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A crise geral do capitalismo é a crise multilateral do sistema capitalista mundial em conjunto, que se caracteriza por guerras e revoluções, pela luta entre o capitalismo agonizante e o socialismo crescente. A crise geral do capitalismo abrange todos os aspectos do capitalismo, seja a economia como a política. A crise geral do capitalismo significa o enfraquecimento cada vez maior do sistema capitalista mundial, do qual se afastam sempre novos países, por um lado, e a potência econômica crescente dos países, que se afastam do capitalismo, por outro lado. Os fundamentos da doutrina sobre a crise geral do capitalismo foram elaborados por V.I. Lênin.
O principal sintoma da crise geral do capitalismo é a cisão do mundo em dois sistemas: o capitalista e o socialista. A crise geral do capitalismo se caracteriza também pela crise do sistema colonial do imperialismo. Em ligação com o agravamento do problema dos mercados, surgem a crônica atividade das empresas abaixo de sua capacidade e o crônico desemprego em massa.
A desigualdade de desenvolvimento dos países capitalistas na época do imperialismo, com o decurso do tempo, engendra a não correspondência da divisão existente de mercados de venda, de esferas de influência e de colônias a modificada correlação de forças dos principais países capitalistas. Nesta base, processa-se uma brusca violação do equilíbrio dentro do sistema capitalista mundial, formam-se agrupamentos hostis de países capitalistas, o que conduz a guerras entre eles. As guerras mundiais debilitam as forças do imperialismo, facilitam o rompimento da frente imperialista e o afastamento de determinados países do sistema capitalista.
A crise geral do capitalismo abrange todo um período histórico, que é parte integrante da época do imperialismo. Como já foi observado, a lei da desigualdade do desenvolvimento econômico e político dos países capitalistas, na época do imperialismo, predetermina a diversidade do tempo de amadurecimento da revolução socialista nos diversos países. Lênin indicou que a crise geral do capitalismo não é um ato simultâneo, mas um período prolongado de tempestuosos abalos econômicos e políticos, de agravamento da luta de classes, um período “de bancarrota do capitalismo em toda a sua extensão e de nascimento da sociedade socialista.”(98) Isto determina a inevitabilidade histórica da prolongada coexistência dos dois sistemas — o socialista e o capitalista.
A crise geral do capitalismo se iniciou no período da Primeira Guerra Mundial e se desenvolveu como resultado do afastamento da Rússia do sistema capitalista. Esta foi a primeira etapa da crise geral do capitalismo. No período da Segunda Guerra Mundial, e, em seguida a ela, do afastamento dos países democrático-populares, na Europa e na Ásia, do sistema capitalista, iniciou-se a segunda etapa da crise geral do capitalismo.
A Primeira Guerra Mundial foi o resultado do agravamento das contradições entre as potências imperialistas no terreno da luta pela redivisão do mundo e das esferas de influência. Ao lado das velhas potências imperialistas, cresceram novos animais de presa, que chegaram atrasados para a divisão do mundo. Surgiu na cena o imperialismo alemão. Foi depois de uma série de outros países que a Alemanha ingressou no caminho do desenvolvimento capitalista e compareceu a partilha dos mercados e esferas de influência, quando o mundo já estava dividido entre as velhas potências imperialistas. Entretanto, já em começos do século XX, ao ultrapassar a Inglaterra, a Alemanha ocupou o segundo lugar no mundo e o primeiro na Europa, no que se refere ao nível de desenvolvimento industrial. A Alemanha passou a deslocar a Inglaterra e a França dos mercados mundiais. A modificação da correlação de forças econômicas e militares dos principais países capitalistas levou ao agravamento da luta pela redivisão do mundo. Na luta pela redivisão do mundo, a Alemanha, em aliança com a Áustria-Hungria, se chocou com a Inglaterra, a França e a Rússia tzarista.
A luta entre os dois blocos imperialistas — o anglo-francês e o alemão — pela redivisão do mundo atingia os interesses de todos os países imperialistas e, por isso, levou a guerra mundial, na qual, mais adiante, tomaram parte o Japão, os Estados Unidos e uma série de outros países. A Primeira Guerra Mundial teve, por ambos os lados, caráter imperialista.
A guerra abalou o mundo capitalista até os seus fundamentos mais profundos. Pela sua envergadura, ela deixou longe todas as guerras precedentes na história da humanidade.
