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No século XVI ocorreram importantes mudanças na estrutura da sociedade Russa. Embora a sociedade continuasse a ser feudal, dentro da classe dos nobres proprietários de terras estavam a ocorrer muitas transformações. Anteriormente, os poderosos boiardos tinham sido os principais proprietários de terras. Dentro deste grupo, os descendentes dos antigos príncipes eram particularmente ricos e influentes, pois possuíam grandes extensões de terra.
Quando se formou o Estado unificado, a posição dos poderosos boiardos tornou-se mais difícil, a passo que os dvoryane (como passaram a ser conhecidos os velhos pomshchiki — nobres que recebiam terras em troca de serviços prestados) começaram a prosperar. À medida que os principados individuais perderam a sua antiga independência, as propriedades dos boiardos e dos príncipes diminuíram e foram muitas vezes divididas, vendidas ou hipotecadas. O número dos dvoryane aumentou muito. Os boiardos lutavam com os czares pelo poder e, na sua luta para refrear o poder dos boiardos, os czares começaram a apoiar-se cada vez mais nos dvoryane.
Os dvoryane também eram proprietários de terras mas as suas propriedades eram diferentes das dos boiardos. As enormes propriedades destes últimos eram bens hereditários, legados de pai a filho.
As propriedades dos dvoryane eram mais pequenas e não eram transmissíveis: recebiam-nas directamente do czar em troca de serviços militares. Se um membro da dvoryanstvo deixasse de servir as forças do Estado russo, as suas terras eram automaticamente confiscadas.
Isto significava que os dvoryane dependiam do czar da Rússia. Estavam satisfeitos com este estado de coisas, porque anteriormente, quando estavam dependentes dos pequenos príncipes a sua posição tinha sido decididamente menos favorável. Tinham sido apenas servos insignificantes dos príncipes ou, o que era pior, servos dos servos dos príncipes, e recebiam em troca pequenas propriedades. O beleguim do príncipe superintendia no seu serviço. Durante esse período os dvoryane estavam completamente separados do mundo exterior nos confins das longínquas propriedades.
À medida que os principados individuais se foram fundindo num Estado russo unificado, a posição dos dvoryane começou a melhorar consideravelmente. Os czares da Rússia aceitaram grande número de dvoryane ao seu serviço e deram-lhes propriedades. Uma vida completamente diferente abriu-se aos dvoryane: valia-lhes muito mais a pena servir um rico e poderoso czar russo. Este distribuiu grandes propriedades a mais camponeses, e estar ao seu serviço era mais agradável — significava mais liberdade de acção, ganhos materiais e prestígio social depois da relativa humilhação anterior. Foi nessa massa de dvoryane que o czar Ivan IV (conhecido por o Terrível) se apoiou quando procurou introduzir a ordem e controlo do Estado nos principados anteriormente independentes.
O grande território do Estado russo incluía os antigos principados Russos independentes, e pouco tinha na realidade mudado na administração e costumes de muitos deles. Os descendentes dos antigos príncipes ainda exerciam poder considerável nas províncias. Regiões isoladas dos antigos principados ainda resistiam defendendo a sua independência, dirigidas pelos boiardos e pequenos príncipes, que ainda tinham destacamentos armados à sua disposição e foram para a guerra com exércitos inteiros. Como anteriormente estes príncipes costumavam dar pequenas propriedades aos seus vassalos, fazendo publicar cartas com este fim, chamando-se a si próprios soberanos e gozando de autoridade absoluta sobre os destinos dos membros das comunidades ao seu serviço. Como acontecera antes, o povo considerava mais o boiardo local como seu senhor do que o czar. Todos estes factores minaram a autoridade da administração estatal centralizada. Na própria Moscovo, os boiardos impediram que fosse posta em prática a política do governo. Consideravam que o sangue nobre os tornava iguais ao czar e não queriam submeter-se a qualquer autoridade superior. Os príncipes minaram a consolidação de um Estado centralizado, ameaçando a sua própria existência. Desde o início do seu reino, Ivan IV começou a procurar maneira de impor um governo central forte.
