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Após a recente ratificação do denominado Pacto ao Atlântico Norte, que é um tratado de guerra e de agressão contra a União Soviética, contra as democracias populares e contra todos os povos que lutam pela emancipação nacional, a mensagem de Truman ao Congresso norte-americano solicitando milhões de dólares para armar os governos associados que ratificaram aquele tratado, além de outros mais, e a viagem espalhafatosa dos chefes dos estados maiores das forças armadas ianques à Europa são dois acontecimentos significativos que, juntamente com muitos outros da crónica diária dos jornais (excomunhão papal, ameaças com a bomba atômica, insultos à União Soviética, prisão de espiões comunistas», etc., etc.), se, de um lado denotam a intensificação da propaganda e da preparação ideológica para a guerra de parte do governo de Washington, de outro, assinalam de maneira bem marcada como prossegue inexorável a preparação prática para a guerra. Os incendiários de uma terceira carnificina mundial, com o governo norte-americano à frente, não desistiram ainda de seus intentos assassinos, insistem em desconhecer a imensa vontade de paz já demonstrada pelos povos do mundo inteiro e teimam em repetir a aventura nazista, na tola mas sanguinária pretensão de fazer andar para trás a roda da história, de impedir ou mesmo retardar ao menos a marcha da humanidade no sentido do progresso e de uma nova ordem social em que finalmente desapareça a exploração do homem pelo próprio homem.
É num momento assim, de tanta gravidade, quando o perigo de guerra, além de iminente, já se apresenta, para todos aqueles que não queiram ser surdos ou cegos, como um fato objetivo, algo de palpável mesmo, é em oportunidade tal que os povos do Continente Americano do Alasca à Patagônia, são chamados pelos seus dirigentes mais esclarecidos para que intensifiquem a luta pela paz, que se eleva agora em todo o Continente a uma nova etapa de mais unidade e de maior vigor, com a realização na Capital mexicana, a 5 de setembro próximo, do CONGRESSO CONTINENTAL PELA PAZ, convocado sob o alto patrocínio do general Lázaro Cardenas e que já conta com o apôio de todos os povos americanos através não só de seus delegados ao Congresso Mundial de Paris, como também de inúmeras outras personalidades de prestígio popular.
Na reunião da Capital mexicana a imensa vontade de paz de nossos povos há de ficar patente diante do mundo inteiro e as forças proegressistas do nosso Continente, ainda hoje esparsas, poderão unir-se para, de maneira mais prática e eficiente, prosseguir na luta contra os incendiários de guerra e para impedir que nossos povos sejam enganados e arrastados em nome do patriotismo e de uma pretensa defesa do Continente nas aventuras guerreiras do imperialismo.
É o que já sentem e compreendem os torvos ditadores centro e sul-americanos que tentam, por isso, por meio do arbítrio e da brutalidade policial, impedir a realização do grande conclave continental ou, pelo menos, dificultar a livre escolha dos delegados de cada país, como já vem acontecendo no Brasil, na Argentina e em diversos outros países, para não falarmos no Paraguai, em São Domingos e outros, onde já impera há muito o terror policial. Mas é claro que mesmo essa atitude negativa já constitui por si mesma um fator de sucesso que assinala desde logo a importância prática do Congresso Continental pela Paz que já em sua preparação ajuda aos partidários conscientes da luta pela paz a desmascarar os provocadores de guerra e o verdadeiro conteúdo dessas ditaduras centro e sul-americanas, governos de méros fantoches a serviço dos monopólios anglo-americanos, governos submissos ao Departamento de Estado e que aguardam a guerra imperialista como a «salvação» macabra dos seus privilégios de exploradores e opressores das grandes massas trabalhadoras de seus respectivos países.
É evidente que se acelera, dia a dia, a preparação prática para a guerra. Na linguagem provocadora de Truman e de seus generais não podemos ver somente fanfarronice, mas desespero também e a afirmação categórica de que o capitalismo em decadência está disposto a ir ainda mais longe no caminho do crime contra a humanidade do que andaram seus predecessores e mestres do banditismo nazista. Mas, se é no caminho da guerra que marcham assim inexoravelmente os grandes monopólios anglo-ameri canos e os diversos governos a eles submetidos, se a guerra é para o capitalismo uma etapa tão natural quanto a paz, como já dizia Lenin, se a guerra decorre da própria natureza do capitalismo, especialmente em sua última fase, a fase imperialista, de decomposição e de putrefação, nem por isso é ela, nos dias de hoje, fatalidade inevitável, como pretendem os propagandistas e provocadores a soldo desse capitalismo moribundo.