A guerra foi uma fonte de enorme enriquecimento dos monopólios. Em especial, enriqueceram-se os capitalistas dos Estados Unidos. Os lucros de todos os monopólios americanos, em 1917, superaram o nível dos lucros de 1914 em 3 a 4 vezes. Durante os cinco anos de guerra (de 1914 a 1918), os monopólios norte-americanos obtiveram mais de 35 bilhões de dólares de lucro (antes do pagamento de impostos). Os maiores monopólios aumentaram seus lucros em dezenas de vezes.
A população dos países participantes ativos da guerra era constituída de cerca de 801) milhões de pessoas. Cerca de 70 milhões de pessoas foram chamadas as armas. A guerra devorou tantas vidas humanas quantas morreram em todas as guerras da Europa, num milênio. O número de mortos atingiu 10 milhões e o de feridos e mutilados superou 20 milhões. Milhões de homens morreram de fome e de epidemias. A guerra trouxe um dano colossal a economia dos países beligerantes. As despesas militares diretas das potências beligerantes, durante todo o tempo da guerra (1914/1918), atingiram 208 bilhões de dólares (a preços dos anos correspondentes).
Ao tempo da guerra, ainda mais cresceu o papel dos monopólios. A “regulação” militar da economia foi utilizada para o enriquecimento dos grandes monopólios. Numa série de países, foi prolongado o dia de trabalho, proibidas as greves, introduzidos regulamentos militares e o trabalho obrigatório nas empresas. As encomendas militares estatais, por conta do orçamento, foram a fonte principal do inaudito crescimento dos lucros. As despesas militares, ao tempo da guerra, absorveram uma parte enorme da renda nacional e foram cobertas, antes de tudo, por meio do aumento de impostos sobre os trabalhadores. A parte fundamental das verbas de guerra foi entregue aos monopolistas sob a forma de pagamento de encomendas militares e de empréstimos e subsídios sem resgate. Os preços das encomendas de guerra garantiam aos monopólios enormes lucros. Lênin denominou os fornecimentos militares de dilapidação legalizada. Os monopólios se enriqueceram a custa da redução do salário real dos operários, com a ajuda da inflação, bem como a custa da pilhagem direta dos territórios ocupados. No tempo da guerra, nos países europeus, foi introduzido o sistema de racionamento para a distribuição de produtos, o que limitava o consumo dos trabalhadores a uma ração de fome.
A guerra levou ao extremo a miséria e o sofrimento das massas, agravou as contradições de classe e provocou o ascenso da luta revolucionária da classe operária e dos camponeses trabalhadores nos países capitalistas. Ao mesmo tempo, havendo-se convertido de europeia em mundial, a guerra atraiu para a sua órbita também a retaguarda do imperialismo — as colônias e países dependentes —, o que facilitou a unificação do movimento revolucionário na Europa com o movimento de libertação nacional dos povos do Oriente.
A guerra debilitou o capitalismo mundial.
“A guerra histórica — escreveu Lênin — significa grandiosa crise histórica, o início de uma nova época. Como qualquer crise, a guerra agravou profundamente as contradições latentes e as trouxe a luz do dia.”(99)
A guerra despertou um poderoso ascenso do movimento revolucionário, anti-imperialista.
A revolução proletária rompeu a frente imperialista, em primeiro lugar, na Rússia, que se revelou o elo mais fraco na cadeia do imperialismo. A Rússia era o ponto nodal de todas as contradições do imperialismo. Na Rússia, a onipotência do capital se entrelaçava com o despotismo tzarista, com as sobrevivências da servidão e o jugo colonial nas relações com os povos não russos.
A Rússia tzarista era reserva do imperialismo ocidental, como esfera de aplicação de capital estrangeiro, que detinha em suas mãos os ramos decisivos da indústria — de combustíveis, metalúrgica e outras — e como apoio do imperialismo ocidental no Oriente. Os interesses do tzarismo e do imperialismo ocidental se unificavam.
A elevada concentração da indústria russa e a existência de um partido revolucionário, como o Partido Comunista, converteram a classe operária da Rússia numa formidável força política do país. O proletariado russo possuía um aliado, como o campesinato pobre, que constituía a grande maioria da população camponesa. Nestas condições, a revolução democrático-burguesa na Rússia deveria inevitavelmente transformar-se em revolução socialista, tomar um caráter internacional e abalar os próprios fundamentos do imperialismo mundial.