Na sua luta contra os boiardos o czar voltou-se para os dvoryane. Em 1564, quando decretou a oprichnina (um complexo conjunto de medidas destinadas a consolidar a autocracia) esta luta entrou numa fase decisiva.
Em 1564, Ivan deixou inesperadamente Moscovo em direcção a Alexandrovskaya Sloboda, perto do Norte da capital, e anunciou aos boiardos que já não desejava ser o seu czar. Exigiu deles uma autorização de dividir o seu reino em duas partes, numa das quais governaria como quisesse. Uma das suas primeiras tarefas seria escolher de entre os seus seguidores aqueles que desejava manter ao seu serviço e que eram bons para o novo trabalho que os esperava.
O pedido do czar foi aceite e o Estado foi dividido em dois reinos distintos e independentes — um Oprichnina e um Zemshchina, estando o primeiro sob o seu governo pessoal. Ivan IV incorporou pouco a pouco nesta terra a melhor metade do Estado, com suas ricas cidades e as melhores rotas comerciais, expulsando os boiardos, privando-os das propriedades hereditárias e mandando executar muitos deles. Aqueles a quem não molestou foram expulsos para a Zemshchina, onde ainda estava em vigor a velha organização dos boiardos. Ivan, o Terrível, instituiu mesmo aí, para salvaguardar as aparências, um novo «czar», o tártaro Simão Bekbulatovich que tinha muito medo do czar e cumpria obedientemente todas as suas ordens. O czar escrevia-lhe deliberadamente petições formais, assinando o seu nome sem qualquer título como se fosse um dos súbditos de Bekbulatovich. Na prática, porém, era Ivan IV que dominava sobre todos.
Deste modo, foi seriamente minado o poder dos boiardos nas províncias. Contudo, não foram privados da situação de proprietários de terras privilegiadas. Os que sobreviveram ao conflito com o czar ocupavam agora uma posição semelhante à dos dvoryane e contentavam-se com quaisquer terras que lhes dessem. O czar distribuiu as propriedades hereditárias dos boiardos pelos dvoryane, a quem eram dadas muitas novas propriedades muitas vezes com camponeses que eram obrigados a trabalhar para eles.
A ambição dos que apoiavam Ivan não conhecia limites. Apossavam-se dos bens dos boiardos e roubaram os cavalos, as vacas e os cereais dos camponeses. Se os camponeses oferecessem resistência eram assassinados. Um deles costumava gabar-se:
«Parti com um cavalo e voltei com quarenta e nove. Vinte e dois puxavam trenós cheios de diversas mercadorias.»
Os oprichniki de Ivan (os dvoryane que tinham apoiado Ivan IV quando ele estabeleceu o seu novo reino da oprichnina) galopavam pelo território com uma cabeça de cão e uma vassoura atadas às selas para significar que podiam mostrar os dentes e tratariam os inimigos do seu soberano como cães e que varreriam a traição da terra.
Ivan IV realizou as suas reformas com impiedosa crueldade. Não foi por coincidência que mais tarde as palavras oprichnik e oprichnina vieram a simbolizar a arbitrariedade desenfreada dos cães leais à autocracia. A «justificação» desta instituição foi que ela eliminava o poder dos boiardos nos seus antigos principados e substituía a velha ordem pelo poder real do czar. Neste processo, os nobres menores a quem foram dadas terras em troca dos seus serviços e que constituíam o principal apoio do czar iam constituir um grupo social muito mais poderoso. Foram eles que construíram o reino de Ivan.
À medida que o poder dos dvoryane aumentou a posição dos camponeses piorou. As suas obrigações para com os seus senhores aumentaram muito, assim como os poderes dos proprietários de os obrigar a trabalhar. Anteriormente os camponeses tinham a possibilidade de mudar de senhor e de ir em alturas do ano específicas estabelecer-se numa nova região. Ivan IV ia mudar tudo isto: a altura em que os camponeses tinham autorização de mudar de senhor ficou restringida à semana do Dia de Santo Yuri (26 de Novembro), que era no fim da estação agrícola e assim significava um mínimo de perdas para os proprietários.
