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A técnica desempenha papel de relevo no desenvolvimento de todas as sociedades.
Aliás, não podemos dar uma ideia das tendências do desenvolvimento capitalista, sem nos determos nas tendências de desenvolvimento da técnica capitalista.
O capitalismo nasceu baseado nos ofícios e nas manufaturas.
A técnica dos ofícios e das manufaturas é caracterizada pelo trabalho manual. A manufatura difere da oficina pela maior divisão do trabalho; a fabricação de uma mercadoria é, no artesanato, do princípio ao fim, obra de um só homem (ou de dois ou três homens); na manufatura, a matéria prima passa de mão em mão, enquanto a mercadoria não está acabada, e cada participante da produção só faz uma parte restrita e definida de trabalho. A manufatura, grande produção que reúne numerosos artesãos de outrora sob um mesmo teto, numa vasta oficina, podia, muito mais que o artesanato, ligar o operário para toda a vida a um trabalho particular.
O segundo traço, que distingue a técnica artesã e manufatureira, é seu caráter puramente empírico, alheio à divisão do trabalho e à divisão consciente do processo de produção. Os métodos e os processos do artesão e do operário da manufatura resultam de uma longa experiência do trabalhador e de seus predecessores, acumulada pela repetição indefinida de uma única operação parcial e transmitida de geração em geração.
A técnica capitalista é completamente outra. Caracteriza-se pela substituição do trabalho manual por trabalho mecânico. A técnica manufatureira facilitou, pela divisão do trabalho e a decomposição empírica do processo de produção em diversas operações parciais, a invenção e o aperfeiçoamento da ferramenta necessária a estas operações, preparando assim o aparecimento da máquina.
Toda máquina é composta de três partes: o motor, o mecanismo de transmissão e o mecanismo de execução.
O motor fornece a força motriz à máquina inteira. O mecanismo de transmissão modifica e transmite, com a ajuda de diversos órgãos especiais, correias de transmissão, bielas, etc., a força motriz ao mecanismo de execução.
Este último faz, com a ajuda de ferramentas várias, as operações que o operário efetuava antes com estas mesmas ferramentas.
Se considerarmos, agora, no mecanismo empregado para a construção das máquinas, a parte que constituti a verdadeira máquina-ferramenta, nós encontramos aí a ferramenta profissional, mas em dimensões ciclópicas. O operador da máquina de furar é uma enorme verruma movida pela máquina de vapor, sem a qual seria absolutamente impossível produzir os cilindros e as grandes máquinas de vapor, as prensas hidráulicas, etc. O torno mecânico não é mais que a reprodução ciclópica de um simples torno de pedal; a plaina não passa de um carpinteiro de ferro que trabalha o ferro com as ferramentas de que o carpinteiro se serve para a madeira; a ferramenta que, nos estaleiros de Londres, corta as chapas de blindagem, não é senão uma navalha gigantesca; a máquina de cortar, que corta o ferro tão facilmente quanto as tesouras do alfaiate cortam a fazenda, não é mais que um conjunto de tesouras gigantescas; enfim, o martelo mecânico opera como uma cabeça de martelo comum, mas com tal peso que o próprio Vulcano não a teria podido levantar; um destes martelos mecânicos, inventados por Nasmyth, pesa mais de seis toneladas e cai, numa queda perpendicular de sete pés, sobre uma bigorna que pesa trinta e seis toneladas. Ele pulveriza facilmente um bloco de granito, mas pode também cravar um prego numa fina tábua de madeira mole, numa sucessão de pequenas pancadas.(1)
Houve um tempo em que o homem desempenhava o papel de motor; depois empregou os animais; em seguida utilizou a força do vento e da água. O homem e o animal não podiam, porém, fornecer senão uma energia insuficiente. A força do vento era inconstante e variável e a da água limitava a produção a um território determinado.
O desenvolvimento da máquina de vapor libertou a produção de todos estes limites e de todos estes obstáculos. A potência da máquina de vapor não é, como a força muscular do homem e dos outros animais, estritamente limitada. Pode ser aumentada à vontade. A máquina de vapor não liga a produção a um território determinado, a uma região rica em quedas de água. Sua ação pode ser sistemática e constante, ignorando os caprichos do vento.
A máquina liberta a produção das particularidades psicofisiológicas do organismo humano. A força humana é bastante limitada.
A quantidade de ferramentas que um homem pode usar simultaneamente está limitada pela quantidade de seus meios naturais de produção, dos organismos de seu corpo: os tecelões virtuoses que pudessem tecer de uma vez dois fios, encontravam-se quase tão raramente como os homens de duas cabeças.(2)
O tecelão que trabalha à mão não podia trabalhar senão num tear, enquanto a máquina de tecer passou rapidamente a trabalhar com dezenas, centenas e mesmo milhares de teares.
Há, atualmente, máquinas que trabalham com mil e trezentos teares.(3)
Os guindastes e os elevadores dirigidos por uma frágil mão de mulher levantam e transportam facilmente enormes blocos de ferro e de diversos materiais; a tração mecânica no interior das fábricas torna completamente inútil a força muscular do homem, e faz o trabalho desejado com uma precisão e uma pontualidade superiores às do operário mais pontual, mais capaz e mais assíduo. A mecanização atinge seu mais alto grau com a aplicação do sistema de trabalho de cadeia, no qual a matéria destinada ao trabalho é levada por uma correia em movimento ininterrupto aos operários, limitando-se cada um por sua vez a submetê-la a algumas operações bem simples; chegado ao fim da cadeia, o produto está pronto.
