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A INTENSA campanha pela interdição da bomba atômica que se desenvolve, mundialmente, à base da coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, vem tendo também em nosso país grande aceitação e a mais profunda repercussão entre as amplas massas.
O movimento pela proibição da bomba atômica, interessando à unanimidade do povo brasileiro, pela repercussão que atinge, vem assumindo as características de um dos maiores acontecimentos na vida do país. Nunca na nossa história uma plataforma tão ampla, que dissesse respeito indistintamente a todos, tão simples e precisa, foi apresentada ao povo brasileiro para a luta comum. Por isso mesmo, é que a campanha de assinaturas para o Apelo de Estocolmo conseguiu, em tão curto tempo, ainda em seu início, o apoio de grandes massas — de pessoas simples e de figuras de prestígio nacional.
Grande número de eminentes personalidades, padres, líderes operários e estudantis que ainda não participavam do grande movimento em defesa da paz, iniciado em abril de 1949, declararam-se pela proibição das armas atômicas. Mais de 30 Câmaras Municipais e duas Assembléias Legislativas Estaduais votaram moções condenando a bomba atômica nos termos do Apelo de Estocolmo, ao mesmo tempo que idêntica atitude tomaram as organizações nacionais dos jornalistas, dos intelectuais, das mulheres, dos estudantes e da classe operária. As grandes massas começam a apor sua assinatura ao Apelo de Estocolmo, ultrapassando já a cifra de 300.000 o número de assinaturas já coletadas em todo o país.
Esses fatos demonstram que a campanha pela interdição da bomba atômica, que entre nós apenas se inicia, toma impulso e se amplia, adquirindo o aspecto de verdadeira campanha nacional, de grande envergadura, empolgando as amplas massas que, em sua unanimidade, anseiam pela paz e condenam, com todas as forças, a arma atômica. Com o Apelo de Estocolmo, o Comitê Permanente do Congresso Mundial dos Partidários da Paz está dando ao nosso povo, a todos indistintamente, homens e mulheres, velhos e jovens, independentemente de cor, nacionalidade, classe, convicção política ou de crença, a oportunidade de manifestar a sua repulsa à guerra e de contribuir, com milhões de suas assinaturas, para impor aos fautores de guerra a vontade de paz de toda a humanidade.
No entanto, é necessário reconhecer que em nosso país a campanha pela interdição da bomba atômica ainda está bastante atrasada, não correspondendo ainda às aspirações de paz do povo brasileiro. A campanha de coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, embora já tenha obtido importantes êxitos e apesar da imensa vontade que as massas, quando procuradas, demonstram em assinar o patético apelo do Comitê Mundial dos Partidários da Paz, marcha ainda em ritmo bastante lento, incompatível com a gravidade da situação internacional e com as necessidades da luta do povo brasileiro em defesa da paz.
A luta pela interdição da bomba atômica, por isso mesmo, deve ganhar um novo impulso, marchar com maior rapidez, a fim de que milhões de brasileiros, até o próximo Congresso Mundial pela Paz, a realizar-se no mês de outubro próximo, em Gênova, assinem o Apelo de Estocolmo, demonstrando, desse modo, sua condenação às armas atômicas e sua repulsa aos fautores de guerra que ameaçam utilizar criminosamente estas armas de terror e extermínio em massa das populações civis.
O atraso que ainda se verifica em nosso país na campanha de coleta das assinaturas para o Apelo de Estocolmo resulta, fundamentalmente, do fato de que os elementos mais esclarecidos de nosso povo, inclusive os comunistas, subestimam, ainda, na prática, o perigo de desencadeamento de uma nova guerra mundial, a qual o nosso povo será criminosamente arrastado, contra os seus interesses e contra a sua vontade, pelos imperialistas anglo-americanos, com a cumplicidade do governo de traição nacional de Dutra. É necessário que os elementos de vanguarda não só se capacitem da extrema gravidade da situação mundial, como também esclareçam a todo o povo brasileiro que, como afirmaram os grandes líderes proletários Thorez e Togliatti, a paz está por [um] fio.