Ao contrário, nunca foram tão grandes e poderosas as forças que se opõem à guerra imperialista, nunca foi tão difícil quanto nos dias de hoje arrastar os povos a mais uma carnificina mundial. Se os trustes e. monopólios ainda dominam numa boa parte do mundo, se ainda são numerosos os governos a eles submissos e enormes, sem, dúvida, as possibilidades da propaganda guerreira e da preparação psicológica para a guerra, de outro lado, cresceram as forças democráticas e progressistas, os povos ganharam nova experiência, odeiam cada vez mais a guerra, lutam pela vida e pela paz, e sabem que à frente da luta em defesa da paz está a União Soviética, a poderosa e invencível união dos povos que já enterraram o capitalismo e sobre seus destroços construíram a nova ordem social socialista, cada dia mais poderosa e invencível. E junto com a União Soviética estão os povos e governos das democracias populares da Europa Central e Oriental, está o grande povo chinês, que sob a direção de Mao Tsé Tung liberta-se da podridão feudal e capitalista do regime de Chiang Kai Shek, estão os povos da Ásia sul-oriental que lutam também contra o banditismo colonial, está enfim o proletariado consciente do mundo inteiro que, na retaguarda do capitalismo, não se deixa levar pela psicose guerreira e afirma categórico que jamais lutará contra o socialismo. que em quaisquer circunstâncias estará sempre ao lado da União Soviética que saberá defender até à morte.
Diante dessa divisão do mundo em dois campos de forcas antagônicas, em que posição se encontram nossos países da América Latina? Oual a atitude dos seus povos e dos governos que os dominam?
A garra do imperialismo ianque penetra cada vez mais fundo na carne de nossos povos. A segunda guerra mundial foi, sem dúvida, bem utilizada pelos trustes e monopólios norte-americanos, que são hoje senhores quase absolutos em nossos países, onde dominam sem concorrentes, e deles procuram fazer sua retaguarda, reserva de víveres e matérias primas, mercado privativo para inversões de capital e para sua produção industrial.
Quanto aos generais ianques e demais estrategistas do imperialismo, estes já não ocultam seus planos sinistros, é as claras que agem na preparação guerreira, e tomam todas as medidas para fazer da América Latina não somente a retaguarda de suas forças armadas, como a base de operações militares de suas aventuras guerreiras. Daí, a pressão política exercida pelo Departamento de Estado norte-americano que não se contenta com a assinatura e ratificação de tratados «pan-americanos», tratados de preparação para a guerra, como o do Rio de Janeiro, que amarram nossos povos às aventuras expansionistas e agressivas do imperialismo, mas exige de todos os governos latino-americanos a submissão servil às suas ordens e instruções. Ordens e instruções que determinam a acelerada preparação para a guerra em todos os terrenos, como já é evidente em todos os nossos países, onde a violência policial vai rapidamente esmagando as últimas conquistas democráticas e constitucionais ao mesmo tempo que crescem os orçamentos militares simultaneamente com a miséria e a fome cada dia mais insuportáveis para as grandes massas populares em todo o Continente.
É evidente que nos planos estratégicos do imperialismo é dada uma importância cada vez maior aos países da América Latina. As provas disto são muitas, mas basta aqui destacar o plano Truman de uniformização dos Armamentos, pretexto sob o qual todas as forças armadas do Continente são praticamente submetidas ao comando dos generais ianques. O general Mark Clark, em sua recente visita ao Brasil, teve ocasião de declarar que as «responsabilidades do Brasil» serão agora muito maiores do que na última guerra e que voltaria breve com técnicos, armas e homens para reocupar as bases militares do norte do país. Se isto se passa no Brasil, é fácil de imaginar o que pretende fazer o imperialismo ianque no resto da América, especialmente na zona das Caraíbas e nas proximidades do Canal de Panamá, onde não por acaso se sucedem, com frequência cada vez maior, os golpes de Estado militares através dos quais são impostos aos diversos países governantes fantoches da confiança do Departamento de Estado.
