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Primeira Edição: Original INDUSTRIELLE SCHEINBLÜTE in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland 21.12.2007.
Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Adeus à retoma, é o que se lê agora também no último barómetro da conjuntura do Instituto IFO. Para a massa dos empregados, a euforia mediática do mês passado passou-lhes totalmente ao lado. Com uma excepção: a espectacular indústria de construção de máquinas continua a viver um boom que faz lembrar os tempos do milagre económico. A enchente de encomendas acumula-se, com prazos de entrega até dois anos; todo este ramo, estruturado em médias empresas, está ocupado a 100%. A procura inclui toda a variedade de produtos, desde prensas em aço até máquinas-ferramentas automáticas. O emprego cresce sem parar; só desde 2005 foram criados 70.000 novos postos de trabalho. Verifica-se, porém, uma profunda divisão na estrutura industrial. Enquanto a construção de máquinas floresce, como não se via há dezenas de anos, a desindustrialização dos outros sectores assume uma dimensão ainda maior.
Não há qualquer equilíbrio entre ambos os "sectores" da produção industrial, tal como o descrito por Marx em "O Capital" como condição para a acumulação. Ao boom na produção de meios de produção (secção I) contrapõe-se a estagnação na produção de bens de consumo (secção II). A indústria de bens de consumo continua ameaçada de mais encerramentos e deslocalizações. A divisão é também social. No sector de construção de máquinas crescem os salários, há aumentos chorudos, prémios e subsídios de Natal. Na indústria de bens de consumo, pelo contrário, prossegue a orgia dos cortes; mesmo os empregos nucleares são atingidos pela precarização. Em suma, a conta não bate certo, uma vez que a construção de máquinas é muito pequena para conseguir arrastar toda a economia. Além disso está concentrada em poucas regiões, sobretudo em Baden-Würtemberg. Parece estar a surgir uma pequena nova aristocracia operária, enquanto a massa da antiga se degrada.
Trata-se, porém, de uma situação momentânea. O negócio alemão da construção de máquinas desde o início do boom da globalização que se deslocou dramaticamente. Os compradores são cada vez menos as indústrias de bens de consumo da própria RFA, da Europa e dos Estados Unidos e cada vez mais os países produtores de petróleo, com a Rússia à cabeça, e sobretudo a Índia e a China. Nesses países o desenvolvimento desigual dos dois sectores industriais acontece exactamente ao contrário. A China exporta unilateralmente uma avalanche de bens de consumo, como placa giratória das cadeias de produção transnacionais; a Rússia exporta com a mesma unilateralidade petróleo e gás natural. Simultaneamente, grande parte dos meios de produção tem que ser importada, porque os fundos de produção não puderam ser melhorados. Só por isso é que a quota-parte alemã na exportação global de máquinas cresceu quase 20 %.
Quando o "Semanário Económico [Wirtschaftswoche]" delira com a "roda dentada central do motor da economia mundial", e fala de uma "idade de ouro" da indústria de construção de máquinas alemã para toda a década, ignora no entanto o contexto global da desigualdade entre os dois sectores industriais. Logo que, devido à crise financeira, cujo amadurecimento se aproxima, parar o circuito do deficit, que está na base da onda de exportações unilaterais de bens de consumo e energia, os estornos no volume de encomendas cairão como granizo sobre o sector da construção de máquinas. A discrepância no desenvolvimento da produção de bens de consumo e de bens de produção apoia-se num processo de endividamento global insustentável. Daí que o boom na construção de máquinas não passe de uma ilusão de prosperidade industrial minoritária na crise.