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A Guerra de Libertação Nacional da Iugoslávia sob a liderança do Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) encarnou a coragem e a bravura do povo, bem como a honestidade dos verdadeiros comunistas da Iugoslávia. Durante essa luta, porém, surgiram certas tendências estranhas dentro da liderança iugoslava, o que mostrava que, em sua posição em relação à aliança antifascista da União Soviética, Estados Unidos da América e Grã-Bretanha, a tendência de Josip Broz Tito se inclinava para os anglo-americanos, o que ficou claro mais tarde. Naquela época, observamos que a liderança titoísta manteve contatos muito próximos com os Aliados do ocidente, especialmente com os britânicos, dos quais receberam ampla ajuda financeira e militar. Da mesma forma, a aproximação política entre Tito, Churchill e seus diplomatas(1) tornou-se óbvia e evidente, numa época em que a Guerra de Libertação Nacional da Iugoslávia deveria estar estreitamente ligada à Guerra Patriótica da URSS, já que a esperança de todos repousava na vitória soviética, como fator essencial para uma libertação geral de todos os povos.
As tendências da liderança de Tito, que se tornava antagônica à União Soviética, ficaram mais evidentes na véspera da vitória sobre o fascismo, quando o Exército Vermelho, perseguindo o exército alemão, entrou na Iugoslávia para apoiar a Guerra de Libertação Nacional. Especialmente na época em que os objetivos dessa guerra estavam sendo conquistados entre os grandes e pequenos Estados, ficou óbvio que a Iugoslávia titoísta tinha sido apoiada pelo imperialismo britânico e americano. Na época, as rachaduras diplomáticas e ideológicas entre a União Soviética e a Iugoslávia se tornaram mais evidentes. Essas rachaduras se referiam, entre outras coisas, a questões territoriais. A Iugoslávia reivindicava territórios no Norte, especialmente em sua fronteira com a Itália, mas ela se calou sobre suas fronteiras no sul, especialmente a fronteira com a Albânia, sobre Kosovo e os territórios albaneses na Macedônia e em Montenegro. Os titoístas não podiam falar sobre isso, pois seria uma violação do Programa Político chauvinista dos nacionalistas sérvios(2).
Hoje é de conhecimento geral que as diferenças entre a liderança iugoslava e Stálin estavam profundamente enraizadas. A visão revisionista da liderança iugoslava foi cristalizada muito antes da libertação de seu país, possivelmente desde a época em que o Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) era membro do Comintern e trabalhava em total ilegalidade sob o regime das monarquias sérvias. Mesmo naquela época, sua liderança tinha opiniões divergentes, opiniões trotskistas, as quais o Comintern condenava sempre que eram expressas. Mais tarde, Tito insultou ainda mais a denúncias da Comintern, chegando ao ponto de reabilitar o seu maior divisionista, o ex-secretário geral do Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ), Milan Gorkić(3).
Após a libertação da Iugoslávia, surgiu um problema de grande importância: que caminho seguir? Este caminho, naturalmente, dependeria em grande parte de se a direção do Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) era marxista-leninista, ou revisionista. A princípio, nós acreditávamos neles, eles posavam como marxista-leninistas. De fato, porém, tanto por sua atividade geral, quanto também por suas atitudes concretas para conosco, observamos muitos detalhes do KPJ que não estavam em conformidade com a teoria científica marxista-leninista. Vimos que eles estavam se afastando o máximo possível da experiência da construção do socialismo na União Soviética.
Essa era a tendência do maior grupo de liderança iugoslava, com Tito, Kardelj, Aleksandar Ranković e Milovan Djilas na direção. Essa tendência era notável desde a sua época de clandestinidade e atividade ilegal, mas se tornou mais evidente especialmente após a libertação da Iugoslávia. Nesse período, o Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) não dizia seu nome abertamente, mas atuava de forma disfarçada com o então nome de Frente Popular da Iugoslávia (SSRNJ). Essa forma de atuar pela ilegalidade foi justificada sob o pretexto de que, caso contrário, “a grande e mesquinha burguesia, da cidade e do campo, ficaria assustada e preocupada, pois eles pulariam fora do poder que havia emergido da revolução, e também, os nossos aliados anglo-americanos poderiam se assustar com o comunismo”. Mesmo com o poder estabelecido, foram feitos grandes esforços para convencer a burguesia de que os comunistas não estavam no poder, que o KPJ existia, mas que era, por assim dizer, um dos membros da Frente Ampla, no qual os Draža Mihailović, os Milan Nedić, e os Milan Stojadinović e os outros “-vićs” reacionários da Iugoslávia poderiam participar.