Apesar disso, seria um erro, no entanto, supor que o imperialismo já conseguiu fazer de todo o Continente Americano um bloco sólido e unido e particularmente dos países da América Latina essa «retaguarda» tranquila que lhe permita lançar-se às aventuras guerreiras de seus planos de expansão e domínio mundial.
Os povos da América Latina cada dia compreendem melhor a importância do papel que lhe atribuem os incendiários de guerra nos seus planos assassinos e já começam a demonstrar que bem avaliam suas responsabilidades diante da humanidade progressista em marcha para o socialismo. Os povos da América Latina não querem também ser arrastadas à guerra imperialista, revivem com intensidade cada dia maior, suas gloriosas tradições de luta pela liberdade, pela solução pacífica dos conflitos internacionais e compreendem cada vez melhor que unidos e organizados poderão vibrar justamente agora um golpe mortal na estratégia militar do imperialismo ianque e concorrer assim de maneira decisiva para impedir o desencadeamento de uma nova carnificina mundial.
O imperialismo ianque, apesar do verdadeiro monopólio já alcançado na exploração de nossos povos após liquidados com a 2ª guerra mundial os concorrentes alemão, japonês, e italiano e conseguida a capitulação crescente do imperialismo inglês, jamais conseguiu no Continente o bloco sólido e unido de que tanto necessita. Os povos latino-americanos sempre lutaram contra o jugo dos monopólios ianques e contra a política sinistra e opressora do Departamento de Estado. Somos, na verdade., precursores na luta contra a brutalidade ianque que se generaliza agora pelo mundo inteiro, e compreendemos que isto dá aos nossos golpes, neste momento, uma repercussão nova e mais profunda com consequências que poderão ser fatais para o imperialismo e decisivas para a grande luta pela emancipação nacional de nossas pátrias do jugo colonízador e opressor dos monopólios anglo-americanos.
Os povos latino-americanos sempre lutaram contra o explorador e opressor ianque e nomes como os de Sandino, Júlio Antônio Mella e tantos outros tombados nessa luta que dura há dezenas de anos não serão jamais olvidados, como não serão jamais esquecidos os mártires que ainda hoje tombam pelo Continente inteiro sob as balas assassinas dos lacaios do imperialismo — Alberto Cândia no Paraguai, Jesus Menendez em Cuba, William Gomes no Brasil, os mineiros de Catava na Bolívia e muitos outros pelo Continente afora.
São estes os grandes patriotas do Continente, porque na América Latina o verdadeiro patriotismo se confunde com a luta contra o jugo imperialista, contra a miséria, o atraso e a ignorância em que vegetam seus povos, contra a grande propriedade territorial, o latifúndio semi-feudal e a minoria de grandes capitalistas ligados aos banqueiros estrangeiros. Em nossos países só a minoria reacionária das classes dominantes serviçais do imperialismo luta pela conservação do atual regime semi-feudal e semi-colonial que pretende encobrir sob as denominações pomposas de «civilização cristã» ou «ocidental». «Civilização» que até mesmo os padres jesuítas da revista «Latinoamericana», em edição recente, são obrigados a reconhecer que significa miséria e fome para as grandes massas trabalhadoras do Continente, infame e mísera «civilização» que leva o insuspeito Cônego Cardjin, após visitar alguns países do Continente, a escrever:
«É preciso ter visto a extrema miséria deste proletariado vivendo nas horrendas «favelas» (refere-se às do Rio de Janeiro, que não são piores nem melhores que as de todas as grandes cidades do Continente), abrigos de lata, de papelão alcatroado e de madeira que se sobrepõem vergonhosamente nos flancos dos morros e onde 300.000 trabalhadores e suas famílias se amontoam como animais. Terra de contrastes, de miséria e de extrema opulência. Aqui, nada de escolas para a massa. As ordens religiosas têm colégios e universidades reputadas — como as de Santiago e de Lima — mas elas são reservadas aos ricos?».
As massas trabalhadoras do Continente bem sabem que isto não é senão um pálido quadro da realidade, mas não há dúvida que o padre católico assinalou, com aquelas palavras, as duas chagas maiores da tão trombeteada «civilização cristã» em Latíno-América — à miséria e a ignorância das grandes massas trabalhadoras. As forças retrógradas do Continente, apoiadas pelo dominador estrangeiro, negam na prática a mais elementar instrução aos filhos do povo e é justamente por isso e visando mascarar suas intenções, que insistem em realizações espalhafatosas e mentirosas como a pretensa «educação de adultos» no Brasil e em ridículas conferências sobre o assunto, como a que se realisa atualmentc em Petrópolis sob o patrocínio de um dos organismos da UNESCO.