No final do reinado de Ivan, o Terrível, este antigo direito foi abolido. Gradualmente os proprietários ligaram os seus camponeses à terra e a servidão enraizou-se.
Não longe das fronteiras orientais do Estado russo havia um rio largo e facilmente navegável, o Volga, que constituía uma excelente via de ligação para o Oriente — para a Pérsia e para a Turquia e ainda mais longe pela via do mar Cáspio. Contudo, os russos ainda não controlavam o rio em toda a sua extensão. Depois da desintegração da Horda Dourada, os Tártaros tinham estabelecido dois khanatos junto do Volga, com um centro em Kazan e outro Astrakan.
Em 1552, Ivan, o Terrível, marchou sobre Khazan com um grande exército de 150 000 soldados e 150 canhões. As tropas russas cercaram a cidade e desta vez o equipamento militar russo era superior ao dos tártaros. Os engenheiros russos cavaram covas sob os muros da cidade, encheram-se com caixas de pólvora e depois fizeram-nas explodir. As tropas entraram então na cidade através das fendas que tinham aberto nos muros. Ivan, o Terrível, entrou triunfante a cavalo na cidade. Quatro anos mais tarde as tropas de Ivan iam obter outra vitória, sobre o khanato de Astrakan. Desta maneira, a Rússia estendeu o seu poder sobre a bacia do Volga e pôde, assim, abrir uma nova rota comercial importante, bem como fortalecer as suas fronteiras orientais. No Sul, as fronteiras da Rússia estendiam-se até aos troços inferiores do Terek e às colinas do sopé do Cáucaso. Kabarda passou voluntariamente para a protecção da Rússia e em meados do século XVI seguiu-se-lhe a Bachkiria.
Para além dos Urais ainda existia o khanato siberiano, abrangendo parte da Sibéria Ocidental, incluindo os vales dos rios Tobol e Irtych. Os comerciantes de Novgorod costumavam vir até estas paragens em busca de peles. No século XVI, este território era governado por Khan Kuchum, que explorava os habitantes locais e lhes exigia tributo na forma de peles. Os dvoryane russos da família Stroganov que se tinham vindo estabelecer naquelas regiões ajudaram o Estado russo a entrar na posse do khanato siberiano. Reuniram uma pequena força de cossacos livres que tinham fugido da Rússia para evitar a opressão nas mãos dos Boiardos e puseram-nos, assim, como a vários grupos de homens do seu séquito armado sob o comando de Yermak Timofeyevich, fornecendo-lhes pólvora, balas, canhões e cereais. A força conjunta de Yermak era de 800 homens. Com esta pequena força ia ocupar vastos territórios.
Em 1581, Ivan, o Terrível, deu aos Stroganovs uma carta que os autorizava a conquistar a Sibéria. Os homens de Yermak desceram as encostas orientais dos Urais e atacaram o khanato siberiano. Os Tártaros não conseguiram lutar contra as armas de fogo das tropas russas. Yermak venceu, mas não conseguiu regressar da Sibéria. Afogou-se no rio Irtych quando ia a fugir de um ataque nocturno feito pelos Tártaros. Parte da população da Sibéria prestou vassalagem à Rússia, de livre vontade, e no final do século XVI começaram a surgir por ali aldeias russas.
Mais tarde, no século XVII, a Sibéria Oriental também foi incorporada no Estado russo, de maneira que nesta altura este incluía a parte oriental da Europa e estendia-se muito para além dos Urais. Durante o reinado de Ivan, o Estado crescera consideravelmente em tamanho e em poderio.
Os séculos XV e XVI assistiram a importantes progressos culturais na Rússia, com o centro em Moscovo.
Durante o reinado de Ivan, o Terrível, foi introduzida em Moscovo a primeira imprensa, o que significava que a produção de livros se tornava um processo muito mais rápido e barato.
