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Primeira edição: Publicado pela primeira vez em 1922 nas Obras de N. Lenine (V. Uliánov), t. XV; a terceira intervenção foi publicada em 1929 no livro Actas do CC do POSDR. Agosto de 1917-Fevereiro de 1918.
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, tomo 2, pág: 462 a 464. Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 35, pp. 255-258.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.
O primeiro a tomar a palavra é o camarada Lenine, que assinala que na reunião de 8 (21) de Janeiro se esboçaram três pontos de vista quanto a esta questão, e coloca a questão de se se deve discutir a questão segundo os pontos das teses por ele expostas ou abrir uma discussão geral. É aprovada a última proposta, e dá-se a palavra ao camarada Lenine.
Ele começa pela exposição dos três pontos de vista esboçados na reunião anterior:
Na reunião anterior o primeiro ponto de vista obteve 15 votos, o segundo 32 e o terceiro 16.
O camarada Lenine assinala que os bolcheviques nunca renunciaram à defesa, mas essa defesa e protecção da pátria devia ter determinadas condições concretas, que existem actualmente, a saber: a defesa da república socialista contra um imperialismo internacional extraordinariamente forte. O problema consiste apenas em como é que devemos defender a pátria — a república socialista. O exército está desmedidamente esgotado pela guerra; os efectivos de cavalos são tais que não poderemos levar a artilharia, a haver uma ofensiva; a situação dos alemães nas ilhas do mar Báltico é tão boa que eles, a haver ofensiva, poderão tomar Reval e Petrogrado só com as mãos. Continuando a guerra nestas condições, reforçaremos extraordinariamente o imperialismo alemão, será preciso na mesma concluir a paz, mas então a paz será pior, porque não seremos nós que a assinaremos. Indubitavelmente, a paz que somos obrigados a assinar agora é uma paz ignominiosa, mas, se começar a guerra, o nosso governo será varrido, e a paz será concluída por outro governo. Agora apoiamo-nos não só no proletariado, mas também no campesinato pobre, o qual se afastará de nós se a guerra continuar. O prolongamento da guerra é no interesse do imperialismo francês, inglês e americano, e disso serve de prova, por exemplo, a proposta feita pelos americanos no Quartel-General de Krilenko de 100 rublos por cada soldado russo. Os que defendem o ponto de vista da guerra revolucionária indicam que desse modo nos encontraremos em guerra civil com o imperialismo alemão e que desse modo despertaremos uma revolução na Alemanha. Mas a Alemanha apenas está grávida da revolução, enquanto nós demos à luz uma criança plenamente sã — a república socialista —, que podemos matar começando a guerra. Temos nas nossas mãos uma carta circular dos sociais-democratas alemães, temos informações acerca da atitude em relação a nós de duas tendências do centro, das quais uma considera que nós estamos subornados e que agora em Brest tem lugar uma comédia com os papéis distribuídos de antemão. Esta parte ataca-nos por causa do armistício. A outra parte dos kautskianos declara que a honestidade pessoal dos chefes dos bolcheviques está acima de qualquer dúvida, mas que a conduta dos bolcheviques constitui um enigma psicológico[N246]. Não conhecemos a opinião dos sociais-democratas de esquerda. Os operários ingleses apoiam a nossa aspiração à paz. Naturalmente que a paz que concluiremos será uma paz ignominiosa, mas precisamos de uma protelação para aplicar reformas sociais (tomai apenas os transportes); precisamos de nos consolidar mas para isso é necessário tempo. Precisamos de esmagar até ao fim a burguesia, mas para isso precisamos de ter livres as duas mãos. Tendo feito isto, libertaremos as nossas duas mãos e então poderemos conduzir uma guerra revolucionária contra o imperialismo internacional. Os destacamentos do exército revolucionário voluntário criados actualmente são os oficiais do nosso exército futuro.