A Grande Revolução Socialista de Outubro constituiu uma reviravolta radical na história universal da humanidade, tendo aberto uma nova época: a época das revoluções proletárias nos países imperialistas e do movimento de libertação nacional nas colônias. A Revolução de Outubro retirou do poder do capital os trabalhadores de uma sexta parte da terra. Processou-se a divisão do mundo em dois sistemas: o capitalista e o socialista, o que representa a mais clara expressão da crise geral do capitalismo. Em consequência da divisão do mundo em dois sistemas, surgiu uma contradição, por princípio, nova, de importância histórico-universal: a contradição entre o capitalismo agonizante e o socialismo crescente.
Ao caracterizar a crise geral do capitalismo, I.V. Stálin afirmou:
“Isto significa, antes de tudo, que a guerra imperialista e suas consequências acentuaram a decomposição do capitalismo e solaparam o seu equilíbrio, que nós vivemos agora na época das guerras e revoluções, que o capitalismo já não representa o único sistema de economia mundial, que tudo abrange, que ao lado do sistema capitalista de economia existe o sistema socialista, o qual cresce, faz progressos, opõe-se ao sistema capitalista e, pelo próprio fato de sua existência, demonstra a podridão do capitalismo e abala seus fundamentos.”(100)
Os primeiros anos, após a guerra de 1914/1918, foram um período de tremenda desordem na economia da maioria dos países capitalistas participantes da guerra, um período de encarniçada luta entre o proletariado e a burguesia. Como consequência do abalo do capitalismo mundial e sob a influência imediata da Grande Revolução Socialista de Outubro, ocorreu uma série de revoluções e manifestações revolucionárias, tanto no continente europeu, como nos países coloniais e semi- coloniais. Este potente movimento revolucionário, a simpatia e o apoio, que as massas trabalhadoras de todo o globo prestaram a Rússia Soviética, predeterminaram o fracasso de todas as tentativas do imperialismo mundial para sufocar a primeira república socialista do mundo.
Ao caracterizar a originalidade da situação do primeiro país do mundo, que se afastou do sistema do capitalismo, Lênin indicou que se, de um lado, a burguesia internacional era integralmente hostil a ele e decidida a estrangulá-lo, já, por outro lado, todas as tentativas deste gênero terminaram em fracasso.
“A oposição a guerra contra a Rússia Soviética fortaleceu-se extraordinariamente em todos os países capitalistas, alimentando o movimento revolucionário do proletariado e abrangendo massas muito amplas da democracia pequeno-burguesa. Agravou-se, e agrava-se a cada dia mais profundamente, a discórdia de interesses entre os diversos países imperialistas. O movimento revolucionário entre centenas de milhões dos povos oprimidos do Oriente cresce com força magnífica. Como resultado de todas estas circunstâncias, o imperialismo mundial não se mostrou em condição de estrangular a Rússia Soviética, não obstante ser muito mais forte do que ela, e foi obrigado a reconhecê-la ou semi-reconhecê-la em tempo, entrando em acordos comerciais com ela.”(101)
Embora extremamente não duradouro, extremamente instável, ocorreu, mostrou Lênin, apesar de tudo, um equilíbrio tal, que permite a república socialista subsistir dentro do cerco capitalista, não obstante o imperialismo internacional ser, a este tempo, mais forte do que ela.
Ao escapar do caos econômico de após-guerra, o mundo capitalista entrou num período de estabilização relativa. O ascenso revolucionário foi substituído por um refluxo temporário da revolução numa série de países europeus. Tratava-se de uma temporária e parcial estabilização do capitalismo, alcançada a custa da intensificação da exploração dos trabalhadores. Sob a bandeira da “racionalização” capitalista, foi aplicada uma impiedosa intensificação do trabalho. A estabilização capitalista conduzia inelutavelmente ao agravamento das contradições entre operários e capitalistas, entre o imperialismo e os povos coloniais, entre os diversos países imperialistas.
Iniciada em 1929, a crise econômica mundial pôs fim a estabilização capitalista.
