O individualismo stirneriano no movimento anarquista

Luigi Fabbri

Outubro/Novembro/Dezembro de 1903


Observação: Série de 3 artigos polémicos sobre o individualismo stirneriano, publicados originalmente em 1903 na revista Il Pensiero de Roma (números 7, 8 e 10, que podem ser consultados online aqui). Esta obra foi também publicada em brochura, pelo menos em 1904 em Praga e em 1973 no México. Leia dois outros artigos [01 - 02], e o artigo de Jean Grave publicados em números posteriores da mesma revista Il Pensiero, que dão continuação à polémica. Todas as notas são do autor.

Fonte: Última Barricada - https://ultimabarricada.wordpress.com/2020/01/12/o-individualismo-stirneriano-no-movimento-anarquista/

Tradução: João Black

HTML: Fernando Araújo.


I
Il Pensiero — Ano I, Número 7, outubro 1903

Uma prova da seriedade e da força duma doutrina é o surgirem ao lado dela, ou desprenderem-se do seu tronco, outras doutrinas, mais ou menos perfeitas, mais ou menos duradouras, que com a primeira têm em comum o reconhecimento duma verdade ou dum dado ponto partida do qual uma e outra extraem deduções e conclusões diversas.

Em especial, as doutrinas que se dirigem às multidões e têm um fim social, político ou religioso, suscitam em torno de si, e quase sempre contra si mesmas, os hereges; os quais tanto podem ser os reformadores e aperfeiçoadores da doutrina mãe, como os seus corruptores. Quase sempre acontece que, no primeiro caso, a heresia vence a doutrina e substitui-a, tornando-se ela prórpia doutrina; enquanto que, no segundo caso, ou o novo ramo atrofia e depressa seca, ou mantém uma vida miserável ao lado do tronco de que deriva, o qual continua a crescer e a viver por conta própria.

Algo de semelhante aconteceu com o anarquismo, que hoje tem à sua volta não poucas filiações das suas teorias; desvios e ramificações que a ele se associam no que constitui a característica principal e necessária de todas as doutrinas anarquistas: a negação do princípio da autoridade, isto é, de toda a coação violenta do homem sobre o homem. Consoante a diferente interpretação que cada teoria faz deste principio negativo, a autoridade é mais ou menos negada, e varia o método de luta de cada uma, como variam as ideias adicionadas à ideia mãe. Mas esta permanece o ponto de partida comum, seja para os argumentos teóricos ou para a ação prática que os seguidores lhe fazem resultar.

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A anarquia historicamente — e, tal como a aceitam a maioria dos anarquistas, também ideologicamente — é uma escola do socialismo.

O socialismo, após o período embrionário da sua formação, que compreende todo o ciclo dos socialistas apriorísticos e utópicos (Babeuf, Fourier, Saint-Simon, Owen), torna-se positivista, encontra o seu caminho através das tentativas Proudhon, assume forma e linguagem científica com Karl Marx, até que no caldo das revoluções políticas de meados do século XIX, e após a Comuna de Paris, chega à sua maturidade, e cinde-se nas duas tendências que continha dentro de si desde os primórdios: a autoritária e a libertária.

O socialismo anarquista de algum modo vem no seguimento de Fourier, assim como o socialismo autoritário de algum modo vem no seguimento de Saint-Simon. As duas tendências não se manifestaram porém enquanto o socialismo não atingiu um certo grau de expansão e não sofreu a elaboração necessária. A questão económica mantinha-as unidas e impedia-as de se manifestarem, devido à necessidade imperiosa e absorvente de afirmar com unanimidade de intenções aquilo que foi certamente a mais importante conquista social do século XIX: o princípio da socialização da propriedade, vale dizer, a afirmação do direito proletário diante da burguesia, o anúncio de uma nova revolução no esgotamento da revolução de 1789.

A Associação Internacional dos Trabalhadores fez esta declaração de guerra em 1864; o Manifesto dos Comunistas de Marx e Engels, escrito já em 1848, foi seu intérprete. A Comuna de Paris de 1871 foi a vulgarização heróica — sublime propaganda pelo facto — da ideia socialista.

Depois de 1871, no seio da Internacional, que já havia conquistado para o socialismo o direito de cidadania entre as ciências económicas e sociais, nos congressos memoráveis que foram verdadeiros laboratórios de ideias, o problema da liberdade fez-se sentir mais fortemente, e a cisão aconteceu, já que agora se tinha tornado incompatível a permanência na mesma casca das duas tendências já adultas e opostas. Mikhail Bakunin e Karl Marx, dois colossos, sintetizavam a contenda de ideias e métodos entre o socialismo autoritário e o socialismo libertário ou anarquista.