Tito formou um governo provisório com Ivan Šubasić(4), o ex-Primeiro-Ministro do governo real Castle no exílio em Londres. Sob constante pressão popular, as massas não permitiram que ele fosse capaz de governar por muito tempo, e acabou sendo liquidado. Depois, Tito fingiu que não queria Šubasić, mas que os Aliados haviam o colocado em seu posto por imposição, mais tarde ele acusou Stálin da mesma coisa(5). A verdade é que Tito havia aceitado Šubasić para agradar Churchill, pois ele jamais havia gostado de Stálin.
Desde o início, Tito e seus associados mostraram que estavam longe de serem “marxistas de linha dura”, como a burguesia gosta de taxar os marxista-leninistas consistentes. Eles eram “marxistas razoáveis”, daqueles que estavam dispostos a conciliar estreitamente com todos os velhos e novos políticos burgueses reacionários da Iugoslávia.
Apesar de afirmarem ser ainda um partido ilegal, o Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) atuava na legalidade. No entanto, Ranković e Tito não permitiam que ele tivesse o poder nem o papel de vanguarda que deveria ter, pois o objetivo estratégico deles não era a construção do socialismo na Iugoslávia. Tito e Ranković distorceram as diretrizes marxista-leninistas sobre a estrutura e o papel do partido. O Partido Comunista da Iugoslávia não foi construído com base nos ensinamentos do marxismo-leninismo. Este partido, que era supostamente fundido com a Frente Popular da Iugoslávia (SSRNJ), fez a lei junto com o Exército, o Ministério do Interior e o Serviço de Segurança do Estado. Este partido, que havia liderado a Guerra de Libertação de todos os povos iugoslavos, se tornou um destacamento dos órgãos de repressão do Estado após a guerra, isto é, do Exército, do Ministério do Interior e do Departamento de Segurança do Estado (UDBA).
A propaganda e a autoridade que o partido conquistou durante a Guerra de Libertação Nacional, e também durante os primeiros passos de reconstrução da Iugoslávia após a guerra, deu a impressão à classe trabalhadora iugoslava que o partido estava na vanguarda. Na realidade, não era a vanguarda da classe operária, mas da nova burguesia que havia emergido e começado a se instalar. Essa classe confiava fortemente no prestígio da Guerra de Libertação Nacional do povo Iugoslavo para atingir seus próprios objetivos contrarrevolucionários, ao mesmo tempo que limitava as perspectivas dos trabalhadores de construção de uma nova sociedade socialista. Um partido tão degenerado como este estava destinado a conduzir a Iugoslávia titoísta por um caminho antimarxista.
O curso antimarxista dos titoístas iugoslavos, liderados por Tito, Kardelj e Ranković, se opôs abertamente ao marxismo-leninismo, aos partidos comunistas do mundo, à União Soviética, a Stálin e a todos os países de democracia popular que foram formados após a Segunda Guerra Mundial. É claro que essa fissura se desenvolveu gradualmente, até chegar em seu momento crítico, quando o joio foi separado do trigo(6).
É um fato inegável que os povos da Iugoslávia lutaram. A Iugoslávia fez grandes sacrifícios, assim como a Albânia. Os líderes antimarxistas iugoslavos usaram dessa luta para atingir seus próprios objetivos, também usaram a avaliação soviética para manipular a opinião pública, tanto interna quanto externa, na qual este país foi descrito como um importante aliado que seguia o caminho marxista-leninista em direção ao socialismo.
