MIA> Biblioteca> José Carlos Mariátegui > Novidades
Primeira Edição: Da carta de 10 de janeiro de 1927, enviada por José Carlos Mariátegui ao Enrique Espinoza (pseudônimo do escritor Samuel Glusberg), diretor da revista argentina La Vida Literaria. A carta foi publicada na edição de maio de 1930, em homenagem à Mariátegui, que havia falecido recentemente.
Tradução: Rafael Noris - da versão disponível em https://www.marxists.org/espanol/mariateg/1927/ene/10.htm
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
"Embora eu seja um escritor muito pouco autobiográfico, te darei eu mesmo algumas informações resumidas. Nasci em 95. Aos 14 anos entrei como ajudante em um jornal. Até 1919 trabalhei com jornalismo, primeiro no “La Prensa”, depois no “El Tiempo” e, por fim, no “La Razón”. Neste último jornal defendemos a reforma universitária. A partir de 1918, cansado da política criolla, me orientei definitivamente rumo ao socialismo, rompendo com minhas primeiras experiências de escritor aficionado pelo decadentismo e bizantinice de fim de século em pleno apogeu. Do fim de 1919 a meados de 1923 viajei pela Europa. Residi mais de dois anos na Itália, onde me casei com uma mulher e algumas ideias. Andei pela França, Alemanha, Áustria e outros países. Minha mulher e meu filho me impediram de chegar na Rússia. Da Europa, eu me entendi com alguns peruanos sobre a ação socialista. Meus artigos dessa época apontam essa passagem da minha orientação socialista. Em minha volta ao Peru, em 1923, em reportagens, conferências na Federación de Estudiantes, na Universidad Popular, artigos, etc., expliquei a situação europeia e iniciei meu trabalho de investigação da realidade nacional, utilizando o método marxista. Em 1924 estive, como já te contei, a ponto de perder a vida. Perdi uma perna e fiquei numa situação delicada. Certamente teria me curado totalmente com uma vida tranquila, mas nem minha pobreza nem minha inquietude espiritual me permitiram isso. Não publiquei mais livros do que os que você conhece. Tenho dois prontos e outros dois em andamento. Eis aqui minha vida em poucas palavras. Não creio que valha a pena fazê-la conhecida, mas não posso recusar as informações que você me pede. Quase me esqueço: sou um autodidata. Matriculei-me em Letras em Lima, mas com o único interesse de acompanhar o curso de latim de um sábio agostiniano. E na Europa frequentei alguns cursos livremente, mas decidido a nunca perder meu caráter extrauniversitário e talvez até antiuniversitário. Em 1925 a Federación de Estudiantes me convidou para a Universidad como professor catedrático na matéria de minha competência, mas a má vontade do Reitor e, certamente, meu estado de saúde, frustraram essa iniciativa."