Desde então os dois socialismos caminharam separados, cada um por sua via, ajudando-se por vezes como aliados, mais vezes combatendo-se severamente, cada um pretendendo para si a posse da verdade e do segredo da revolução social.

Não cabe aqui examinar qual tinha maior razão.

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Deste modo a anarquia, conforme apareceu no mundo pela primeira vez, foi portanto socialista. Mesmo Proudhon que, pode dizer-se, tinha um pé no socialismo utópico e o outro no socialismo que hoje se costuma chamar científico, nunca desacompanhou o seu conceito anarquista da organização social do conceito socialista da negação da propriedade individual. A propriedade é um roubo! esta verdade em vestes de paradoxo, já lançada por Brissot durante a tempestade da revolução francesa, foi ele, Proudhon, que a reafirmou por sua conta e a tornou popular.

Mikhail Bakunin, que não tem as incoerências de Proudhon, e é quem primeiro apresenta a teoria anarquista como um todo orgânico, foi antes de tudo socialista. A ele se deve, e aos seus seguidores, a vulgarização do socialismo na Europa meridional. De modo ainda mais incisivo e mais radical do que Marx, ele pregou a socialização da propriedade, ao que dava a maior importância. Nos seus opúsculos, livros e artigos é sobretudo de socialismo que se fala, de propriedade coletiva; e aliás a palavra anarquia raramente é nomeada. Socialista em economia, a ponto de ser de certo modo marxista, ele discordava dos marxistas na forma de organização política da futura sociedade socialista, e enquanto isso também na forma de organização das forças socialistas em luta, nos métodos.

Por muito tempo na Europa latina, enquanto não surgiu o partido social-democrata, os anarquistas que se davam a conhecer na sua propaganda chamavam-se simplesmente socialistas. Carlo Cafiero, anarquista, foi o primeiro a vulgarizar na Itália O Capital de Marx. Um opúsculo de Errico Malatesta, Entre Camponeses, o melhor opúsculo de propaganda anarquista alguma vez escrito, saiu a primeira vez com o subtítulo propaganda socialista, e todo ele não é senão uma crítica da organização individualista da propriedade — tão socialista que Camillo Prampolini lhe fez uma edição, purgada das frases demasiado anarquistas e revolucionárias, para uso da propaganda social-democrática.

De resto, toda a sociologia anarquista até há pouco tempo estava impregnada de marxismo, dos seus erros assim como das suas verdades; e possivelmente não houve marxistas mais coerentes com a doutrina do mestre do que os anarquistas, os quais devem alguns conceitos mais catastróficos — abandonados hoje pela maioria — precisamente às ideias catastróficas de Karl Marx.

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A ideia da liberdade individual, da autonomia dos indivíduos, dos grupos, das associações e das comunas na federação internacional dos povos, nunca esteve desacompanhada, na doutrina dos anarquistas militantes, do princípio da solidariedade, do apoio mútuo, da cooperação (como de resto o dizem as próprias palavras «grupos, associações, federações, etc.»), e conservou sempre o significado eminentemente socialista que lhe atribuía Bakunin, quando em oposição à centralização de poderes desejada por Marx ele falava em federalismo.

Mikhail Bakunin foi de facto — com as devidas diferenças — para o socialismo o que na Itália foi Carlo Cattaneo para o republicanismo. Assim como os unitaristas não podem negar que era republicano o federalista Cattaneo, também os socialistas autoritários não podem negar (e não o podem negar tampouco os individualistas) que era socialista o anarquista Bakunin.

O anarquismo de Mikhail Bakunin sofreu uma certa evolução com o tempo. Foi mais bem elaborado e tornou-se cada vez mais racional e científico. Mas nunca perdeu o seu caráter socialista. Aliás, por assim dizer, aperfeiçoou-se ao tornar-se ainda mais socialista, passando de coletivista para comunista. Foi nos últimos congressos da Internacional que Piotr Kropotkin, Carlo Cafiero, Élisée Reclus, etc., falaram no comunismo anarquista e que o anarquismo foi aceite sob este novo nome. Os próprios social-democratas admitem que o comunismo é uma forma mais evoluída de socialismo do que o coletivismo. Não era Karl Marx comunista?

Eu creio que os anarquistas foram, aliás, um pouco dogmáticos demais na defesa do comunismo, ao passo que deveriam ter considerado que o importante era assegurar ao proletariado a liberdade de organizar a seu modo a propriedade no rescaldo da revolução, depois de a ter arrancado do monopólio capitalista. Eu sou comunista, mas acho que não se deve ser demasiado exclusivista nesta teoria sobre o modo como organizaremos a propriedade, o modo de a socializar. O importante é poder socializá-la (e isto é socialismo), e socializá-la à nossa maneira (e esta é a anarquia).