Não demorou até que os titoístas mostrassem suas tendências expansionistas e hegemonistas em suas relações com os estados recém fundados de democracia popular, especialmente com nosso país. Como se sabe, eles procuraram impor a nós seus pontos de vista antimarxistas nos terrenos políticos, ideológicos, organizacionais e estatais. Eles chegaram ao ponto de fazer tentativas desprezíveis de anexar e transformar a Albânia na sétima república iugoslava. Neste empreendimento fracassado e vergonhoso, os titoístas encontraram nossa determinada oposição. No início, nossa resistência não estava totalmente cristalizada porque não suspeitávamos que a liderança iugoslava estava no caminho capitalista e revisionista. Porém, depois de alguns anos, quando as tendências expansionistas e hegemonistas estavam evidentes, nós nos opusemos resolutamente a elas com firmeza e sem reservas.
Os titoístas tentaram impor a nós suas vontades, usando os mais variados tipos de pressão e chantagem. Para isso, eles organizaram a conspiração de Koçi Xoxe(7). Eles seguiam as mesmas táticas e práticas imperialistas. Mesmo que não fosse na mesma medida, fizeram o mesmo também em relação aos demais países de democracia popular, como a Bulgária, Hungria e Tchecoslováquia. Todos estes atos sujos mostraram claramente que a Iugoslávia não estava seguindo o caminho do socialismo, mas havia se tornado uma ferramenta a serviço do capitalismo mundial.
A cada dia que passava, ficava mais claro que uma sociedade socialista de tipo leninista não estava sendo construída na Iugoslávia, mas que o capitalismo estava se desenvolvendo. Os passos dados neste caminho capitalista foram, entretanto, disfarçados com a suposta busca de novas e específicas formas de “socialismo”. Precisamente com este propósito, a liderança revisionista iugoslava com Tito, Kardelj e Ranković à frente, num esforço para justificar de alguma forma sua traição “teoricamente”, tomou emprestadas as mais diversas ideias do arsenal dos antigos revisionistas e, desta forma, reforçaram seu Estado de tipo fascista por todos os meios possíveis. O Exército, o Ministério do Interior e a UDBA se tornaram todo-poderosos.
Embora estivesse se estabelecido o capitalismo, a liderança iugoslava revisionista tentou criar, entre as massas populares, a opinião de que os objetivos da Guerra de Libertação Nacional não tivessem sido traídos, que ali existia um Estado de orientação socialista, liderado por um partido comunista honesto que defendia o marxismo e que, supostamente, exatamente por causa disso, haviam entrado em oposição com a União Soviética, com Stálin, com os partidos comunistas e os países de democracia popular.
Para proteger o seu poder, gravemente abalado com os resultados das denúncias feitas à opinião pública nos países socialistas e também em todo movimento comunista e operário internacional, os titoístas, buscando manter sua política enganosa, proclamaram que tomariam “medidas sérias” para a construção do socialismo no campo, para a coletivização da agricultura de acordo com os princípios leninistas e, portanto, formaram as chamadas Zadrugas. Quanto à seriedade das intenções dos titoístas na construção do socialismo no campo, basta lembrar que a política das Zadrugas desmoronou antes mesmo de serem devidamente estabelecidas e, agora, não restam vestígios da coletivização do campo na Iugoslávia.
Até 1948, se concluiu a ruptura entre a União Soviética, que juntava em torno de si os países de democracia popular e todo o Movimento Comunista Internacional contra a Iugoslávia, no qual este último ainda se encontrava na fase inicial de construção do capitalismo. Estava em sua fase mais caótica, no estado de desorganização política, ideológica, econômica total, em uma situação extremamente grave. Isso levou a fração de Tito, Kardelj e Ranković a agir abertamente, a se ligar mais estreitamente ao capitalismo mundial, especialmente com o imperialismo americano, a fim de manter seu poder e manobrar a conjuntura a seu favor.
