Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro nono: O imperialismo e a queda do capitalismo
Capítulo XXIV - Transformação da concorrência em monopólio e formação do capital financeiro - O regulador dos monopólios
122. Fusão do capital bancário e do capital industrial - O capital financeiro


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O capitalismo caracteriza-se na última fase de seu desenvolvimento, pelo elevadíssimo grau de concentração e de centralização do capital e pela transformação da concorrência em monopólios.

A estas duas características é preciso juntar uma terceira: a fusão do capital industrial e do capital bancário.

Os bancos, nós o sabemos, são verdadeiras potências, que atraem de todas as partes o dinheiro espalhado na sociedade, seja este o capital disponível do capitalista ou as economias do trabalhador.

Pondo esses fundos à disposição dos industriais, o banco oferece-lhes novas possibilidades de ampliar a produção, de manobrar no mercado e de derrotar os concorrentes. Quanto mais vasta é a empresa industrial, mais numerosas são suas ligações com o resto da economia e maior importância adquirem para ela o crédito e apoio do banco. Uma sociedade por ações tem necessidade do banco para receber crédito, para garantir os empréstimos que emite, para a colocação de suas ações e títulos, etc.

E quanto mais o industrial recorre ao banco, mais o banco se interessa por seus negócios. O banco controla a empresa industrial para conhecer sua solvabilidade; fornecendo crédito, ele pode intervir na atividade mesma do capitalista e até impor-lhe sua direção na fabricação de mercadorias, na realização de produtos no mercado, na compra de matérias primas, etc.

Enfim, os próprios bancos participam das empresas industriais.

Está aí, em grande parte, um resultado da difusão das sociedades por ações. Antes que essas sociedades se tivessem difundido tanto, os bancos não podiam colocar seus fundos, em proporções por pouco importantes que fossem, nas empresas industriais. Colocar fundos na indústria é transformá-los em utensílios, máquinas, etc., por um tempo bem longo. Ora, os fundos de que o banco dispõe não lhe são confiados senão temporariamente. O banco não se pode desfalcar deles por um tempo mais ou menos longo. Mas as sociedades por ações permitem retirar, a qualquer momento, pela venda das ações, os fundos colocados numa empresa.

Os bancos são, cada vez mais, levados a colocar seus capitais na indústria. Compram ações dos estabelecimentos existentes, fundam novos estabelecimentos, estabelecimentos intermediários, cuja missão é reunir e repartir “os fundos disponíveis” e transformam-se em centros dirigentes e organizadores da indústria.

Uma parte crescente do capital: industrial não pertence aos industriais que dele dispõem. Não podem dispor dele senão por intermédio do banco, que representa diante deles os proprietários. O banco é, por outra lado, levado a fixar na indústria uma parte cada vez maior de seus capitais. Denomino este capital bancário — este capital dinheiro — que se transforma na realidade em capital industrial, o capital financeiro.(1)

O capital financeiro não transforma, entretanto, os industriais em vassalos dos senhores de banco. A época “do capital financeiro é caracterizada pela fusão orgânica do capital bancário e do capital industrial; o industrial torna-se frequentemente banqueiro, o banqueiro torna-se, frequentemente, industrial. O americano Morgan, um dos maiores magnatas do capital, é simutaneamente dirigente de um dos maiores bancos do mundo, o National Bank of Commerce (e dos bancos que o seguem), e é chefe do poderoso truste do aço (The United Siates Steel Corporation). É também um dos reis das estradas de ferro.(2)

Os bancos sofrem, por sua vez, o processo de concentração e centralização: fundem-se uns com os outros. Um dos estimulantes mais poderosos à concentração dos bancos é que a concorrência entre eles, não se limitando mais ao crédito, abrange desde então os seus negócios industriais e comerciais. Cada banco deve, na luta contra: os seus concorrentes, defender os numerosos estabelecimentos industriais, comerciais ou de crédito, que lhe pertencem ou estão submetidos à sua influência. Cada derrota nessa luta significa uma catástrofe. Os bancos mais poderosos prevalecem e, pela sua união, a concorrência cede lugar ao monopólio.

Algumas breves indicações darão uma ideia do ponto a que chegou a concentração e a centralização dos bancos:

Em fins de 1909, nove grandes bancos berlinenses dispunham em suas filiais de 11,3 biliões de Marcos, isto é, de 83 % do capital bancário alemão. O Deutsche Bank e os bancos que gravitavam na sua órbita, dispunham de três biliões de marcos e constituíam, ao lado da administração das estradas de ferro prussianas, a maior acumulação de capitais do Velho Mundo, aliás a mais centralizada.(3)
Na Inglaterra, em 1913, onze grandes bancos, dominando incontestavelmente o mercado, concentravam nos seus cofres fortes 68 % dos capitais dos estabelecimentos de crédito do país. Quatro grandes bancos desfrutavam na França de uma influência preponderante.
Em 1914, o capital de quarenta e sete bancos russos elevava-se a 584.900.000 de rublos e 62,3% desse capital — 364.500.000 de rublos — pertenciam a dezessete bancos petersburguenses.(4)

“Modestos intermediários” de ontem, os bancos transformam-se assim em “potências monopolizadoras” que dispõem simultaneamente da quase totalidade do capital. dinheiro dos capitalistas e dos pequenos proprietários, e da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias primas do país ou de vários países. Essa transformação de uma grande quantidade de modestos intermediários num punhado de monopolizadores é um dos processos essenciais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista.(5)


Notas de rodapé:

(1) R. HILFERDING: O capital financeiro. (retornar ao texto)

(2) A. COHN: O capital financeiro. (retornar ao texto)

(3) SCHULTZE-GAEVERNITZ: Die deustche Kredit-Bank (citado pór V. LENINE no O Imperialismo). (retornar ao texto)

(4) A. COHN: O capital financeiro. (retornar ao texto)

(5) V. LENINE: O Imperialismo. (retornar ao texto)

 

Inclusão 10/06/2023