Por isso muitos anarquistas hoje, sendo comunistas, gostam mais de se chamar socialistas-anarquistas.

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Até cerca de 1890 não havia nenhum anarquista que concebesse a anarquia diferentemente de uma especial estrutura de organização socialista. A liberdade de um cidadão começa onde termina a liberdade de outro cidadão, reafirmava Piotr Kropotkin no processo de Lyon de 1882. E o rabelaisiano faz o que queres era entendido sempre no sentido do ego-altruísmo, da liberdade própria completada pela liberdade dos outros, do bem-estar dos outros necessário ao bem-estar próprio, numa palavra, no sentido da solidariedade.

Só depois de 1891 aparceceu no mundo anarquista o individualismo, infiltrando-se direi quase sorrateiramente, mas nunca conseguindo conquistar mais do que poucas individualidades isoladas, e não conseguindo de modo algum ser aceite nem pela ciência sociológica, nem pela inteligência já não mais descurável e não mais obtusa das massas.

Max Stirner foi desenterrado das bibliotecas poeirentas; e este filósofo paradoxal voltou à luz e obteve as honras dos maiores génios cerca de cinquenta anos depois, por mérito sobretudo de artistas e literatos que nele encontraram interpretada a rebelião contra os velhos dogmas e a tirania da sociedade atual, uma sociedade de gansos e serpentes, em que as suas aspirações são frustradas ou encontram obstáculo, e que por isso suscita neles, mais do que o desejo humano de a transformar e converter, o desejo individualista e egoísta de a ignorar e desprezar do alto das suas fantasias literárias e artísticas.

Quem sabe se nesse desprezo não está também adormecida e inconsciente uma pontinha de desejo de dominação e privilégio, uma tendência para substituir a tirania do Estado, do padre e do patrão pela tirania dos «intelectuais!»(*)

A preocupação máxima com o eu, que não é acompanhada do sentimento da solidariedade, deixa desconfiados os anarquistas socialistas, nós que somos a massa, e que não queremos sobre nós nenhuma tirania.

Justificada ou não esta nossa desconfiança, entretanto constatamos isto: até recentemente o individualismo stirneriano era até ignorado entre os anarquistas. Que isto desmente a paternidade de Max Stirner no movimento anarquista contemporâneo — afirmada mas não demonstrada por Georgi Plekhanov, Ettore Zoccoli e outros —, é mais do que evidente.

E agora examinemos qual é hoje a influência de Max Stirner no seio do anarquismo, influência esta póstuma; e constatemos assim melhor o equívoco (de boa ou má fé, não importa) em que caíram aqueles que vêem na anarquia nada mais do que o triunfo do individualismo, o exagero, para dizê-lo com Filippo Turati, do «individualismo burguês».

E vejamos também qual a ligação da teoria stirneriana com aquela que informa o movimento anarquista; porque em muitas partes uma parece combinar com a outra, quando pelo contrário são extremamente contraditórias; — e vejamos como são contraditórias.

II
Il Pensiero – Ano I, Número 8 novembro 1903

Os anarquistas, no completo significado da palavra, todos que combatem nomeadamente a tripla manifestação da autoridade coerciva na pessoa do padre, do patrão e do carabineiro, muitas vezes encontram ao seu lado, como aliados, muitos que, embora não aprovando todo o conceito negativo do anarquismo, nele encontram uma ótima arma para se defenderem, e a defesa depressa se torna ofensa, contra a manifestação da autoridade que mais lhes ofende.

Assim em França, durante o caso Dreyfus, os anticlericais encontraram nos anarquistas uma ajuda formidável que decidiu a vitória na luta contra os padres; e assim os anti-militaristas contra o militarismo. Na obra de organização operária e resistência contra o capitalismo, os anarquistas encontram-se muitas vezes lado a lado com os socialistas; assim como, quando se trata de lutar contra a arbitrariedade governamental e pela obtenção de maior liberdade política, por necessidade encontram-se a ter que percorrer um certo caminho conjuntamente não só com os socialistas mas também os republicanos. E tudo isto não por um acordo pré-estabelecido, mas pela própria força dos acontecimentos, tal como amanhã um de nós poderia por acidente dar consigo a fazer um pouco de estrada com uma pessoa não muito simpática e com quem não se dá bem, e poderiam ajudar-se no caso de serem assaltados ou se depararem com um qualquer obstáculo.

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A rebelião dos anarquistas, que pretende demolir nas suas bases as instituições sociais que hoje são o fundamento da sociedade, logicamente ataca também no campo intelectual, artístico e moral, sem qualquer respeito, todos esses princípios sagrados que se formam em torno das instituições burguesas e autoritárias e se depositam como uma crosta em sua defesa.