A CAMPANHA de assinaturas para o Apelo de Estocolmo constitui a tarefa principal do momento para todo o nosso povo. Não há tempo a perder na luta pela proibição da bomba atômica. Essa campanha não pode esperar um só instante, porque a ameaça de desencadeamento de uma nova guerra mundial aumenta continuamente. Apesar da guerra não ser inevitável, um novo conflito mundial pode ser deflagrado a qualquer momento pelos imperialistas anglo-americanos. Trata-se, portanto, de impedir, agora, que os incendiários de guerra arrastem o mundo a uma nova catástrofe que ultrapassará, em grande escala, os horrores da última guerra mundial.
Para impedir que os trustes e monopólios internacionais envolvam a humanidade em uma nova hecatombe, a campanha de assinaturas para o Apelo de Estocolmo tem uma importância decisiva. Na luta pela paz é necessário isolar os fautores de guerra anglo-americanos para que os povos lhes assestem o golpe mortal. Neste sentido, as centenas de milhões de assinaturas que o Apelo de Estocolmo receber serão uma das maiores contribuições para deter e derrotar a ação criminosa dos provocadores de guerra.
Nessa luta pela conquista de centenas de milhões de assinaturas para o Apelo de Estocolmo cabe ao nosso país — que está à retaguarda dos imperialistas e é o país que na América Latina tem a maior população — uma das maiores responsabilidades. Quanto maior o número de brasileiros que assinar o apelo do Comitê Mundial dos Partidários da Paz maior será a demonstração de paz de nosso povo e maior será o golpe que assestará nos incendiários de uma nova guerra.
Na luta pela paz devemos ter a clara consciência de que o tempo urge. É preciso intensificar a campanha de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, pois cada dia de paz no mundo significa uma vitória das forças democráticas. Os fatos nos mostram toda a gravidade da situação mundial. Imensos carregamentos de armas norte-americanas são desembarcadas nos portos europeus dos países marshalizados; as fronteiras da União Soviética são, provocadoramente, violadas por um avião de guerra norte-americano; o grande sábio francês Joliot-Curie é demitido de seu cargo de Alto Comissário para a energia atômica; os ministros dos países participantes do Pacto do Atlântico, reunidos em Londres, decidem aumentar as despesas militares e unificar os exércitos e a economia dos doze países aderentes àquele pacto de agressão e de guerra; Truman e Acheson pronunciam, sem cessar, dia após dia, discursos de provocação guerreira e de preparação psicológica para a guerra. Assim, as forças imperialistas procuram elevar ao máximo a tensão internacional, o que aumenta seriamente o perigo de desencadeamento de urna nova guerra mundial.
ENQUANTO os imperialistas anglo-americanos lançam-se furiosamente à aventura guerreira, realizando, cínica e abertamente, uma política de agressão, a grande e pacífica União Soviética, liderando as forças democráticas do mundo inteiro, realiza uma política de paz.
Nada mais expressivo dessa política de paz da Pátria do Socialismo do que o seu orçamento para o presente ano, um verdadeiro orçamento de paz. Basta assinalar que a URSS consigna para a sua defesa no seu Orçamento para o corrente ano 18,5% do total das despesas, contra 31,6% em 1940 e 23,9% em 1946, primeiro ano do plano qüinqüenal staliniano de após guerra. Um terço do orçamento, isto é, 164 bilhões e 400 milhões de rublos, é destinado ao desenvolvimento econômico do país, 120 bilhões e 700 milhões de rublos serão gastos em favor da cultura. Em conjunto, as necessidades culturais e econômicas da URSS são atendidas com verbas que constituem dois terços das despesas gerais do orçamento deste ano.
