(DATAVIDA): pseudônimo A. Wolski (A. Vol'ski). Nasceu em Busk, uma pequena cidade de cerca de dois mil habitantes, situada perto de Kielce na “parte russa da Polônia”. Filho de um escriturário indigente, que morreu quando Machajski era criança, deixando uma grande e destituída família. Iniciou sua carreira revolucionária em 1888 nos círculos estudantis da Universidade de Varsóvia, onde ele havia se inscrito em cursos de ciências naturais e medicina. Dois ou três anos depois, enquanto estava frequentando a Universidade de Zurique, ele abandonou a sua primeira filosofia política (uma mistura de socialismo e nacionalismo polonês) e aderiu ao internacionalismo de Marx e Engels. Machajski foi preso em maio de 1892, devido à posse de panfletos revolucionários que levaria da Suíça para a cidade industrial de Lodz, a qual estava à beira de uma greve geral. Em 1903, após uma dúzia de anos na prisão e no exílio na Sibéria, ele escapou para a Europa ocidental, onde permaneceu até estourar a revolução de 1905.
Durante o longo tempo de banimento em que permaneceu no assentamento de Vilyuisk na Sibéria (província de Yakutsk), Machajski fez um estudo intensivo da literatura socialista e chegou à conclusão de que os Social-Democratas não representam os interesses dos trabalhadores manuais, mas de uma nova classe de “trabalhadores mentais”, engendrada pelo surgimento do industrialismo. O marxismo, ele afirmou em sua obra principal — “Umstvennyy rabochiy” [Umstvennyy rabochiy traduz-se ao pé da letra como “trabalho mental” mas a coletânea Marxismo heterodoxo, em sua nota biográfica sobre Machajski, traduz o título como “Trabalhador intelectual”.] —, refletia os interesses desta nova classe, que esperava subir ao poder sobre os ombros dos trabalhadores manuais. Em uma sociedade dita “socialista”, declarou, “os capitalistas do setor privado serão meramente substituídos por uma nova aristocracia de administradores, especialistas técnicos e políticos; os trabalhadores manuais serão escravizados por uma nova minoria dominante cujo capital, por assim dizer, será a educação”.
No desenvolvimento de suas sua teorias antimarxistas, Machajski foi fortemente influenciado por Mikhail Bakunin e pelos economistas da década de 1890. Uma geração antes de sua obra “Umstvennyy rabochiy”, Bakunin havia denunciado Marx e seus seguidores, identificando-os como intelectuais limitados que, vivendo em um mundo irreal de livros mofados e jornais grosseiros, não entendiam nada de sofrimento humano.
Os argumentos antipolíticos e anti-intelectualistas de Bakunin e dos “economistas” causaram uma impressão permanente em Machajski. Enquanto estava na Sibéria, ele chegou à conclusão que a intelligentsia radical não procurava alcançar uma sociedade sem classes, mas meramente se estabelecer no estrato privilegiado. Não é à toa que o marxismo, ao invés de clamar por uma revolta imediata contra o sistema capitalista, adia o seu colapso para o futuro, quando as condições econômicas estiverem suficientemente maduras. Com um desenvolvimento maior do capitalismo e a sua tecnologia cada vez mais avançada, os “trabalhadores mentais” aumentarão e se fortalecerão o suficiente para estabelecer o seu próprio domínio. Mesmo que a nova tecnocracia venha a abolir a propriedade privada dos meios de produção, Machajski afirmou, a ”intelligentsia profissional“ irá manter a sua posição de controle se apoderando da administração da produção e pela formação de um monopólio sobre o conhecimento especial necessário para operar uma economia industrial complexa. Os gerentes, engenheiros e titulares de cargos políticos irão usar a ideologia marxista como um novo ópio religioso para obscurecer as mentes das massas trabalhadoras, perpetuando-as na ignorância e na servidão.
Machajski suspeitava que seus competidores da esquerda procuravam estabelecer uma ordem social na qual os intelectuais seriam a classe dominante. Ele acusou até mesmo os anarquistas do grupo Khleb i Volya de Kropotkin de advogarem uma concepção gradualista da revolução muito similar à dos Social-Democratas, pois estes esperavam que a revolução vindoura na Rússia não fosse além da Revolução francesa de 1798 ou 1848. Na comuna anarquista idealizada por Kropotkin, Machajski argumentou, “apenas os possuidores de civilização e conhecimento serão livres. A revolução social dos anarquistas, ele insistiu, não seria realmente um levante dos trabalhadores, mas seria de fato uma revolução voltada para os “interesses dos intelectuais”. Os anarquistas seriam “os mesmos socialistas que todos os outros, apenas mais dedicados”.