Nesta luta, que é sobretudo de ordem moral, na parte demolidora e não na reconstrutora, os anarquistas têm por aliados os individualistas stirnerianos(1). E são, há que dizê-lo desde já, aliados formidáveis com punho de ferro, e é talvez o seu ardor ideológico de demolição que os faz passar por anarquistas propriamente ditos, especialmente aos olhos de quem no anarquista vê antes o niilista, o destrutor — violento ou não — e não nota o idealista, o reconstrutor.

O stirneriano não se preocupa com a reconstrução. Ele sente-se oprimido, prostrado sob um monte de instituições pesadas, uma avalanche de preconceitos, convenções, costumes, e quer disso libertar-se; e proclama o direito do indivíduo de não ser sacrificado à comunidade, que especialmente hoje constitui o meio com que a opressão geral é imposta; quer ter direito ao exercício do próprio pensamento, das suas faculdades, e desfrutar da vida com toda a força do seu cérebro e dos seus músculos.

Assim, com a crítica audaz combate toda a instituição que estorva qualquer direito seu. E até aqui estamos de acordo, já que também nós, anarquistas, reivindicamos para o indivíduo os mesmos direitos e por conseguinte combatemos as mesmas instituições.

Mas o individualista fica por aqui, não sai da consideração do seu «eu», e no máximo diz: cada um que se arranje, e quando todos fizerem como eu, todos serão livres. Quer libertar-se a si mesmo, mas não se preocupa com os outros, a não ser na medida em que estes limitem ou possam limitar o seu direito. Por isso três quartos do problema social escapam à sua atenção, e acontece que de premissas assim tão limitadas se podem extrair as consequências mais diversas e contraditórias, as mais revolucionárias e também as mais conservadoras; frequentemente mais estas do que aquelas.

Émile Henry, em nome da soberania do indivíduo e para afirmar o seu direito contra a opressão burguesa, lança uma bomba num café (é verdade porém que sob a capa do individualismo havia uma alma que sentia muito a solidariedade); mas em nome da soberania individual também Nero poderia mais uma vez incendiar Roma, para dar ao seu «eu» a satisfação de desfrutar do alto duma torre o imenso espetáculo de uma cidade em chamas. Nem de resto a minha comparação é excessiva; há um literato de pronunciadas tendências individualistas que procurou tornar Nero simpático deste ponto de vista.

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O anarquista é individualista na medida em que se preocupa com a liberdade individual própria como se preocupa com a dos outros, vendo na dos outros uma garantia e uma ajuda para a sua.

E aqui está, a meu ver, o caráter ilógico dos stirnerianos: em vão pensam eles na sua libertação se não querem pensar também na de toda a humanidade. A humanidade, essa que para eles é uma abstração nociva, é o ambiente em que têm que viver e do qual não se podem esquecer, já que um não pode ser livre entre um povo de escravos senão na condição de ser o seu tirano. E não podem esquecer a coletividade que os rodeia também porque para demolir as formidáveis instituições que mais tolhem a consciência e as ações humanas não bastam os livros de filosofia nem a rebelião individual, por intensa que seja, mas é necessário o esforço organizado, simultâneo, guiado por um conceito comum, das multidões.

Assim os anarquistas socialistas concebem a revolução social: a guerra contra as instituições autoritárias e burguesas por uma multidão — seja esta embora minoria perante a massa dos incertos, dos indiferentes e dos passivos — composta por individualidades pensantes, voluntariamente unidas para a batalha pelo vínculo, o único vínculo libertário, da solidariedade.

Talvez nem todos os individualistas stirnerianos combatam o princípio de solidariedade (muitos sim), porém todos o descuram completamente. O que significa descurar quase completamente a questão social em todos os seus aspetos políticos e sobretudo económicos.

Eles ignoram assim um coeficiente importantíssimo da vida humana, sem o qual não haveria humanidade possível, e tampouco seria possível a existência individual. Solidariedade e individualismo são duas forças de evolução que são para a sociedade o que os movimentos centrífugo e centrípeto são para o cosmos. Um stirneriano seria como um estudioso de física que nas suas investigações quisesse ter em conta só a força centrípeta; do mesmo modo que um socialista de estado seria como um outro que só quisesse ter em conta a força centrífuga.

O socialista anarquista, ao invés, não pretende descurar nenhuma das duas forças, procura o equilíbrio entre elas e encontra-o — ou pelo menos acredita tê-lo encontrado — na anarquia, um estado de coisas em que a liberdade individual de cada um será completada pela liberdade de todos, porquanto não há maior obstáculo à liberdade do que o isolamento.

«O homem isolado é o mais forte», diz Ibsen; e este ditado paradoxal foi tantas vezes repetido que hoje parecerá um paradoxo dizer-se, como eu defendo, que o homem isolado é mais fraco do que o homem associado. Eu disse associado; não se traduza disciplinado.

