Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXVI - Contradições entre as forças produtivas e as relações de produção na época imperialista - Decomposição interior e queda do capitalismo
131. Formação da economia mundial na época imperialista


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Vejamos o que o mais recente capitalismo traz de novo no desenvolvimento das forças produtivas. Em toda sociedade mercantil e, por consequência, na sociedade capitalista, a produção está baseada na divisão do trabalho entre os diversos ramos de produção.

Na época da livre concorrência — ou do capitalismo industrial — esta divisão do trabalho, e a ligação que daí decorria entre as empresas individuais, mantinha-se em geral no quadro dos Estados. É verdade que existia o comércio entre diferentes países, desde a origem do capital comercial, mas este, em suma, tinha pouca importância e não modificava a natureza da economia capitalista.

É bem distinto o que se passa na época imperialista. A economia capitalista deixa de ser principalmente uma economia nacional, isto é, limitada pelas fronteiras de um Estado, para se tornar uma economia mundial. A ligação e a divisão do trabalho entre diferentes países adquire então uma importância particular e característica.

As regiões do globo distinguem-se pelo seu clima, por suas riquezas naturais. etc. Todos os países não entraram ao mesmo tempo na via do desenvolvimento capitalista e, portanto, suas forças produtivas diferem quantitativa e qualitativamente. Há países industriais avançados e atrasados, há países industriais e países agrícolas, etc.

Estas diferenças naturais e sociais (técnicas e econômicas) entre os países têm como resultado inevitável, a divisão do trabalho entre os países e, consequentemente, o crescimento de sua interdependência.

O desenvolvimento da técnica moderna, conexo ao da construção de máquinas, estradas de ferro, etc., provocou uma procura colossal de metais, de aço, de ferro fundido, de alumínio, de cobre, etc. Ora, as jazidas de “metais estão desigualmente repartidas no globo. O desenvolvimento da metalurgia e da indústria mecânica confere uma importância extraordinária aos metais comuns, tais como o manganês que, ligado em certas dosagens aos metais comuns como o ferro, o alumínio, etc., lhes modificam profundamente a qualidade.

As fábricas que trabalham os metais podem encontrar-se a enorme distância dos lugares de extração dos minerais, e, mesmo, em outros países, O desenvolvimento da metalurgia e da construção mecânica estará, portanto, neste caso, condicionado por uma estreita ligação entre os países interessados.

Assim é que a U. R. S. S. fornece manganês e platina ao mundo inteiro. A Espanha, o mercúrio. Na Itália, as fábricas de máquinas trabalham com minério importado.

Enfim, o desenvolvimento da técnica é conexo ao dos motores. Os combustíveis que os motores transformam em energia mecânica têm aqui uma importância de primeira ordem. Os combustíveis mais procurados são o carvão e o petróleo, cujas reservas estão bem desigualmente repartidos na terra.

A U. R. S.S., os Estados Unidos e alguns outros países são os maiores fornecedores de petróleo do mundo. Vários países, a Itália especialmente, não tendo hulha em seus territórios, vêm-se constrangidos a importá-la.

O desenvolvimento da eletrificação, uma das conquistas recentes da técnica, contribue também para desenvolver a interdependência de diferentes países. A eletricidade permite, com efeito, o transporte da energia a grandes distâncias; a energia produzida num país por poderosas quedas d'água pode ser muito bem utilizada por outros países.

A divisão do trabalho e a interdependência técnica dos diferentes países provém também do fato de que as matérias primas mais importantes não podem ser produzidas, por motivos climáticos, senão nos países em que em geral a indústria manufatureira não está frequentemente desenvolvida.

Os Estados Unidos, a Índia e o Egito são os. principais fornecedores de algodão da indústria têxtil do mundo inteiro. A América do Sul quase que monopoliza a produção da borracha.

O desenvolvimento industrial pode, por outro lado, conduzir certos países a uma baixa relativa, ou mesmo absoluta, da produção agrícola. Nestes países faltam víveres e matérias primas que eles mesmos poderiam produzir em outras condições. Institue-se assim uma divisão do trabalho entre os países essencialmente agrícolas. Se “a indústria de cada pais procurava outrora trabalhar as matérias primas do próprio país” (Marx); se outrora “a Inglaterra trabalhava a lã, a Alemanha o linho, a França a seda e o linho, a Índia Oriental e o Levante o algodão”, agora a divisão do trabalho tomou, graças ao desenvolvimento das forças produtivas, uma tal amplidão, que a grande indústria, desarraigada do território nacional, depende exclusivamente do mercado mundial e da divisão internacional do trabalho.(1)

Esta divisão do trabalho manifesta-se em primeiro lugar pelo desenvolvimento do comércio internacional e das comunicações.

O montante das trocas internacionais subia em 1800 a 1,479 milhões de dólares. Em, 1850 elevou-se a 4.049 milhões de dólares. Em 1900 atingia já a 20 biliões e 105 milhões de dólares, alcançando, em 1913, 40 biliões e 420 milhões de dólares.

O desenvolvimento dos transportes patenteou-se pelo aumento da rede das estradas de ferro (7.700 quilômetros em 1840 e mais de 1.000.000 de quilômetros em 1913), das frotas marítimas e fluviais que deslocuvam em, 1821, 5.250.000 toneladas e, em 1914, 31.500.000 toneladas), e mais recentemente pela extensão das comunicações aéreas.

Certos países, além de fornecerem matérias primas, meios de produção e de consumo, fornecem também força de trabalho. Lembremo-nos de que os países agrícolas relativamente superpovoados, tais como a Rússia imperial, a Polônia, a Itália, a China, fornecem desde há muito a mão-de-obra aos países industriais como os Estados Unidos.

As forças produtivas ultrapassam, assim, pelo seu desenvolvimento, os limites nacionais; elas não podem desenvolver-se senão na economia mundial única.


Nota de rodapé:

(1) C. MARX: Miséria da Filosofia. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023
Última modificação 15/06/2023