Ao mesmo tempo, a economia nacional da URSS desenvolvia-se continuamente numa linha ascendente, sem crises e catástrofes. A União Soviética era então o único país, que não conhecia as crises nem as demais contradições do capitalismo. A indústria da União Soviética crescia sempre, a ritmos desconhecidos na história. Em 1938, a produção da grande indústria da URSS representava 911% em comparação com a produção de 1913, ao passo que a produção industrial dos Estados Unidos era somente 137,1%, a da Inglaterra, de 114,5%, e a da França, 105,8%.
A confrontação entre o desenvolvimento econômico da URSS e o dos países capitalistas mostrava claramente a superioridade decisiva do sistema socialista de economia diante do sistema capitalista.
O aparecimento do primeiro Estado socialista do mundo exerceu imensa influência no desenvolvimento da luta revolucionária dos trabalhadores. A experiência da URSS demonstrou que os trabalhadores podem administrar com êxito o país, construir e dirigir a economia, sem a burguesia.
Um dos traços mais importantes da crise geral do capitalismo é a crise do sistema colonial. Surgida no período da Primeira Guerra Mundial, esta crise se amplia e se aprofunda. A crise do sistema colonial do imperialismo consiste no brusco agravamento das contradições entre as potências imperialistas, por um lado, e os países coloniais e semicoloniais, por outro lado, consiste no desenvolvimento da luta de libertação nacional dos povos oprimidos destes países, na libertação de uma série de colônias do jugo imperialista.
A Grande Revolução Socialista de Outubro desempenhou enorme papel no ascenso do movimento de libertação nacional nos países coloniais e semicoloniais. Ela despertou uma série de potentes movimentos nacional-libertadores nos países do Oriente colonial. A vitória da Revolução Socialista de Outubro teve a maior significação para o ascenso da luta de libertação nacional do grande povo chinês. Poderoso movimento de libertação nacional ergueu-se também na Índia, Indonésia e outros países. A Grande Revolução Socialista de Outubro abriu a época das revoluções coloniais, que trazem aos povos das colônias a emancipação do jugo imperialista.
No período da crise geral do capitalismo, cresce o papel das colônias, como uma das fontes do elevado lucro monopolista. A intensificação da luta entre os imperialistas por mercados de venda e esferas de influência, o agravamento das dificuldades internas e das contradições nos países capitalistas, tudo isto conduz a acentuação da opressão imperialista nas colônias, ao crescimento da exploração dos povos das colônias e países dependentes. Isto suscita a intensificação da luta anti-imperialista, de libertação nacional.
A crise do sistema colonial é condicionada também pelo desenvolvimento da indústria e do capitalismo próprio nas colônias, o que agrava o problema do mercado capitalista mundial e conduz ao crescimento do proletariado industrial nas colônias.
A Primeira Guerra Mundial, ao tempo da qual diminuiu bruscamente a exportação de mercadorias industriais das metrópoles, deu importante impulso ao desenvolvimento industrial das colônias. No período entre as duas guerras, em consequência do aumento da exportação de capital para os países atrasados, o capitalismo continuou a se desenvolver nas colônias. Em ligação com isto, cresceu o proletariado nos países coloniais.
Na Índia, de 1914 a 1939, a quantidade total de empresas industriais cresceu de 2 874 a 10 466. Em ligação com isto, aumentou a quantidade de operários fabris. O número de operários da indústria de transformação da Índia era, em 1914, de 951 mil homens, ao passo que em 1939 já era de 1751,1 milhares. Quanto ao número total de operários da Índia, incluindo mineiros, ferroviários e operários do transporte aquático, bem como operários das plantações, era em 1939 de cerca de 5 milhões de homens. Na China (sem a Manchúria), de 1910 a 1937, o número de empresas industriais (com um mínimo de 30 operários) cresceu de 200 a 2 500, ao passo que o número dos operários ocupados nelas cresceu de 150 mil a 2 750 mil. Contando com a Manchúria, mais desenvolvida no sentido industrial, o número de operários na indústria e no transporte (com exclusão das pequenas empresas), era, na China, as vésperas da Segunda Guerra Mundial, de cerca de 4 milhões de pessoas. Cresceu consideravelmente o proletariado industrial na Indonésia, na Malaia, nas colônias africanas e outras.