O homem isolado é o mais fraco e o menos livre, porque se é verdade que a necessidade desenvolverá nele qualidades superiores à média, estas ficarão sempre impotentes para vencer as dificuldades e os obstáculos do ambiente, seja este apenas natural, que serão ao invés superados facilmente por homens normais associados.

Um homem que vivesse sozinho, e fosse forte como um orangotango e inteligente como Dante, seria sempre menos livre — a liberdade consiste, no fundo, na possibilidade de fazer o que se quer e o que se tem necessidade de fazer — do que uma criança vivendo no meio da sociedade.

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Alguns dirão que eu estou a chover no molhado e que estas coisas já nós sabíamos, desde quando em crianças nos ensinaram a história do raminho que se parte quando está só mas torna-se forte quando unido aos outros em feixe.

É verdade; mas a especulação filosófica, lançada sem freio para os campos ilimitados da abstração e do paradoxo, chega muitas vezes a isso, ao esquecimento e ao desprezo das verdades mais elementares. Não está mal, portanto, que alguém reafirme esta verdade, tanto mais quando isso é necessário para impedir que o seu esquecimento se infiltre entre aqueles que mais precisam de a recordar e praticar na luta quotidiana pelos seus direitos.

E depois, o paradoxo stirneriano, sendo realmente um paradoxo quando se lhe tira a consequência a partir do isolamento individual, deixa de o ser quando ao invés é considerado como o triunfo do mais forte no meio da sociedade, um triunfo obtido para além do bem e do mal, como diria um seguidor de Nietszche, ou seja, em boa linguagem vulgar, fora de toda a consideração moral e de justiça: o indivíduo que satisfaz o próprio «eu» sem querer saber dos outros, e possivelmente em detrimento dos outros.

Isto já não é um paradoxo; a luta pela vida, como a entendiam os darwinistas da velha escola, travada com unhas e dentes entre homem e homem, entre irmão e irmão, é a sua aplicação prática, já realizada na vida social. Outrora eram os déspotas políticos que venciam, hoje são os déspotas económicos; e então como agora o indivíduo mais forte venceu e vence.

Certamente, mais antipáticos do que os antigos são os vencedores de hoje, pois o máximo elemento de vitória para estes já não é a ilusão religiosa que animava os cavaleiros errantes e as cruzadas, nem o cintilante preconceito cavalheiresco da nobreza, mas só uma coisa estúpida e bruta sem sombra duma aparência ideal: o dinheiro. O dinheiro que conspurca tudo, que se impõe a tudo, que faz inteligente o idiota que o possui, forte o mais cobarde, que sufoca as inspirações impondo-se e impondo a mediocridade, até onde menos teria uma palavra a dizer, em arte e literatura.

E os artistas e literatos, entre os quais se contam em maior parte os individualistas, estão no seu direito quando contrapõem o próprio «eu» genial, a própria superioridade individual, a toda a sociedade moderna empastada da lama mais vulgar, a uma maioria que, devido à perversa organização social, não pode chegar à compreensão de certos conceitos artísticos e certos requintes literários. A sua rebelião consciente em nome da própria individualidade intelectual é um coeficiente revolucionário não descurável; a crítica corrosiva às instituições que sai de qualquer trabalho de Paul Adam, dos romances de Mirbeau, dos opúsculos, cada um deles uma obra prima, de Leon Tolstoi (também ele um individualista apesar da monomania religiosa), são para a sociedade moderna o que as comédias satíricas de Beaumarchais eram antes de 1789: o prelúdio da Revolução, o ranger do edifício social à beira da ruína.

Desde que não se cometa o erro gravíssimo de confundir a maioria da sociedade com o povo propriamente dito, e dirigir exclusivamente a este o desprezo merecido por aquela — as insolências às plebes da Laus Vitae de D’Annunzio —, que anarquista não subscreveria as páginas destes individualistas?

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Mas o individualismo puro, um dos agentes de progresso em arte e literatura, não deve ser transportado para a sociologia. O individualismo em economia tem como resultante o privilégio de propriedade, a concorrência dos interesses, o capitalismo numa palavra, o homo homini lupus de Hobbes.

Os individualistas anarquistas da escola de Max Stirner, aqueles que da doutrina stirneriana quiseram extraír consequências em matéria económica, como John Henry Mackay e Benjamin Tucker — o primeiro expôs as suas ideias num livro muito conhecido, Anarchistes, e o segundo faz-lhes propaganda com uma pequena revista de língua inglesa em Nova Iorque, a Liberty — são autênticos economistas burgueses, liberalistas que dariam a mão ao nosso Maffeo Pantaleoni, a Vilfredo Pareto e… aos jovens monárquicos conservadores liberais, etc., como Giovanni Borelli.

