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Primeira Edição: Verde Olivo
Tradução: Aton Fon Filho
Transcrição: Arthur Gabiatti
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Esta é uma revolução única em que alguns viram uma contradição com uma das premissas mais ortodoxas do movimento revolucionário, assim expressa por Lênin: “sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”. Seria adequado dizer que a teoria revolucionária, como expressão de uma verdade social, vai além de qualquer declaração; isto é, mesmo que se desconheça a teoria, a revolução pode suceder se a realidade histórica é interpretada corretamente e se as forças envolvidas são utilizadas da forma certa. É claro que o conhecimento adequado desta facilita a tarefa e evita que se caia em erros perigosos, sempre que essa teoria enunciada corresponda à verdade. Além disso, falando concretamente desta revolução, é preciso sublinhar que seus autores principais não eram exatamente teóricos, mas também não eram ignorantes dos fenômenos sociais e dos enunciados das leis que os regem. Isso fez com que, alicerçados em alguns conhecimentos teóricos e no profundo conhecimento da realidade, pudessem ir criando uma teoria revolucionária.
O que foi dito deve ser considerado como um intróito à explicação deste fenômeno curioso que intriga todo mundo: a revolução cubana. O modo e os motivos de um grupo de homens destroçados por um exército infinitamente superior em técnica e equipamento ter conseguido, primeiro, sobreviver, em seguida, mais forte que o inimigo mais tarde, emigrar para novas zonas de combate, posteriormente, para derrotá-lo afinal em batalhas campais, embora com tropas muito inferiores numericamente, é um fato digno de estudo na história do mundo contemporâneo.
Naturalmente, à medida que não mostramos a devida preocupação com a teoria, não viremos, hoje, expor como seus donos, a verdade da revolução cubana. Buscamos, simplesmente, dar as bases para que se possa interpretar essa verdade. De fato, é preciso separar, na revolução cubana, duas etapas absolutamente diferentes: a da ação política armada até primeiro de janeiro de 1959 e a da transformação política econômica e social subsequente.
Mesmo essas duas etapas merecem subdivisões sucessivas, mas não às faremos do ponto de vista da exposição histórica, e sim do ponto de vista da evolução do pensamento revolucionário de seus dirigentes através do contato com o povo. Incidentalmente, é preciso introduzir aqui uma postura geral ante um dos elementos mais controvertidos do mundo moderno: o marxismo. Nossa posição quando nos perguntam se somos ou não marxistas é a mesma que teria um físico à quem perguntassem se é “newtoniano” ou um biólogo indagado se é “pausteriano”.
Existem verdades tão evidentes, tão incorporadas ao conhecimento dos povos que já se tornou inútil discuti-las. Deve-se ser “marxista” com a mesma naturalidade com que se é “newtoniano” em física ou “pausteriano” em biologia, considerando que se novos fatos determinam novos conceitos, nunca perderão sua parte de verdade os que já aconteceram. É o caso, por exemplo, da relatividade einsteniana ou da teoria dos “quanta” de Planck com relação às descobertas de Newton; isso contudo, absolutamente nada tira da grandeza do sábio inglês. Foi graças à Newton que a física pôde avançar até atingir os novos conceitos de espaço. O sábio inglês foi o degrau necessário para isso.
Podem-se apontar em Marx pensador e investigador das doutrinas sociais e do sistema capitalista que lhe coube viver, certas incorreções. Nós, latino-americanos podemos, por exemplo, não concordar com sua análise de Bolívar ou com a análise que ele e Engels fizeram dos mexicanos, inclusive admitindo certas teorias das raças e nacionalidades hoje inadmissíveis. Mas os grandes homens, descobridores de verdades luminosas vivem apesar de suas pequenas faltas, e estas servem apenas para demonstrar-nos que são humanos, isto é, seres que podem incorrer em erros, mesmo com a clara consciência da grandeza atingida por esses gigantes do pensamento. É por isso que reconhecemos as verdades essenciais do marxismo como incorporadas ao acervo cultural e científico dos povos e o tomamos com a naturalidade que nos dá algo que já dispensa discussões.
