MIA > Biblioteca > Antonio Gramsci > Novidades
Fonte: Antonio Gramsci: escritos escolhidos (1915-1920), editora Lutas Anticapital, 2022.
Tradução: Anita Helena Schlesener e Ana Paula Schlesener.
Transcrição: Bruno Jadson Jardelino Gomes.
HTML: Lucas Schweppenstette.
A escola e o jardim estão em frente. Quando o sol ainda não tinha sido devorado por sabe-se lá que monstro e iluminava o jardim, agora fechado e deserto, os pequenos estudantes saíam da escola e, antes de irem para casa, corriam ao jardim a fazer meia hora de algazarra.
O jardim era, portanto, a continuação da escola. Observação que não é supérflua porque, ao discutirmos os problemas escolares, nós nos esquecemos sempre dessa continuação e nos lamentamos e criticamos a escola em uma infinidade de defeitos que estão em continuidade na vida social, no ambiente que acolhe os pequenos estudantes logo que saídos da escola: a família, a rua, o jardim.
O jardim estava aberto há alguns dias, o sol o iluminava. As crianças corriam para lá, mas sem fazer barulho: um espetáculo as atraía, sem dúvida interessante para elas, porque se colocavam a uma certa distância, atentas: nova brincadeira, talvez nunca antes vista. Em um banco, um jovem de uns trinta anos, moreno, de cabelos encaracolados, com um chapéu irreverente, sentado ao lado de uma ama-seca; e se agitava, alisava a barriga e estendia os braços todo sorridente e, de vez em quando, pegava na mão da jovem, com a expressão mimética que Angelo Musco coloca nas comédias sicilianas. Os pequenos estudantes olhavam-no atentamente. A continuação da escola era, evidentemente, mais interessante para eles que a própria escola. Sabe-se que as crianças têm uma lógica própria e apresentam raciocínios de uma coerência espantosa. Às onze da manhã, quando a cidade ainda não havia parado o trabalho matutino, ver no jardim um jovem robusto e são, não de aspecto de senhor que vive de renda, gesticular, os mesmos gestos que frequentemente fazem os cães quando a mãe diz para não olhar e acelera o passo, torna-se espetáculo de uma teatralidade gratuita, que não se pode perder por todo o ouro do mundo.
[...]