O analfabetismo e a ignorância das grandes massas trabalhadoras, na verdade não diminui em nenhum país do Continente, nem seria isto possível, quando se agrava cada vez mais a situação de miséria dessas massas, particularmente com a inflação do após-guerra que se generalizou pelo Continente inteiro, agravando de maneira inaudita as condições de vida da classe operária e acelerando como nunca o processo de pauperização das classes médias urbanas — intelectuais, artezãos e pequenos comerciantes, funcionalismo público etc. — cujos sofrimentos são cada vez maiores. Basta examinar as estatísticas mundiais referentes à mortalidade pela tuberculose para se verificar a posição alarmante de quase todos os países do Continente, entre os quais se destacam em 1º e 2º lugares, com tão sinistra primazia, justamente o Brasil e o Chile, quer dizer, os países onde hoje dominam Dutra e Gonzalez Videla, certamente os dois mais servis lacaios do imperialismo ianque em todo o Continente. A situação é tal que mesmo o «cientista» do imperialismo ianque, o néo-maltusiano William Vogt, que defende a tese guerreira da necessidade urgente de ser diminuída a população do mundo, não vacila em proclamar cinicamente, em livro recente, para honra do tirano que oprime o grande povo de Pablo Neruda:
«Uma das grandes vantagens, pode-se dizer que a maior vantagem do Chile, está no alto índice de mortalidade daquele país»...
É evidente, no entanto, que os demais ditadores latino-americanos continuam fazendo esforços para disputar ao do Chile semelhante honra.
Mas não é somente nas cidades e nas explorações mineiras do Continente que se morre de fome. Os trabalhadores rurais e as massas camponesas que vegetam nos grandes latifúndios e cujo nível de vida é conhecido como um dos mais baixos do mundo inteiro têm sua existência cada vez mais ameaçada à medida que os grandes monopólios ianques aumentam sua intervenção na vida econômica dos países latino-americanos, conseguem o monopólio no comércio de exportação impondo preços cada vez mais baixos para a produção agrária e mineira de cada país e cada vez mais altos para os produtos industriais importados. Foi aliás o que já assinalou, há pouco, o sr. Dela Colina, embaixador do México em Washington, ao declarar que era com «angustia crescente» que os «campeões do inter-americanismo», quer dizer, os lacaios do imperialismo, acompanhavam a indiferença de numerosas personalidades influentes nos Estados Unidoe quanto à grave enfermidade econômica de que sofre a América Latina, e acrescentava:
«A inflação anterior à guerra já teve pesadas consequências e agora a crise econômica que se acentua, reduzindo os preços dos gêneros fundamentais, dos quais depende a própria vida da América Latina, ameaça solapar as próprias bases da sua economia vacilante».
Daí, o êxodo rural que assume proporções cada dia maiores em todos os países do Continente e cujos aspectos horrivelmente dolorosos são bem fáceis de imaginar. As massas camponesas ou são expulsas dos latifúndios, ora transformados em pastagens, ora limitados pelos aramados que permitem a criação de gado com um número cada vez mais reduzido de peões e caseiros, ou fogem dos campos, perseguidas pela miséria e a fome, em busca da miragem de um salário em dinheiro, por pequeno que seja nos centros urbanos. E essa caudal cresce, de dia a dia, mesmo em países como a Argentina, cuja produção agrícola de cereais, como o trigo e o milho, é evidentemente de mais fácil colocação no mercado mundial do que os chamados produtos tropicais da produção dos demais países. De 1869, quando 73,6% da população argentina se dedicava a atividades agrícolas, baixou a porcentagem da população rural, segundo o último recenseamento, para apenas 38,6% no ano de 1948.
E, em consequência do êxodo rural em crescimento, aumenta sem cessar a reserva de força de trabalho nos centros industriais, a qual não pode de forma alguma ser absorvida, malgrado o elevado índice de mortalidade na classe operária, tão incipiente ainda a atividade industrial de nossos países, cujo desenvolvimento é ostensivamente impedido pelos monopólios anglo-americanos além de já ser naturalmente difícil ante a extrema limitação do mercado interno de cada país em conseqiíência do baixo nível de vida das grandes massas trabalhadoras das cidades e do campo.