Os avanços na ciência social e política, como em outros campos, pertencem à um longo processo histórico cujos elos se encadeiam, somam-se e se aperfeiçoam constantemente. Inicialmente havia uma matemática chines, árabe ou hindu; hoje a matemática não tem fronteiras. Dentro de sua história, cabe um Pitágoras grego, um Galileu italiano, um Newton inglês, um Gauss alemão, um Lobatchevski russo, um Einstein, etc. Da mesma forma, no campo das ciências sociais, desde Demócrito até Marx, uma longa série de pensadores acrescentaram suas pesquisas originais e acumularam um corpo de experiências e de doutrinas.
O mérito de Marx é que produz imediatamente na história do pensamento humano uma mudança qualitativa; interpreta a história, compreende sua dinâmica, prevê o futuro, mas, além de prevê-lo, e aí cessaria sua obrigação científica, expressa um conceito revolucionário: não basta interpretar a natureza, é preciso transformá-la. O homem deixa de ser escravo e se converte em arquiteto do próprio destino. Neste momento Marx converte-se em alvo obrigatório de todos aqueles que têm interesse especial em manter o velho, da mesma forma que ocorrera antes à Demócrito, cuja obra foi queimada pelo próprio Platão e seus discípulos, ideólogos da aristocracia escravista ateniense.
A partir de Marx revolucionário, estabelece-se um grupo político com ideias concretas que, apoiando-se nos gigantes, Marx e Engels, e desenvolvendo-se através de sucessivas etapas, com personalidades como Lênin, Mao Tsé-Tung e os novos governantes soviéticos e chineses, estabelecem um corpo de doutrina e, digamos, exemplos à seguir.
A revolução cubana tomou Marx onde este deixa a ciência para empunhar seu fuzil revolucionário; e o toma ali, não por espírito de revisão, de lutar contra o que vem após Marx, de reviver Marx “puro”, mas simplesmente porque até ali Marx, o cientista expulso da história, estudava e vaticinava. Depois, Marx revolucionário lutaria dentro da história. Nós, revolucionários práticos, ao iniciar nossa luta, simplesmente cumpríamos leis previstas por Marx cientista. E por esse caminho de rebeldia, ao lutar contra a velha estrutura do poder, ao apoiar-nos no povo para destruir essa estrutura e ao ter como base de nossa luta a felicidade desse povo estamos, simplesmente, ajustando-nos às predições de Marx cientista. Ou seja, e é preciso que o ressaltemos uma vez mais, as leis do marxismo estão presentes nos acontecimentos da revolução cubana, independentemente de que seus líderes professem, o conheçam cabalmente, do ponto de vista teórico, essas leis.
Para melhor compreensão do movimento revolucionário cubano, até primeiro de janeiro, seria necessário dividi-lo nas seguintes etapas: antes do desembarque do Granma; do desembarque do Granma até depois das vitórias de La Plata e Arroio do Inferno; daí até a batalha de Uvero e a constituição da Segunda Coluna guerrilheira; desta à constituição das Terceira e Quarta e a invasão rumo à Serra Cristal e a constituição da Segunda Frente; a greve de abril e seu fracasso; a derrota da grande ofensiva ditatorial; a invasão rumo à Las Villas.
Cada um destes pequenos momentos históricos da guerrilha engloba diferentes conceitos sociais e diferentes apreciações da realidade cubana porque passou o pensamento dos líderes militares da revolução, o que, com o tempo, reafirmaria também sua condição de líderes políticos.
Antes do desembarque do Granma, predominava uma mentalidade que até certo ponto poderia ser chamada de subjetiva: confiança cega em uma rápida explosão popular, entusiasmo e fé na possibilidade de liquidar o poderio bastitiano por meio de um rápido levante combinado com greves revolucionárias espontâneas e a consequente queda do ditador. O movimento era o herdeiro direto do Partido Ortodoxo e seu lema central era “Vergonha contra dinheiro”. Ou seja, honradez administrativa como ideia principal do novo governo cubano.
