MIA > Biblioteca > Enver Hoxha > Novidades
SÁBADO,
14 de ABRIL de 1962
O artigo publicado ontem no Izvestia foi mais direcionado à China do que a nós. Nós somos o motivo, mas esse artigo sobre a “unidade” não passa de uma resposta oficial ao Comitê Central do Partido Comunista da China relativa às discussões de possíveis negociações. Com esse artigo os revisionistas soviéticos buscam várias coisas:
1) Acusar-nos de “divisores, dogmáticos, etc.” Mas essas ladainhas habituais não fazem mais do que desmascarar os verdadeiros criadores da divisão: os próprios soviéticos.
2) Rejeitar a plataforma de negociação dos chineses dizendo-lhes: — Nós, soviéticos, não discutiremos nos seus termos. Não reconhecemos nem reconheceremos ter cometido qualquer erro em relação aos albaneses; pelo contrário, estamos no caminho marxista-leninista, enquanto que os albaneses e vocês estão no caminho antileninista; não tomaremos medida alguma para melhorar nossas relações com os albaneses. Devemos abandonar os albaneses para que não se tornem um obstáculo à sua submissão(2) a nós. O caminho que vocês seguem é o caminho da divisão. Só há um caminho: o nosso. É pegar ou largar! Se não o aceitarem, a luta vai começar, e será aberta.
3) Usar sua última carta para intimidar a China ou fazê-la vacilar de suas posições corretas. Entretanto, podemos comparar essas ameaças a flatulências de um burro, que infestam o ar mas não assustam ninguém, elas demonstram o medo que há dentro de Khrushchov e seu pessoal.
4) Insinuar aos americanos e ao grupo de Belgrado que não se pode chegar à acordo algum com a Albânia e a China e portanto eles não devem se preocupar com isso. Mas, em troca, os soviéticos pedem: — Façam alguma concessão, porque fomos expostos, e isso não é bom para vocês, nem para nós e nem para nosso objetivo comum: a destruição do socialismo.
5) Estabelecer uma diretriz para os satélites de Khrushchov, quer estejam no poder ou não.
Para eles, tal artigo tem dois objetivos:
a) Consolidar as posições dos traidores do leninismo em torno de Khrushchov. Aos satélites, que tomaram conhecimento das cartas do Partido Comunista da China, o artigo diz: esta será nossa posição em relação ao Partido Comunista da China. Por isso, vocês também devem publicar em seus órgãos de imprensa o que foi publicado no Izvestia, promovam esse artigo, comprometam-se!
b) Ameaçar os satélites em caso de eles se movimentarem. Khrushchov os avisa: farei com vocês o mesmo que fiz com os albaneses e os chineses e vocês ficarão em meio a três fogos (o meu, o sino-albanês e o dos seus próprios países). Nada de gracinhas, senão lhes cortarei as rações de pão.
Essas são as manobras diabólicas dos revisionistas. Ai daqueles que caem nelas!
6) Dizer aos partidos que tomaram uma posição de princípios: — Voltem atrás, não se associem à China, ou vão se arrepender!
7) Esconder a derrota que sofreram na arena internacional e nacional, desviar a atenção do público dos crimes que cometeram contra os bons quadros do seu país, etc. Mas o público está se perguntando: — Quão perigosa é essa pequena Albânia socialista para ser atacada dessa maneira por Khrushchov?
A opinião pública enxerga cada dia mais claramente que a Albânia é perigosa não por causa do seu potencial militar, e sim pelo seu potencial ideológico.
Nota da tradução:
(1) Entrada do diário político de Enver Hoxha, publicada pela primeira vez em 1979 no compilado “Reflexões sobre a China”. (retornar ao texto)
(2) Dos chineses. (retornar ao texto)