Esse, em rápido esboço e sem nenhum exagero, o quadro da situação cada vez mais trágica em que se debatem, em toda a América Latina, cerca de 120 milhões de seres humanos, a maioria esmagadora da população do Continente, nela incluída a grande porcentagem representada pela população negra e indígena, cujos sofrimentos são ainda maiores, como vítimas que são de uma dupla opressão nacional e da discriminação racial que as obriga a trabalhar nas piores condições, as mais duras e difíceis, discriminação racial que tende a aumentar em virtude da crescente influência da estupidez racial ianque nas classes dominantes de nossos países.
É' contra isso que se levantam todos os patriotas do Continente, todos aqueles que querem o progresso e a independência de suas pátrias, que almejam acabar com a miséria, o atraso e a ignorância em que se debatem as grandes massas populares, todos aqueles enfim que não se conformam e lutam com energia e audácia contra a minoria das forças retrógadas, contra as oligarquias constituídas pelos grandes proprietários latifundiários e grandes capitalistas ligados aos monopólios estrangeiros, cujos governos são capazes de todas as infâmias e de todas as violências a fim de tentar salvar ainda agora, em pleno século do socialismo vencedor, esse regime semi-feudal e semi-colonial, de exploração e opressão inauditos.
E à frente dos patriotas de todo o Continente está hoje a classe operária que em sua luta consciente contra a exploração capitalista é também a lutadora mais consequente pela emancipação nacional de nossos povos do jugo imperialista, indicando-lhes como única saída para a situação desesperadora em que se encontram a da luta revolucionária contra o latifúndio e o imperialismo, por pão, terra e liberdade, por governos efetivanwnte nacionais, democráticos e populares.
É contra essa luta revolucionária que levantam o imperialismo ianque e seus lacaios das classes dominantes em nossos países a bandeira do anti-comunismo e o fantasma da ameaça soviética. «Comunistas» para o imperialismo e seus agentes na América Latina são todos os patriotas que lutam contra o jugo imperialista, contra a miséria, o atraso e a ignorância, pelo progresso e a independência de suas pátrias. Mas, de outro lado, é cada vez mais fácil para as grandes massas trabalhadoras do Continente identificar como seus piores carrascos e exploradores os anti-comunistas raivosos, que já foram todos eles, partidários do nazi-fascismo e são hoje os corifeus mais destacados da «colaboração» com Truman, os mesmos que combatem a idéia de soberania nacional em nome de um falso pan-americanismo, os que esquecem da defesa da pátria e só pensam na «defesa do Continente» a fim de pretender justificar a estratégia agressiva e expansionista do governo de Washington.
Quanto ao fantasma da ameaça soviética, não passa de nova forma atualizada, segundo as circunstâncias, da velha política do imperialismo ianque em nosso Continente. À sua política expansionista e agressiva sempre procurou dar o Departamento de Estado a máscara «defensiva» com que visa adormecer a vigilância de nossos povos e facilitar sua crescente exploração. Já sob o pretexto de defender a independência dos demais Estados americanos, em pleno auge ria Doutrina de Monroe, aparentemente defensiva, 0 capitalismo ianque invade o México em 1845 para tomar-lhe a região do Texas; e três anos depois, em 1848, apoderam-se os Estados Unidos, pelas armas, do Novo México e da Califórnia, roubando assim à nação mexicana mais da metade de seu território de então. Foi ainda sob uma máscara «defensiva» que fizeram os ianques a guerra contra a Espanha, no fim do século passado, que lhes garantiu a posse das Filipinas, de Porto Rico, de Guam e a redução de Cuba a protetorado dos Estados Unidos. Foi com a mesma hipocrisia que a «diplomacia do dólar» submeteu ao controle financeiro dos Estados Unidos, São Domingos, Honduras, Nicarágua, Venezuela e Cuba e que mais tarde, durante a primeira guerra mundial, os marinheiros ianques desembarcaram no México, em Haiti, São Domingos e Nicarágua para massacrar movimentos populares. Quando o imperialismo julgou necessário a seus interesses a abertura do Canal do Panamá, organizou uma sublevação na antiga província da Colômbia, reconheceu imediatamente, a «independência» da minúscula República do Panamá que 12 dias depois assinava o «acordo» com os Estados Unidos de concessão de zona para a referida construção.