Todavia, Fidel Castro tinha estabelecido em “A História me Absolverá” as bases que foram quase integralmente cumpridas pela revolução, mas que também, foram superadas por esta que se aprofundou no terreno econômico, o que trouxe, simultaneamente, um maior aprofundamento no terreno político, nacional e internacional.
Depois do desembarque vem a derrota, a destruição quase total das forças, seu reagrupamento e integração como guerrilha. O pequeno número de sobreviventes, e sobreviventes com ânimo de luta, caracterizava-se por compreender a falsidade do esquema imaginado no que se referia aos levantes espontâneos em toda a ilha e pelo entendimento de que a luta teria que ser longa e deveria contar om uma grande participação camponesa. Nessa época iniciam-se, também, os primeiros ingressos de camponeses na guerrilha e são travados dois combates de pouca monta quanto ao número de combatentes, mas de grande importância psicológica porque afastou as susceptibilidades do grupo central desta guerrilha, constituído por elementos provenientes da cidade, contra os camponeses. Estes, por sua vez, desconfiavam do grupo e, sobre tudo, temiam as bárbaras represálias do governo. Duas coisas ficaram demonstradas nessa etapa, ambas muito importantes para os fatores interrelacionados: aos camponeses foi demonstrado que a bestialidade do exército e toda a perseguição não seriam o suficiente para acabar com a guerrilha, mas seriam o suficiente para acabar com suas casas, suas colheitas e suas famílias, motivo pelo qual era uma boa solução refugiar-se no seio da guerrilha, onde suas vidas estariam resguardadas; os guerrilheiros, por sua vez, aprenderam a necessidade cada vez maior de ganhar as massas camponesas, para o que, obviamente, era preciso oferecer-lhes algo que desejassem com todas as suas forças, e não há nada que o camponês queira mais que a terra.
Em seguida, vem uma etapa nômade na qual o Exército Rebelde vai conquistando zonas de influência. Ainda não pôde permanecer muito tempo nelas, mas o exército inimigo também não o pôde fazer, conseguindo apenas incursionar. Em diversos combates, vai se estabelecendo uma espécie de frente não muito delineada, entre as duas partes.
À 28 de maio de 1957 é marcado um ponto importante ao atacar no Uvero uma guarnição bem armada, bastante bem entrincheirada e com possibilidade de receber reforços com rapidez, à beira-mar e com aeroporto. A vitória das forças rebeldes nesse encontro, um dos mais sangrentos que se levou à cabo, já que, dos que entraram em combate, trinta porcento foram mortos ou feridos, alterou completamente o panorama. Já havia um território no qual o Exército Rebelde impunha sua autoridade, de onde as notícias sobre esse exército não filtravam para o inimigo e de onde podia, em rápidos golpes de mão, descer à planície e atacar postos do adversário.
Pouco depois se produz a primeira separação e são estabelecidas duas colunas combatentes. A segunda, por motivos bastante infantis de disfarce, toma o nome de Quarta Coluna. Imediatamente as duas dão sinal de atividade e, a 26 de julho a Estrada de Palma é atacada. Cinco dias depois, à trinta metros desse local, é atacado Bueycito. As manifestações de força já são mais importantes. Já se passa à esperar os repressores, à detê-los em várias tentativas de subir a serra e são estabelecidas frentes de luta com amplas regiões de terra de ninguém, vulneradas por incursões punitivas de ambos os lados, mas de forma à manter aproximadamente a mesma frente.
A guerrilha, contudo, vai engrossando suas forças com substancial participação dos camponeses da zona e de alguns membros do Movimento nas cidades, tornando-se mais combativa, aumentando seu espírito de luta. Em fevereiro de 1958, depois de aguentar algumas ofensivas que são rechaçadas, partem as colunas de Almeida, a 3, para ocupar seu posto perto de Santiago, e a de Raúl Castro, que recebe o número 6 e o nome de nosso herói, Frank País, morto poucos meses antes. Raúl realiza a façanha de cruzar a rodovia central nos primeiros dias de março desse ano e interna-se nas montanhas de Mayarí, onde cria a Segunda Frente Oriental Frank País.
