Leninismo — representa o ensinamento mais revolucionário de nossa era. Ele incorporou toda a paixão revolucionária de milhões de pessoas que se levantaram para combater os vestígios da servidão, as formas de exploração pré-capitalista e todas as manifestações de escravidão capitalista.
Lênin personificou o sofrimento de centenas de milhões de trabalhadores e camponeses, e revestiu o pensamento revolucionário dessas massas de uma forma tão incisiva quanto o aço e tão fervorosa quanto o fogo, em slogans que inspiraram esses milhões a atacar o estado capitalista.
Leninismo — o ensinamento das massas que não se contentaram em invadir apenas os tronos dos reis ou as bolsas de valores dos capitalistas, mas que avançaram, também, para conquistar o próprio “céu”.
Leninismo — a teoria da revolução proletária, é a tática e a estratégia da classe trabalhadora na destruição do velho mundo. Contudo, o Leninismo não se limita apenas à destruição da velha sociedade.
Leninismo — a ideologia do proletariado, a doutrina da ditadura do proletariado, como caminho e condição essencial para a construção de uma sociedade socialista.
Leninismo — um método dialético, brilhantemente aprimorado, do marxismo revolucionário, aplicado a uma nova era: a era das guerras imperialistas e das revoluções proletárias.
Leninismo — uma visão de mundo harmoniosa, na qual não há nenhum canto oculto onde os defensores do clericalismo mais disfarçado possam se refugiar. Ele destrói todas as ilusões sobre o além. O Leninismo desferiu um golpe esmagador em todas as teorias que buscavam Deus, construíam Deus ou tentavam reconciliar socialismo e religião. Além disso, o Leninismo ajudou o Partido Bolchevique vitorioso a resistir a diversas correntes filosóficas e ideológicas, como o empirismo crítico, o bogdanovismo, o mecanicismo, o idealismo menchevique e o deborinismo. A filosofia de Lênin representou um novo e superior estágio no desenvolvimento da visão filosófica do proletariado.
Por isso, o Leninismo se opõe à religião. Lênin dedicou uma parte significativa de suas obras à luta contra a religião, justificando o ateísmo militante de nossa era. Ele fez isso durante a primeira revolução, quando ainda não havia sido proposta a propaganda antirreligiosa como tarefa independente, nem criadas organizações antirreligiosas. Naquela época, até mesmo publicamos um órgão de agitação entre os sectários perseguidos pelo czarismo, na tentativa de atrair aliados, embora, claro, nem todos os sectários perseguidos pelo czarismo fossem aliados do proletariado na primeira revolução.
No artigo L. N. Tolstoi, ao tratar do caráter burguês-camponês da revolução de 1905, Lênin enfatiza que
“nas obras de Tolstoi foram expressas tanto a força quanto a fraqueza, o poder e as limitações do movimento camponês de massas. Seu protesto ardente, apaixonado e, muitas vezes, implacavelmente agudo contra o Estado e a Igreja do Estado policial reflete o estado de espírito de uma democracia camponesa primitiva, na qual séculos de servidão, tirania burocrática, roubo, jesuitismo eclesiástico, engano e fraude acumularam montanhas de malícia e ódio”.
No movimento sectário daquela época, foi precisamente esse caráter de protesto que atraiu nossa atenção, embora já naquela época parte da elite sectária tivesse claramente se alinhado com o czarismo.
No entanto, sabemos que a capa religiosa do movimento sectário, antes de 1905 e durante 1905, ocultava aspirações completamente diferentes das que surgiram sob a ditadura do proletariado. Quando as organizações sectárias passaram a esconder seus ideais reacionários, sua luta contra a ditadura do proletariado e seus sentimentos proprietários e anticoletivistas sob uma capa religiosa. É justamente por isso que, como Leninistas, não podemos, nem devemos transferir mecanicamente nossa atitude em relação ao movimento sectário da primeira revolução para a prática atual, quando muitas palavras de ordem outrora progressistas e até revolucionários se transformaram em seus opostos (como “república democrática”, “assembleia constituinte”, etc.).