O primeiro impressor de Moscovo foi Ivan Fyodorov (que morreu em 1583). Um dos primeiros livros a ser publicado foi uma edição de «Os Actos dos Apóstolos», impressa em escrita eslava ornamental.
Esta primeira imprensa provocou a ira daqueles que copiavam livros à mão, porque viram nesta descoberta um perigoso rival, que lhes iria tirar o ganha-pão. Destruíram a imprensa e Ivan Fyodorov foi obrigado a fugir. Pouco depois Ivan, o Terrível, arranjou maneira de estabelecer de novo a imprensa, mas desta vez mais perto da sua corte em Alexandrovskaya Sloboda. Mais tarde foi exigido um monumento a Ivan Fyodorov em Moscovo não longe do Kremlin, perto do local da sua primeira imprensa.
Os ofícios também prosperaram nesta altura na Rússia, sobretudo a moldagem do ferro. Um dos mais famosos moldadores de ferro foi Andrei Chokhov (que morreu cerca de 1631) que trabalhava na fundição de canhões de Moscovo. Cada um dos seus canhões era de forma diferente; eram postos em moldes de cera e eram armas extremamente eficientes. A cada canhão era dado um nome especial, como Urso, Lobo, Raposa ou Aquiles. Os mais famosos eram o canhão Czar que ainda está no Kremlin de Moscovo. Pesa quarenta toneladas e a sua rica decoração inclui a figura do czar a cavalo — daí o seu nome.
Muitos dos edifícios construídos durante esse período iam-se tornar exemplos famosos da arquitectura russa. Incluem a magnífica catedral de S. Basílio que ainda hoje valoriza a Praça Vermelha. A igreja foi construída por ordem de Ivan, o Terrível, para comemorar a tomada de Khazan. Consiste num grupo de torres de capelas coroadas por cúpulas; todas as capelas estão ligadas por meio de passagens abobadadas e têm galerias em volta das paredes. Cada uma das cúpulas está decorada de maneira diferente, com padrões em ziguezague e ondulados. No entanto, todas se harmonizam num todo encantador e inimitável que é um prazer contemplar.
Um famoso engenheiro russo da época foi Fyodor Kon, que construiu muitas fortificações famosas na segunda metade do século XVI. Foi ele que planeou os muros e torres que fechavam a Cidade Branca (a área que ocupam as actuais avenidas), fazendo assim de Moscovo uma fortaleza. Também superintendeu na construção das fortes muralhas e torres de Smolensk, projecto que precisou do trabalho de seis mil trabalhadores. No fim do século XVI, a Torre de Ivan, o Grande, foi elevada a uma altura de 75 metros dentro dos muros do Kremlin de Moscovo. Esta torre tão elevada é impressionante por uma grande simplicidade de linhas e pelas suas proporções elegantes. Foi utilizada como campanário e torre de observação: sentinelas vigilantes estavam postadas na galeria superior para se assegurarem de que não havia inimigos a aproximarem-se de Moscovo.
O início do século XVII foi marcado por grandes agitações camponesas, maiores do que alguma vez tinha havido na Rússia. As explosões de revolta seguiam-se umas às outras e estes anos ficaram na história como o «Tempo das Perturbações». A mais significativa destas explosões foi a revolta camponesa conduzida por Ivan Bolotnikov (morto em 1608).
Bolotnikov era um servo ao serviço do príncipe Telyatevssky. Na sua juventude fugira do seu senhor, tendo depois sido feito prisioneiro pelos Tártaros sendo depois vendido aos turcos.
Depois de alguns anos de trabalho esgotante como escravo nas galeras, fugiu da Turquia para Veneza.