Os crescentes êxitos de nossas forças rebeldes se iam filtrando através da censura e o povo ia rapidamente alcançando o pico de sua atividade revolucionária. Foi nesse momento que, de Havana, foi proposta a luta em todo o território nacional mediante uma greve geral revolucionária que devia destruir a força do inimigo atacando-o simultaneamente em todos os pontos.
A função do Exército rebelde seria, neste caso, a de um catalizador que desencadearia o movimento. Naqueles dias, nossas guerrilhas aumentaram sua atividade e Camilo Cienfuegos começou à criar sua lenda heroica, lutando pela primeira vez nas planícies orientais, com um sentido organizativo e sob uma direção centralizada.
A greve revolucionária, porém, não fora corretamente pensada pois desconhecia a importância da unidade operária e não se procurou que os trabalhadores, no exercício de sua atividade revolucionária, escolhessem o momento preciso. Pretendeu-se dar um golpe de mão clandestino, chamando à greve pelo rádio, ignorando que o dia e a hora secretos já eram do conhecimento dos esbirros, embora não o fossem do povo. O movimento grevista fracassou, sendo assassinados sem misericórdia um bom e seleto número de patriotas revolucionários.
Como dado curioso que deve ser apontado na história dessa revolução, há o fato de que Jules Dubois, o mexeriqueiro dos monopólios norte-americanos sabia de antemão o dia em que seria desencadeada a greve.
Neste momento produz-se uma das mudanças qualitativas mais importantes no desenvolvimento da guerra, ao se adquirir a certeza de que o triunfo só seria alcançado pelo aumento das forças guerrilheiras até que essa derrotasse o exército inimigo em batalhas campais.
Já se tinham estabelecido, então, amplas relações com o campesinato; o Exército Rebelde havia editado seus códigos penal e civil, distribuía justiça, repartia alimentos e cobrava impostos nas zonas administrativas. As zonas aldeãs recebiam também a influência do Exército Rebelde. Mas estavam sendo preparadas grandes ofensivas que, em dois meses de luta, deixaram um saldo de mil baixas para o exército invasor, totalmente desmoralizado, e um aumento de seiscentas armas em nossa capacidade combatente.
Já estava demonstrado que o exército não podia derrotar-nos. Não havia em Cuba, definitivamente, força capaz de vencer os picos da Sierra Maestra e as montanhas da Segunda Frente Oriental Frank País; os caminhos tornaram-se intransitáveis, em Oriente, para as tropas da tirania. Derrotada a ofensiva, são encarregados Camilo Cienfuegos, com a Coluna número 2, e o autor dessas linhas, com a Coluna número 8, Ciro Redondo, de cruzar a província de Camaguey, estabelecer-se em Las Villas e cortar as comunicações do inimigo. Camilo deveria, mais tarde, seguir seu avanço para repetir a façanha do herói que deu nome à sua coluna, Antonio Maceo: a invasão total de oriente à ocidente.
Nesse momento, a guerra mostra uma nova característica: a correlação de forças virou em favor da revolução. Duas pequenas colunas de oitenta e cento e quarenta homens cruzaram durante mês e meio as planícies de Camaguey, constantemente cercados ou acossados por um exército que mobilizava milhares de soldados, chegaram em Las Villas e iniciaram a tarefa de cortar a ilha em dois.
Às vezes, parece estranho; outras vezes, parece incompreensível; ainda algumas outras, incrível que duas colunas tão pequenas em tamanho, sem comunicações, sem mobilidade, sem as mais elementares armas da guerra moderna, contra exércitos bem adestrados e superarmados. O que é fundamental é a característica de cada grupo; o guerrilheiro sente-se mais em casa, sua moral é mais alta, seu sentido de segurança tanto maior quanto mais incômodo estiver, quanto mais mergulhado nos rigores da natureza. Ao mesmo tempo, em qualquer circustância, dispôs-se à arriscar sua vida e, em linhas gerais, para o resultado final do combate pouco importa que o guerrilheiro-indíviduo saia vivo ou não.