Lênin também deu atenção à questão da propaganda antirreligiosa durante o período da ditadura do proletariado. Em uma carta especial aos editores do jornal Sob a Bandeira do Marxismo, ele levantou a questão de que
“um jornal que queira ser um órgão do materialismo militante deve ser, em primeiro lugar, um órgão militante no sentido da exposição e perseguição implacável de todos os modernos ‘lacaios certificados do clericalismo’, sejam eles representantes da ciência oficial ou autodenominados ‘publicitários democráticos, de esquerda ou ideológicos-socialistas’. Em segundo lugar, um tal jornal deve ser um órgão de ateísmo militante”.
Quais são os principais pensamentos de Lênin sobre a questão da religião? Primeiramente, devemos abordar as opiniões de Lênin sobre as fontes da religião e sua origem. No artigo Socialismo e Religião, Lênin aponta as fontes de classe da religião na sociedade moderna.
Lênin não via a religião apenas como uma superestrutura ideológica dentro de uma sociedade de classes. Nesse ponto, suas ideias estavam alinhadas com as de Marx e Engels, que também analisavam a origem da religião a partir dessa perspectiva. Para Lênin, as crenças religiosas surgiram antes mesmo da formação das sociedades de classes.
Em seu artigo Socialismo e Religião, escrito pouco antes da revolta de dezembro de 1905, ele discute as origens do sentimento religioso entre as camadas mais exploradas do proletariado moderno e dos camponeses. Segundo ele,
“a impotência das classes exploradas na luta contra seus opressores inevitavelmente leva à crença em uma vida melhor após a morte, assim como a impotência do homem diante da natureza deu origem à fé em deuses, demônios, milagres etc.”
Já em uma carta enviada a Maxim Gorky, em 1913, Lênin se opôs ao escritor e aos bogdanovistas, afirmando que
“Deus é um conjunto de ideias que despertam e organizam sentimentos sociais”.
Ele complementa essa visão ao definir a origem da crença em Deus da seguinte forma:
“Deus é, historicamente e na vida cotidiana, um complexo de ideias gerado pela opressão massacrante do homem — tanto pela natureza quanto pela exploração de classe. Essas ideias não apenas reforçam essa opressão, mas também amortecem a luta de classes”.
Lênin ainda enfatiza:
“Houve um tempo em que, apesar da origem e do significado real da ideia de Deus, a disputa entre a democracia e o proletariado se manifestava como um conflito entre diferentes concepções religiosas. Mas esse tempo já passou há muito”.
Nessa análise, Lênin destaca a origem de classe da religião na sociedade moderna, mas adverte contra uma abordagem simplista que agrupe todas as religiões sem considerar o contexto de classe. Em outra correspondência a Gorky, ele explica:
“Uma coisa é um selvagem, um ziriano ou mesmo um semisselvagem ter a ideia de Deus; outra bem diferente é Struve e companhia. Em ambos os casos, essa ideia é sustentada pela dominação de classe e, ao mesmo tempo, a fortalece”.
No artigo As Três Fontes e as Três partes Constitutivas do Marxismo, também de 1913, Lênin afirma:
“Os homens sempre foram em política vítimas ingénuas do engano dos outros e do próprio e continuarão a sê-lo enquanto não aprendem a descobrir por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe”.
Ele aprofunda essa análise ao afirmar que, na sociedade capitalista moderna, as raízes da religião são essencialmente sociais. Mas Lênin não se limita a essa constatação — ele explica em que sentido a origem de classe influencia a formação e o papel social da religião.
No artigo A Atitude do Partido da Classe Trabalhadora em Relação à Religião, Lênin argumenta que a luta contra a religião não pode se restringir a um discurso ideológico abstrato, tampouco ser reduzida a isso. Essa luta deve estar diretamente ligada à prática do movimento de classe, que tem como objetivo eliminar as bases sociais que sustentam a religião. Ele questiona:
“Por que a religião mantém seu domínio sobre os setores atrasados do proletariado urbano sobre os amplos setores semiproletários e sobre a vasta massa de camponeses? Por causa da ignorância do povo, responde o progressista, o radical ou o materialista burguês. Assim: ‘abaixo a religião e viva o ateísmo!’”.
Lênin refuta essa visão, classificando-a como um culturalismo burguês superficial e limitado. Segundo ele, essa abordagem não explica a religião de maneira materialista, mas idealista. Nos países capitalistas modernos, as raízes da religião não são apenas fruto da ignorância, mas principalmente da opressão social. A aparente impotência das massas trabalhadoras diante do capitalismo — que, a cada dia e a cada hora, impõe sofrimentos e privações muito mais brutais do que eventos extraordinários como guerras ou desastres naturais — é o verdadeiro alicerce da religião na era moderna.