E Mackay — a quem Zoccoli, no prefácio ao Único de Stirner(2), não quer por respeito aos leitores honrar com um excessivo ato de cortesia (provavelmente Zoccoli também ignora, assim como ignora todo o anarquismo do qual fala, que Mackay na Alemanha e na Inglaterra é conhecido como um dos melhores poetas) — é o mais autorizado intérprete do seu mestre. Foi Mackay quem primeiro tratou da reedição das obras de Stirner, quem recolheu os seus escritos menores, e escreveu sobre a sua vida; e foi ele quem primeiro cometeu o erro de ver no Único uma espécie de Bíblia do anarquismo.

O individualismo stirneriano conduz em economia à propriedade «individual», ao privilégio capitalista, à negação por meio do poder do dinheiro (que os stirnerianos anarquistas não querem abolido) dessa liberdade que reivindicam em política, em moral e em filosofia. Mackay de resto não esconde de todo as suas ideias liberalistas, ainda que negue as consequências lógicas que delas resultam; ele sustenta que em anarquia a livre concorrência dos interesses facilitará a seleção natural, e que a propriedade é necessária à liberdade.(3)

Não cabe aqui explicar o equívoco em que cai Mackay e refutar a sua teoria.

Em política, a consequência do individualismo stirneriano é o isolamento de que acima falei, ou então a tirania: o primeiro impossível, a segunda perversa, e sobretudo anti-anárquica.

Fora do conceito da solidariedade, o indivíduo que pensa somente em si próprio, e nos outros só na medida em que o beneficiam ou prejudicam, para ser completamente livre precisa de estar acima de todos, de ser a autoridade máxima; a qual pode também ser boa, conforme a história nos diga que foram bons alguns soberanos absolutos, mas também pode ser má. E para os anarquistas não se trata de ter um tirano bom ou mau, mas de não ter tirano nenhum sobre nós nem sê-lo sobre os outros.

Se a teoria stirneriana for arrastada para o campo da realidade, da vida vivida, fora da especulação abstrata, vemos imediatamente como é ténue e longíquo o fio que une o anarquismo propriamente dito ao individualismo; de resto é natural que esta relação, por mínima que seja, exista, pois todas as teorias, incluindo as mais contraditórias, têm por um lado ou pelo outro qualquer coisa de comum.

III
Il Pensiero – Ano I, Número 10, dezembro 1903

Falei até aqui de individualistas, e esqueci-me de fazer uma advertência ao leitor que pode ficar baralhado entre tanto amontoado de nomes, subdivisões, teorias.

Há, entre os comunistas anarquistas, uma fração que em economia é tudo menos individualista e que, todavia, por algum tempo gostou de se chamar individualista para se diferenciar, não na teoria mas na prática de luta, dos próprios companheiros, também eles comunistas anarquistas, acerca da questão da organização em partido, do associacionismo operário, da ação individual e coletiva, e outras. Estes, embora sendo na finalidade tudo menos individualistas stirnerianos, combatem a ideia da organização no seio da sociedade atual, e, em contraditório com os outros, pensam que é nocivo à causa revolucionária constituir um partido organizado, favorecer as associações operárias, unir-se num acordo pré-estabelecido na luta contra as instituiçõs. No meu entender eles são ilógicos e estão errados ao pensar assim, mas apesar das diversas nuances ideológicas, apesar do nome contraditório, eles são sempre anarquistas socialistas, teoricamente não dissemelhantes, pelo menos nas grandes linhas, de todos os socialistas anarquistas que compõem o conjunto do movimento libertário internacional. Os socialistas anarquistas, aqueles que gostam de se denominar assim, poderão talvez discordar — nem todos verdadeiramente discordam — do conceito da violência e da represália contra a sociedade burguesa tão admiravelmente exposta por Émile Henry na sua autodefesa perante os jurados (considerada uma jóia literária por Mirbeau, Leyret e outros) antes de subir ao cadafalso; mas não podem negar — por um excessivo amor à tranquilidade diante da reação ou simplesmente diante dos preconceitos dominantes — a afinidade ideológica que aos seguidores desse conceito os liga por um outro lado.

Não se deve portanto confundir estes não verdadeiros individualistas, que ao invés reentram na grande categoria dos comunistas anarquistas, com os individualistas stirnerianos de que falo.

