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Primeira Edição: L'Ordine Nuovo, 13 de setembro de 1919
Tradução: Elita de Medeiros - da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/gramsci/1919/09/fiat.htm
HTML: Fernando Araújo.
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Camaradas!
A nova forma que a comissão interna assumiu em sua oficina, com a nomeação de comissários de seção e as discussões que precederam e acompanharam esta transformação, não passaram despercebidas entre os trabalhadores e patrões de Turim. Por um lado, estão se preparando para imitá-los e assumir outros estabelecimentos da cidade e província; por outro, os patrões e seus agentes, os organizadores dos grandes empreendimentos industriais, acompanham com crescente interesse esse movimento e se perguntam, e perguntam a vocês qual é a direção para a qual se dirige, qual é o programa que a classe operária de Turim se propõe a realizar.
Sabemos que, para que esse movimento se estabeleça, nosso papel contribuiu mais do que um pouco. Nele, a questão foi examinada não apenas de um ponto de vista geral e teórico, mas os resultados da experiência em outros países foram reunidos e divulgados, a fim de fornecer os elementos para o estudo de aplicações práticas. Entretanto, também sabemos que nosso trabalho teve valor na medida em que satisfez uma necessidade, favoreceu o estabelecimento concreto de uma aspiração que estava latente na consciência das massas trabalhadoras. Por esta razão é que nos entendemos rapidamente, e pudemos passar, também rapidamente, da discussão para a realização.
A necessidade, a aspiração de que se origina o movimento de renovação da organização do trabalho estão, acreditamos, nas próprias coisas, e são consequência direta do ponto em que chegou, em seu desenvolvimento, o organismo social e econômico baseado na apropriação privada dos meios de troca e produção. Hoje, o operário da fábrica e o camponês, o mineiro inglês e o mujique russo, operários de todo o mundo, de maneira mais ou menos certa, sentem, de forma mais ou menos direta, aquela verdade que os estudiosos haviam previsto, e têm cada vez mais certezas ao observar os acontecimentos desse período da história da humanidade. Chegamos a um ponto em que a classe operária, se deseja elevar-se à tarefa de reconstrução que está em seus atos e em sua vontade, deve começar a se organizar de maneira positiva, alinhada com o fim a ser alcançado.
E se é verdade que a nova sociedade será baseada no trabalho e na coordenação das energias dos produtores, os lugares onde trabalham, em que os produtores vivem e trabalham em comum, amanhã serão os centros do organismo social e terão que ocupar o lugar dos órgãos de governo da sociedade de hoje. Como nos primeiros dias da luta operária, em que a organização comercial era a que melhor se ajustava aos objetivos da defesa, às necessidades das lutas pela melhoria econômica e pela disciplina imediata, assim hoje, quando os objetivos da reconstrução são delineados com uma consistência cada vez maior nas mentes dos trabalhadores, é necessário que uma organização de fábrica, uma verdadeira escola para as capacidades reconstrutivas dos trabalhadores, surja ao lado e em apoio àquela antiga organização.
As massas trabalhadoras devem se preparar efetivamente para a aquisição do domínio completo de si mesmas, e o primeiro passo nesse caminho é a autodisciplina mais sólida, na oficina, de forma autônoma, espontânea e livre. Também não se pode negar que a disciplina, que com o novo sistema se instalará, levará a uma melhoria da produção, mas isso nada mais é do que a prova de uma tese do socialismo: quanto mais as forças produtivas humanas, emancipando-se da escravidão a que o capitalismo as quer condenadas para sempre, se conscientizarem, se libertarem e organizarem-se livremente, melhor se torna a forma de seu uso, pois um homem sempre trabalha melhor que um escravo. Aos que objetam que se trata de uma colaboração com nossos adversários, com os donos das empresas, respondemos que, pelo contrário, este é o único meio de domínio, porque a classe operária concebe a possibilidade de fazer por si e de fazer bem: aliás adquire, dia a dia, a certeza mais clara de que, ao estar sozinha, é capaz de salvar o mundo da ruína e da desolação. Assim, cada ação que vocês empreendem, cada batalha oferecida sob sua orientação, será iluminada pela luz do fim último que está nas almas e nas intenções de todos vocês.