“O medo produz deuses”, — afirma Lênin, — o medo da força cega do capital, cega porque não pode ser prevista pelas massas populares, uma força que, a cada passo na vida do proletário e do pequeno proprietário, ameaça infligir, e inflige de forma ‘repentina e inesperada a ruína acidental’, a destruição, pauperismo, miséria, prostituição, morte por fome — tal é a raiz da religião moderna que o materialista deve ter em mente em primeiro lugar, se não quiser permanecer um materialista da creche.”
Citamos esse longo trecho do artigo de Lênin porque ele não apenas esclarece o papel da igreja na estrutura de classes e as bases sociais da religião, mas também nos aproxima da questão da sua possível extinção. Se, nos países capitalistas modernos, as raízes da religião são principalmente sociais, é essencial explorar suas outras origens para combatê-las de forma eficiente e definitiva.
Se a religião é fruto da opressão social das massas trabalhadoras, de sua aparente impotência diante das forças cegas do capitalismo, se é resultado do medo do poder do capital, então sua existência está diretamente ligada a essas condições. Assim, a religião desaparecerá quando esse medo for superado, quando a opressão social for eliminada e as massas deixarem de ser impotentes frente ao capitalismo — ou seja, quando o próprio sistema capitalista for destruído.
No entanto, mesmo após esse processo, ainda restarão resquícios do capitalismo, seja na forma de pequenas economias de mercado que continuam a sustentá-lo, seja em outras estruturas sociais. Consequentemente, ideias e crenças religiosas também persistirão e precisarão ser combatidas. Superar os preconceitos religiosos, portanto, é, antes de tudo, uma luta de classes. Essa luta deve ter como objetivo libertar as massas trabalhadoras de toda forma de opressão e exploração, tornando-as capazes de enfrentar tanto as forças da natureza quanto, e principalmente, as classes dominantes. O parágrafo 13 do programa do Partido Comunista era baseado nessa concepção:
“O Partido Comunista da União Soviética está convicto de que somente o planejamento consciente e deliberado de todas as atividades sociais e econômicas das massas pode eliminar os preconceitos religiosos. Portanto, o partido busca a completa dissolução dos laços entre as classes exploradoras e as organizações de propaganda religiosa, promovendo a verdadeira emancipação das massas trabalhadoras dos preconceitos religiosos. Para isso, realiza uma ampla propaganda científica, educacional e antirreligiosa. No entanto, é crucial evitar qualquer afronta aos sentimentos religiosos dos crentes, pois isso apenas fortaleceria o fanatismo religioso.”
Dessa forma, Lênin defendia que toda propaganda comunista deveria estar subordinada à luta de classes, ou seja, à conquista de objetivos concretos tanto na esfera econômica quanto na política. Ao mesmo tempo, ele advertia contra uma abordagem mecânica da questão religiosa, afirmando que
“separar rigidamente a propaganda teórica do ateísmo da luta de classes dentro do proletariado significa não raciocinar dialeticamente. Isso transforma em uma barreira fixa o que, na realidade, é dinâmico e interconectado”.
Lênin era um opositor ferrenho de qualquer tentativa de mascarar o papel de classe da religião ou de encobrir suas raízes sociais com idealizações — como a invenção de uma religião “popular” ou o embelezamento desse conceito.
Em uma carta a Maxim Gorky, Lênin expressa sua indignação com a tentativa de idealizar a noção “popular” de Deus:
“A ideia ‘popular’ de Deus e do divino não passa de ignorância, opressão e superstição, exatamente como a ‘ideia popular’ do czar ou do duende, de arrastar as esposas pelos cabelos.”
Ele questiona essa perspectiva de maneira incisiva:
“Não consigo entender como alguém pode chamar de ‘democrática’ a ‘ideia popular’ de Deus.”
Lênin expôs com clareza o caráter de classe presente em todas as concepções “populares” sobre a religião. No artigo Relatório sobre o Congresso de Unificação, ele analisou o significado dessa crença ao abordar a expressão “terra de Deus”:
“Por que o camponês fala em ‘terra de Deus’? Não se atenha à palavra, mas à essência do problema. O que ele realmente deseja é a propriedade privada e o direito de vender a terra. ‘Terra de Deus’ é apenas um disfarce ideológico para sua intenção de tomar a terra dos proprietários.”