Essas cifras demonstram à saciedade, mais uma vez, que a URSS realiza, consequentemente, uma política de paz, que está voltada para a construção pacífica, para a cooperação internacional e para o entendimento entre os povos. Essa política da URSS tem o apoio de toda humanidade progressista e amante da paz. O orçamento soviético desmascara as calúnias dos incendiários de guerra que procuram justificar sua febril corrida armamentista, dizendo-se ameaçados pela União Soviética. Enquanto uma sétima parte do orçamento da URSS é destinada à instrução pública, nos Estados Unidos menos de 1% do total de seu orçamento é destinado para esse fim.
Ao contrário do que ocorre com o orçamento da URSS, que objetiva a paz,os orçamentos dos países capitalistas, particularmente o dos Estado Unidos, evidenciam a histeria guerreira das forças do campo anti-democrático eimperialista. Os círculos governamentais dos Estados Unidos deixaram claramente expressos no seu orçamento sua política de agressão e os seus planos de hegemonia mundial. Em comparação com o orçamento de 1939/1940, o atual orçamento dos Estados Unidos consigna um aumento nas despesas de guerra. Os atuais gastos militares dos Estados Unidos, juntamente com as despesas para a fabricação da bomba atômica atingem 76% da totalidade do orçamento.
Idêntico é o ritmo da corrida armamentista dos círculos dirigentes da Inglaterra e da França. As despesas com a preparação guerreira na Inglaterra em 1950 atingem a um bilhão e 200 milhões de libras esterlinas contra 770 milhões de libras esterlinas em 1949. Na França, este ano, as dotações orçamentárias para os gastos de guerra correspondem a um trilhão e 276 bilhões de francos, isto é, 57% do total das despesas consignadas no orçamento, contra 800 bilhões de francos dependidos pelos círculos dirigente da França em 1949 na corrida armamentista.
Esses dados deixam bastante claro que os países capitalistas, capitaneados pelos monopólios e trustes norte-arnericanos, preparam febrilmente uma nova guerra imperialista e tudo fazem para desencadeá-la. Enquanto isto, a União Soviética realiza uma firme política de paz, liderando as forças da democracia e do socialismo no combate consequente aos incendiários de guerra.
NA SUA desesperada fúria de desencadear uma nova guerra contra a URSS, contra as democracias populares e contra toda a humanidade, os salteadores imperialistas anglo-americanos, no seu ódio aos povos, baseiam todos os seus cálculos de agressão e de rapina na utilização da bomba atômica. Pretendem os homens de Wall Street e da City, com seus loucos planos de conquista do domínio do mundo, esmagar a resistência dos povos com a utilização criminosa da bomba atômica que é uma arma de terror e extermínio em massa das populações civis.
Não negam os inimigos da paz e da humanidade os seus sinistros e criminosos propósitos. Assim é que o Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mr. M. Johnson, em declaração feita a 12 do mês passado, à revista "U. S. News", afirmava que novas armas de guerra tinham sido aperfeiçoadas nos Estados Unidos, criando-se novas armas atômicas destinadas a usos especiais, como "bomba atômica de bolso", a ser utilizada, principalmente, na "retaguarda do inimigo".
Também Mr. Truman, como o mais categorizado provocador de guerra, não deixa dúvidas de que os imperialistas em desespero empregarão a bomba atômica para destruição das populações pacíficas. Incumbindo-se de desfazer as ilusões daqueles que ainda acreditam que tal engenho de destruição em massa não será utilizado contra as populações civis, o chefe do governo imperialista dos Estados Unidos declarou, peremptoriamente, em discurso proferido a 10 de maio:
"Eu chegara à conclusão de que o melhor meio de salvar a vida de nossos jovens e a dos soldados japoneses era lançar essa bomba para por fim à guerra. Eu o fiz. E vos diria que o faria uma vez mais se tivesse de fazê-lo".
Não há menor sombra de dúvida de que os imperialistas não vacilarão em utilizar a bomba atômica contra os povos se estes antes não os derrotarem.
Contrastando com essa posição dos imperialistas, a União Soviética, que tudo faz pela proscrição das armas atômicas, propôs, em várias oportunidades, a realização de uma convenção internacional que proibisse o emprego de tais armas de extermínio em massa das populações pacíficas.
