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Os trabalhadores da França, durante este século, voltaram-se para o Partido Socialista e o Parlamento para mudar a sociedade. Uma alargada minoria sustentou as ideias reacionárias da direita. O revolucionários eram geralmente muito poucos.
Esta indiferença ou mesmo oposição dos trabalhadores ao socialismo revolucionário não é nada surpreendente. Todos nós crescemos numa sociedade capitalista em que se considera como um dado certo de todos serem egoístas, em que constantemente se nos repete nos jornais ou na televisão que apenas uma minoria privilegiada tem capacidade de tomar decisões nas posições-chave da economia e do Estado, onde a imensa maioria dos trabalhadores é ensinada desde o primeiro dia de escola a obedecer as ordens dadas polos “mais velhos e superiores hierárquicos”.
Como Marx observou:
«as ideias dominantes são as ideias da classe dominante»
e um vasto número de trabalhadores as aceita.
Ainda assim, constantemente na história do capitalismo, os movimentos revolucionários têm abalado um país atrás do outro. Na França em 1871, na Rússia em 1917, Alemanha e a Hungria em 1919, Itália em 1920, Espanha e França em 1936, Hungria em 1956, França em 1968, Chile em 1972-1973, Portugal em 1975, Irã em 1979, Polônia em 1980.
A explicação dos seus movimentos reside exatamente na própria natureza do capitalismo. O capitalismo é um sistema que constantemente tende para a crise. De um certo ponto nem mesmo pode garantir um padrão de vida decente, mas durante os períodos de expansão do capitalismo, os trabalhadores chegam a esperar essas cousas. Assim, por exemplo, na década de 1950 a 1960, os trabalhadores esperavam pleno emprego, um “bem estar” e uma gradual, mas real, melhoria das condições de vida. Em contrapartida, nos últimos vinte e cinco anos, sucessivos governos permitiram o desemprego crescer até atingir quatro milhões de pessoas, reduziram a segurança social em sucata e tentaram seguidamente diminuir o padrão de vida.
Porque estamos afeitos a aceitar muitas das ideias capitalistas, aceitamos alguns desses ataques. Mas, inevitavelmente, chega-se a um ponto em que os trabalhadores não podem mais aguentar. De repente, quando ninguém espera, a sua ira explode e agem contra o seu patrão ou contra o governo. Talvez através de uma greve ou organizando manifestações.
Quando isto acontece, gostem eles ou não, os trabalhadores começam a fazer cousas que contradizem todas as ideias capitalistas que tinham aceitado até então. Agem em solidariedade uns com os outros, como uma classe, pola oposição aos representantes da classe capitalista.
As ideias do socialismo revolucionário que eles costumavam rejeitar começam a corresponder ao que eles estão fazendo. Polo menos alguns dos trabalhadores começam a tomar a sério aquelas ideias — desde que elas estejam acessíveis. A escala em que isso se dá depende da escala do conflito, não das ideias que já estavam nas cabeças dos trabalhadores. O capitalismo força-os ao conflito mesmo que tenham a cabeça cheia de ideias pró-capitalistas. A luita faz questionar estas ideias. O poder capitalista repousa em duas bases: o controle dos meios de produção e controle do Estado. Um verdadeiro movimento revolucionário começa no seio da massa dos trabalhadores quando as luitas polos seus interesses econômicos imediatos leva-os a entrar em choque com essas duas bases do império capitalista. Tomemos como exemplo um grupo de trabalhadores empregados na mesma fábrica durante anos. A rotina diária da sua vida está regulada polo seu trabalho. Um dia o patrão anuncia que vai fechar a fábrica. Mesmo aqueles que votaram para a direita entram em pânico e querem fazer alguma cousa. No desespero, decidem que a única maneira de continuar a viver a mesma vida que o capitalismo lhes ensinou a esperar é ocupar a fábrica e tomar do patrão o controle dos meios de produção. Podem até mesmo chegar rapidamente a luitar contra o Estado, uma vez que o patrão chama a polícia para conseguir de volta o controle de sua propriedade. Se quiserem ter qualquer oportunidade de manter seus empregos, os trabalhadores terão que confrontar polícia, o Estado, assim como o patrão.
Desse modo o próprio capitalismo cria as condições para os conflitos de classes que abrem a mente dos trabalhadores para ideias opostas àquelas que o sistema lhes ensinou. Isso explica por que a história do capitalismo tem sido marcada por periódicas irrupções de sentimentos revolucionários entre milhões de trabalhadores, mesmo quando na maioria das vezes a maioria aceitem as ideias que o sistema desenvolve.
Um último ponto. Uma dos maiores obstáculos para o desenvolvimento das ideias revolucionárias entre os trabalhadores é o sentimento de que não adianta fazer nada porque os outros trabalhadores nunca vão apoiá-los. Quando descobrem que os outros trabalhadores estão luitando, eles mesmos saem da sua apatia. O mesmo acontece quando acham que os trabalhadores são incapazes de governar a sociedade, ao travarem as luitas de massas contra o sistema, acabam por se dar conta de estar tomando parte na gestão da sociedade. Devido a isso, uma vez iniciado um movimento revolucionário, pode crescer como uma bola de neve a uma velocidade espantosa.
Inclusão | 25/09/2010 |