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Transcrição: Igor José Moretto Fonseca
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20 de março de 1931
S.PAULO, 28. – O “Diário da Noite” de ontem, em sua 2ª edição, publica, em primeira página: “LUIZ CARLOS PRESTES E OS SEUS ANTIGOS COMPANHEIROS DE REVOLUÇÃO”.
O ex-chefe revolucionário, em nova Carta Aberta, afirma ter recebido convites de apoio dos “dois bandos imperialistas” que diz existirem presentemente no país.
A carta que abaixo publicamos e que hoje nos chega às mãos, redigida pelo Sr. Luiz Carlos Prestes, é um complemento da que há poucos dias estampamos da autoria do ex-chefe rebelde. Como na anterior, ele agride de um modo violento os seus antigos camaradas. Assim, da mesma forma que aquele, este novo documento caracteriza com a maior nitidez a profunda irreconciliável divergência que separa o Sr. Luiz Carlos Prestes dos seus velhos companheiros de revolução e a improcedência das intricas relativas a um suposto entendimento secreto do exilado com os militares que hoje ocupam posições de relevo no Brasil.
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Aos Trabalhadores do Brasil e muito especialmente aos seus irmãos de luta e sofrimento, soldados e marinheiros.
Camaradas:
Há poucos dias, em carta aberta, analisei a situação do país e referi-me às lutas armadas, imperialistas, que o ameaçam.
É evidente, para quem acompanha o desenrolar dos acontecimentos no Brasil a formação de dois bandos em cada um dos quais se vão novamente reunindo todas as correntes e tendências em que já se havia desagradado a Aliança Liberal e que se disputam o Poder Central e as intervenções estaduais.
Os fatos mais do que dá simples indícios, confirmam esta previsão.
Aranha, Collor, Miguel Costa, Tavora, com os seus cínicos serventes Motta Lima, Raphael Correa, Reis Perdigão e tantos outros, distribuídos de Norte a Sul, organizam as legiões revolucionárias, fazem a mais descarada demagogia, bancam esquerdistas, dizem-se comunistas e “amigos da Rússia”, simulam atacar Bernardes e vão procurando o apoio dos tenentes que já os auxiliaram no golpe de outubro para com eles arrastarem os soldados e marinheiros a novas carnificinas com as quais consigam mais galões, novos bordados e outros postos remunerativos, que melhor os aproximem dos tesouros públicos.
Por outro lado, os Democráticos de S.Paulo, os Leire de Castrol, Isidoros, Pantaleão Telles, Arthur Neiva e Companhia, vão também preparando a mazorca que lhes garanta melhores posições e mais vantajosos postos. Como os de outro bando, também contam com tenentes e com jornalistas e literatos que lhes preparem o ambiente para a luta.
Mas, quando escrevi a referida carta, não podia imaginar que poucos dias depois teria em meu poder o documento que agora publico, para que as massas trabalhadoras possam verificar a exatidão das previsões que nela faço, assim como quais são as verdadeiras tenções dos “salvadores” que hoje a oprimem.
Este documento por si só se encarrega de pintar aos trabalhadores do Brasil quem é o safadíssimo general do Norte. Publicando, respondo aos ingênuos tenentes que o assinaram, pois não acredito que, conscientemente, quisessem insultar-me com a indigna proposta que me fazem.
Por outro lado recebi também um “programa revolucionário do Exército segundo o idealismo dos revolucionários de 22, 24 e 30”, acompanhado do que um dos tenentes nele comprometidos chama “Razões secretas ou verdadeiras finalidades do movimento que se prepara no Exército”, para meu conhecimento especial.
Como na carta acima transcrita, as tais razões são um amontoado de imbecilidades e indignidades semelhantes às propostas pelos tenentes de Tavora.
Resumindo, o fato que se constata em presença destes documentos, é a preocupação com que os dois bandos procuram obter a minha adesão. Desejam ambos fazer uso do prestígio que o meu nome possa ter ainda hoje entre os soldados e marinheiros e entre todos os trabalhadores do Brasil para que, atraiçoando-os, sirva eu de figura de proa, generalíssimo ou ditador em benefício dos exploradores brasileiros, os latifundiários, fazendeiros e usineiros, como Lima Cavalcanti e Francisco Morato, assim como dos imperialistas que, por intermédio dos seus agentes no Exército, por intermédio dos ingênuos pequenos burgueses que pensam “salvar a Pátria”, aliando-se com um ou outro imperialista buscam um novo “herói”, depois da rápida desmoralização dos “gloriosos” generais e coronéis de outubro.
Mas erram, dirigindo-se a mim. Como já lhes devolvi os galões de Capitão, com que me quiseram insultar, corro-os agora como cães domados, apelando aos soldados e marinheiros para que, com as armas que dispõem, auxiliem os seus irmãos trabalhadores a liquidarem esta canalha.
Mas o essencial e principal objetivo desta publicação é fazer sentir aos soldados e marinheiros como são utilizados por essa gente, como simples instrumentos e quantos são indignos e cínicos os homens que têm por chefes. Hoje já os empregam para massacrar os trabalhadores que lutam por um pouco mais de pão e amanhã, como ontem, lançá-los-ão uns contra os outros na luta de Izidoro contra Miguel Costa, de João Alberto contra os Democráticos, de Pantaleão contra Goes Monteiro. As manobras são sempre as mesmas. Os objetivos são idênticos em todas as partes. No fundo, o que visam todos eles é consolidar pela violência a dominação da classe capitalista, sobre a classe trabalhadora, arrancando a esta todas as possibilidades de organizar-se para subverter a atual ordem de coisas e estraçalhar o regime da fome e da miséria a que foi lançada pela crise mundial do capitalismo. Deste modo visam satisfazer o seu duplo interesse: a aniquilar os que, como verdadeiros revolucionários, contra eles se colocaram decididamente e isolar os que ainda não o fizeram, de forma a alterar a influência descente do que chamam o perigo comunista.
Amedronta-os o espectro comunista. E, sem o querer, vão indicando às massas o verdadeiro caminho. Sabem todos eles onde está o perigo que é um só – o comunismo. Por isso o combatem por todos os meios ao seu alcance desde os mais vis aos mais criminosos. Mas não conseguirão evitar que as massas trabalhadoras nas cidades e nos campos se congreguem em torno do seu partido de classe que as conduzirá à vitória – o Partido Comunista.
Preparam-se os trabalhadores para resistir aos novos golpes que se estão tramando contra a sua classe e sua vanguarda. Discutam e agitem as suas próprias questões unindo-se e organizando-se solidamente em sindicatos revolucionários e dentro das fileiras do partido, que, por meio de uma tática justa, destruirá todo o aparelho do Estado Burguês, que instituirá a ditadura do proletário.
Voltem os soldados e marinheiros às suas armas contra os seus próprios chefes lacaios da burguesia e, organizando os seus conselhos, fraternizem os trabalhadores auxiliando-os a tomar a terra, as fábricas, os bancos, as estradas de ferro e organizando um governo próprio.
Viva a união de ferro de todos os operários, camponeses e marinheiros.
A terra para os camponeses, as fábricas para os operários.
Viva o Governo dos Conselhos Operários e Camponeses, Soldados e Marinheiros!
Viva o Partido Comunista!
Viva a Revolução Proletária!
(assinado) Luiz Carlos Prestes.
Buenos Aires, 20 de março de 1931.