As máquinas tornaram supérflua a força física e também a habilidade do artesão, sua ligeireza de mão, sua atenção, seu golpe de vista adquirido em longos anos de trabalho. Apareceram instrumentos para se obter uma tal precisão que é impossível pensar-se na época do artesanato e dos manufatureiros. O papel do operário reduz-se, agora, cada vez mais, ao controle e ao cuidado da máquina; este domínio mesmo já foi invadido pela máquina. Ela torna-se cada vez mais automática; ela começa a se controlar e se regular por si. Ela começa a trabalhar com uma precisão cada vez maior, sem a intervenção imediata do homem.
Os progressos técnicos são acompanhados por um emprego cada vez maior de máquinas. As máquinas invadem sucessivamente todos os domínios da atividade capitalista. As fábricas e os conjuntos de máquinas cada vez mais grandiosos produzem com uma rapidez que tem algo de fantástico. Em toda empresa industrial já se instituiu, entre as diferentes máquinas que constituem um conjunto técnico, um único organismo técnico, uma colaboração complexa baseada na divisão do trabalho.
Mais do que o sistema organizado de máquinas- ferramentas, que se movimentam pela ação de um autômato central através do mecanismo de transmissão., a exploração mecânica possui já uma forma muito mais desenvolvida. A máquina isolada é substituída por um monstro mecânico, cujo corpo encerra edifícios inteiros e cuja força demoníaca, dissimulada à primeira vista pelos movimentos solenes e comedidos de seus gigantescos membros, explode enfim numa louca sarabanda de seus inúmeros órgãos propriamente ditos.(4)
Um outro traço do desenvolvimento da técnica capitalista que se tem manifestado, sobretudo no curso destes últimos tempos na produção americana, é a estandardização. Ela consiste em diminuir o número de tipos dos artigos produzidos. A produção começa assim a não se inspirar no desejo de satisfazer o gosto indi
vidual dos consumidores, mas no desejo de dar às massas um produto tão prático e tão barato quanto possível.
A limitação do número de tipos de produtos fabricados traz em si a necessidade de normalizar a produção, isto é, de limitar por sua vez o número dos tipos das peças destacadas análogas ou diferentes, porcas, parafusos, etc., etc., de modo, por exemplo, que um só tipo de parafuso possa servir a várias máquinas. Tudo isto diminui em medida considerável as despesas de produção e aumenta o rendimento do trabalho.
O desenvolvimento da indústria elétrica abre um novo capítulo na história das forças produtivas da sociedade capitalista. A eletrificação, inicialmente, torna possível:
O desenvolvimento da técnica capitalista tende cada vez mais a substituir os grandes mecanismos por outros que exijam menor quantidade de matéria prima por cavalo vapor. Em 45 anos — de 1876 a 1922 — o peso do motor diminuiu em certos casos, trezentas vezes por unidade (por cavalo-vapor) e caiu de perto de duzentos e cinquenta quilos a duas libras.
O peso do mecanismo de transmissão foi extremamente reduzido (cai a zero na telegrafia sem fio).
A transmissão da energia elétrica a grandes distâncias é uma invenção recente (1891) mas já tomou grande desenvolvimento. Envia-se energia até quatrocentos quilômetros. Uma usina elétrica bastante potente pode, portanto, servir numa superfície de quinhentos mil quilômetros quadrados, ou, por outra, a um país tão grande quanto a França ou a Alemanha.(5)
A superioridade das grandes centrais elétricas, comparada às pequenas usinas muito mais custosas, permite abastecer todo o país de energia elétrica por meio de algumas usinas centrais. Uma perspectiva de nova concentração da produção em proporções desconhecidas surge deste fato. Torna-se possível substituir um mecanismo industrial formado de um grande número de peças, sob a forma de máquinas distintas unidas num conjunto (num organismo) técnico, o organismo técnico único de um país inteiro e talvez mesmo de vários países, providos de um centro único, que seria uma central elétrica de uma potência colossal, e de um vasto sistema nervoso representado por uma rede infinita de cabos que transportassem a energia elétrica a grandes distâncias.
O desenvolvimento prodigioso da técnica contribui para descarregar todo o peso do trabalho humano nas “costas de ferro” das máquinas e podendo aliviar, num grau incomparável, a sorte da humanidade.
M. S. Falker mostrou que, se a produção universal atingisse o desenvolvimento da indústria americana contemporânea, ela poderia ser assegurada por meio de uma jornada de trabalho de duas horas.
E a grande maioria dos operários dos países capitalistas estão ainda a sonhar com a jornada de 8 horas ou a defendê-la!
É que no regime capitalista todas as vantagens dos aperfeiçoamentos técnicos vão para a classe capitalista e não para a sociedade inteira.
continua>>>Notas de rodapé:
(1) C. Marx: Le Capital, tomo III, pág. 28. Ed. Costes. (retornar ao texto)
(2) C. Marx: O Capial, 1.º vol., tomo I, Ed. Costes. (retornar ao texto)
(3) IVANOV: Viestnik (monitor) da Academia Comunista. Moscou, 1926, n° 14. (retornar ao texto)
(4) C. Marx: O Capial, t. III, pág. 23, Ed. Costes. (retornar ao texto)
(5) IVANOV: Viestnik (monitor) da Academia Comunista. Moscou, 1926, n.° 14. (retornar ao texto)
Inclusão | 16/06/2019 |