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Escrito: 1911.
Primeira Edição:
Revista Rabochaya Gazeta, No. 4–5, April 15 (28), 1911.
Fonte da Presente Tradução:
In
Memory of the Comune,
Lenin Internet Archive (marxists.org), 2003.
Tradução de:
Primeira
Linha Em Rede.
HTML por
José Braz
para The Marxists Internet Archive.
Direito de Reprodução: Lenin Internet Archive
(marxists.org), 2003. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da
GNU Free Documentation License.
Passárom-se 40 anos desde que se proclamou a Comuna de Paris. Seguindo o costume, o proletariado francês honrou com comícios e manifestaçons a memória dos homens da revoluçom de 18 de Março de 1871. No final de Maio voltará a levar coroas de flores às tumbas dos comuneiros fusilados durante a terrível "semana de Maio"e a jurar ante aquelas tumbas que luitará com firmeza até lograr o triunfo completo de suas ideias, até dar por cumprida a obra por eles legada.
Porque, pois, nom só o proletariado francês, senom o de todo o mundo rende homenagem aos homens da Comuna como aos seus precussores? Qual é a herança da Comuna?
A Comuna surgiu de maneira espontánea, ninguém a preparou de modo consciente e sistemático. A funesta guerra com a Alemanha, os sofrimentos do assédio, o desemprego operário e a ruína da pequena burguesia; a indignaçom das massas contra as classes superiores e as autoridades que demonstrárom umha incapacidade absoluta; a surda efervescência no seio da classe operária, descontente de sua situaçom e ansiosa por um novo regime social; a composiçom reaccionária da Assembleia Nacional, que fazia temer os destinos da República, fôrom as causas que concorrêrom com outras muitas para impulsionar a populaçom parisiense para a revoluçom do 18 de Março, que pujo de improviso o poder nas maos da Guarda Nacional, em maos da classe operária e da pequena burguesia, que aderira aos operários.
Foi um acontecimento histórico sem precedentes. Até entom, o poder tinha estado, em geral, nas maos dos latifundiários e dos capitalistas, quer dizer, de seus mandatários, que constituíam o chamado governo. Depois da revoluçom de 18 de Março, quando o governo do senhor Thiers fugiu de Paris com as suas tropas, a sua polícia e os seus funcionários, o povo ficou dono da situaçom e o poder passou para as maos do proletariado. Porém, na sociedade moderna, o proletariado, avassalado no económico polo capital, nom pode dominar na política se nom rompe as cadeias que o atam ao capital. Daí que o movimento da Comuna deveria adquirir inevitavelmente um matiz socialista, quer dizer, deveria tender ao aniquilamento do domínio da burguesia, da dominaçom do capital, à destruiçom das próprias bases do regime social contemporáneo.
No seu início, tratou-se de um movimento heterogéneo e confuso ao extremo. A ele somárom-se também os patriotas com a esperança de que a Comuna renovasse a guerra contra os alemáns e levasse a um desenlace venturoso. Apoiárom-no também os pequenos lojistas, em perigo de arruinamento se nom se adiasse o pagamento das letras vencidas e dos alugueres (adiamento que lhes era negado polo governo, mas que a Comuna os concedeu). Por último, no começo, também simpatizárom em certo grau com ele os republicanos burgueses, temerosos de que a reaccionária Assembleia Nacional (a vilanagem, os brutos latifundiários) restabelecesse a monarquia. Porém, o papel fundamental neste movimento foi desempenhado, naturalmente, polos operários (sobretudo os artesaos parisienses), entre os quais se espalhara, nos últimos anos do Segundo Império da França, umha intensa propaganda socialista, estando muitos deles inclusive filiados à I Internacional (Associaçom Internacional dos Trabalhadores).
Unicamente os operários guardárom fidelidade à Comuna até o fim. Os republicanos burgueses e a pequena burguesia nom tardárom em afastar-se dela: uns assustárom-se com o carácter revolucionário socialista do movimento, com o seu carácter proletário; outros afastárom-se dela quando vírom que estava condenada a umha derrota inevitável. Unicamente os proletários franceses apoiárom a seu governo sem temor nem desmaio, só eles luitárom e morrêrom por ele, quer dizer, pola emancipaçom da classe operária, por um futuro melhor para todos os trabalhadores.
Abandonada polos seus aliados de ontem e sem contar com nengum apoio, a Comuna tinha de ser derrotada inevitavelmente. Toda a burguesia francesa, todos os latifundiários, especuladores da bolsa e fabricantes, todos os grandes e pequenos ladrons, todos os exploradores unírom-se contra ela. Com a ajuda de Bismarck (que pujo em liberdade 100.000 soldados franceses, prisioneiros dos alemáns, para esmagar a Paris revolucionária), esta coligaçom burguesa logrou confrontar com o proletariado parisiense os camponeses atrasados e a pequena burguesia de províncias e cercar meia Paris com um anel de ferro (a outra metade fora cercada polo exército alemám). Nalgumas cidades importantes de França (Marselha, Liom, Saint-Etienne, Dijon e outras), os operários também tentárom tomar o poder, proclamar a Comuna e acudir em auxílio a Paris, porém tais intentos logo fracassárom. E Paris, que fora o primeiro local a desfraldar a bandeira da insurreiçom proletária, ficou abandonada às suas próprias forças e condenada a umha morte certa.
