O Capitalismo e o Parlamento

Vladimir Lênin

17 de junho de 1912


Primeira Edição: Nevskaya Zvezda No. 13,  17 de Junho de "Um cético não liberal"
Fonte: Lenin Internet Archive (marxists.org)
HTML: Fernando A. S. Araújo, janeiro 2006.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial «Avante!» - Editorial Progresso, Lisboa-Moscovo, 1984.


Os fatos da democracia não devem fazer-nos perder a vista da circunstância, frequentemente negligenciada pelos democratas burgueses, que nos países capitalistas as instituições representativas inevitavelmente cedem lugar para formas específicas aonde o capital exerce sua influência sobre o poder estatal. Nós não temos um parlamento, mas não há fim para o cretinismo parlamentar entre os liberais e licença parlamentar entre os seus cúmplices burgueses.

Os trabalhadores devem instruir-se com esta verdade se quiserem aprender a usar as instituições representativas para promover a conscientização política, unidade, atividade e eficiência da classe trabalhadora. Todas as forças sociais hostis ao proletariado — os burocratas, os proprietários de terras e capitalistas — já estão utilizando as instituições representativas contra os trabalhadores. E devem saber como eles vêm fazendo isto se quiserem aprender como manter os interesses independentes da classe operária e seu livre desenvolvimento.

A Terceira Duma decidiu recompensar aqueles que manufaturavam máquinas. Quem são estes que trazem estes produtores?

Mas depois de um exame, nós vemos que os capitalistas estrangeiros estão transferindo suas fábricas para a Rússia. Os impostos são altos e os lucros imensos, então o capital estrangeiro move-se para o interior da Rússia. Enquanto isto, um truste dos Estados Unidos da América - uma corporação de capitalistas milionários - construiu uma grande fábrica de máquinas e ferramentas agrícolas em Lyubertsi, próximo à Moscou. Em Kharkov, máquinas para as fazendas são feitas pelo capitalista Melhose e em Berdyansk pelo capitalista John Grieves. Esses produtores são bastante "verdadeiramente russos", uma variedade nacional, não são?

Mas, obviamente, a menos que eles tenham auxiliado de algum modo os capitalistas russos, nunca lhes teria sido permitido operar na Rússia. "Uma mão lava a outra". Estadunidenses, ingleses e alemães, juntam avidamente lucros com o auxílio de capitalistas russos, que detém para si um grande bocado desta partilha. Pegue por exemplo os campos de mineração de Lena, e a iniciativa nos Urais. Quantos milhões de estrangeiros e russos tem partilhado entre si seus frutos?

A Duma é muito utilizada pelos industriais neste sentido. Ambos, na Duma e no Conselho de Estado, os capitalistas tem um bom número de representantes. Os latifundiários também, nos dias de hoje, acrescem seu capital com juros estrangeiros. Para ambos, proprietários de terras e industrialistas, a Duma é um maquinário pronto de aprovação de leis e privilégios (a serem entregues para eles próprios), impostos protecionistas (outro mecanismo de promoção de benesses em proveito próprio), concessões (a terceira forma de legislarem em causa própria) e deste modo em diante, sem limites.

O "Cético", um panfleto liberal no liberal Rech, teceu alguns comentários muito apropriados referentes a esta temática. Ele escreve sentimentalmente contra os "nacionalistas" (que premiam-se com privilégios para estimular a indústria "nacional" de Messrs, Grieves, Melhose, Elworthy e outras companhias), e eu, de certa maneira, me infectei com este "ceticismo".

Sim, o "Cético" liberal não fez um mal trabalho ao expor os "nacionalistas". Mas por que ele não diz nada sobre os Cadets? Quando Golovin, para exemplificarmos, estava perseguindo uma concessão, não era sua posição de membro da Duma, ou a presidência do Parlamento que se colocavam como o fim de uma lucrativa busca?

Quando Maklakov estava salivando por suas taxas de "Tagiyev", não foi sua posição como membro da Duma que facilitou a obtenção dos lucrativos casos?(1)

E quando numerosos outros senhores feudais, mercadores, capitalistas, especuladores, advogados e corretores que estenderam seus negócios promovidos pelos suas "ligações" e os colocaram através destas ocupações, graças à posições como membros do Parlamento, com os privilégios e vantagens que a posição proporciona?

E se uma pergunta fosse feita sobre as transações financeiras executadas por parlamentares ou tendo por alvo, membros do Parlamento?

Mas não - em todas as nações capitalistas medidas foram tomadas para assegurar o sigilo e garantir que nem um único "parlamentar" permita tal indagação.

Entretanto, representantes do proletariado sabem indubitavelmente como lidar com este assunto; e se procurarem, observando ao seu redor, irão obter informações adicionais, coletar arquivos, procurar em arquivos de jornais e indagar sobre as transações comerciais firmadas por membros do Parlamento ou com a ajuda de seus integrantes.

Nos parlamentos europeus, estas transações são bem conhecidas, e os trabalhadores constantemente às expõe, nomeando os envolvidos, esclarecendo, assim, o povo.


Notas:

(1) Referência aos seguintes fatos: 1) Em outubro de 1910, F. A. Golovin, membro da Terceira Duma, declarou que estava renunciando a seus poderes como deputado, e logo em seguida passou a fazer parte de uma concessão ferroviária. 2) Em março de 1912, V. A.Maklakov, outro membro da Terceira Duma, apesar de seu status como deputado, atuou como advogado de defesa de Tagiyev, um grande industrial petrolífero de Baku, acusado de agredir o engenheiro  Bebutov, seu empregado. (retornar ao texto)

Inclusão 21/01/2006