Mas os círculos governamentais dos Estados Unidos e da Inglaterra têm repelido sistematicamente essa proposta. No entanto, nem por isso, a União Soviética deixa de pugnar pela condenação da bomba e, agora mesmo, acaba de dar a mais eloquente demonstração de paz e de repulsa ao emprego da bomba atómica, quando o Soviet Supremo, expressando a vontade unânime dos povos soviéticos, aprovou o Apelo de Estocolmo.
O exemplo da gloriosa União Soviética inspira a todos os povos na luta pela paz, luta essa que hoje mais do que nunca deve ser intensificada, pois é evidente que os imperialistas anglo-americanos eneontram-se na iminência de empregar essa mortífera arma de agressão. Por esse motivo a campanha pela interdição da bomba atómica, à base da eoleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, é no momento a tarefa principal de todos os partidários da paz e de todas as organizações democráticas.
EM NOSSO país a luta pela proibição da bomba atómica é também uma grande batalha na qual devemos empenhar todas as nossas forcas, não só por um dever de solidariedade com todos os povos, de internacionalismo proletário, mas também porque o nosso povo está ameaçado de ser envolvido pelos imperialistas ianques, com a conivência do governo de traição nacional de Dutra, em uma guerra atómica de caráter mundial.
Os fautores de guerra norte-amerieanos têm criminosos planos para utilisar soldados do Brasil em uma guerra de agressão e de rapina. Os altos chefes militares do país que na sua quase totalidade, se encontram a serviço do imperialismo ianque, afirmam, taxativamente, que o Brasil participará na aventura guerreira que os trustes e monopólios internacionais procuram desencadear.
O General Canrobert, ministro da Ditadura de Dutra, declarou que ''participaremos de qualquer guerra ao lado dos Estados Unidos". O General Cordeiro de Farias, diretor da Escola Superior de Guerra, proclanáou em conferência pública que acompanharemos os monopolistas ianques em uma terceira guerra mundial "ainda que seja possível neutralidade". E o chefe do Estado Maior Geral das Forças Armadas, general César Obino, afirmou, impudentemente, que "seremos envolvidos em um conflito de grande envergadura, em consequência dos compromissos assumidos no Tratado do Rio de Janeiro ou por motivos supervenientes".
Os fatos demonstram que a ditadura de Dutra, que é um governo de traição nacional a serviço dos magnatas ianques, dos latifundiários e da grande burguesia, enquadrou completamente o país nos planos estratégicos do imperialismo ianque para uma guerra de agressão contra a URSS e os países da democracia popular. O alto comando das forças armadas brasileiras já está sob o completo domínio do Departamento de Guerra dos Estados Unidos. O agente provocador Geraldo Rocha nas colunas do seu demagógico jornal "O Mundo", involuntariamente, relevela os sinistros planos dos monopolistas ianques em relação ao Brasil ao afirmar que o governo de Truman exige dois milhões de soldados brasileiros para servirem de carne de canhão em uma nova guerra imperialista mundial. Aumenta em ritmo bastante intenso a exportação de minérios estratégicos do Brasil para os Estados Unidos, inclusive o tório, o urânio e o berilo destinados a fabricação das armas atômicas. As maiores empresas metalúrgicas do país estão adaptadas à produção de material bélico que já vêm produzindo. As bases aéreas brasileiras começam a ser novamente ocupadas por tropas norte-americanas, como acontece em Recife, na chamada Rádio Station, e em Belém, na base de Val-de-Cans. Enfim desenvolve-se no país desenfreada e febril preparação para a guerra, quer no terreno político e econômico, quer no plano militar e ideológico.