Enquanto esteve em Veneza, Bolotnikov ouviu dizer que tinham estalado na Rússia grandes revoltas camponesas. O descontentamento popular tinha sido grande, desde o reinado do filho de Ivan IV, Fyodor (1584-1589). Estas revoltas continuaram durante a regência de Boris Godunov que mais tarde foi eleito czar, pois Fyodor morreu sem deixar herdeiros. Durante o reinado de Boris Godunov (1598-1605) houve uma terrível fome na Rússia que durou três anos. As pessoas ficaram reduzidas a comer cascas das árvores, gatos e cães. Multidões de camponeses fugiram dos seus senhores, a consequência imediata foi a formação de grandes bandos de camponeses sem lar que atacavam os dvoryane e os mercadores. Alguns pretendentes iam aparecer em cena apresentando direitos ao trono. O protegido dos nobres polacos era um antigo monge Grigoy Otrepyev que afirmava ser o filho de Ivan, o Terrível, Dmitry. Cognominado o Pretendente, foi aclamado czar da Rússia pelos nobres polacos. Entretanto, ocorriam cada vez mais revoltas populares por todo o país.
Bolotnikov era um opositor declarado da escravatura e defendia os interesses do povo comum. Era um homem de recursos, inteligente e corajoso na arte da guerra. Acabou por voltar à Rússia pela Alemanha e pela Polónia e, em 1606, tornou-se no líder dos camponeses revoltosos. Os camponeses oprimidos reuniram-se em volta dele.
Bolotnikov andou a aliciar pelo país exortando os camponeses a pegarem em armas contra os proprietários:
«Deixai os boiardos e os proprietários, pilhai as suas casas, apoderai-vos dos seus bens. Vingai-vos dos senhores das terras, servos do czar, aprisionai-os.»
Outro líder camponês se lhe juntou, Ileika Muromets, campeão dos moradvinianos do vale do Volga também se sublevaram. Reinava o descontentamento entre os Bachkirs nas colinas do sopé dos Urais e entre os Kalmuks da região Astrakan. Os servos camponeses eram a força impulsionadora da revolta; procuravam pôr fim à escravidão e à opressão feudal. Bolotnikov incitou os camponeses a livrarem-se dos boiardos e apoderarem-se das suas terras e bens e a dividirem tudo entre si. Declarou os camponeses livres da servidão feudal e isto tornou-se o principal motivo da revolta.
O exército de Bolotnikov marchou sobre Moscovo e estabeleceu-se perto da cidade. O novo czar Vassily Chuisky (1552- 1612) partiu a dar-lhes batalha.
Perto de Moscovo houve traição no exército de Bolotnokiv. Alguns dvoryane de Ryazan que até aí o tinham apoiado passaram-se para o lado de Vassily Chuisky. Bolotnikov foi obrigado a retirar de Moscovo e a reunir as suas forças perto de Tula. Chuisky pôs cerco a Tula em Junho de 1607. Em Outubro começou a haver fome em Tula, contudo os seguidores de Bolotnikov resistiram. Então o czar ordenou que fossem fechados os diques do rio Upa, que atravessava a cidade. O rio inundou a cidade e em Outubro a cidade rendeu-se. Arrancaram os olhos a Bolotnikov e afogaram-no. A revolta foi ferozmente esmagada.
Incapaz de enfrentar os camponeses revoltosos com o seu exército, o czar Vassily Chuiski decidiu pedir ajuda ao rei da Suécia. Na Primavera de 1609 entraram em Novgorod tropas estrangeiras com brilhantes armaduras de aço. Eram forças enviadas pelo rei sueco, e eram constituídas por quinze mil mercenários suecos, alemães, franceses e ingleses. Pouco depois tinham conquistado toda a província de Novgorod.
Nesta altura a Polónia era muito hostil à Suécia. Logo que as tropas suecas atravessaram a fronteira russa, foram também mandadas para a Rússia tropas polacas, porque os nobres polacos estavam ansiosos por exigir a sua parte dos despojos. Os polacos penetraram até ao interior da Rússia e na aldeia de Kluchino (entre Moscovo e Smolensk) as tropas de Chuisky foram derrotadas.
