Conselhos de Desempregados em São Petersburgo em 1906

Sergei Malyshev


A primeira organização de desempregados na Duma Municipal de São Petersburgo


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Depois de um enorme trabalho preparatório para o auxílio dos desempregados foi realizado entre os grupos pequeno-burgueses, o Conselho de Desempregados elegeu uma delegação que iria à Duma Municipal no dia 28 de Março para entregar as assinaturas da petição mencionada anteriormente.

A delegação consistia de quinze membros, e no dia 28 de Março foi à Duma Municipal. Os conselheiros da cidade se espantaram com esse grupo de trabalhadores. O prefeito convidou os delegados ao seu escritório a fim de tomar conhecimento de suas demandas, mas os delegados se recusaram a dialogar com ele, declarando que haviam sido comissionados para levar a questão diretamente à Duma Municipal, e não a indivíduos. Não havia sessão da Duma Municipal neste dia, pois apenas alguns poucos conselheiros haviam aparecido; os outros membros receberam a informação que algum tipo de delegação estava a caminho, e deliberadamente faltaram à sessão da Duma. A delegação se retirou, mas informou os conselheiros presentes e o prefeito que eles iriam retornar na próxima sessão.

A próxima sessão ordinária seria realizada no dia 12 de Abril. Consequentemente, o Conselho de Desempregados tinha ainda duas semanas a seu dispor para melhor se preparar. A agitação foi renovada em todas as fábricas e usinas e isso instigou os trabalhadores empregados e apoiar com ainda mais vigor os desempregados, aumentando o número de assinaturas na petição. Os oradores Bolcheviques do Conselho de Desempregados foram a todas as fábricas e usinas com grupos de desempregados, organizaram encontros e aprovaram resoluções.

Durante este período, não apenas o jornal Bolchevique, Volna, realizou uma campanha para o movimento, mas também alguns jornais liberais publicaram artigos favoráveis à organização dos desempregados e insistindo na necessidade da Duma Municipal criar empregos públicos para os desempregados. A opinião pública ficou bastante alarmada com a situação dos desempregados. Todo o grupo de eleitores(1) para a Duma Estadual decidiu apoiar a delegação de desempregados na Duma Municipal.

No dia 12 de Abril de 1906, nossa delegação, consistindo de trinta pessoas — quinze desempregadas e quinze empregadas — se apresentou na Duma Municipal de São Petersburgo. O corpo completo do Conselho de Desempregados consistia naquele período em sessenta pessoas, mas metade deles não compareceram à Duma, pois, caso houvessem prisões, o Conselho manteria seu trabalho sem interrupções. A polícia já observava de perto o Conselho e tais precauções foram necessárias. Inclusive, no dia em que a delegação foi à Duma Municipal, a polícia invadiu os locais onde haviam ocorrido encontros formais do Conselho e prendeu todos os presentes. Mas não havia delegados ou membros do Conselho de Desempregados entre eles.

Antes de receber a delegação, a Duma Municipal teve uma sessão a portas fechadas e decidiu por aceitar sua presença e em consentir com suas demandas na medida do possível a fim de não criar conflito com os trabalhadores. Essa decisão não era de conhecimento do público em geral e dos desempregados.

No começo da sessão, enquanto chegávamos, um grande número de pessoas entrou nas câmaras da Duma. Cinco representantes do Conselho de Desempregados discursaram, e eles não mediram palavras.

"Nós não pedidos nada a vocês; nós exigimos!” disse um dos oradores. "Nós pensamos que todo o dinheiro a seu dispor pertence a nós por direito.” "Se vocês não oferecerem empregos aos desempregados, só nos resta rouba-los”, disse outro orador.

"Vocês não viram os desempregados,” exclamou um dos representantes da delegação, um jovem trabalhador. "Eu vivo com eles. E eu posso dizer a vocês como eles vivem. Eu posso dizer o que aqueles que me enviaram aqui me disseram: ‘Vá e fale aos conselheiros e a Duma Municipal, e se eles não te ouvirem, nós mesmos iremos e os agarraremos pela garganta.”

Os conselheiros ouviram pacientemente mesmo esses discursos, e quando os discursos se encerraram, eles propuseram que os delegados deixassem o salão da Duma. Mas declaramos que nos não iríamos sair até que tivéssemos recebido as respostas às nossas demandas. Então os conselheiros anunciaram uma suspensão, retiraram o público geral, e retornaram a sessão com a delegação de desempregados presente.

O Conselheiro N. N. Shnitnikov foi o primeiro a falar, e como o conselheiro com o posicionamento à esquerda mais radical, ele leu as estimativas do conselho municipal sobre empregos que poderiam ser dados aos desempregados.

"O conselho municipal acredita que isto seja possível,” declarou Shnitnikov:

"1. Empregar entre 200 e 400 trabalhadores durante Junho deste ano para construir canais e completar o Canal Catherine.