O que propõe o camarada Trótski — a cessação da guerra, a renúncia a assinar a paz e a desmobilização do exército — é uma manifestação política internacional. Com a nossa retirada de tropas o que conseguimos é entregar a república socialista da Estlândia aos alemães. Diz-se que, concluindo a paz, libertamos com isso as mãos aos japoneses e aos americanos, os quais se apoderarão imediatamente de Vladivostoque. Mas enquanto eles chegarem apenas até Irkutsk, nós poderemos consolidar a nossa república socialista. Assinando a paz, estamos a trair, naturalmente, a Polónia autodeterminada, mas conservamos a república socialista da Estlândia e damos a possibilidade de consolidar as nossas conquistas. Naturalmente que fazemos uma viragem à direita, que conduz através de um chiqueiro muito sujo, mas nós devemos fazê-lo. Se os alemães começarem a ofensiva, seremos obrigados a assinar qualquer paz, mas então, naturalmente, ela será pior. Para salvar a república socialista, três mil milhões de indemnização não é preço demasiado caro. Assinando a paz agora, nós mostramos de modo patente às amplas massas que os imperialistas (da Alemanha, da Inglaterra e da França), tendo tomado Riga e Bagdá, continuam a bater-se enquanto nós nos desenvolvemos, se desenvolve a república socialista.
O camarada Lenine assinala que não está de acordo em alguns pontos com os seus partidários Stáline e Zinóviev[N247]. Por um lado, naturalmente que no Ocidente existe um movimento de massas, mas a revolução ali ainda não começou. No entanto, se devido a isso modificássemos a nossa táctica, seríamos traidores ao socialismo internacional. Ele não está de acordo com Zinóviev em que a conclusão da paz enfraquecerá por algum tempo o movimento no Ocidente. Se nós acreditarmos que o movimento alemão pode desenvolver-se imeditamente no caso de interrupção das negociações de paz, temos que sacrificar-nos, pois a revolução alemã será, quanto à força, muito superior à nossa. Mas a questão consiste em que o movimento ali ainda não começou, enquanto no nosso país já tem uma criança recém-nascida que grita bem alto, e se nós neste momento não dissermos claramente que estamos de acordo com a paz, estaremos perdidos. O importante para nós é mantermo-nos até ao surgimento da revolução socialista geral, e só podemos consegui-lo assinando a paz.
O camarada Lenine propõe que se ponha à votação que nós protelemos por todos os meios a assinatura da paz.
Notas de fim de tomo:
[N245] Na reunião do CC realizada em 11 (24) de Janeiro de 1918, depois da intervenção de Lenine discutiu-se a questão da guerra e da paz. Contra a posição de Lenine intervieram os «comunistas de esquerda» e Trótski. Na esperança de que a resistência dentro do CC à conclusão da paz fosse superada e se pudesse verificar uma mudança de opinião dos partidários da continuação da guerra revolucionária, Lenine apresentou uma proposta sobre a protelação por todos os meios das negociações de paz. Esta proposta foi aprovada por 12 votos contra 1. (retornar ao texto)
[N246] Lenine refere-se possivelmente ao artigo «Os bolcheviques e a social-democracia alemã», que foi publicado sem assinatura no jornal Nóvaiajizn n°. 7, de 11 (24) de Janeiro de 1918. No jornal indicava-se que o artigo pertencia a um destacado representante do Partido Social-Democrata Independente da Alemanha. (retornar ao texto)
[N247] Lenine refere-se à intervenção de Stáline assim relatada na acta: «O camarada Stáline considera que, aceitando a palavra de ordem de guerra revolucionária, fazemos o jogo do imperialismo. A posição do camarada Trótski não é uma posição. No Ocidente não existe movimento revolucionário, não existem factos, existem apenas em potência, mas nós não podemos contar com um movimento em potência. Se os alemães iniciarem a ofensiva, isso reforçará a contra-revolução no nosso país.»
No que diz respeito à intervenção de G. E. Zinóviev, Lenine refere-se às seguintes palavras suas: «... naturalmente, temos pela frente uma intervenção cirúrgica grave, já que com a paz reforçaremos o chauvinismo na Alemanha e, durante algum tempo, enfraqueceremos o movimento em todo o Ocidente. E a seguir temos outra perspectiva: a morte da república socialista.» (retornar ao texto)
Inclusão | 22/01/2011 |
Última alteração | 26/12/2012 |