Se a religião é uma ferramenta de dominação de classe, produto da opressão social dos explorados pelos exploradores, então seria possível conciliá-la com o socialismo?
Lênin abordou essa questão de forma contundente durante a primeira revolução, no artigo Socialismo e Religião. Se a religião é uma forma de opressão espiritual que pesa sobre as massas — exauridas pelo trabalho incessante, pela miséria e pelo isolamento —, então a luta contra a religião não pode ser separada da luta contra todas as formas de opressão material e espiritual. Afinal, combater a religião significa combater o capitalismo e outros sistemas exploratórios.
Por isso, o trabalhador consciente, ao se libertar dos preconceitos religiosos, não deve hesitar em desprezá-los, deixando o “céu” para os sacerdotes e para a burguesia fanática, enquanto conquista uma vida melhor aqui na terra.
Lênin sustentava que, no que se refere ao partido socialista, a religião não pode ser considerada uma questão privada:
“Para o partido do proletariado socialista, a religião não é uma questão privada. Nosso partido é uma união de combatentes conscientes e engajados na libertação da classe trabalhadora. Uma organização como essa não pode ser indiferente à ignorância, à superstição ou ao obscurantismo religioso [...] Fundamos nosso partido, aliás, justamente para lutar contra qualquer enganação religiosa dos trabalhadores.”
Se, durante a primeira revolução, o partido não declarou oficialmente seu ateísmo por razões táticas, nem proibiu a filiação de crentes, esse cenário mudou sob a ditadura do proletariado. Com o tempo, tornou-se imperativo afirmar no programa partidário que um membro não poderia ser religioso ou vinculado a qualquer culto, nem se recusar a realizar propaganda antirreligiosa em seu trabalho diário.
Assim, a luta contra a religião tornou-se um dos pilares do leninismo militante, pois o leninismo, em relação à religião, é um ateísmo radical e combativo até as últimas consequências.
Durante o período de reação entre as duas revoluções, surgiram aqueles que buscavam uma “religião purificada”. Lênin, que atacou duramente qualquer tentativa de reformular ou suavizar a religião, dedicou especial atenção aos defensores dessa fé refinada. Em uma carta a Maxim Gorky, ele afirmou:
“A luta contra toda forma de religião refinada é mais difícil — e mais necessária — do que a luta contra a religião grosseira e seu engano evidente. Nos países mais livres, onde apelos à democracia, ao povo, ao público e à ciência são completamente inadequados, como nos Estados Unidos e na Suíça, os trabalhadores e a população em geral são especialmente desorientados pelas próprias ideias de um deus abstrato e espiritualmente idealizado. Isso ocorre porque qualquer ideia religiosa, qualquer concepção de um deus ou mesmo qualquer concessão a essa crença é uma aberração inaceitável — mas que a burguesia democrática frequentemente tolera, e até incentiva. Justamente por isso, trata-se da forma mais perigosa de ilusão religiosa, a ‘infecção’ mais insidiosa. Milhares de crimes, fraudes, violências e doenças físicas são muito mais fáceis de expor ao público e, portanto, menos nocivos do que a ideia refinada e espiritualizada de Deus, envolta nos mais sofisticados disfarces ideológicos. Um padre católico que comete abusos — como o caso que acabo de ler em um jornal alemão — representa um perigo menor para a “democracia” do que um sacerdote sem batina, sem religião institucionalizada, um padre ideológico e democrático que prega a criação e a existência de Deus. Afinal, o primeiro pode ser facilmente exposto, condenado e punido, enquanto o segundo é muito mais difícil de identificar e combater. Ele se camufla na ideologia e, assim, escapa à condenação da maioria das massas, que, frágeis e influenciáveis, relutam em enfrentá-lo.”
Por isso, Lênin, tanto no campo da filosofia quanto em outros domínios, trouxe à luz da crítica marxista qualquer forma de ideologia religiosa e qualquer tentativa de infiltrar o clericalismo na consciência da classe trabalhadora.