Depois de 1948, a Iugoslávia ainda se encontrava em uma grave crise política, ideológica e econômica, ela estava numa encruzilhada devido aos desvios antimarxistas de sua liderança. Os renegados titoístas queriam, por assim dizer, sentar-se em duas “cadeiras”. Eles queriam sentar-se na cadeira do marxismo-leninismo apenas para manter as aparências, apenas para manter a forma, enquanto que eles queriam se plantar firmemente sobre a outra, a “cadeira” capitalista-revisionista. Mas, para atingir este objetivo, seria necessário um certo tempo. O período a partir de 1948 foi muito conturbado e estilhaçado pelas graves crises, pela confusão e pelo caos.
A fração de Tito, Kardelj e Ranković tinha de lidar com a seguinte contradição: Como manter o poder e esmagar qualquer resistência do proletariado e dos povos da Iugoslávia que haviam lutado pelo socialismo em amizade e completa unidade com a União Soviética e os países de democracia popular? Com esta contradição na ordem do dia, os revisionistas iugoslavos se organizaram, em primeiro lugar, para liquidar qualquer vestígio do marxismo-leninismo dentro do partido, pois era necessário transformá-lo em um instrumento que conformasse e se correspondesse com sua ideologia política burguesa e revisionista, era necessário despojá-lo de qualquer função de vanguarda. A classe trabalhadora deveria ser transformada em uma massa imóvel, que não seria capaz de ver e analisar a traição titoísta, e que não fosse capaz de lutar contra ela, em ser a força política decisiva da revolução. As normas do centralismo democrático no partido foram violadas. O partido se tornou dependente da UDBA, que foi usada como um meio para suprimir todos os elementos que eram a favor de sua volta para o caminho marxista-leninista. O partido foi expurgado de todos aqueles que eram leais ao socialismo. Embora parecesse manter algumas normas de eleições, reuniões e conferências, na realidade sua liderança burocrática concentrou todo o poder em suas próprias mãos e o transformou em uma mera ferramenta para a implementação de suas ordens, junto do Serviço de Segurança do Estado (UDBA). Assim, o Partido Comunista da Iugoslávia (KPJ) foi radicalmente transformado e perdeu todas as características de um verdadeiro partido de vanguarda da classe trabalhadora, a principal força política da sociedade. Esta foi uma grande vitória para o capitalismo, para a burguesia estrangeira e local.
Para manter seu governo, os renegados titoístas tiveram que liquidar silenciosamente o Estado que havia emergido da Guerra de Libertação Nacional e construir outro Estado, uma feroz ditadura fascista.
Em outras palavras, a fração de Tito, Kardelj e Ranković empreendeu a liquidação de todas as características marxista-leninistas da revolução e partiu em busca das alegadas “novas estradas de construção do socialismo”, que eram, de fato, capitalistas na economia, na política interna e externa, na educação e cultura e em todos os outros setores da vida. Nesta situação, os órgãos de Segurança do Estado e o Exército Iugoslavo se tornaram a arma brutal favorita nas mãos desse punhado de renegados, que puniam de forma draconiana qualquer um que ousasse denunciar sua traição. As perseguições e assassinatos em massa de todos os elementos marxista-leninistas honestos começaram. Os terríveis campos de concentração, um dos quais era o de Goli Otok, estavam repletos de prisioneiros.
Naquela época, a economia da Iugoslávia estava em uma situação muito ruim. Isto se devia às devastações da guerra, à política confusa da liderança iugoslava e à ruptura de todas as relações com a União Soviética. A Iugoslávia não recebeu mais a ajuda considerável que havia recebido nos primeiros anos após a libertação, bem como porque não podia mais pilhar os outros países de democracias populares, como a Albânia, através das empresas “conjuntas” criadas em bases injustas, que beneficiaram apenas um lado: a Iugoslávia.
É claro que os renegados iugoslavos não viram apenas o terror como a única maneira de sair da crise. Como um antigo território do capitalismo mundial, os renegados titoístas se voltaram imediatamente na direção do imperialismo americano, este que estava pronto para dar a Tito e sua quadrilha toda ajuda, apoio financeiro e estrutural necessários para salvar aqueles que poderiam se tornar em uma ferramenta importante na sua luta contra o socialismo, contra a revolução e os movimentos de libertação nacional. As potências imperialistas esperavam impacientemente por tal giro, porque estavam preparadas para isso desde o tempo da guerra. Portanto, eles não deixaram de lhes dar uma “ajuda” econômica importante, mas também lhes deram um forte apoio político-ideológico. Eles até lhes forneceram armas e equipamentos militares, os vincularam à OTAN através do Pacto dos Bálcãs(8).