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Fechado então o parêntesis, aproveito a ocasião para afirmar de novo que o individualismo stirneriano também nos meios, assim como na teoria, é tudo menos revolucionário, no sentido histórico e prático do termo(4). Os individualistas stirnerianos (recordai que falo sempre dos individualistas que se dizem anarquistas e são militantes, não dos desportistas, dos literatos(5) e menos ainda dos super-homens à D’Annunzio) são liminarmente contrários a qualquer ideia de violência individual ou coletiva. Eles remetem-se, para o triunfo das suas ideias, à seleção natural, à propaganda pacífica, à resistência passiva contra a sociedade autoritária, à amena propaganda pelo facto consistente em agir na vida o mais possível de acordo com as próprias ideias e contra os preconceitos dominantes. Leon Tolstoi, tirando o verniz místico, é neste sentido intérprete do seu programa de luta, se programa de luta se pode chamar verdadeiramente.

Que coisa em comum podem ter com estes individualistas os socialistas anarquistas revolucionários que, ao contrário, têm constantemente o pensamento voltado para uma regeneração social, uma revolução — não aquela pseudo-científica de Enrico Ferri — sem a qual não crêem possível a resolução do problema do pão e da liberdade?

Repito: na crítica à sociedade presente, muitas das suas páginas podem ser também nossas, como podem ser nossas as páginas de crítica às religiões de Molescott, Bünchner, Ferrari, aquelas de crítica à propriedade privada de Marx e de todos os socialistas autoritários, aquelas de crítica ao Estado de Spencer e de muitos dos mais audazes liberalistas, aquelas de crítica aos atuais preconceitos morais de toda uma falange de pensadores com Nietszche à cabeça — em suma, na demolição.

Mas só a demolição não basta para acomunar duas escolas diferentes, já que o que forma a estrutura dum edifício ideológico é o princípio, o móbil da demolição, o objetivo a que ela tende, o conceito da sucessiva reconstrução.

Os anarquistas, a modo de exemplo, derrubariam de bom grado o governo italiano, como o derrubariam de bom grado os clericais que desejam restituír Roma ao papa: dir-se-á por isto que há afinidade entre uns e outros?

A comparação, certamente, é um pouco paradoxal demais, mas serve ainda assim para explicar o que quero dizer.

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A ideia anarquista é já no seu conjunto uma teoria formada, adulta, completa. Tem princípios éticos deduzidos dos factos e da realidade vivida da qual parte, uma crítica a todas as instituições sociais da qual se serve; tem nas linhas gerais um fim em economia, em política e em moral.

É uma ideia coletiva, pois para ela trabalharam muitos, direi mesmo multidões, e não resultou do cérebro genial de um só. Bakunin, Reclus, Malatesta, Kropotkin, Grave, disseram muito, mas nenhum deles disse tudo.

A ideia anarquista emana das obras diversas e múltiplas dos seus pensadores, da ação multiforme dos seus militantes, do movimento libertário e revolucionário internacional, aqui prevalentemente teórico, ali prático, em alguns ambientes mais intelectual, noutros de índole mais mais operária, suscitando heroísmos tão sublimes quanto obscuros e erros enormes (errare humano est), movendo ora uma coletividade, ora um só, com tons e acentos diversos — mas sempre em toda parte, nas linhas gerais, com a mesma característica em economia, política e moral.

O livro dos anarquistas ainda não foi escrito, e provavelmente nunca o será verdadeiramente, justamente pela vastidão e complexidade da ideia, a qual se manifesta em mil formas esquivas; mas se esse livro estivesse escrito, ele nunca poderia ser o Único de Stirner.

A teoria stirneriana no fundo é reacionária; há nela rebeldia, mas é mais rebeldia contra o povo do que contra o tirano, mais contra os direitos das multidões do que contra o privilégio de um só, e, embora combata o privilégio, não é para o abolir, mas mais para o substituir por outros privilégios e outros privilegiados. Pelo menos é esta, em última análise, a consequência lógica a que se chega a partir das premissas individualistas, queiram ou não aqueles que tais premissas colocaram.(**)

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A anarquia é, ao invés, a negação de todas as arquias (é Diotallevi quem italianiza esta palavra grega) para todos, tanto do ponto de vista de muitos como de um só, do indivíduo como do povo. É a abolição da autoridade em todas as suas manifestações coercivas e violentas, do governo sobre o súbdito, do senhor sobre o servo, do padre sobre o crente, e, mais abstratamente, da lei escrita sobre os associados que não a quiseram ou não a aprovam.

Mas abolir a autoridade no sentido da coação da vontade e das ações alheias, não significa abolir a sociedade, abolir a cooperação, abolir a solidariedade, abolir o amor, abolir, numa palavra, a vida.

Por isso os anarquistas não se limitam a negar cada um a autoridade de que é vítima ele próprio, mas querem todos juntos garantir uns aos outros o exercício da máxima liberdade possível, e isto com um pacto recíproco de apoio mútuo, sem leis e sem carabineiros, amanhã contra as eventuais prepotências de um só, de poucos ou de muitos — hoje na luta contra as oligarquias, imperantes por meio da supina ignorância da maioria.