ESTAS condições, a luta pela interdição da bomba atômica assume grande importância e por isso não pode, de nenhum modo, ser relegada a um plano secundário. A não ser a ínfima minoria de inimigos da paz que ainda domina a máquina do Estado e persegue violentamente os partidários da paz, ninguém, no país se coloca contra a campanha pela interdição da bomba atômica. Ao contrário, o povo brasileiro tem recebido essa campanha com o maior entusiasmo. Somente os que não têm a suficiente consciência da gravidade da situação mundial e do perigo que paira sob o nosso povo de ser envolvido numa guerra atômica, não enxergam a imensa importância que assume a campanha em torno do Apelo de Estocolmo para fazer fracassar os planos de agressão dos imperialistas.
Há homens honestos que ainda não acreditam na eficiência de uma campanha de assinaturas como a que se realiza à base do Apelo de Estocolmo. É necessário mostrar a todos que assim pensam que um poderoso movimento de centenas de milhões de pessoas pode anular a ação dos agressores, conseguir a proibição da arma atômica, proibição essa queserá o primeiro passo para criar um clima de compreensão internacional e capaz de contribuir para salvaguardar a paz.
É por isso tarefa de grande importância valorizar ao máximo a campanha de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, realizando uma propaganda em massa desse apelo e dos seus objetivos, utilizando todos os meios de divulgação para esclarecer as massas, pois ninguém assina o que não conhece ou o que ainda não compreendeu.
É indispensável mostrar às amplas massas todo o horror que a guerra atômica encerra, os massacres em massa, as destruições de cidades inteiras e todas as tremendas consequências que acarreta à população civil.
A campanha de coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo deve assumir em nosso país, o mais rapidamente possível, um caráter de grande campanha nacional que ultrapasse em todos os sentidos as campanhas patrióticas e democráticas que o povo brasileiro realizou nos últimos anos.
Neste sentido, ao lado da intensa propaganda que deve ser feita, é imprescindível responder aos argumentos mentirosos e caluniosos dos provocadores de guerra que se utilizam da imprensa vendida ao imperialismo para tentar desacreditar a campanha de coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo e justificar o emprego da bomba atômica contra os povos.
Esse é o caso de "A Gazeta" de S. Paulo que, como porta-voz dos incendiários de guerra, considera inoportuno o movimento pela interdição da bomba atômica, pois, para esse jornal da reação "ao que se saiba não há guerra alguma no mundo e nem parece que estejamos para assistir agora a uma".
É evidente que esse diário da plutocracia paulista, esforçando-se para evitar que o povo brasileiro seja esclarecido sobre o perigo que o ameaça de ser envolvido pelos imperialistas anglo-americanos na mais terrível das carnificinas, chega ao cúmulo do cinismo ao negar a existência do sério perigo de desencadeamento de uma nova guerra mundial, perigo esse cada vez mais patente para as grandes massas em face tantas provas concretas como as medidas de guerra e de agressão tomadas abertamente, pelos círculos dirigentes dos países imperialistas. O mesmo jornal, procurando atirar areia nos olhos do povo, tentando desvirtuar as finalidades pacíficas da campanha pela interdição da bomba atômica, com o objetivo de fazer confusão afirma:
"E se antes do mais se trata de sentimento humanitário então que se proceda, também, à condenação de engenhos bélicos outros, igualmente mortíferos e aniquiladores no último grau, como os gazes e os micróbios, e mais os bombardeios aéreos e a guerra submarina".
Não podendo combater, frontalmente, a campana que se desenvolve em todo o país em torno do Apelo de Estocolmo, a reação, através desse infame vespertino de S. Paulo, procura baralhar as coisas. A campanha pela interdição da bomba atômica é parte da grande luta pela paz, objetivando evitar o desencadeamento de uma nova guerra mundial e, portanto, impedir a utilização de qualquer engenho de destruição. Por sua vez, a bomba atômica constitui a arma mais mortífera entre todas as que atualmente existem, causando destruições e massacres de populações civis em proporções inimagináveis. Mais do que qualquer outra arma, a bomba atômica, pelo horror que causa, é a mais odiada pelos povos e, por isso, a luta contra o seu emprego mobiliza todos homens simples sem distinção que não querem ver a humanidade arrasada sob o impacto de tão monstruosa arma de extermínio em massa. A condenação da bomba atômica abrirá o caminho para a proibição de outros criminosos engenhos de guerra, será uma grande vitória dos povos, criando o clima indispensável ao entendimento entre as nações e à manutenção da paz. Por outro lado, é necessário não esquecer que a utilização dos gases letais e dos micróbios causadores de epidemias como armas de guerra já está condenada pelas convenções internacionais. E isso é precisamente que objetiva, em relação à bomba atômica, a campanha de coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo: condenar a bomba atômica e considerar como criminoso de guerra o governo que em primeiro lugar utilizá-la contra qualquer país.
