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Primeira publicação: L’Ordine Nuovo, 27 de junho de 1919, ano I, n. 7.
Fonte: Antonio Gramsci: escritos escolhidos (1915-1920), editora Lutas Anticapital, 2022.
Tradução: Anita Helena Schlesener e Ana Paula Schlesener.
Transcrição: Bruno Jadson Jardelino Gomes.
HTML: Lucas Schweppenstette.
Ao abrir, com esta nota, a discussão sobre o problema da escola, devemos fixar os critérios segundo os quais desejamos que a discussão se desenvolva. O problema da escola (como, de resto, qualquer problema que diga respeito a uma atividade geral do Estado, uma função necessária da sociedade) deve ser estudado como pertencente à esfera de ação do Estado dos Conselhos operários e camponeses. Nós tendemos a suscitar uma psicologia dos construtores, dos companheiros, já idealmente organizados no Estado dos Conselhos, já idealmente operosos e ativos no criar todos os órgãos da nova vida social. A propaganda educativa desenvolvida até agora pelos socialistas foi, em grande parte, negativa e crítica: não podia ser de outra maneira. Hoje, depois das experiências positivas dos companheiros russos, pode e deve ser de outro modo, se quisermos que as experiências dos companheiros russos não sejam vãs para nós. Devemos elaborar criticamente essas experiências, desfolhá-las de tudo quanto nelas é meramente russo e está em dependência das condições particulares nas quais a República dos Sovietes encontrou a sociedade russa no seu início; discernir e fixar o quanto nela é necessidade permanente da sociedade comunista, dependente das necessidades e das aspirações da classe dos operários e dos camponeses, explorada de modo igual sob todos os aspectos.
O problema da escola é problema técnico e político ao mesmo tempo. No Estado parlamentar-democrático, o problema da escola é técnica e politicamente insolúvel: os Ministros da Educação pública assumem o cargo porque pertencem a um partido político, não porque são capazes de administrar e dirigir a função educativa do Estado. Não se pode nem afirmar, em consciência, que a classe burguesa oriente a escola para seus fins de domínio: se isso acontecesse, significaria que a classe burguesa tem um programa escolar e o persegue com energia e retidão; a escola seria uma coisa viva. Entretanto, não o é: a burguesia, como classe que controla o Estado, desinteressa-se da escola, deixa que os burocratas façam e desfaçam a seu bel prazer, que os Ministros da Educação pública sejam escolhidos conforme os caprichos da concorrência política, pela intriga das facções, para alcançar o equilíbrio feliz dos partidos na composição dos gabinetes. Em tais condições, o estudo técnico do problema escolar é puro exercício de jogo de xadrez mental, é ginástica intelectual e não uma contribuição séria e concreta para a solução do próprio problema; quando não é enfadonha lamúria e repetição abusada de banalidades sobre a excelência da função educativa do Estado, sobre os benefícios da instrução, etc.
No Estado dos Conselhos, a escola representará uma das atividades públicas mais importantes e essenciais. Ao contrário, digamos: ao desenvolvimento e ao bom êxito da escola comunista, está ligado o desenvolvimento do Estado comunista, o surgimento de uma democracia na qual seja absorvida a ditadura do proletariado. A nova geração educar-se-á na prática da disciplina social necessária para realizar a sociedade comunista, com comícios, com a participação direta nas deliberações e na administração do Estado socialista. A escola deverá educar as novas gerações, aquelas que usufruirão os frutos dos nossos sacrifícios e esforços, aquelas que conhecerão, depois do período transitório das ditaduras proletárias nacionais, a plenitude de vida e de desenvolvimento da democracia comunista internacional. Como a escola comunista realizará essa tarefa? Como deverá ser organizada a função educativa do Estado no sistema geral dos Conselhos? Que tarefa administrativa deverá ser desenvolvida pelos sindicatos dos mestres e dos professores? As Universidades e os politécnicos, como serão transformados e coordenados à atividade geral de cultura? Transformada a constituição e mudados os princípios fundamentais do direito, qual a forma deverá ter a faculdade de legislar? E as bibliotecas, museus, galerias, que objetivos deverão ter? A nossa revista conta, entre os assinantes e os leitores, uma forte adesão de jovens estudantes, de artistas, de professores, de mestres que têm a capacidade e a preparação para colocar criticamente esses problemas e tentar a sua solução. Façamos apelo à sua boa vontade, ao desejo vivo que eles sentem de colaborar utilmente para a construção da nova ordem comunista.
(Não assinado, L’Ordine Nuovo, 27/06/1919, I, n. 7).