Do Artigo: Protesto dos Social-Democratas da Rússia(1)

V. I. Lênin

Setembro de 1899


Primeira Edição: Escrito em fins de agosto e início de setembro de 1899. Publicado pela primeira vez, em dezembro do mesmo ano, no estrangeiro, como suplemento do n.° 4/5 da revista Rabotcheie Dielo (A Causa Operária). Encontra-se in Obras, t. IV, págs. 157/159.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, novembro de 1961. Traduzido por Armênio Guedes, Zuleika Alambert e Luís Fernando Cardoso, da versão em espanhol de Acerca de los Sindicatos, das Ediciones em Lenguas Extranjeras, Moscou, 1958. Os trabalhos coligidos na edição soviética foram traduzidos da 4.ª edição em russo das Obras de V. I. Lênin, publicadas em Moscou pelo Instituto de Marxismo-Leninismo, anexo ao CC do PCUS. As notas ao pé da página sem indicação são de Lênin e as assinaladas com Nota da Redação foram redigidas pelos organizadores da edição do Instituto de Marxismo-Leninismo. Capa e planejamento gráfico de Mauro Vinhas de Queiroz. Pág: 31-33.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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capa

Antes de tudo, são absolutamente falsas as concepções dos autores do “Credo” com respeito ao passado do movimento operário da Europa ocidental. É falso que a classe operária do Ocidente não tenha participado da luta pela liberdade política nem das revoluções políticas. A história do movimento cartista, a revolução de 48 na França, Alemanha e Áustria demonstram o contrário. É absolutamente falso que “o marxismo constituísse a expressão teórica da prática dominante: a luta política que prevalecia sobre a luta econômica”. Pelo contrário, “o marxismo” surgiu no momento em que predominava o socialismo apolítico (owenismo, “fourierismo”, “socialismo verdadeiro”). E o Manifesto Comunista empreendeu imediatamente a luta contra o socialismo apolítico. Inclusive quando o marxismo já atuava completamente armado com a teoria (O Capital) e organizou a célebre Associação Internacional dos Trabalhadores, a luta política não era, absolutamente, a prática dominante (o trade-unionismo estreito na Inglaterra, o anarquismo e o proudhonismo nos países latinos). Na Alemanha, o grande mérito histórico de Lassalle foi transformar a classe operária, de apêndice da burguesia liberal, em partido político independente. O marxismo atou num só feixe inseparável a luta econômica e política da classe operária; e a ânsia dos autores do “Credo” de separar essas formas de luta constitui um de seus desvios do marxismo menos felizes e mais deploráveis.

Prossigamos. Também são completamente falsas as concepções que os autores do “Credo” têm sobre a situação atual do movimento operário na Europa ocidental e sobre a teoria do marxismo, que serve de bandeira a esse movimento. Falar de uma “crise do marxismo”, significa repetir as frases absurdas dos emplumados burgueses que se esforçam em atiçar toda discussão entre socialistas a fim de transformá-la numa cisão dos partidos socialistas. A famosa “bernsteiniada”, tal como geralmente a compreende o público, e em particular os autores do “Credo”, significa uma tentativa de reduzir o alcance da teoria do marxismo, uma tentativa de transformar o partido operário revolucionário em reformista, e essa tentativa, como era de se esperar, chocou-se com a enérgica condenação da maioria dos social-democratas alemães. As tendências oportunistas manifestaram-se mais de uma vez dentro da social-democracia alemã e sempre foram rechaçadas pelo Partido, que se atém fielmente aos legados da social-democracia revolucionária internacional. Estamos seguros de que todas as tentativas de aplicar os conceitos oportunistas na Rússia se chocarão com a mesma resistência enérgica da enorme maioria dos social-democratas russos.

Tampouco cabe sequer falar de “uma modificação radical da atividade prática” dos partidos operários da Europa ocidental, apesar do que afirmam os autores do “Credo”: a enorme importância da luta econômica do proletariado e a necessidade desta luta foram reconhecidas pelo marxismo desde o início; já na década de 40, Marx e Engels polemizaram com os socialistas utópicos que negavam a importância da luta econômica.

Uns vinte anos mais tarde, quando se formou a Associação Internacional dos Trabalhadores, a questão da importância dos sindicatos operários e da luta econômica foi apresentada no Primeiro Congresso de Genebra, em 1866. A resolução desse Congresso assinalava claramente a importância da luta econômica, advertindo os socialistas e os operários, de um lado, que não deviam exagerar a sua importância (o que então acontecia entre os operários ingleses) e, de outro, que não a subestimassem (o que acontecia entre os franceses e alemães, principalmente entre os partidários de Lassalle). A resolução não só reconhecia os sindicatos operários como um fenômeno legítimo, mas indispensável sob a existência do capitalismo; reconhecia-os como sumamente importantes para a organização da classe operária em sua luta diária contra o capital e para a abolição do trabalho assalariado. A resolução reconhecia que os sindicatos operários não deviam limitar a sua atenção exclusiva à “luta direta contra o capital”, não deviam afastar-se do movimento político e social geral da classe operária; que seus objetivos não deviam ser “estreitos”, e sim aspirar à emancipação geral dos milhões de trabalhadores oprimidos. Desde então, entre os partidos operários dos diversos países apresentou-se mais de uma vez, e ainda se apresentará, naturalmente, mais de uma vez, a questão a respeito de se é necessário, num determinado momento, prestar maior ou menor atenção à luta econômica que à luta política do proletariado; mas a questão geral ou de princípio apresenta-se, também agora, tal como foi apresentada pelo marxismo. A convicção de que a luta de classes única deve abarcar, necessariamente, a luta política e a econômica encarnou-se na social-democracia internacional.

Além disso, a experiência histórica prova, de modo irrefutável, que a falta de liberdade ou a restrição dos direitos políticos do proletariado levam sempre à necessidade de colocar a luta política no primeiro plano.


Notas de rodapé:

(1) O Protesto dos Social-Democratas da Rússia foi escrito por Lênin em seu exílio no ano de 1899. Era dirigido contra o Credo, manifesto de um grupo de “economistas” que representavam a corrente oportunista da social-democracia da Rússia (S. Prokopóvitch, E. Kuskova e outros). (retornar ao texto)

Inclusão 16/10/2012