O que deveria então ser feito para evitar esta nova forma de escravidão? Segundo Machajski, enquanto a desigualdade de renda persistir e os meios de produção continuarem sendo a propriedade privada de uma minoria capitalista, e enquanto o conhecimento científico e técnico continuar sendo “propriedade” de uma minoria intelectualizada, as multidões vão continuar trabalhando para poucos privilegiados. A solução de Machajski pressupunha um papel fundamental para uma organização secreta de revolucionários chamada Raboch Zagovor (A Conspiração dos Trabalhadores), similar à “sociedade secreta” de conspiradores revolucionários preconizada por Bakunin. Presumidamente, o próprio Machajski seria o líder desta. A missão da “Conspiração dos trabalhadores” seria estimular os trabalhadores a realizarem ações diretas, greves, manifestações e atividades do tipo contra os capitalistas com o objetivo imediato de obter melhorias econômicas e trabalho para os desempregados. A “ação direta” dos trabalhadores deveria culminar em uma greve geral que, por sua vez, levaria à ebulição de um levante internacional, inaugurando uma nova era marcada pela igualdade de renda e oportunidades educacionais. No fim, as perniciosas distinções entre trabalho manual e mental seriam obliteradas, junto com todas as divisões de classe.
Ecos similares dos escritos de Machajski se encontram nos numerosos panfletos e artigos anarquistas, maximalistas e outras seitas de extrema-esquerda. Porém com a severa repressão de Stolypin nos anos que se seguiram à Revolução de 1905, esses ecos rapidamente esvaeceram e os homens que os produziram desapareceram nas prisões e no exílio. O próprio Machajski, que havia retornado à Rússia em 1905, foi compelido a ir embora novamente dois anos depois.
Quando Machajski retornou à Rússia em 1917, ele não se esforçou para canalizar estes sentimentos em um movimento coerente. Seus dias de auge haviam passado com a Revolução de 1905, e agora ele estava prematuramente velho e cansado. Após a Revolução de Outubro, ele obteve um trabalho não-político com o governo Soviético, servindo como editor técnico da publicação Narodnoye Khozyaistvo (depois renomeada para Sotsialisticheskoye Khozyaistvo), o órgão do Supremo Conselho Econômico. Ele continuou, contudo, extremamente crítico do marxismo e seus adeptos. No verão de 1918, ele publicou uma única edição de um jornal chamado Rabochaya revolyutsiya, no qual ele criticou os bolcheviques por não terem ordenado a total expropriação da burguesia e por não terem melhorado a situação econômica da classe trabalhadora. Após a Revolução de Fevereiro, escreveu Machajski, os trabalhadores receberam um aumento salarial e uma jornada de 8 horas, mas após Outubro, suas condições materiais não foram melhoradas “nem um pouco”. A insurreição bolchevique, ele afirmou, foi nada além que “uma contrarrevolução dos intelectuais”. O poder político foi tomado pelos discípulos de Marx: “a pequena burguesia e a intelligentsia… os possuidores do conhecimento necessário para a organização e administração de toda a vida no país”. E os marxistas, de acordo com o gospel religioso do determinismo econômico de seu profeta, escolheram preservar a ordem burguesa, limitando-se apenas à “preparar” os trabalhadores manuais para o paraíso futuro. Machajski sugeria à classe trabalhadora pressionar o governo Soviético, a expropriar as suas fábricas, equalizar os rendimentos e oportunidade educacional, e providenciar trabalho para os desempregados. Ainda que desapontado com o novo regime, Machajski o aceitou de má vontade, pelo menos por enquanto. Qualquer tentativa de derrubar o governo, ele disse, beneficiaria apenas os brancos (tsaristas), que eram um mal maior do que os bolcheviques. Machajski permaneceu trabalhando em seu posto editorial até a sua morte por ataque cardíaco em fevereiro de 1926, com a idade de 60 anos.