Os inimigos da paz tudo fazem para entravar a ampliação da campanha pela proibição da bomba atômica. Ultimamente, propalado por esses inimigos da paz, tem surgido em nosso país o argumento de que a bomba atômica é uma arma defensiva e que, portanto, não deve ser condenada. Nada mais falso do que esse argumento. A arma atômica é dirigida unicamente contra as populações civis, sendo capaz de arrasar uma cidade inteira, não se prestando para ser empregada numa frente de batalha, porque os seus efeitos destruidores atingiriam as tropas de ambos os lados em luta. A bomba atômica, por conseguinte, não passa de uma criminosa arma de agressão e de nenhum modo é uma arma defensiva como afirmam os propagandistas de guerra a serviço do imperialismo norte-americano.
Simultaneamente com esse argumento, surge outra "tese" com o objetivo de debilitar a campanha pela interdição da bomba atômica. Trata-se da "tese" propagada pelo imperialismo através dos jornais da reação, de que a guerra constitui fatalidade e que é impossível evitar o seu desencadeamento. Essa falsa argumentação, algumas vezes, encontra eco entre elementos que honestamente aspiram a paz. Mas os defensores desta "tese" não fazem mais do que o jogo dos incendiários de guerra, pois, defendendo a inevitabilidade da guerra contribuem para desarmar as massas na luta pela paz, e, praticamente, sabotam a luta pela interdição da bomba atômica. Mais do que nunca é indispensável desmascarar esse falso argumento utilizado contra o movimento em defesa da paz. A guerra pode ser evitada pela ação das grandes massas, uma vez que ela, em última análise, é feita com povos e se estes, praticamente, se opõem á guerra, ela não será desencadeada.
Do mesmo modo devem ser desmascarados todos aqueles que defendem ser necessária uma nova guerra para que o nosso povo se liberte da dominação imperialista. Na verdade, os defensores desse argumento, evidentemente falso, fazem também o jogo dos fautores de guerra, porque falando falsamente na necessidade da luta nacional libertadora, se transformam em propagandistas de uma nova guerra mundial, em inimigos da paz e também do próprio movimento de libertação nacional que está, em países como o nosso, indissoluvelmente ligado à luta pela paz.
O povo brasileiro pode se libertar, agora, do jugo do imperialismo norte-americano, sem que se torne necessário o desencadeamento de uma nova guerra mundial que só poderá trazer os maiores sacrifícios e os mais cruéis sofrimentos para as grandes massas. Existem, no momento, todas as condições para o Brasil conquistar a sua independência nacional e é, justamente, a luta pela libertação nacional a melhor forma de nosso povo contribuir para a luta pela paz. Por isso, para contribuirmos, efetivamente, na luta contra o desencadeamento de uma nova guerra mundial, é necessário, desde já, mobilizar todas as forças e utilizar todos os meios revolucionários de luta para apressar a vitória do movimento da libertação nacional no país.
Os partidários da paz não devem deixar sem resposta nenhum dos argumentos capciosos dos agressores, que, com essa enxurrada de mentiras e calúnias mostram, involuntariamente, o valor que tem o Apelo de Estocolmo na luta pela interdição da bomba atômica, pois, se os imperialistas atacam o movimento contra a bomba atômica é porque esse movimento está dificultando a execução dos seus planos de agressão.