O soldado inimigo, no exemplo cubano com que nos ocupamos, era o sócio menor do ditador, o homem que recebia a última migalha abandonada pelo penúltimo dos aproveitadores de uma extensa cadeia iniciada em Wall Street e que terminava nele. Estava disposto à defendê-los na medida em que fossem importantes. Seus soldos e regalias valiam algum sacríficio e alguns perigos, mas nunca valiam sua vida; se para mantê-los tivesse que pagar com a vida, melhor lhe era abandoná-los, isto é, recuar ante o perigo guerrilheiro. Destes dois conceitos e destas duas moralidades nasce a diferença que tornaria crítico o dia 31 de dezembro de 1958.
A superioridade do Exército rebelde ia se estabelecendo cada vez mais claramente e, além disso, com a chegada de nossa coluna à Las Villas, a popularidade maior do Movimento 26 de Julho em relação à todos os outros; o Diretório Revolucionário, a Segunda Frente de Las Villas, o Partido Socialista Popular e algumas pequenas guerrilhas da Organização Autêntica. Isso se devia, principalmente, à personalidade magnética de seu líder, Fidel Castro, mas também a maior justeza da linha revolucionária influía.
Aqui acaba a insurreição, mas os homens que chegam à Havana depois de dois anos de luta ardorosa nas serras e planícies de Oriente, nas planícies de Camaguey e nas montanhas, planícies e cidades de Las Villas não são, ideologicamente, os mesmos que chegaram às praias de Las Coloradas, ou que se incorporaram no primeiro momento da luta. Sua desconfiança em relação ao camponês converteu-se em afeto e respeito por suas virtudes; seu desconhecimento total da vida no campo converteu-se em um conhecimento absoluto das necessidades de nossos caipiras; seus namoros com a estatistíca e com a teoria foram anulados pelo alicerce da prática.
Tendo a força agrária por bandeira cuja concretização começou na Sierra Maestra, esses homens chegam à enfrentar o imperialismo. Sabem que a reforma agrária é a base sobre a qual deve ser edificada a nova Cuba. Sabem que a reforma agrária dará terra à todos os que não têm posse, mas desapropriará todos os que são proprietários injustamente. Sabem ainda que os maiores dos que injustamente detêm a propriedade, são também homens influentes no Departamento de Estado ou no governo dos Estados Unidos da América, mas aprenderam à vencer dificuldades com valor, com audácia, e sobretudo, com o apoio do povo. E já viram o futuro de libertação que nos aguardava do outro lado dos sofrimentos.
Para chegar à esta ideia final de nossos objetivos foi preciso caminhar muito e muito mudar. Paralelamente às sucessivas mudanças qualitativas ocorridas nas frentes de batalha, correm as mudanças de composição social de nossa guerrilha e também as transformações ideológicas de nossos chefes. Porque cada um destes processos, destas mudanças, constituem efetivamente uma mudança de qualidade na composição, na forma e no amadurecimento revolucionário de nosso exército. O camponês lhe dá seu vigor, sua capacidade de sofrimento, seu amor à terra, sua fome de reforma agrária. O intelectual de qualquer tipo põe seu pequeno grão de areia iniciando um esboço de teoria. O operário dá seu sentido de organização, sua tendência inata de reunião e unificação. Acima de tudo isso está o exemplo das forças rebeldes que já tinham demonstrado ser muito mais que um “espinho irritante” e cuja lição foi estimulando e levantando as massas até que perderam o medo aos verdugos. Nunca antes foi para nós tão claro como agora o conceito de interação. Pudemos sentir como essa interação amadurecia ensinando-nos a eficácia da insurreição armada, a força que tem o homem quando, para defender-se de outros homens, tem uma arma na mão e uma decisão de triunfo nas pupilas; e os camponeses mostrando artimanhad da serra, a força que é necessária para viver e triunfar ali e as doses de vontade, de capacidade, de sacríficio que se necessita para poder levar adiante o destino de um povo.
Por isso, quando banhados em suor camponês, com um horizonte de montanhas e de nuvens, sob o sol ardente da ilha, o chefe rebelde e seu cortejo entraram em Havana, uma nova “escalinata do jardim de inverno subia a história com os pés do povo”