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Primeira Edição: DAS ÖKONOMISCHE PARALLELUNIVERSUM em www.exit-online.org. Publicado no Neues Deutschland de 14.08.2009
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
A época de simulação designada cultural e ideologicamente como "pós-moderna" e economicamente como "neoliberal" está a chegar ao seu fim vergonhoso. O comportamento lúdico perante o mundo desfaz-se contra a dura realidade dos factos. No plano do capital fictício, o crash financeiro global já fez recordar incomodamente a realidade reprimida da valorização substancial do capital. Pelo contrário, o universo tecnológico paralelo do virtualismo, a multifacetada "Second Life" da Internet, parece gozar duma existência animada. Dos 7 mil milhões de pessoas em todo o mundo somente 1,6 mil milhões são "utilizadores" da net; sendo que a maior parte destes utilizadores, 298 milhões, encontra-se na China, representando no entanto apenas 22 por cento da população local. No espaço público global o debate sobre a Internet assume uma dimensão desproporcionada, como se a vida real da esmagadora maioria da população mundial fosse irrelevante. Entretanto, com o crash das Dotcom no virar do século, já se desmoronaram as ilusões sobre a viabilidade independente da economia virtual da Internet.
De facto, o universo tecnológico paralelo está estreitamente interligado com a conjuntura de bolhas financeiras em dissolução. Só desta forma se pôde desenvolver nos "utilizadores" a mentalidade hipócrita do grátis, como se no meio do capitalismo pudesse haver uma zona sem custos. A partir da esquerda, surgiu a expressão de "slogans" como "O download é o comunismo." Gráficas, editores e livreiros estão a ser destruídos. Mas, para além da degradação cultural, que vem acompanhada duma avalanche de inconsciente tagarelice blogueira, a fuga para a Net tem o seu preço. Na realidade, a suposta ausência de custos dos conteúdos baseia-se na expansão da indústria da publicidade. As emissoras privadas, com suas agressivas interrupções publicitárias, são meninos do coro em comparação com a oferta de conteúdos da Internet. Mesmo no caso da mídia virtual alternativa de esquerda tem de se passar pela publicidade a veículos automóveis, loções perfumadas, extensões do pénis e outros produtos obscuros. Essa degradação dos conteúdos mostra a capitulação perante a constituição capitalista e não só. Na Internet nada é produzido, apenas publicitado. Até os fornecedores do acesso a este universo paralelo estão totalmente dependentes da publicidade. Se as vendas dos produtos anunciados caírem, também os orçamentos de publicidade na Internet recuarão.
É previsível, também, uma segunda "aterragem" do campo de jogos virtual. O click grátis exige um grande agregado de infra-estruturas, com elevado consumo de energia, para cuja instalação a maioria dos países não tem capacidade financeira. Por isso, há limitações à expansão da rede; é provável que o seu zénite já tenha sido ultrapassado. Mas, mesmo nos centros capitalistas, a falência ainda latente das finanças do Estado, na sequência da gestão da crise, põe em questão a médio prazo a oferta do serviço em todo o território. O acesso à Net pode sofrer cortes, tal como a assistência médica; o que se aplica a fortiori aos sectores privatizados. O "grátis" poderá revelar-se muito caro se a ligação só for possível através de elevados custos de acesso. Mesmo a "Second Life" não é arbitrária, aberta, contingente, ambivalente etc., mas pertence unha com carne ao sistema fechado da lógica da valorização. Está eminente para os "utilizadores" a experiência de que ainda vivem no mundo material do capitalismo, que só pode ser abolido ou todo ou nada.