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Primeira Edição: Folha da Manhã, São Paulo, 18/03/1929
Fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/leituras_11jun00.htm
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo,
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As ultimas controversias politicas, largamente discutidas pela imprensa do paiz, envolvem, de tal fórma, o meu nome no enredo das conjecturas com que se tem apreciado a situação da minoria revolucionaria perante a nação, que nos sentimos obrigados a vir positival-a definitivamente, esclarecendo-a sobretudo, no que diz respeito ás suas ligações com os partidos politicos de opposição.
Ha, por parte dos que, até agora, tem julgado interpretar o nosso pensamento, deante da conducta dos partidos, um erro inicial, e grave de apreciação. Esse erro reside, antes de tudo, na presupposição de que ha, entre as collectividades partidarias e os chefes revolucionarios, compromissos reciprocos de qualquer natureza. Essa supposição é descabida, porque implica numa generalisação falsa. Os vinculos de verdadeira solidariedade que nos ligam a alguns chefes democraticos não implicam em qualquer compromisso, mesmo tacito, entre a revolução e os partidos a que elles pertencem.
Os partidos, coherentes com o seu ponto de vista politico, organisaram seus programmas, elegendo a propaganda pacifica, pela dignificação do voto, em arma pre-excellente para executal-os. Suas "élites" directoras estão sinceramente convencidas da efficiencia dessa actuação pacifica. É natural, portanto, que a préguem, num intenso apostolado civico, cuja sinceridade não podemos contestar.
Nós, os revolucionarios, somos inteiramente descrentes das possibilidades de uma solução efficiente, para o caso brasileiro, dentro dos tramites constitucionaes. Nem cremos que os partidos de opposição consigam, pelo voto, desalojar de suas posições os actuaes donatarios do poder, nem lobrigamos como, depois de vencerem essa primeira etapa, poderão desembaraçar-se, legalmente, do acervo monstruoso de erros e rotinas com que alguns decennios de legislação criminosa contaminaram as instituições do paiz.
Mas essa divergencia de pontos de vista não implica, ao nosso vêr, em incompatibilidade insanaveis, entre a minoria revolucionaria e as actuaes organisações partidarias de opposição. É necessario não confundir a nossa persistencia com intransigencia, nem a intransigencia de principios com rigidez de processos. Marchamos todos lealmente para o mesmo fim, e seria insensato que nos dispersassemos em controversias estereis justamente na hora em que devemos unir as nossas forças, numa frente unica, contra os usurpadores do poder.
Do nosso ponto de vista, só temos palavras de louvor para todos os que embora por caminhos diversos, vão avançando em busca de um ideal que tambem é nosso. Sentimos que nenhuma surpreza desagradavel poderá trazer-nos o futuro desfecho dessa avançada democratica. Se — contrariamente ás nossas convicções lograr resolver, pacificamente, o problema brasileiro, dissolver-nos-emos satisfeitos, no seio dos partidos, porque terão cessado os motivos de nossa intransigencia revolucionaria. Se — pelo contrario e conforme prevemos — os esforços democraticos ruirem deante da prepotencia e desfaçatez dos actuaes donatarios do poder — ou as "élites" partidaria virão ao nosso encontro para partilhar comnosco o commando de suas legiões, ou essas legiões, convertidas em soldados, virão por si mesmas collocar-se sob a bandeira da Revolução.
É essa a realidade da nossa situação em face dos partidos. E não ha como toldal-a com atitudes extremadas. Louvamos a obra de educação civica a que se estão dedicando as collectividades partidarias. Isso não significa, entretanto, que a ellas estejamos subordinados, nem, tão pouco, que alimentemos a velleidade de lhes ditar normas de acção. E, assim sendo, erram por exagero os que, conhecendo essas divergencias, de todos sabidas, entre as nossas opiniões radicaes e os programmas dos partidos, procuram enxergar, ahi, dissidencias ou scisões que, logicamente, não devem existir.
Santa Fé, Luiz Carlos Prestes
Inclusão | 31/03/2010 |