A Vida de José Gregório: Exemplo para os Comunistas
História do PCP e do Movimento Operário (7)

Francisco Martins Rodrigues

22 de Março de 1978


Primeira Edição: Publicado no jornal Bandeira Vermelha nº 114 de 22/3/1978
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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A 19 de Março de 1908, faz agora 70 anos, nascia na Marinha Grande José Gregório, o camarada “Alberto”, grande figura de revolucionário, um dos mais destacados dirigentes que até hoje conheceu o movimento comunista em Portugal.

Operário e filho de operários, começou a dura vida da fábrica aos 6 anos de idade, como era norma nesse tempo. Aos 14 anos, já encabeça uma greve de aprendizes na Companhia Industrial Portuguesa. Vivia-se então a desagregação da República, a passagem da grande burguesia para o campo fascista e a crise do movimento operário sob a influência desastrosa do anarco-sindicalismo. O jovem José Gregório forma-se na luta como um operário combativo, reflectido, entusiasta da revolução soviética e do leninismo.

Quando a crise económica lança sobre os ombros da classe operária da Marinha Grande o fardo do desemprego e da sobreexploração, José Gregório revela-se como um dirigente sindical enérgico e incansável. Trabalhando na construção de estradas no pinhal de Leiria, dirige com António Guerra uma paralisação seguida de manifestação na vila, que põe a burguesia local em pânico. Logo depois estará à frente da greve na fábrica dos Roldões, que se prolonga por 9 meses. Desde 1931, data da criação do Sindicato Nacional da Indústria do Vidro, até 1934, José Gregório tem uma acção destacada na orientação das combativas lutas dos operários vidreiros da Marinha e do Norte.

Em 1933, entra para o Partido Comunista. Era uma honra merecida pela sua dedicação à classe operária, pela sua modéstia, pelo seu ódio à burguesia. Passados poucos meses, o Partido encarrega-o de funções dirigentes, junto com Manuel Esteves de Carvalho e António Guerra, na condução da greve insurreccional do 18 de Janeiro de 1934. Essa heróica acção revolucionária do proletariado marinhense determina o rumo futuro da sua vida. Doravante todas as energias de José Gregório vão ser dedicadas ao Partido e à revolução, como militante profissional.

Enviado para Espanha pelo Partido no início da guerra civil, segue depois para a União Soviética, onde frequenta um curso político orientado pela Internacional Comunista. Aí, na pátria do proletariado mundial, ganha mais amplas perspectivas marxistas-leninistas e completa a sua formação revolucionária. Regressa a Portugal em 1938, no momento em que o Partido atravessa uma grave crise, com a direcção dominada pelo oportunismo. Sem se deixar desmoralizar, José Gregório luta infatigavelmente para estreitar os laços do Partido com a classe operária e para afirmar o Partido como autêntica vanguarda. Pouco depois, é preso pela PIDE. Barbaramente torturado, espancado durante três dias consecutivos, recusa-se a declarar seja o que for à polícia.

Libertado em 1940, passa à clandestinidade e lança-se à frente de um núcleo de militantes na luta pela reorganização do Partido contra o grupo provocatório de Velez Grilo que se apossara do CC. José Gregório revela nesta altura as suas qualidades de dirigente comunista. Mal alimentado, mal vestido, procurado pela polícia, percorre as estradas de bicicleta, criando células, ligando as organizações partidárias, chamando os comunistas a encabeçarem a luta crescente da classe operária e do povo, espalhando a confiança na vitória da União Soviética de Staline sobre o nazismo. Desde princípios de 1943, é integrado no Secretariado do Comité Central, cargo em que é confirmado pelo III Congresso no fim desse ano e novamente no IV Congresso, em 1946. É durante treze anos um dos principais dirigentes do Partido. Apresenta no III Congresso o informe do CC sobre o grande movimento grevista de Julho-Agosto de 1943 e no IV Congresso os informes sobre o trabalho sindical e a luta contra a repressão.

No período 1945-1949, o Partido encontra-se dominado pelas posições oportunistas de Cunhal, que limita as energias combativas do Partido e submete o movimento antifascista à direcção política da burguesia liberal. José Gregório mantém-se fiel às posições revolucionárias, como virá a demonstrar brilhantemente nos anos seguintes.