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A filosofia da história, a ciência, o estudo das instituições sociais, demonstraram-lhes onde está o mal, e por isso combatem a autoridade nas suas mais variadas formas. Combatem a instituição da propriedade individual e do monopólio capitalista porque é uma autoridade (a mais nociva de todas para a maioria dos homens, a meu ver), combatem a instituição governativa, absoluta ou democrática, combatem as religiões, os preconceitos morais, etc., etc.; mas como demolir não basta, e é necessário neste mundo viver de pão e não só de filosofia, e não é possível a vida de nenhum homem isolado num mundo à parte, assim os anarquistas pensaram no modo de viver em sociedade, também após eliminadas todas as arquias, todas as prepotências autoritárias.

E estudando perceberam que existe uma sociedade não porque existe a autoridade, mas apesar desta; e que uma sociedade verdadeira — a societas leal entre iguais — ainda não existe porque a liberdade e a igualdade existem só de nome, e falta o facto. Por isso não combatem, como fazem os individualistas, a sociedade, mas procuram o equilíbrio entre esta e o indivíduo.

Sociedade verdadeira não existirá enquanto no seu seio o indivíduo não for autónomo, e a autonomia do indivíduo na sociedade só será possível quando esta for coordenada segundo o princípio vital sem o qual o mundo humano seria extinto e que nenhuma prepotência jamais pôde durante os séculos sofocar, o princípio de solidariedade; lei natural como a da gravitação universal, de que nem um só átomo se poderia subtrair sem fazer o universo entrar no caos lendário.


Notas de rodapé:

(*) A revista conta com a colaboração de um amigo meu que quer fazer derivar de Stirner os seus próprios conceitos; eu peço-lhe para não ver nas minhas palavras uma ofensa às suas ideias, que, de resto, são um pouco diferentes daquelas que eu critico, não separando a ideia da liberdade individual daquela da solidariedade. Eu falo de toda uma tendência no movimento anarquista que tem erros e defeitos não certamente imputáveis a cada um, que pode ter as suas ideias especiais e pode por conta sua evitar esses erros e defeitos. Além disso eu falo dos individualistas que estão na órbida do movimento anarquista, e não daqueles que cultivam o seu individualismo só no campo artístico, onde o individualismo não só é lógico mas representa um real progresso e uma simpática originalidade. L.F. (retornar ao texto)

(1) Digo individualistas stirnerianos, mas incluo aqui também aqueles que se dizem seguidores de Nietszche e de outros autores menores da mesma escola. L.F. (retornar ao texto)

(2) M. STIRNER: L’Unico, com introdução de E. Zoccoli, — Fratelli Bocca, ed. Torino L. S. (retornar ao texto)

(3) J. H. MACKAY: Anarchistes, moeurs du jour. — Tresse e Stok. ed., Paris. (retornar ao texto)

(4) Paul Ghio enviou-me nestes últimos dias um livro seu editado por Colin sobre o Anarquismo nos Estados Unidos, no qual, falando do anarquismo individualista stirneriano de B. R. Tucker e resumindo amplamente as suas teorias, confirma o meu julgamento sobre elas como contrárias ao conceito revolucionário dos anarquistas comunistas, e favoráveis à manutenção da propriedade individual. (retornar ao texto)

(5) Eu admiti o individualismo como possível no campo intelectual, mas agora apercebo-me de que também aqui há que ter as devidas reservas. Que individualista stirneriano poderia escapar, no seu trabalho, da cooperação de tantos outros intelectuais? Quem deles poderia afirmar que a sua ideia mais peregrina seja exatamente devida a si, e não determinada pelo trabalho intelectual de toda uma série de predecessores? Assim, seja embora retrospetivamente, ele é mais uma vez apanhado pela sociedade, que o tem ligado a si. Mesmo Max Stirner não fez outra coisa senão tirar consequências em forma paradoxal de premissas colocadas antes dele por outros pensadores; e nele é mais original a forma do que o pensamento. (retornar ao texto)

(**) Ocupando-se dos meus dois artigos precedentes, para os refutar, Giovanni Diotallevi na Patria de 3 de dezembro confirma esta minha ideia sobre o significado reacionário que os stirnerianos, muitos deles pelo menos, dão à palavra anarquia: «Para mim — diz ele — é mais legitimamente anarquista um gordo burguês, o qual aspira por si prório a uma lei de privilégio e explora o suor dos outros, do que um socialista libertário que quereria ver abolidos os carabineiros e até certo ponto (totalmente, e não até certo ponto, L. F.) o código civil, mas pensa em repartir o pão com os seus irmãos.» (retornar ao texto)

Inclusão: 25/02/2021