A classe operária das colônias é um combatente ativo e o mais consequente contra o imperialismo, capaz de dar coesão as massas de milhões do campesinato, as amplas camadas de trabalhadores e conduzir a revolução até o fim. Por todo o curso do desenvolvimento econômico e político, a classe operária das colônias se destaca sempre mais como força dirigente do movimento de libertação nacional.
O crescimento da classe operária, nos países coloniais, e o fortalecimento da luta nacional-libertadora dos povos destes países, no período da crise geral do capitalismo, constituem uma nova etapa no desenvolvimento do movimento de libertação nacional. Se, antes, a luta de libertação nacional conduzia somente a instauração do poder da burguesia, já no período da crise geral do capitalismo cria-se a possibilidade da hegemonia da classe operária, o que assegura o desenvolvimento do país pelo caminho para o socialismo.
No período da crise geral do capitalismo, o movimento de libertação nacional nas colônias se entrelaça, cada vez mais, com a luta da classe operária nas metrópoles. De reservas do imperialismo, os países coloniais e dependentes se convertem cada vez mais em reservas da revolução socialista.
Traço inevitável da crise geral do capitalismo é o agravamento do problema dos mercados. Este problema é provocado, em primeiro lugar, pelo afastamento de determinados países do sistema capitalista mundial e pela redução da esfera de domínio do capital. Assim é que, ao afastar-se do sistema capitalista a Rússia, com os seus enormes mercados de venda e fontes de matérias-primas, isto não podia deixar de provocar sérios rompimentos dos vínculos mercantis do mundo capitalista. No período da crise geral do capitalismo, agrava-se a contradição entre o crescimento da produção e das possibilidades produtivas do capitalismo e a capacidade aquisitiva, em atraso, das massas, cujo nível de vida baixa. O agravamento do problema dos mercados é suscitado, além disso, pelo desenvolvimento de um capitalismo próprio nas colônias e países dependentes, o qual começa a concorrer nos mercados com os velhos países capitalistas. O desenvolvimento da luta de libertação nacional dos povos dos países coloniais também dificulta a situação dos países imperialistas nos mercados externos.
O agravamento do problema dos mercados, no período da crise geral do capitalismo, não deve ser compreendido no sentido de redução absoluta da capacidade do mercado, de diminuição do volume de mercadorias em circulação. O volume total de mercadorias em circulação nos países capitalistas cresce, apesar da redução do território do mundo capitalista. O agravamento do problema dos mercados, no período da crise geral do capitalismo, se expressa no retardamento do crescimento da circulação de mercadorias em relação ao crescimento da produção e das possibilidades produtivas do capitalismo. Assim é que, num período de 16 anos, incluindo a Primeira Guerra Mundial (de 1913 a 1929), a produção industrial do mundo capitalista cresceu em 41%, enquanto o volume da exportação mundial (a preços constantes) cresceu em 21,5%. Durante 21 anos, incluindo a Segunda Guerra Mundial (de 1937 a 1958), a produção industrial do mundo capitalista cresceu em 96%, ao passo que o volume da exportação, a preços constantes, cresceu em 65%.
O agravamento do problema dos mercados engendrou fenômenos qualitativamente novos: o crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade e o crônico desemprego em massa.
Antes, o funcionamento abaixo da capacidade de fábricas e usinas, em massa, tinha lugar somente a época de crises econômicas. No período da crise geral do capitalismo, surge o crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade.
Assim é que, no período do ascenso de 1925 a 1929, a potência produtiva da indústria de transformação dos Estados Unidos foi aproveitada somente em 80%. De 1930 a 1934, o aproveitamento da potência produtiva da indústria de transformação baixou a 60%. Neste particular, é necessário considerar que a estatística burguesa dos Estados Unidos, ao calcular a potência produtiva da indústria de transformação, não levou em conta as empresas há longo tempo fora de funcionamento e tomou apenas um turno para condição de trabalho das empresas.
O crônico desemprego em massa se encontra em estreita ligação com O agravamento do problema do mercado e O crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade. Antes da Primeira Guerra Mundial, o exército de reserva do trabalho crescia nos anos de crise, mas, nos períodos de ascenso, reduzia-se a dimensões relativamente pequenas. No período da crise geral do capitalismo, o desemprego adquire enormes dimensões e se conserva num nível relativamente elevado também nos anos de reanimação e ascenso.
