base limitava-se a umas escassas dezenas de “comunas” por freguesias. Não existiam células de empresa. O órgão central do Partido, “O Comunista”, não saía regularmente. Era grande a confusão política no Partido, abalado em 1923 por uma aguda luta interna que obrigou à intervenção da Internacional Comunista.
No meio destas difíceis condições os militantes operários do Partido realizavam um trabalho tenaz e paciente de implantação nas massas e no movimento sindical. Escorraçados pelos anarquistas das assembleias e manifestações sindicais, atacados como “ditadores que queriam meter a política no movimento operário”, os comunistas progrediam apesar de tudo, pelo apego que punham na defesa das reivindicações operárias e na ligação entre a luta económica e a luta política.
Para a conquista da simpatia e da confiança da classe operária contribuiu o apoio exemplar dado pelo Partido à greve dos mineiros de Aljustrel que se prolongou por oito meses. Também entre os assalariados alentejanos alastrava a influência dos comunistas, devido ao seu bom trabalho na luta por melhores jornas.
É no ano de 1923 que a actividade sindical do Partido começa a ganhar consistência. São criados núcleos sindicais revolucionários junto de diversos sindicatos. Em Julho é formada a organização dos partidários da ISV (Internacional Sindical Vermelha, com sede em Moscovo) que lança um manifesto assinado por 21 activistas sindicais. Em Novembro começa a publicar-se o órgão dos partidários da ISV, “A Internacional”, dirigido por João Pedro dos Santos, operário do Arsenal do Exército.
Graças a este trabalho, os frutos começam a surgir no ano seguinte. Quando dum referendo realizado pela direcção da CGT em Setembro, 6 sindicatos pronunciam-se pela filiação na ISV. Embora representando ainda apenas 5 por cento da massa sindicalizada, são já uma base segura da influência do Partido. Entre esses sindicatos de vanguarda avultam os dos Arsenais da Marinha e do Exército e o dos Transportes.
Mas a luta para ganhar o movimento sindical não tinha que vencer apenas as fraquezas do Partido e a guerra aberta dos anarco-sindicalistas. Dentro do próprio Partido manifestavam-se incompreensões e tendências oportunistas que travavam a acção sindical. Essas tendências estavam instaladas na direcção do Partido e eram representadas pelo seu secretário-geral, José Carlos Rates, mais tarde expulso do Partido. Os direitistas, impressionados pela aparência invencível do anarco-sindicalismo, pelo seu controle do movimento operário, não viam perspectivas na luta pela conquista das massas. Não se apercebiam de que o anarco-sindicalismo já falira como corrente dirigente do proletariado, porque demonstrara ao longo dos anos não ter qualquer alternativa revolucionária real para a situação. Sustentava-se só pela tradição, pelo domínio do aparelho sindical e pelo nome de velhos militantes, mas estava politicamente maduro para ser derrubado.
Esta falta de perspectiva levava os dirigentes oportunistas do Partido a substituírem o trabalho de conquista das massas por acordos de cúpula e ligações aos oficiais golpistas. Em Outubro de 1923, J. C. Rates propõe no “Comunista” a frente única proletária através dum pacto PC-PS-CGT, pacto que não tem qualquer concretização, como era de esperar. Em Dezembro, a direcção do Partido envolve-se num golpe militar radical…
Foi na luta contra estas posições oportunistas, na luta abnegada à cabeça dos trabalhadores, que o Partido encontrou o caminho da vitória sobre o anarco-sindicalismo e conquistou a direcção do movimento operário e sindical.
Inclusão | 30/09/2016 |