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Há, na sociedade capitalista, quantias disponíveis que se possam tomar temporariamente emprestadas aos seus proprietários? Parece-nos que, em certos momentos, todo capitalista industrial pode achar-se diante de semelhantes disponibilidades.
O capital fixo, já o dissemos, não transfere à mercadoria em cada ciclo de produção senão uma parte de seu valor. Os fundos de amortização que voltam ao capitalista, na venda de cada stock de mercadoria, continuam inativos até o momento em que as velhas máquinas estão gastas e é preciso substituí-las por novas, ou, ainda, até ao momento em que estes fundos tomam tal importância que tornam possível a construção de novos edifícios e a aquisição de novas máquinas para o desenvolvimento da produção.
No intervalo, uma parte do dinheiro pertencente ao capitalista parece destinada à inatividade. Naturalmente, o capitalista pode empregar este dinheiro na compra de matérias primas e força de trabalho complementar, que ele às vezes consegue utilizar com o antigo maquinário, organizando, por exemplo, o trabalho com mais uma turma; entretanto, esta utilização dos fundos disponíveis é estreitamente limitada pela natureza do maquinário. Esta circunstância não exclui, entretanto, a formação de fundos temporariamente disponíveis.
Não é unicamente com o capitalista que se formam as quantias temporariamente inativas, em detrimento do capital fixo; — o capital circulante também contribui, às vezes, para criar estas reservas. Como? É raro, dissemos a propósito do lucro comercial, que o capitalista, tendo acabado um ciclo de produção, venda imediatamente suas mercadorias e compre com as somas realizadas o que tem necessidade para o ciclo seguinte: este ciclo começa habitualmente sem que se espere a realização das mercadorias produzidas no curso do ciclo anterior. De modo que o capitalista deve ter um capital complementar, para assegurar a marcha ininterrupta dos negócios, e iniciar o novo ciclo da produção. Mas, se as mercadorias prontas foram rapidamente realizadas, pode acontecer que as quantias assim obtidas fiquem inativas durante certo tempo, estando a continuação da produção assegurada pelo capital complementar.
O capitalista pode, além disso, dispor durante certo tempo do fundo dos salários. O salário é pago após à utilização da força de trabalho do operário, conforme prazos determinados; por semana, quinzena ou mês, Uma parte do capital variável destinada ao pagamento da mão-de-obra encontra-se, pois, disponível durante um certo tempo (ordinariamente muito curto).
É preciso finalmente mencionar, entre as causas das disponibilidades, a realização da mais-valia produzida pelos operários. Se o capitalista não a utiliza para satisfazer suas necessidades pessoais, e quer aplicá-la sem seus negócios, deve esperar que a acumulação da mais-valia tenha chegado a determinadas proporções.
Ainda são possíveis outras combinações em que uma parte do capital permanece livre, sob a forma dinheiro, mas nós não nos julgamos no dever de enumerá-las(1).
A demora da reconstituição do capital fixo, a duração dos diversos ciclos de produção, as condições de realização das mercadorias, as condições e os termos de pagamento dos salários, variando ao infinito, criam disponibilidades em dinheiro para todo capitalista. O crédito permite utilizar largamente estas quantias disponíveis, embora elas se encontrem por pouco tempo livres, nas mãos de certos capitalistas.
Notas de rodapé:
(1) Não nos ocuparemos, no momento, das pequenas economias, em dinheiro, dos trabalhadores. Trataremos do assunto em seguida. (retornar ao texto)
Inclusão | 24/09/2018 |