No momento do mais elevado ascenso da indústria entre as duas guerras mundiais — em 1929 — a quantidade de desempregados totais era, nos Estados Unidos, de um milhão e meio de pessoas. Na Inglaterra, o número de desempregados totais, entre os trabalhadores segurados, no período de 1922 a 1938, não foi inferior a 1,2 milhões de pessoas por ano. Milhões de operários se contentavam com trabalho ocasional, sofriam de desemprego parcial.
O desemprego crônico em massa piora bruscamente a situação da classe operária. Tal desemprego dá aos capitalistas a possibilidade de acentuar a intensidade do trabalho nas empresas, de pôr para fora os operários já esgotados por um trabalho excessivo e escolher operários novos, mais fortes e saudáveis. Em ligação com isto, reduz-se a “idade operária” dos trabalhadores, o período de seu trabalho nas empresas. Cresce a inquietação dos trabalhadores com relação ao dia de amanhã. Os capitalistas aproveitam o desemprego crônico em massa para a redução do salário dos operários ocupados. Os ingressos da família operária reduzem-se também com a diminuição do número de membros da família, que trabalham.
Nos Estados Unidos, segundo dados da estatística burguesa, o crescimento do desemprego, de 1920 a 1933, foi acompanhado da queda do salário médio anual dos operários empregados na indústria, na construção e no transporte ferroviário, queda esta que foi de 1 483 dólares, em 1920, a 915 dólares, em 1933, ou seja, de 38,3%.
O desemprego crônico em massa exerce também grave influência na situação do campesinato. Em primeiro lugar, o desemprego restringe o mercado interno e diminui a procura de produtos agrícolas pela população urbana. Isto conduz ao aprofundamento das crises agrárias. Em segundo lugar, o desemprego piora a situação no mercado de trabalho, dificultando a incorporação à produção industrial dos camponeses arruinados, que vão para a cidade em busca de trabalho. Como resultado disto, crescem a superpopulação agrária e o empobrecimento do campesinato. O desemprego crônico em massa, assim como o crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade, atesta a putrefação do capitalismo, sua incapacidade de utilizar as forças produtivas da sociedade.
A intensificação da exploração da classe operária e a redução do seu nível de vida, no período da crise geral do capitalismo, conduzem ao ulterior agravamento das contradições entre o trabalho e o capital.
Os novos fenômenos próprios da crise geral do capitalismo — agravamento do problema dos mercados, o crônico funcionamento das empresas abaixo da sua capacidade e o desemprego crônico em massa, as guerras mundiais e a crescente militarização da economia — conduzem a modificações essenciais no desenvolvimento do ciclo capitalista. O agravamento do problema do mercado, o crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade e o desemprego crônico em massa atuam no sentido da redução do ciclo, do aprofundamento das crises econômicas, do aumento da duração das fases de crise e depressão, da redução das fases de ascenso e reanimação.
As guerras e a militarização da economia, em consequência do crescimento dos exércitos e da produção de armamentos, criam habitualmente uma procura suplementar de armamentos e de objetos de consumo para as forças armadas, favorecendo, com isto, a temporária diminuição do desemprego e da capacidade ociosa das empresas. A militarização da economia pode levar a uma temporária reanimação da conjuntura e deter o desenvolvimento da crise em início ou tornar mais lenta a chegada de nova crise econômica. Mas as guerras e a militarização da economia não podem salvar a economia capitalista das crises.
Ao causar enorme destruição de forças produtivas, as guerras mundiais dão uma orientação unilateral ao desenvolvimento da economia nacional, acentuam, com isto, a desigualdade e a desproporcionalidade da economia capitalista, conduzem a redução do nível de vida da população, ao agravamento das contradições entre a produção e o consumo, preparando a chegada de novas crises, ainda mais profundas.
O desenvolvimento da produção capitalista, no período entre as duas guerras mundiais, reflete a ação destes fatores. Neste período, a duração do ciclo diminuiu um tanto, em média, a força destruidora das crises cresceu, a duração das fases de crise e depressão aumentou, ao passo que as fases de ascenso e reanimação reduziram-se.
No período entre as duas guerras mundiais, de 1919 a 1938, houve três crises econômicas: em 1919/1921, em 1929/1933, em 1937/1938.