Em 1949-1950, o Partido sofre tremendos golpes policiais. O CC é quase destruído e centenas de comunistas passam pela tortura e pelas cadeias. Militão Ribeiro morre na Penitenciária. José Moreira é assassinado. A polícia gaba-se de ter destruído o Partido Comunista e Salazar declara que “se vão aproximando os tempos de mais ampla e severa repressão do comunismo”. A burguesia liberal rompe a unidade, desmantela o MUD e ataca o PCP. É o tempo da NATO, da guerra bacteriológica na Coreia, do terror atómico, da passagem aberta de Tito para o campo do imperialismo, de duros golpes no movimento revolucionário.

É nesta hora de dificuldades que José Gregório põe em jogo todas as suas capacidades de dirigente comunista. À frente do Secretariado, encabeça a reorganização, restabelece o CC, assegura a saída regular do “ Avante” e do “Militante“, expulsa sem piedade os capituladores e traidores. Em poucos anos, o Partido reergue a sua organização clandestina. Em 1954 surge à cabeça de importantes lutas operárias.

Mas a reorganização não tem que ser dirigida só no plano clandestino contra a ofensiva da PIDE. Ela tem que ser dirigida também contra o oportunismo que Cunhal infiltrara no Partido. A acção do camarada José Gregório neste plano tem um enorme alcance: orienta a redacção do primeiro projecto de Programa do Partido, no qual se aponta a perspectiva da revolução democrático-popular, que fora escamoteada por Cunhal; reabre a crítica à “política de transição”, linha oportunista e liquidacionista gerada no Tarrafal e exige a autocrítica dos seus principais mentores; aperta a vigilância em torno dos direitistas, levando à expulsão do Partido de João Rodrigues, Gilberto de Oliveira, etc.; orienta o Partido para uma posição firme face aos políticos liberais e para a formação do MND, Movimento Nacional Democrático; define uma linha correcta para o trabalho sindical e o trabalho camponês do Partido; alinha o Partido nas justas posições stalinistas contra o revisionismo titista; lança o Partido na luta contra a NATO e os crimes do imperialismo norte-americano.

Em 1954, o PCP reorganizado apresenta uma fisionomia política revolucionária, graças ao esforço insano do camarada José Gregório, no qual arruína a saúde. Mas a resistência oportunista que já contaminava grande parte da direcção do Partido não desarma. Em 1955, José Gregório cai gravemente doente. Imediatamente, o grupo oportunista de Pires Jorge-Fogaça-Pato-Vilarigues, animado pelos sinais da traição que está em curso na URSS, encabeça uma viragem à direita. Acusam a linha do Partido de “dogmatismo” e “sectarismo”, recomeçam o namoro sem princípios aos políticos liberais, rasgam o projecto de Programa, reabilitam os oportunistas. Em Maio de 1956, após o XX Congresso do PCUS, o CC proclama a via do “afastamento pacífico de Salazar”, mergulhando o PCP no revisionismo. Nessa mesma reunião, o camarada José Gregório é destituído das suas funções dirigentes no Partido, a pretexto da doença que o minava, mas na realidade porque era a sua obra de comunista e revolucionário que se pretendia destruir. Como a sua modéstia exemplar não permitia acusarem-no de “culto da personalidade”, acusam-no de ter fomentado o “culto do Secretariado”! Assim tentam sem escrúpulos desacreditar perante o Partido tudo o que José Gregório fizera pelo PCP e pela revolução.

Exilado na Checoslováquia, o camarada José Gregório veio a morrer em 11 de Junho de 1961, afastado do Partido, da classe operária e do povo a que consagrara todas as suas energias revolucionárias. As suas últimas posições foram de desacordo intransigente com a linha revisionista de Cunhal e do seu grupo. Morreu como comunista, após 28 anos de militância em que deu ao Partido uma contribuição de alto valor revolucionário.

Hoje em dia, os dirigentes revisionistas fazem o possível por lançar no esquecimento a figura de José Gregório. Quando são forçados a referi-lo, é com elogios hipócritas que ocultam todo o significado marxista-leninista da sua acção.

José Gregório é uma das grandes bandeiras revolucionárias do PCP(R). Aprendamos continuamente com ele a tarefa da construção do Partido, da ligação estreita do Partido à classe operária. Aprendamos com ele o sereno heroísmo perante a tortura, as prisões e a vida dura da clandestinidade. Aprendamos com ele a determinação de pegar em armas contra o poder reaccionário quando as massas se levantam e se recusam a continuar a viver como dantes. Aprendamos com ele a fidelidade ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo, a vigilância impiedosa para com os oportunistas e revisionistas que sempre recomeçam o seu sujo trabalho de tentar entregar o Partido à burguesia. Aprendamos com ele o exemplo de simplicidade, tenacidade e entrega total ao Partido.


Inclusão 22/11/2017