No primeiro período, a Iugoslávia foi “auxiliada” por investimentos de capital de empresas estrangeiras(9), especialmente na indústria e na agricultura. No campo da indústria, onde o imperialismo americano se mostrou particularmente “generoso”, sua “ajuda” permitiu o início da reconstrução das antigas fábricas existentes para que estas pudessem se tornar mais ou menos operacionais e sua produção pudesse ser suficiente para manter o regime burguês-revisionista, que se cristalizou e que havia se voltado para o capitalismo mundial.
O regime titoísta também teve que liquidar aquele sistema de coletivização da agricultura mal cozinhado, malemá criado em diversas áreas rurais, para estabelecer um novo sistema no qual os kulaks (camponeses ricos) e os grandes proprietários de terras seriam favorecidos novamente. Foram encontrados formulários e meios para a redistribuição da terra, sob os quais os antigos kulaks foram reabilitados sem causar grandes ebulições no país. O Estado adotou uma série de medidas capitalistas, tais como a quebra das estações de máquinas e tratores e a venda de seus equipamentos para os camponeses ricos que poderiam comprá-los, assim como a imposição de pesados impostos aos camponeses.
As fazendas estatais, da mesma forma, foram transformadas em empresas capitalistas nas quais também foi investido capital estrangeiro, etc.
Os comerciantes e industriais locais, aos quais foram feitas grandes concessões, se beneficiaram muito do capital estrangeiro investido.
Estas medidas provaram, sem qualquer dúvida, que o “socialismo” que estava sendo construído na Iugoslávia não era outra coisa senão o caminho do restabelecimento do capitalismo.
Assim, o terreno foi preparado para a penetração do capital estrangeiro em uma escala cada vez maior, em uma situação política, ideológica e organizativa muito adequada ao capitalismo mundial. Este último, ao ajudar o regime titoísta, o usaria como ponte para se alçar aos demais países de democracia popular.
Esta orientação política, ideológica e econômica da Iugoslávia titoísta no caminho do capitalismo fez com que a luta de classes tomasse outra direção e não se desenvolvesse mais como um motor da sociedade socialista, mas como uma força motriz na luta entre classes opostas, como é o caso de qualquer Estado capitalista onde prevalece a ditadura da burguesia. O Estado burguês-revisionista titoísta organizou a luta de classes na Iugoslávia contra os elementos progressistas da classe trabalhadora, contra os comunistas que resistiram ao curso da traição.
O centralismo democrático foi logo liquidado também nos campos da administração econômica e estatal. É verdade que na Iugoslávia algumas fábricas haviam sido nacionalizadas, o comércio exterior havia sido proclamado monopólio do Estado e foi afirmado que o princípio do centralismo democrático foi implementado na organização e atividade do Estado e do partido. Mas estas medidas que pareciam ter um caráter revolucionário não eram nem completas nem consistentes. O centralismo na Iugoslávia não tinha o verdadeiro significado leninista de que toda a vida econômica e política da sociedade deveria ser desenvolvida pela combinação da liderança centralizada com a iniciativa criativa dos órgãos locais e das massas trabalhadoras. O seu objetivo era criar uma força ditatorial do tipo fascista que estivesse em posição de impor a vontade do regime no poder aos povos da Iugoslávia a partir de cima. Com o passar dos anos, estas medidas iniciais, que foram anunciadas como tendências supostamente socialistas, tomaram uma direção claramente antimarxista e contrarrevolucionária. Toda a organização estatal e a atividade do Estado no campo econômico adotaram características capitalistas em aberta oposição à experiência fundamental da construção do socialismo na União Soviética de Lênin e Stálin.