Não há nada de novo, portanto, nos métodos e na hipocrisia da política expansionista e agressiva do imperialismo ianque. Só os traidores de nossos povos podem agora agitar o fantasma de uma ameaça soviética e, se o fazem, é com o intuito claro de impedir ou dificultar a união dos patriotas latino-americanos, de operários o camponeses com a intelectualidade progressista e os elementos democráticos da burguesia nacional, é com o intuito de amortecer a vigilância do nossos povos e facilitar sua crescente exploração pelos monopólios ianques e de arrastá-los à mais infame das hecatombes guerreiras, a guerra imperialista contra a URSS e as democracias populares.
A grande luta revolucionária de nossos povos pelo progresso e a emancipação nacional do jugo imperialista é, nos dias de hoje, parte integrante da grande revolução mundial do proletariado, que tem à sua frente, como precursores e realizadores do socialismo, os povos da União Soviética, dirigidos pelo grande e vitorioso Partido Bolchevique e pelo gênio de Stalin, o guia e mestre do proletariado e dos povos do mundo inteiro. Nós, patriotas latino-americanos, não podemos deixar de admirar e de amar a União Soviética e seu glorioso Exército, libertador de povos, e não nos esqueceremos jamais do esforço gigantesco de que foi capaz, sem medir sacrifícios, para livrar a humanidade do banditismo nazista, para não falarmos nos sacrifícios anteriores, à custa dos quais conseguiu a URSS construir sua poderosa indústria e coletivizar sua agricultura para colocar-se à altura de realizar com êxito a tarefa histórica que lhe seria imposta de esmagar o imperialismo nazista.
Não é a União Soviética que nos ameaça. As grandes massas trabalhadoras do Continente e todos os genuínos patriotas latino-americanos sabem quem são os exploradores que se apossaram das maiores riquezas do Continente — petróleo, na Venezuela, na Colômbia, no Paraguai; cobre, no Chile e no Peru; estanho, na Bolívia: ferro e manganês no Brasil, etc. — os senhores que dominam na produção de açúcar em Cuba e Porto Rico, na de bananas e frutas na zona das Caraibas, de carnes na Argentina, Uruguai e Brasil, etc, que monopolizam cada vez mais no Continente inteiro o comércio externo dos diversos países. Quem ameaça cada vez mais o bem estar, a segurança e a paz de nossos povos são os trustes e monopólios anglo-americanos que submetem aos seus interesses egoístas e vorazes, pelo suborno e a corrupção, as forças mais retrógradas de nossos países, intervêm abertamente na política interna de cada povo, estimulam e dirigem golpes de Estado militaristas, sustentam as mais infames tiranias e ajudam cada vez mais abertamente a afogar em sangue os levantes populares contra a opressão feudal e imperialista. Na sua mensagem especial as Congresso americano de 25 de julho último, o Sr. Truman, ao solicitar milhões de dólares para armar os países da Europa Ocidental, do Próximo Oriente Asiático e da América Latina, confessa em mais de uma passagem que se trata de armar governos impopulares para que possam «manter a ordem interna», o que não pode significar senão o desejo de ampliar a todo o mundo capitalista a tragédia contemporânea do povo grego.
Esta a ameaça terrível que se levanta diante de nossos povos e que se torna cada vez mais próxima com a crise capitalista que já abala a economia norte-americana e cujas consequências em nossos países assumirão contornos de catástrofe jamais conhecida. A dependência econômica em que os governos reacionários e particularmente os ditadores como Dutra, Gonzalez Videla e tantos outros, colocaram seus respeetivos países [dependentes] da economia norte-americana, dependência que assume dia a dia, proporções cada vez maiores, já apresenta claramente suas inevitáveis e nefastas consequências. A queda dos preços dos produtos agrários e das matérias primas minerais e a rápida diminuição no voiume exportado transtornam profundamente a economia de cada país latino-americano, determinam a queda brusca da renda nacional, levam à completa bancarrota financeira, ao desemprego crescente com a consequente diminuição da produção industrial e simultaneamente ao aumento dos impostos indíretos, à desvalorização monetária, a um novo surto inflacionário e a novos saltos no encarecimento do custo da vida para as grandes massas populares já miseráveis, doentes, esfomeadas e esfarrapadas.
