Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro quinto: O capital comercial e o lucro comercial
Capítulo IX - O capital comercial e o lucro comercial na economia capitalista
46. O papel do capital comercial na igualização da taxa de lucro. Grandeza do lucro comercial


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A origem do lucro comercial é, pois, a mais-valia criada pelos operários na produção.

Mas de que dependem o lucro comercial e sua grandeza?

Sabemos que (veja-se O Lucro e os preços de produção) em consequência da concorrência entre os capitalistas industriais, estabelece-se um lucro médio para todos os ramos de produção, independentemente da massa de mais-valia criada em cada um destes ramos. Resulta dai que a mais-valia é criada proporcionalmente ao trabalho suplementar fornecido pela força de trabalho e repartida proporcionalmente ao capital investido em tal ou qual ramo de indústria. O capitalista é antes de mais nada um capitalista e nada do capitalismo lhe é estranho. Pouco lhe importa que o trabalho de seus empregados não crie nem valor nem mais-valia. Desde o momento em que coloca no comércio um certo capital, ele deseja receber, como todo capitalista, uma taxa de lucro que não seja em caso algum inferior à taxa média de lucro do capital industrial. Se a taxa de lucro do capital comercial fosse inferior à taxa de lucro do capital industrial, poucos capitalistas colocariam seus capitais no comércio e todos procurariam colocá-los na indústria. O comerciante não está à parte na concorrência feroz que põe os industriais em disputa na partida mais-valia. Ele reclama imperiosamente sua parte, uma parte proporcional ao seu capital. O industrial é obrigado a antecipar-se aos desejos do comerciante, reconhecendo nele um igual na partilha da mais-valia. O capital participa na igualização da taxa média do lucro com as mesmas prerrogativas do capital industrial.

Suponhamos que todo o capital industrial de um país capitalista seja igual a 100 milhões de francos e a totalidade da mais-valia criada pelo trabalho dos operários seja igual a 10 milhões de francos. A taxa de lucro é determinada pela relação da mais-valia com a totalidade do capital. Teremos, portanto: 10.000.000/100.000.000 de francos, sejam 10%. Mas nós fizemos este cálculo sem ter em conta o capital comercial e a parte da mais-valia tirada antecipadamente sob a forma de lucro comercial. Suponhamos que o capital comercial desse país se eleva a 25 milhões de francos. De agora em diante, devemos, para determinar a taxa média de lucro, conhecer a relação da mais-valia, não unicamente com o capital industrial, mas com o capital industrial mais o capital comercial.

A taxa média de lucro será por consequência: 10.000.000/100.000.000 + 25.000,00, ou seja, 8%. A participação do capital comercial na repartição da mais-valia acarreta uma baixa da taxa média do lucro. O industrial não se limita a receber da taxa comum do capitalismo sua parte de mais-valia, pois também ele coloca ai a mais-valia produzida pelos operários de sua empresa; o comerciante recebe mais-valia e não deposita. De sorte que o lucro comercial, e, de um modo geral, as despesas da circulação das mercadorias, constituem, sob o ponto de vista da sociedade capitalista em seu conjunto, uma despesa completamente improdutiva, por dois lados: primeiro, porque uma parte dos recursos monetários da sociedade é afastada da produção e não produz mais-valia que, ao parecer, poderia produzir também; segundo, porque, não produzindo mais-valia, o capital não deixa de receber parte do valor produzido pelo capital industrial. A sociedade capitalista está, por estas razões, interessada em que a soma do capital comercial, que constitui o montante das despesas da circulação das mercadorias, seja reduzido ao mínimo, sem prejuízo naturalmente da realização das mercadorias produzidas pelo capital industrial. A soma de capital comercial pode ser reduzida pela aceleração de sua rotação. Cem mil francos podem efetuar sua rotação uma vez ou dez vezes num ano; mas, no segundo caso, seria preciso dez vezes menos capital comercial do que no primeiro. A aceleração da rotação, ao diminuir a soma de capital comercial, diminui a parte de mais-valia cedida pelo capital industrial ao comercial. Eis porque surge a questão de se saber em que medida a classe dos capitalistas comerciantes está interessada em acelerar a rotação de seu capital, já que uma diminuição deste capital deve resultar e resulta também numa diminuição da massa do lucro comercial.

A conclusão que parece impor-se é que o capital comercial, longe de estar interessado em acelerar sua rotação, está, pelo contrário, interessado em retardá-la. Seremos levados a acreditar nisto, se nos colocarmos no ponto de vista da classe dos capitalistas comerciantes em seu conjunto, e não no ponto de vista do capitalista comerciante individual. Este último está com efeito poderosamente interessado em uma mais rápida rotação de seu capital.

Delineia-se agora um paralelo entre o capitalista comerciante e o capitalista industrial. Basta lembrar o efeito do aperfeiçoamento da técnica sobre a taxa do lucro. O desenvolvimento da técnica traz em si a baixa da taxa de lucro. Parece, portanto, que a classe capitalista não está interessada nisso. Mas nós sabemos que, se a técnica de uma empresa individual é superior à média, o proprietário desta empresa receberá um superlucro até o momento em que estes aperfeiçoamentos técnicos se tenham generalizado em toda a indústria. É a mesma coisa para com os capitalistas comerciantes. Cada país, cada ramo de comércio, tem um tempo médio de rotação do capital. O comerciante, cujo capital efetue mais rapidamente sua rotação, recebe um superlucro comercial. Este superlucro estimula os comerciantes e os leva a acelerar a rotação de seu capital.


Inclusão 21/09/2018