Nos primeiros anos após 1948, podemos dizer que o princípio do centralismo foi implementado na atividade do Estado Iugoslavo, pois a Federação da Iugoslávia teve que carregar encargos muito pesados e difíceis que não seria capaz de resolver de forma descentralizada. Os tempos eram tais que a preservação do centralismo era necessária porque a Federação era formada por repúblicas, cada uma delas com diferentes correntes políticas nacionalistas que procuravam romper com a própria Federação. Porém, esse tipo de centralismo era o centralismo burocrático, os planos econômicos eram decididos de cima sem serem discutidos na base, não eram bem estudados e não eram concebidos para promover um desenvolvimento harmonioso dos vários ramos da economia das repúblicas e regiões da Federação, as ordens eram arbitrárias e executadas cegamente, a produção era pelo meio da força. Deste caos, no qual a iniciativa dos órgãos locais do partido e do Estado, junto às iniciativas das massas trabalhadoras, não foram levadas em conta em lugar nenhum, por conta disso, é claro, surgiram divergências, todas elas suprimidas pelo terror e pelo derramamento de sangue.
Tal situação também foi encorajada pelos estados capitalistas, que haviam tomado o regime titoísta sob sua asa para dar à Iugoslávia uma orientação capitalista. Lucrando com este Estado de coisas, os vários imperialistas estavam competindo entre si em seus esforços para conseguir um maior controle sobre este Estado corrupto, de modo que, junto com os créditos que eles forneciam, eles também podiam impor suas visões políticas, ideológicas e organizacionais.
Os capitalistas estrangeiros que apoiaram o grupo de renegados titoístas reconheceram claramente que este grupo os serviria, mas eles sentiram, depois que a situação turbulenta e caótica foi superada, que uma situação mais estável tinha que ser criada na Iugoslávia. Caso contrário, eles não podiam ter certeza sobre a segurança dos grandes investimentos que estavam fazendo e que iriam aumentar no futuro.
A fim de criar a situação desejada em favor do capitalismo, foi necessário realizar a descentralização da gestão da economia e o reconhecimento e proteção por lei dos direitos dos capitalistas que estavam fazendo grandes investimentos na economia deste Estado.
A liderança titoísta entendeu claramente que o capitalismo mundial queria que a Iugoslávia, como uma ferramenta em suas mãos, estivesse na melhor posição possível para enganar os outros. Consequentemente, não podia aceitar um regime sanguinário e abertamente fascista, que o antimarxista Tito, Kardelj e Ranković haviam estabelecido. Por causa disso, a fração de Tito e Kardelj tomaram medidas em 1967, no qual liquidou a fração de Ranković, que se tornou responsável por todos os males do regime titoísta até aquele período.
Com a liquidação de Ranković, a Liga dos “Comunistas” da Iugoslávia não saiu da crise em que tinha entrado. Ela continuou a ser tratada de acordo com a antiga visão titoísta, cuja essência era que a Liga deveria manter apenas seu disfarce “comunista”, mas nunca desempenhar o papel principal na atividade estatal, no Exército, ou na economia. Os titoístas haviam até mudado o nome de seu partido, chamando-o de “Liga dos Comunistas”, alegadamente para dar-lhe um nome autêntico “marxista”, tirado do próprio dicionário de Karl Marx. O único papel oficialmente reconhecido desta chamada “Liga dos Comunistas” era um papel educacional. Porém, até mesmo esse papel educacional era inexistente, porque a sociedade Iugoslava foi colocada para dormir com toda a propaganda de uma suposta política e ideologia marxista-leninista da “Aliança Socialista da Iugoslávia”, que na verdade estava marchando na estrada do capitalismo.
Embora o partido revisionista iugoslavo tenha surgido da ilegalidade, dissolveu-se, como resultado da descentralização capitalista, nesse tipo de pluralismo ideológico que mais tarde seria chamado de sistema “democrático”. O principal objetivo era que, após a transformação do partido em um partido burguês, as características capitalistas do desenvolvimento econômico do país deveriam ser completamente cristalizadas.