Na luta contra a religião, Lênin chegou a considerar necessária uma aliança com materialistas não comunistas. Ele desenvolveu essa ideia no artigo Sobre o Significado do Materialismo Militante, onde afirmou:
“Um dos maiores e mais perigosos erros dos comunistas (assim como de qualquer revolucionário bem-sucedido) é acreditar que uma revolução pode ser realizada apenas pelas mãos dos revolucionários.”
Pelo contrário, Lênin explica que:
“Para o sucesso de qualquer empreendimento revolucionário sério, é essencial compreender e aplicar o princípio de que os revolucionários atuam apenas como a vanguarda de uma classe verdadeiramente viável e progressista. A vanguarda só cumpre seu papel quando não se separa das massas, mas é capaz de guiá-las efetivamente. Sem alianças com não-comunistas em diversas áreas de atuação, não há possibilidade de uma construção comunista bem-sucedida.”
Contudo, essa aliança com materialistas não comunistas não significa suavizar as críticas a esses aliados, que muitas vezes são inconsistentes e indiferentes. Pelo contrário, exige que sejam criticados com a máxima dureza. Assim, a luta contra qualquer desvio ideológico dentro da propaganda antirreligiosa é um requisito essencial para a aplicação da linha leninista sobre o tema.
Se Lênin considerou possível, em nome do combate ao “obscurantismo religioso prevalente”, estabelecer uma aliança até mesmo com Drews, isso não significa que sua doutrina deva ser aceita sem questionamento. Pelo contrário, exige uma crítica rigorosa à sua inconsistência e aos aspectos reacionários de suas ideias.
Essa postura crítica deve ser igualmente implacável em relação aos próprios comunistas que ainda não se libertaram de um pensamento mecanicista. A propaganda antirreligiosa não pode se basear em ideias mecanicistas simplistas sobre a origem da religião e sua explicação.
O mérito histórico do leninismo na luta contra a religião reside justamente no seu ateísmo militante e consequente, que soube conectar a crítica à religião com a luta de classes, com o combate ao capitalismo e a todas as formas de exploração, e com a construção de uma sociedade socialista.
Durante a primeira revolução, Lênin travou uma luta decisiva contra a visão social-democrata e filisteia de que a religião seria uma questão privada não apenas para o Estado, mas também para o Partido. Ele nos armou, assim como a todo o proletariado mundial, para combater a pregação corruptora desses social-democratas, que, sob o pretexto dessa fórmula oportunista, chegaram ao ponto de concluir concordatas, firmar acordos vergonhosos com o clero, financiar sua propaganda religiosa com milhões de recursos e entregar a eles escolas, criando até mesmo “grupos de social-democratas crentes”. Toda essa abominação dos chamados fascistas sociais se esconde sob a palavra de ordem: “a religião é um assunto privado”.
Mas Lênin não se limitou a essa denúncia.
Durante a ditadura do proletariado, após realizar a separação entre Igreja e Estado e entre escola e igreja, ele defendeu que essa decisão fosse implementada com rigor absoluto, ao mesmo tempo em que se mantinha uma abordagem diplomática em relação às massas crentes. Em todos os países democráticos burgueses, essa separação foi proclamada diversas vezes em atos legislativos, mas nunca levada até o fim. Em nenhum lugar a Igreja foi realmente separada do Estado; em todos os lugares ela continua a gozar do apoio das estruturas capitalistas. Somente em um país — a URSS — essa separação foi efetivamente realizada. A Igreja perdeu todo o apoio estatal e qualquer conexão com o aparato governamental. A escola, por sua vez, foi completamente desvinculada da influência religiosa, adotando um ensino inicialmente não religioso e, depois, declaradamente antirreligioso e ateísta.
Desde o Manifesto do Partido Comunista, os comunistas tiveram de refutar as calúnias das organizações religiosas, que nos acusam falsamente de destruir a moralidade. Lênin revelou em diversos artigos a verdadeira natureza da moral religiosa. Já em seus primeiros textos, como Explicação da Lei sobre Multas Cobradas de Trabalhadores em Fábricas e Usinas, ele expôs esse tema.
A moral religiosa, apresentada como universal e acima das classes, sempre foi, na realidade, uma moralidade de classe. As classes dominantes sempre tentaram impor seus valores como se fossem verdades absolutas, mascarando seus interesses sob o manto de princípios éticos supostamente universais.