Estas as consequências já evidentes da crise, não só no Chile, no Brasil, no Peru, no México e demais países há muito entregues à exploração dos monopólios ianques, mas igualmente na Argentina, onde a demagogia peronista mal consegue encobrir a crescente capitulação diante das exigências de Wall Street.
É nesta situação de catástrofe iminente que Truman acena com a «ajuda» do denominado 4º ponto de seu programa de governo, que não passa na realidade da velha prática do usurário capitalista que jamais deixa de aproveitar a insolvência financeira do cliente para dar mais um apertão na corda que o sufoca. As ditaduras latino-ame-ricanas em bancarrota, acena-lhes agora Truman com a possibilidade de fazerem «aquisição de equipamento militar, para eles, à sua própria custa» — palavras da sua recente mensagem ao Congresso e que têm a virtude de descobrir o verdadeiro conteúdo da «ajuda» norte-americana e da tão gabada «solidariedade pan-americana». Está claro que é à custa do próprio povo que os torvos ditadores latino-americanos tratam de armar-se para enfrentar o crescente descontentamento popular e a radicalização das massas cada vez mais evidente em toda a América Latina.
Torna-se cada vez mais claro a todos os patriotas latino-americanos que à medida que o governo Truman e seus associados dos demais países capitalistas e coloniais aceleram a preparação guerreira, que à medida que os governos latino-americanos cedem às imposições dos monopólios anglo-americanos, cresce em cada um de nossos países a ofensiva estatal e patronal, pioram as condições de vida e de trabalho, são eliminadas todas as conquistas democráticas e ao mesmo tempo que se «legaliza» o terror policial contra as massas populares os ditadores tratam de armar-se «até os dentes, não tanto para participar da guerra «defensiva» contra a «ameaça soviética», mas fundamentalmente para afogar em sangue os levantes das massas esfomeadas, salvar a «ordem colonial e semi-feudal e completar a venda de seus países aos monopólios anglo-americanos.
Perón, o ditador argentino, já se referiu a essa etapa preliminar e obrigatória que em cada um de nossos países terá de preceder à terceira guerra mundial - a batalha dentro de cada país contra o povo descontente, contra as forças que se opõem à guerra. E o general brasileiro Cordeiro de Farias, serviçal de Dutra na direção de uma nova Academia Militar ianque no Brasil, já fala abertamente na necessária «eliminação» de todos aqueles que não puderem concorrer para a luta ou a prejudicar, o que quer dizer — preceder a terceira guerra mundial em nossos países da matança, segundo o estilo nazista, de velhos e crianças, de mulheres e inválidos além dos patriotas e democratas contrários à guerra e defensores da paz.
Tudo isso, no entanto, não pode deixar de despertar a classe operária, as grandes massas trabalhadoras das cidades e do campo, os patriotas enfim de todo o Continente, convencendo-os de que a luta por suas reivindicações imediatas, econômicas, políticas e sociais, a luta em defesa da democracia, da vida e da liberdade de cada ser humano e da independência nacional está estreitamente ligada à luta contra os provocadores de guerra e contra seus lacaios em nossos países, contra os governos de traição nacional, a luta tenaz e firme, enérgica e audaz, pela Paz no Continente e no mundo inteiro.
A luta pela Paz unifica por isso a vontade e a ação das grandes massas populares de nosso Continente. A não ser a minoria reacionária de latifundiários e grandes capitalistas ligados ao imperialismo que querem a guerra, porque nela vêem a «salvação» de seus interesses egoistas cada dia mais ameaçados, todas as outras camadas sociais que constituem a maioria esmagadora da população latino-americana querem a paz e compreendem cada vez melhor que é lutando em defesa da paz que melhor defendem seus interesses, o futuro de seus filhos, a liberdade, o progresso e a independência da pátria.
O caminho da luta pela paz é assim em cada pais o caminho da unidade de ação de todos os democratas e patriotas, o caminho da mais ampla FRENTE DEMOCRÁTICA DE LUTA PELA PAZ, que, com a classe operária à frente, será capaz de impor aos incendiários de guerra a vontade de nossos povos de fazer a luta efetiva e diária em defesa da democracia, a luta cotidiana pelas reivindicações econômicas dos trabalhadores, contra a carestia da vida, contra os orçamentos militares, contra os tratados de capitulação ao imperialismo, contra a concessão de bases militares, contra a participação enfim em qualquer guerra imperialista.