Assim, foi preparado terreno adequado na Iugoslávia para o florescimento de teorias anarco-sindicalistas, contra as quais Marx, Engels, Lênin e Stálin haviam lutado. Sob estas condições, a teoria pseudo-marxista-leninista do sistema político da “Autogestão Socialista”, que Kardelj trata em seu livro, foi inventada.
Notas de rodapé:
(1) Tito conheceu e manteve conversas com Churchill em agosto de 1944 em Nápoles, Itália. Ele também se encontrou com o comandante das Forças Aliadas no Mediterrâneo, General Wilson, assim como o comandante do 8º Exército, Marechal de Campo Alexander. (retornar ao texto)
(2) A posição dos revisionistas iugoslavos em relação a essa questão é analisada pelo camarada Enver Hoxha em seu livro Os Titoístas, Notas Históricas da Casa de Publicações “8 Nëntori”, 1982; Páginas 74 até 122 – Edição Inglesa. (retornar ao texto)
(3) Milan Gorkić foi denunciado pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista em 1937. (retornar ao texto)
(4) Ele se tornou Ministro do Exterior do governo iugoslavo depois da libertação da Iugoslávia e renunciou em 5 de outubro de 1945. (retornar ao texto)
(5) Em carta para Šubasić em outubro de 1945, em relação à carta de renúncia, Tito escreveu: “Sua renuncia me deixou profundamente atônito. Qual parte do nosso acordo não foi cumprida? Primeiro, um governo unificado com a participação de todos aqueles ministros do governo de Londres, que você propôs, foi fundado; muitas leis, elaboradas com sua participação, foram endossadas; a existência de partidos foi aprovada e eles começaram a operar. A liberdade de a imprensa existe, de fato, o fato de que mesmo a oposição tem suas publicações provam que isto é verdade. Isto significa que todos aqueles acordos que eu aprovei e que assinamos em conjunto estão sendo realizados. Ao aceitar suas declarações e colaboração, eu rejeitei todas as propostas que pudessem nos dividir”. (retornar ao texto)
(6) Isto aconteceu em junho de 1948, quando a reunião do Cominform examinou a situação no Partido Comunista Iugoslavo (KPJ) na Romênia. A resolução adotada sobre essa questão diz que a liderança do KPJ abandonou o internacionalismo proletário e se pôs no caminho do chauvinismo, que “tal marcha nacionalista só poderia levar à degeneração da Iugoslávia em uma república burguesa comum, à perda de sua independência e sua transformação em uma colônia de estados imperialistas”. A vida e confirmou plenamente estas previsões – Resolução da Cominform sobre a situação no Partido Comunista Iugoslavo (KPJ), publicada no jornal Pela Paz Duradoura, pela Democracia Popular em 1 de julho, 1948, número 16. (retornar ao texto)
(7) Antigo Secretário de Organização do Comitê Central do Partido Comunista da Albânia (PKSH) e Ministro do Interior. Ele foi recrutado pelo serviço secreto iugoslavo no começo do verão de 1943 e encabeçou de maneira ininterrupta uma política conspiratória antialbanesa e antimarxista até ser descoberto e receber sua devida condenação. (retornar ao texto)
(8) Com base no acordo militar entre os EUA e a Iugoslávia assinado em 14 de novembro de 1951, as forças armadas iugoslavas foram, de fato, colocadas sob o controle do Pentágono. Em 1953, o tríplice Tratado de Colaboração e Amizade, que em 1954 foi transformado em um pacto militar, foi concluído entre a Iugoslávia, a Grécia e a Turquia. Este pacto vinculou a Iugoslávia também à OTAN, da qual Turquia e Grécia são membros. (retornar ao texto)
(9) De acordo com o jornal The Times, edição de 17 de abril de 1951: em outubro de 1949, o Banco Internacional de Reconstrução (BIR) concedeu à Iugoslávia um empréstimo de 2,7 milhões de dólares; enquanto que, no mesmo ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) forneceu dois empréstimos no valor de 12 milhões de dólares. O Congresso Americano autorizou, também, um empréstimo de 38 milhões de dólares em dezembro de 1950, e um de 29 milhões de dólares adicionais em abril de 1951. (retornar ao texto)