Logo, atos aparentemente de pouca importância, em que se explica o mandato que lhe foi conferido, adquirem enorme valor. Eleitos por um eleitorado no qual os elementos desorganizados ainda são numerosos, sua primeira tarefa certamente será a de inscrevê-los nas fileiras da organização; trabalho que, na maior parte, será facilitado pelo fato de encontrarem em vocês aqueles que estão sempre prontos para defendê-los, orientá-los, envolvê-los na vida da fábrica. Vocês vão mostrar, com o exemplo, que a força do trabalhador está toda na união e na solidariedade com seus companheiros.
Por isso também é preciso que estejam atentos para que, nas divisões, sejam respeitadas as regras de trabalho estabelecidas pelas federações comerciais, e que os acordos sejam aceitos, pois neste domínio, mesmo uma ligeira derrogação dos princípios estabelecidos pode constituir uma ofensa grave aos direitos e à personalidade dos trabalhadores dos quais vocês são defensores e zeladores rígidos e tenazes. Ainda, como vocês viverão continuamente entre os trabalhadores e o trabalho, vocês estarão em condições de perceber as modificações impostas pelo progresso técnico da produção e pela melhoria da consciência e capacidade dos próprios trabalhadores. Desta forma, será estabelecida uma oficina personalizada, ou seja, a partir das leis que os produtores irão desenvolver e aplicar a si próprios. Estamos certos de que a importância deste fato não lhes escapa, e que é evidente, diante das mentes de todos os constituintes, que com prontidão e entusiasmo compreenderam o valor e o significado do trabalho que vocês se propuseram a realizar: começar a intervenção ativa no campo técnico e disciplinar dessas mesmas forças de trabalho.
No campo técnico, vocês poderão, por um lado, realizar uma tarefa útil de informação, coletando dados e materiais preciosos, tanto para as federações comerciais quanto para os órgãos centrais e dirigentes das novas organizações de oficinas. Vocês também cuidarão para que os trabalhadores da seção adquiram uma habilidade cada vez maior, e eliminarão os miseráveis sentimentos de ciúme profissional que ainda os tornam divididos e discordantes. Assim vocês vão prepará-los, formá-los para o dia em que, tendo que trabalhar não mais para o patrão, mas para eles próprios, será necessário que se unam na solidariedade, para fazer crescer as forças do grande exército proletário, do qual são as primeiras células. Por que não se poderia fazer crescer, na própria oficina, setores adequados para a educação, verdadeiras escolas profissionais, onde cada trabalhador, saindo de tarefas brutalizantes, pudesse abrir sua mente sobre os processos de produção e melhorar a si mesmo?
Certamente que toda essa disciplina será necessária, mas a disciplina que vocês pedem às massas trabalhadoras será bem diferente daquela que o patrão impõe e reivindica, fortemente, com o direito de propriedade que lhe dá sua posição de privilégio. Vocês serão fortes com outra lei, a do trabalho, que depois de séculos sendo uma ferramenta nas mãos de seus exploradores, hoje se redimirá, se autodirigirá. O seu poder, oposto ao dos patrões e dos seus dirigentes, representará, perante as forças do passado, as forças livres do futuro, que aguardam a sua hora, e a preparam, sabendo que será a hora da redenção de toda a escravidão.
Desta forma, os órgãos centrais que surgirão para cada grupo de seção, para cada grupo de fábrica, para cada cidade, para cada região, até um conselho supremo de trabalhadores nacional, irão avançar, ampliar e intensificar o trabalho de controle, de preparação e de ordem de toda a classe para os fins de conquista e governo. O caminho não será curto e nem fácil, nós sabemos: muitas dificuldades surgirão e se oporão a vocês, e para superá-las, será exigido o uso de grandes habilidades, às vezes se exigirá invocar a força da classe organizada, e que vocês sejam cada vez mais vivos e impelidos à ação por uma grande fé. Mas o mais importante, camaradas, é que os trabalhadores, sob a orientação de vocês e daqueles que vão imitá-los, adquiram a certeza viva de caminhar finalmente seguros do objetivo na grande estrada do futuro.