Em cada um de nossos países a luta pela unidade de ação e pela organização de amplas Frentes Democráticas de Luta pela Paz pode e deve ser agora intensificada com a preparação para o Congresso Continental a realizar-se na Capital mexicana onde as delegações de cada país latino-americano poderão melhor estreitar os laços da verdadeira solidariedade continental e unir a grande luta pela paz de toda a América Latina ao vigoroso movimento em prol da paz já existente no Canadá e nos Estados Unidos.
O Congresso do México poderá e deverá ser assim a demonstração vigorosa da imensa vontade de paz de nossos povos, que terão ocasião de dizer mais uma vez um NÃO unânime, categórico e decidido aos provocadores de guerra.
No México os povos latino-americanos afirmarão mais uma vez firme propósito de prosseguirem até a vitória na luta contra o atraso, a miséria e a ignorância em que jazem, pela liberdade, o progresso e a independência de suas pátrias.
Aos nossos opressores diremos mais uma vez que jamais lutaremos contra a União Soviética e que para a guerra imperialista não daremps o sangue de nossa juventude, nem permitiremos que possa a nova hecatombe guerreira ser alimentada com o fruto do trabalho do nossos povos.
Para a guerra imperialista, nem um grão de trigo, nem um quilo de café, nem algodão, nem petróleo, nem manganês, nem cobre. . . Não trabalharemos para a guerra.
A paz é o caminho da liberdade e da grandeza da América. É o caminho da emancipação de nossos povos do jugo imperialista anglo-americano. A paz é o caminho da democracia e do verdadeiro patriotismo.
A presença e a adesão ao CONGRESSO CONTINENTAL AMERICANO PELA PAZ é por isso um dever de honra de todos os patriotas e democratas latino-americanos.
Concidadãos do Continente! Patriotas e democratas latino-americanos, homens e mulheres de todas as raças e credos, de todas as classes e opiniões políticas.
É do coração do Continente que vos escrevo estas palavras e vos dirijo este apelo que é um grito contra a guerra imperialista e um chamado à luta decidida, audaz e vigorosa em defesa da paz.
Neste momento, de perigo iminente para nossos povos, desejaria poder percorrer o Continente inteiro para dirigir-vos diretamente a palavra. Seria esta a ocasião para agradecer-vos de viva voz o gesto de solidariedade continental que foi a grande luta pela anistia aos presos e condenados políticos do Brasil durante os anos da tirania de Vargas, luta que se estendeu por todo o Continente, do México ao Chile, de Cuba à Argentina e ao Uruguai. No entanto, é isto ainda agora impossível.
O povo brasileiro, com o apoio da solidariedade continental e graças à derrota militar sobre o nazismo, arrancou-me do cárcere e o povo do Rio de Janeiro fez-me em seguida o senador mais votado da capitai do país. Apesar disto, sou, neste momento e mais uma vez, um perseguido político, contra mim são forjados novos e monstruosos processos criminais, após o inominável atentado que me privou do mandato parlamentar de eleito do povo sob a legenda gloriosa do Partido Comunista.
Vejo-me por isso na contingência de manter-me oculto e fora do alcance da infame ditadura policial e militarista que hoje oprime o Brasil. Só assim posso continuar junto ao meu povo, e participar atívamente de sua luta grandiosa contra o jugo imperialista e contra o governo Dutra de traição nacional, pela paz e a independência do Brasil.
Esta a razão que me impede também de comparecer pessoalmente ao Congresso Continental Americano pela Paz, ao qual, no entanto dou minha mais entusiástica adesão certo de que todos vós, democratas e patriotas de todo o Continente, sabereis fazer daquele próximo conclave uma vigorosa demonstração da imensa vontade de paz de nossos povos, um novo marco no caminho vitorioso da luta pela paz, pela democracia, pelo progresso e a independência da América Latina.
Unamo-nos todos no Continente inteiro! Será esta a maneira de darmos um golpe decisivo nos planos guerreiros do imperialismo, de salvarmos a humanidade de mais uma hecatombe guerreira, de concorrermos enfim para apressar a marcha dos povos no sentido do progresso, da democracia e do socialismo.
Inclusão | 24/10/2006 |