A profundidade da queda da produção aumentou consideravelmente. A produção da indústria de transformação dos Estados Unidos caiu, ao tempo da crise de 1920/1921 (do ano do mais alto ascenso antes da crise ao ano da mais profunda queda) em 23%, ao tempo da crise de 1929/1933, em 48,3%, ao tempo da crise de 1937/1938, em 23,3%.
A mais profunda e aguda crise na história do capitalismo foi a crise econômica de 1929/1933. Nesta crise, manifestou-se com grande força a influência da crise geral do capitalismo.
“A crise atual — afirmou E. Thaelman, caracterizando a crise de 1929/1933 — tem caráter de crise cíclica nos marcos da crise geral do sistema capitalista, na época do capitalismo monopolista. Aqui, devemos compreender a interação dialética entre a crise geral e a crise periódica. Por um lado, a crise periódica adquire formas agudas inauditas, uma vez que se processa no terreno da crise geral do capitalismo e se determina pelas condições do capitalismo monopolista. Por outro lado, as devastações, provocadas pela crise periódica, por sua vez, aprofundam, aceleram a crise geral do sistema capitalista.”(102)
A crise econômica de 1929/1933 abrangeu todos os países do mundo capitalista, sem exceção. Em vista disso, tornou-se impossível que uns países manobrassem a custa de outros. A crise golpeou com a maior força o maior país do capitalismo moderno, os Estados Unidos da América. A crise industrial nos principais países capitalistas se entrelaçou com a crise agrária, o que conduziu ao aprofundamento da crise econômica em conjunto. A produção industrial em todo o mundo capitalista caiu em 37%, sendo que caiu ainda mais em alguns países isolados. O volume do comércio mundial se reduziu em um terço. As finanças dos países capitalistas chegaram a completa desorganização. A quantidade de desempregados atingiu enormes proporções.
A porcentagem de desempregados totais, no momento da maior queda da produção, segundo dados oficiais, era, nos Estados Unidos, de 32%, e na Inglaterra, de 22%. Na Alemanha, a porcentagem dos desempregados totais, entre os membros dos sindicatos, atingiu, em 1932, a 43,8%, e dos desempregados parciais, a 22,6%. Em cifras absolutas, o número de desempregados totais, em 1932, era o seguinte: nos Estados Unidos, segundo dados oficiais, 13,2 milhões de pessoas; na Alemanha, 5,5 milhões; na Inglaterra, 2,8 milhões. Em todo o mundo capitalista, em 1933, existiam 33 milhões de pessoas inteiramente desempregadas. Enormes proporções atingiu o número dos semidesempregados. Assim, nos Estados Unidos, o número dos semidesempregados era, em fevereiro de 1932, de 11 milhões de pessoas.
O crônico funcionamento das fábricas e usinas abaixo de sua capacidade e a queda da capacidade aquisitiva das massas dificultam a saída da crise. O crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade limita os marcos da renovação e da ampliação do capital fixo e obstaculiza a passagem da depressão a reanimação e ao ascenso. No mesmo sentido atuam o desemprego crônico em massa e a política dos .altos preços monopolistas, que restringe a ampliação da venda de objetos de consumo. Em consequência disso, prolonga-se a fase de crise.
A reanimação e o ascenso, que chegaram após a crise de 1920/1921, processaram-se muito desigualmente e, mais de uma vez, foram interrompidas por crises parciais. Nos Estados Unidos, as crises parciais de superprodução tiveram lugar em 1924 e 1927. Na Inglaterra e na Alemanha, houve considerável queda da produção em 1926. Já após a crise de 1929/1933, não teve lugar a depressão habitual, mas uma depressão de tipo espacial, que não conduzia ao florescimento da indústria numa nova e mais elevada base, mas apenas ,a certa reanimação da produção. A produção industrial do inundo capitalista, em 1937, superou o nível de 1929 tão somente em 4%, sendo que em muitos países capitalistas (França, Itália, Bélgica e outros), não atingiu sequer o nível de 1929. Em meados de 1937, iniciou-se no mundo capitalista uma nova crise econômica, que surgiu nos Estados Unidos e depois se estendeu a Inglaterra, França e uma série de outros países.
O volume total da produção industrial no mundo capitalista, em 1938, foi de 9% inferior ao de 1937, sendo que nos Estados Unidos foi de 21%; na Inglaterra, em 6%; na França, em 7%. Em relação a 1929, o volume total da produção industrial, em 1938, era o seguinte: nos Estados Unidos, 81,4%; na França, 76,1%; na Itália, 98,5%.