O MOVIMENTO pela proibição das armas atômicas deve constituir em nosso país um verdadeiro plebiscito, em que participe todo o povo brasileiro na condenação da bomba atômica. É, justamente, pelo número de milhões de assinaturas que obtiver o Apelo de Estocolmo, que a campanha pela interdição da bomba atômica assume importância. Por essa razão, é necessário compreender que a campanha contra a bomba atômica não pertence a este ou àquele partido político, a esta ou àquela organização, mas a todo o povo. Neste sentido, todos devem ser convocados para coletar assinaturas para o Apelo de Estocolmo. Para conseguir milhões de assinaturas é preciso mobilizar amplas massas, fazer com que as massas coletem assinaturas para o Apelo de Estocolmo e não restringir esse trabalho, unicamente, aos elementos de vanguarda, como em alguns casos vem acontecendo.
A campanha em torno do Apelo de Estocolmo, sendo a mais ampla possível, deve ser a mais legal, realizada abertamente á luz do dia, apesar de todas as dificuldades criadas no país pelos inimigos da paz, liderados pelo governo de traição nacional de Dutra. Qualquer tendência a ilegalizar o trabalho de coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo é favorecer os incendiários de guerra. A experiência do trabalho já realizado na campanha pela interdição da bomba atômica mostra que ninguém, a não ser os declarados partidários da guerra, se recusa assinar o Apelo de Estocolmo. O que é preciso é audácia, pedir assinaturas a toda a população, de casa em casa, nas empresas, nas escolas, nos clubes, em todos os locais onde se aglomerem massas, afim de que a campanha contra a bomba atômica seja o referendum da vontade unânime de todo o nosso povo contra uma nova guerra mundial. É indispensável, portanto, planificar nos menores detalhes essa importante campanha, fazer um controle permanente, compreendendo que existem prazos para encerrar a coleta de assinaturas para o Apelo de Estocolmo, pois a campanha não pode se arrastar de maneira interminável.
Na luta pela interdição da bomba atômica é de grande valor a participação das personalidades, mas o fundamental é conseguir o maior numero de assinaturas das massas. A preocupação exclusiva de obter assinaturas de personalidades para o Apelo de Estocolmo, levou com que em nosso país fosse, em parte, subestimada a coleta de assinaturas das grandes massas, que demonstram a maior receptividade com relação ao Apelo de Estocolmo, independente das adesões das personalidades. Embora seja necessário obter um número cada vez maior de adesões de personalidades ao Apelo de Estocolmo, é urgente conseguir o apoio de milhões de brasileiros que assinarão o Apelo de Estocolmo desde que tomem conhecimento de seu conteúdo.
É indispensável também ter em conta que no movimento pela interdição da bomba atômica, o Apelo de Estocolmo, em torno do qual é realizada a coleta de assinaturas, não deve ser modificado nem escondido das massas. Em muitos casos isso vem acontecendo entre nós, com reais prejuízos para a campanha. É necessário apresentar às massas o Apelo de Estocolmo tal qual está redigido e fazer a maior divulgação do Comitê Mundial dos Partidários da Paz que iniciou o grande movimento pe]a proibição da bomba atômica.
"Pela primeira vez na história da humanidade foi criada uma frente organizada da paz com o objetivo de salvar a humanidade de uma nova guerra mundial, de isolar a camarilha dos provocadores de uma nova guerra e de garantir a colaboração pacífica dos povos. Esse movimento reflete as mudanças radicais que se produziram no mundo em consequência da guerra de libertação travada pelos povos contra a ameaça de escravização fascista. Mostra igualmente o desenvolvimento sem precedentes da consciência política das massas, mostra que os povos extraíram as lições da experiência amarga de duas guerras mundiais e têm a vontade indestrutível de impedir uma nova guerra, defender a paz, levar ao fracasso os planos abomináveis dos provocadores de guerra.
Enriquecidos pela dura experiência dos últimos decênios, os povos tomam agora em suas próprias mãos a defesa da paz, e esta é uma das particularidades importantes do movimento dos partidários da paz".
M. SUSLOV
Inclusão | 14/11/2010 |