2. Empregar, começando em Maio deste ano, no porto de Hallerna, entre 300 e 400 pessoas no trabalho mecânico, e entre 2000 e 2500 pessoas no trabalho manual.

3. Empregar 100 pessoas no trabalho de ajustar o Rio Karnovki em um futuro próximo.

4. Empregar 300 pessoas na construção da Agência de Empregos, do Mercado de Lotzman, e de abrigos públicos.

5. Empregar 400 pessoas em empregos eventuais.

6. Empregar alguns dos desempregados na construção das pontes de Panteleimonov, Chernyshev e Anichkin”

Portanto, os conselheiros calcularam que no máximo haveria emprego para 5000 pessoas — 500 operários qualificados em diferentes áreas e 4000 operários comuns, sem contar os trabalhadores necessários para as construções das pontes, número que não pode ser calculado.

Certamente, a Duma Municipal foi, como antes, hostil ao movimento dos desempregados e aos desempregados em geral. Mas as organizações Bolcheviques e o Conselho de Desempregados foi bem sucedida em criar um forte sentimento a favor dos desempregados entre todos os grupos pequeno- burgueses e particularmente entre todos os trabalhadores de São Petersburgo. Portanto, o conselho municipal foi forçado a esconder sua hostilidade por trás deste falso desejo de ajudar todos os desempregados através da organização de empregos públicos.

Em seus discursos, os conselheiros disseram que as demandas dos desempregados eram justas, e declararam que caridade era a forma mais maléfica de se ajudar pessoas acostumadas a ganhar seu pão com trabalho honesto. Eles também disseram que o emprego público não diminuía a dignidade dos desempregados; pelo contrário, elevada sua moral, e portanto, deveria ser desenvolvido primeiro.

Nenhuma voz se levantou contra as demandas dos trabalhadores. Após o debate, a Duma adotou de maneira unânime uma resolução que dizia:

  1. Criar um comitê especial composto de 12 membros para esboçar um plano para a organização dos empregos públicos e para idealizar medidas de prevenção às dificuldades causadas pelo desemprego. Que o comitê opere em conjunto com representantes dos trabalhadores e das organizações que foram ouvidas no encontro anterior, e que elas participem do trabalho.
  2. Que o comitê considere todas as propostas feitas pelos conselheiros no presente encontro.
  3. Pedir permissão para estabelecer um comitê executivo composto de um presidente e 12 membros para administrar a organização e desempenho dos empregos públicos.
  4. Adiantar 500 mil rublos imediatamente para o propósito de se iniciar o trabalho acima mencionado, a ser administrado pelo Conselho até que o comitê executivo seja formado.

Os conselheiros e as Centenas Negras estavam tão ansiosos em demonstrar sua simpatia com os desempregados, que um dos conselheiros ligados às Centenas Negras, após ouvir as propostas, declarou:

“Por que apenas 500 mil? Eu acredito que um milhão de rublos deve ser utilizado quando pessoas estão morrendo de fome.”

A resposta foi que 500 mil era apenas um começo e que posteriormente a Duma poderia até mesmo utilizar um milhão e meio, ou mais se necessário.

No mesmo encontro da Duma, uma comissão de desempregados foi escolhida com o Conselheiro E. N. Kendri como presidente. Os conselheiros N. N. Shnitnikov, N. P. Fedorov, Petrunkevich, Falbruk, Planson e outros também foram eleitos membros da comissão. Quando a sessão da Duma foi interrompida, Kedrin veio parabenizar a delegação pelo seu sucesso, e sugeriu que três pessoas fossem escolhidas para representá-los na comissão. Mas os delegados declaram que os trabalhadores concordariam que a comissão deveria ter igual número de representantes de trabalhadores e de conselheiros e que eles devem ter o direito a voto na comissão. Kedrin ficou irado, e começou a se opor a nossa demanda. Por fim, ele nervosamente nos informou que neste caso eles teriam que trabalhar sem representantes dos trabalhadores. Toda a delegação foi para as portas. Mas Kedrin pensou melhor sobre o assunto. Ele correu atrás de nós, nos parou, e disse:

“Cavalheiros trabalhadores, a comissão aceita sua proposta. Estão satisfeitos?”

A delegação respondeu que eles consideravam a questão resolvida e que eles tomariam parte no trabalho preparatório da comissão.


Notas de rodapé:

(1) [Nota da Edição em inglês] Na Rússia neste período um sistema de votação indireta estava em vigor. Os eleitores não votavam nos candidatos dos órgãos públicos, mas votavam em eleitores, e estes votavam em outros eleitores que então, finalmente, votavam nos candidatos. ("In Russia at that time an indirect system of electors was in operation. The voters did not vote for candidates to public bodies, but voted for electors, and these voted for other electors who finally voted for the candidates") (retornar ao texto)

Inclusão: 05/12/2019