A crise de 1937/1938 distinguiu-se da crise de 1929/1933, em primeiro lugar, porque não surgiu após uma fase de florescimento da indústria, como aconteceu em 1929, mas após certa reanimação. Além disso, a crise de 1937/1938 sofria a influência da militarização da economia, que se desenvolvia numa série de países. Ela surgiu no período em que o Japão desencadeava a guerra na China, e a Alemanha e a Itália trasladavam sua economia para os trilhos da economia de guerra e quando muitos outros países capitalistas se reorganizavam de modo militarizado. Em consequência disso, a crise de 1937/1938 não abrangeu uma série de países (Alemanha, Itália, Japão). A crise foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial.
Nas condições da crise geral do capitalismo, tornam-se mais frequentes e mais profundas as crises agrárias. Em seguida a crise agrária dos anos de 20, iniciou-se em 1928 uma nova e profunda crise agrária, que durou até a Segunda Guerra Mundial. A superprodução relativa de produtos agrícolas provocou uma forte queda dos preços, o que piorou a situação do campesinato.
Nos Estados Unidos, em 1921, o índice de preços para os granjeiros baixou a 58,8% com relação ao nível de 1920, e, em 1932, a 43,9%, com relação ao nível de 1928. A produção agrícola, nos Estados Unidos, reduziu-se, em 1934, a 70,7%, com relação ao nível de 1928, e a 69,9%, com relação ao nível de 1920. Caíram os ingressos dos camponeses.
A decomposição do capitalismo, no período da sua crise geral, manifesta-se na redução geral dos ritmos de crescimento da produção. Os ritmos médios anuais de crescimento da produção industrial do mundo capitalista foram os seguintes: no período de 1890 a 1913, 3,7%; no período de 1913 a 1958, 2,4%. Ao mesmo tempo, acentuou-se fortemente a desigualdade de desenvolvimento da produção capitalista.
No período da crise geral do capitalismo, a burguesia monopolista, ao esforçar-se para deter a bancarrota do sistema capitalista e conservar o seu domínio, leva a efeito um ataque ao nível de vida e aos direitos democráticos dos trabalhadores, implantando métodos policiais de governo. Intensifica-se, em todos os principais países capitalistas, o desenvolvimento do capitalismo monopolista de Estado.
Como não se encontrasse em condições de dominar pelos velhos métodos do parlamentarismo e da democracia burguesa, numa série de países — Itália, Alemanha, Japão e alguns outros — a burguesia estabeleceu regimes fascistas. O fascismo é a ditadura terrorista aberta dos grupos mais reacionários e agressivos do capital financeiro. O fascismo estabelece como fim, internamente, destruir a organização da classe operária e esmagar todas as forças progressistas, ao passo que, externamente, o seu fim é preparar e desencadear a guerra de conquista pelo domínio mundial. O fascismo alcança esses fins por métodos de terror e de demagogia social.
A crise econômica mundial de 1929/1933 e a crise de 1937/1938 conduziram ao brusco agravamento das contradições, tanto dentro dos países capitalistas, como entre eles. Os Estados imperialistas buscaram a saída destas contradições no caminho da preparação da guerra por uma nova redivisão do mundo.
Notas de rodapé:
(98) V.I. Lênin, Informe Sobre o Reexame do Programa e as Modificações na Denominação do Partido, no VII Congresso do PCR (b), Obras, t. XXVII, p. 106. (retornar ao texto)
(99) V.I. Lênin, Chauvinismo Mortal e Socialismo Vivo, Obras, t. XXI, p. 81. (retornar ao texto)
(100) I.V. Stálin, Balanço Político do Comitê Central ao XVI Congresso do PC Pan-Russo (b). Obras, t. XII, p. 346. (retornar ao texto)
(101) V.I. Lênin, Teses do Informe Sobre Tática do PCR ao III Congresso da Internacional Comunista, Obras, t. XXXII, p. 429. (retornar ao texto)
(102)E. Thaelman, Tarefas da Revolução Popular na Alemanha. Informe a Reunião Plenária do CC do PCA a 15 de janeiro de 1931. (retornar ao texto)
Inclusão | 25/05/2015 |