Mas o leninismo nega a moralidade? Lênin abordou essa questão em detalhes em seu discurso no As Tarefas das Uniões da Juventude.
Ele refutou a acusação de que os comunistas não possuem moral própria, classificando-a como “uma forma de substituir conceitos, de lançar areia nos olhos dos trabalhadores e camponeses”.
“Em que sentido negamos a moralidade e a ética?” — perguntou Lênin.
E ele mesmo respondeu:
“Negamos a moralidade pregada pela burguesia, que a derivava dos mandamentos de Deus. Dizemos que não acreditamos em Deus e sabemos muito bem que o clero, os latifundiários e a burguesia falavam em nome de Deus para justificar seus interesses exploradores. Se, em vez de se basearem nos ditames religiosos, recorriam a frases idealistas ou semi-idealistas, o resultado era sempre o mesmo: uma moralidade a serviço da dominação. Rejeitamos qualquer moralidade que não esteja enraizada na sociedade humana real e de classes. Chamamos isso de farsa, uma tentativa de enganar trabalhadores e camponeses para beneficiar latifundiários e capitalistas.”
Para Lênin, a moral comunista está subordinada aos interesses da luta de classes do proletariado. Ele enfatizou:
“Nossa moralidade deriva da luta do proletariado. A antiga sociedade era baseada na opressão dos trabalhadores e camponeses pelos proprietários de terra e capitalistas. Para derrubar esse sistema, era necessário organizar a classe trabalhadora, pois Deus não criaria tal união. Apenas as fábricas, as oficinas, apenas o proletariado desperto e formado poderia fazê-lo.”
Sobre a moral comunista, Lênin foi direto:
“Para nós, não existe moralidade fora da sociedade humana — isso é uma ilusão. A moralidade deve estar subordinada aos interesses da luta de classes do proletariado. Dizemos: a moral é aquilo que contribui para destruir a sociedade exploradora e unir os trabalhadores em torno do proletariado, que constrói a nova sociedade comunista. A moral comunista é aquela que serve a essa luta, que une os trabalhadores contra toda forma de exploração. Quando nos falam de moralidade, respondemos: para o comunista, moralidade significa disciplina solidária e a luta consciente das massas contra os exploradores. Não acreditamos em princípios morais eternos e expomos a falsidade das narrativas moralistas que tentam esconder a realidade da luta de classes.”
A moralidade, então, não é um conceito abstrato e imutável. Sua função é permitir que a sociedade avance, eliminando a exploração do trabalho. Na base da moral comunista está a luta pela consolidação do comunismo. Esse é o fundamento da educação e do ensino comunista, a resposta para a questão de como aprender o comunismo.
Mas se a moral comunista é fundamentada na luta pelo comunismo, isso significa que ela existirá mesmo em uma sociedade sem classes? Sim, mas sob uma forma diferente. Em uma sociedade sem classes, não se falará mais em moral proletária, mas os princípios dessa nova moralidade universal terão sido desenvolvidos pelo proletariado em sua luta revolucionária. Sob a liderança do Partido Comunista, essa moralidade será consolidada na sociedade socialista, em todas as suas fases.
A sociedade exploradora desconhece tais princípios. No capitalismo, o trabalho é um instrumento de exploração: gera mais-valia para os patrões, suprime a individualidade do trabalhador, impõe condições degradantes, desemprego e miséria. Mas, em uma sociedade socialista e comunista, o trabalho se torna “uma questão de honra, uma questão de glória, uma questão de coragem e heroísmo” (Stálin).
Na emulação socialista das massas, novos valores e conceitos morais são forjados. No trabalho coletivo e na disposição de se sacrificar pela causa comum, nasce a grande moralidade do futuro. E ela não precisa de deuses ou religiões para justificá-la.
A recompensa está aqui na Terra. Os trabalhadores não precisam de promessas de vida após a morte, de um “outro mundo” ilusório, de consolos religiosos. Sua maior realização é terem pavimentado um novo caminho para a humanidade, no qual “o trabalho será o governante do mundo”, e não mais os capitalistas. Eles destruíram o mundo das ilusões, não precisam mais de religião e de suas promessas vazias — esse “suspiro da criatura oprimida”, como disse Marx. O leninismo foi e continua sendo a maior arma na luta por essa libertação!