Em Julho de 1610, os boiardos moscovitas derrubaram Chuisky, obrigaram-no a tornar-se monge e começaram a lutar pelo poder. Finalmente, decidiram eleger um príncipe estrangeiro para czar — Vladislau, de quinze anos, filho do rei polaco Sigismundo III (1587-1632).
Entretanto, forças polacas avançavam sobre Moscovo. Durante falhou em absoluto. Juraram vassalagem a Vladislau na catedral de Uspensky e abriram os portões da cidade aos nobres polacos. No Outono de 1610, tropas polacas ocuparam Moscovo e os seus senhores da guerra iam tomar-se os novos governantes do pais. Foi também o nadir da infelicidade de Moscovo. Moscovo, a capital do reino, estava nas mãos de conquistadores estrangeiros: os nobres polacos estabeleceram-se no Kremlin, formaram a sua guarda e apoderaram-se das chaves da cidade. Proibiram os camponeses das aldeias vizinhas de entrarem na cidade e instituíram uma hora de recolher à noite. Os soldados polacos iam às aldeias vizinhas, apoderavam-se dos cereais, dos gados e incomodavam os camponeses. Os nobres polacos roubaram muitas coisas valiosas do tesouro do czar e começaram a apoderar-se de grandes propriedades para si e para o seu séquito. O rei polaco Sigismundo tomou Smolensk e outras cidades das fronteiras ocidentais da Rússia, enquanto os Suecos ocupavam Novgorod.
Os invasores estrangeiros estavam a desmembrar o Estado russo. Tinha de se fazer alguma coisa antes que fosse demasiado tarde. Só um movimento popular muito amplo podia pôr fim a este triste estado de coisas. O povo sublevou-se nesta altura. A resistência popular começou nas cidades do Norte da Rússia e ia centrar-se, dentro de pouco tempo, na cidade de Njini Novgorod junto do Volga. O movimento foi organizado pelo presidente da Comuna de Njini Novgorod, Kozma Minin (que morreu em 1616). Era preciso um grande exército para expulsar os invasores polacos e para manter tal exército era preciso muito dinheiro. Minin exortou o povo:
«Não poupeis nada, não podemos hesitar em vender as nossas casas, alugar as nossas mulheres e filhos e juntar dinheiro para pagar aos soldados.»
De todas as partes do país os homens traziam a Minin dinheiro, objectos valiosos e víveres. O povo sacrificou os seus últimos haveres. Muitas cidades mandaram destacamentos armados respondendo ao apelo de Minin, e em breve se reuniu um grande exército popular.
O experimentado comandante, príncipe Dmitry Pojharsky (cerca de 1578-1642) foi escolhido para chefiar o exército. A organização da campanha e o tesouro estavam nas mãos de Minin. Em 1612, as forças russas marcharam para Yaroslav, onde se lhe juntaram forças de outras cidades.
Em breve, notícias alarmantes chegaram a Minin e a Pojharsky. Grandes destacamentos de polacos bem equipados de armas e víveres e chefiados pelo hetman Chodkiewicz partiu para ajudar os Polacos em Moscovo. Perante esta notícia, Minin e Pojharsky conduziram os seus homens para Moscovo a toda a pressa.
Havia nessa altura muitos destacamentos camponeses e de cossacos acampados perto de Moscovo, visto que se estavam a dar numerosas revoltas camponesas. De início, estes camponeses não estavam dispostos a entender-se com os homens de Pojharsky, parte deles afastaram-se de Moscovo, mas o resto acabou por juntar-se à campanha comum contra os invasores estrangeiros. Estes reforços decidiram o resultado da luta. Chodkiewicz foi obrigado a recuar e os Polacos estabelecidos em Moscovo não tinham ninguém para quem se voltar. O exército de Minin e Pojharsky cercou Moscovo. No final de Novembro, os Polacos foram derrotados de uma vez para sempre e expulsos da cidade. Tal foi a ignominiosa conclusão do seu ataque à Rússia, onde foram derrotados pelos esforços combinados do povo propriamente dito.
Inclusão | 29/06/2016 |