Para que umha revoluçom social triunfe som necessárias, polo menos, duas condiçons: um alto desenvolvimento das forças produtivas e um proletariado preparado para ela. Contudo, em 1871, nom se deu nenguma dessas condiçons. O capitalismo francês encontrava-se ainda pouco desenvolvido, a França era, entom, fundamentalmente um país de pequena burguesia (artesaos, camponeses, lojistas etc.). Por outro lado, nom existia um partido operário, a classe operária nom tinha preparaçom nem passara por um largo treino e, na sua massa, sequer havia noçom totalmente clara de quais eram seus objectivos nem como se poderia alcançá-los. Nom havia umha organizaçom política séria do proletariado, nem grandes sindicatos e cooperativas...
Entretanto, o que faltou principalmente à Comuna foi tempo, desafogo para perceber bem como iam as cousas e empreender a realizaçom de seu programa. Apenas ela pujo mao à obra, o governo, entrincheirado em Versalhes e apoiado por toda a burguesia, desencadeou as hostilidades contra Paris. A Comuna tivo de pensar, antes de tudo, na sua própria defesa. E até o final mesmo, que ocorreu na semana de 21 a 28 de maio, nom houvo tempo para pensar seriamente noutra cousa.
Por certo, apesar dessas condiçons tam desfavoráveis e da brevidade da sua existência, a Comuna tivo tempo de aplicar algumhas medidas que caracterizam bastante seus verdadeiros sentido e objectivo. Substituiu o exército permanente, instrumento cego em maos das classes dominantes, polo armamento de todo o povo; proclamou a separaçom da Igreja do Estado; suprimiu a subvençom ao culto (quer dizer, o soldo que o Estado pagava aos padres) e deu um carácter estritamente laico à instruçom pública, com o que assestou um rude golpe aos soldados de batina. Pouco foi o tempo que deu para se fazer algo no terreno puramente social, porém esse pouco mostra com suficiente clareza o seu carácter de governo popular, de governo operário: foi suprimido o trabalho nocturno nas tarefas; foi abolido o sistema das multas, consagrada pola lei com que se vitimava os operários; finalmente, foi promulgado o famoso decreto de entrega de todas as fábricas e oficinas abandonadas ou paralisadas polos seus donos às cooperativas operárias com o fim de se retomar a produçom. E para sublinhar, como se dixéssemos, o seu carácter de governo autenticamente democrático, proletário, a Comuna dispujo que a remuneraçom de todos os funcionários administrativos e do governo nom fosse superior ao salário normal de um operário, nem passasse em nengum caso dos 6.000 francos anuais (menos de 200 rublos ao mês).
Todas essas medidas mostravam com farta eloqüência que a Comuna constituía umha ameaça de morte ao velho mundo, baseado no avassalamento e na exploraçom. Essa era a causa de porque a sociedade burguesa nom poderia dormir tranqüila enquanto o Concelho de Paris ostentasse a bandeira vermelha do proletariado. E quando a força organizada do governo pudo, afinal, dominar a força mal organizada da revoluçom, os generais bonapartistas, esses generais batidos pelos alemáns e garbosos frente a seus compatriotas vencidos, os Rennen-kampf e Méller-Zakomelski franceses figérom umha matança como jamais se vira em Paris. Cerca de 30.000 parisienses fôrom mortos pola soldadesca enfurecida; uns 45.000 fôrom detidos, executados logo muitos e desterrados ou enviados a trabalhos forçados milhares deles. No total, Paris perdeu 100.000 filhos, entre os quais se encontravam os melhores operários de todos os ofícios.
A burguesia estava satisfeita. "Agora, acabou-se com o socialismo, por muito tempo!", dizia o seu sanguinário chefe, o diminuto Thiers, quando ele e seus generais afogárom em sangue a sublevaçom do proletariado de Paris. Mas de nada servírom os grunhidos desses corvos burgueses. Nom passariam ainda seis anos da derrocada da Comuna, ainda se achavam muitos dos seus luitadores em presídio ou no exílio, quando em França se iniciou um novo movimento operário. A nova geraçom socialista, enriquecida com a experiência dos seus predecessores e em absoluto desencorajada pola derrota que sofrêram, recolheu a bandeira caída das maos dos combatentes da Comuna e levou-na adiante com firmeza e valentia ao grito de "Viva a Revoluçom social! Viva a Comuna!". E três ou quatro anos mais tarde, um novo partido operário e a agitaçom levantada por este no país obrigárom as classes dominantes a pôr em liberdade os comuneiros que o governo ainda mantinha presos.
Honram a memória dos combatentes da Comuna nom só os operários franceses, senom também o proletariado de todo o mundo, pois aquela nom luitou por um objectivo local ou nacional estreito, senom pola emancipaçom de toda a humanidade trabalhadora, de todos os humilhados e ofendidos. Como combatente de vanguarda da revoluçom social, a Comuna granjeou a simpatia onde quer que sofra e luite o proletariado. O quadro da sua vida e da sua morte, o exemplo de um governo operário que conquistou e retivo nas suas maos durante mais de dous meses a capital do mundo e o espectáculo da heróica luita do proletariado e os seus padecimentos depois da derrota, tem levantado a moral de milhons de operários, tem alentado as suas esperanças e tem ganho as suas simpatias para o socialismo. O troar dos canhons de Paris despertou de seu profundo sono as camadas mais atrasadas do proletariado e deu em todas as partes um impulso à propaganda socialista revolucionária. Por isso nom morreu a causa da Comuna, por isso segue vivendo até hoje em dia em cada um de nós.
A causa da Comuna é a causa da revoluçom social, é a causa da completa emancipaçom política e económica dos trabalhadores, é a causa do proletariado Mundial. E neste sentido é imortal.
Inclusão | 01/11/2003 |