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Primeira Edição: publicado no Mundial, Lima, em 30 de agosto de 1929
Fonte: Nova Cultura - https://www.novacultura.info/post/2021/08/30/mariategui-o-problema-da-palestina
Tradução: Equipe de Traduções Nova Cultura
Transcrição: Igor Dias
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
O conflito entre árabes e judeus na Palestina, ostensivo e manifesto desde que a organização do estado sionista começou sob os auspícios da Grã-Bretanha, entrou em um estágio de crise aguda. Os árabes aparentemente propõem a destruição das colônias fundadas na Palestina pelos judeus. (O ataque foi particularmente violento contra a nova cidade hebraica de Tel Aviv). Em qualquer caso, eles reagiram violenta e barbaramente contra o restabelecimento dos judeus em um território que era historicamente deles, mas do qual longos séculos de ostracismo cancelaram seus títulos de propriedade material. Os excessos perpetrados pelos árabes contra os judeus nestes dias de terror, revivem os dias mais sinistros de perseguição ao povo de Israel. As hordas do Islã nunca foram mais benignas quando impulsionadas pela fúria da guerra santa, embora desta vez a luta seja, apesar de suas aparências e do incidente no Muro das Lamentações de onde se origina, uma luta de povos, de raças, mais do que de religiões.
Os judeus estão no território da Palestina, uma minoria nacional. Dez anos de propaganda sionista não decidiram pela repatriação, mas por uma parte das massas mais brutalmente hostilizadas pelo antissemitismo na Europa Central e alguns grupos de estudantes e intelectuais, misticamente apaixonados pelo ideal da ressurreição da pátria judaica. A população árabe invoca seu direito de posse, contra os títulos tradicionais da população judaica que se instala no território palestino. E a Grã-Bretanha, obrigada a dar garantias para a formação da casa nacional judaica, uma vez que esse território está sob seu protetorado, se depara com um problema seriamente complicado com sua política colonial. A declaração de Balfour a empenhou além de suas possibilidades. Uma intervenção britânica enérgica em favor dos judeus, jogaria contra o domínio britânico, não apenas os árabes da Palestina, mas todo o mundo muçulmano. A Grã-Bretanha teme que a questão sionista se torne mais um motivo para a agitação antibritânica de todos os povos muçulmanos que fazem parte de seu imenso império oriental. A função do protetorado britânico na Palestina deve, portanto, inspirar-se no interesse de dar garantias aos árabes, mesmo quando se propõe formalmente a dar garantias aos judeus. O jogo desses interesses contraditórios paralisa a ação britânica. A Grã-Bretanha está muito familiarizada com essas antinomias, com essas dualidades em sua política. A “hipocrisia da pérfida Albion” é um dos chavões mais antigos da história moderna. Mas eventos como os que estão ocorrendo atualmente na Palestina, excedem os limites de sua capacidade. A organização oficial sionista, embora incondicionalmente ligada à política britânica – conduta que a fez perder toda influência sobre as grandes massas judias –, foi obrigada a formular demandas que demonstram a artificialidade da construção da casa nacional israelense. A Grã-Bretanha quer ser a fada madrinha do Estado sionista. Mas não é capaz nem de reconhecer aos judeus uma verdadeira independência nacional, uma soberania efetiva no território da Palestina, nem de protegê-los contra a reação árabe com sua autoridade e poder imperiais.
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