(1935-1994): Filósofa, antropóloga, professora, escritora, intelectual, militante do movimento negro e feminista. Filha de uma empregada doméstica de origem indígena e de um homem negro, ferroviário, pertencente a uma extensa família operária, Lélia migra de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro em 1942, onde se forma em história e filosofia, tornando-se professora na rede básica de ensino e no ensino médio, lecionando em escolas públicas e privadas. Realiza mestrado em comunicação social e doutorado em antropologia, tornando-se professora e pesquisadora na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, entre 1978 e 1994. Sua obra enfatiza o protagonismo negro, particularmente das mulheres negras, na formação social-cultural do país. Desenvolveu intensa atuação política contra o racismo e o sexismo. As discussões que propôs sobre questões identitárias e sobre relações de raça e gênero no Brasil repercutem em diversos campos do conhecimento, encontrando forte eco nos estudos culturais e na antropologia. Atuou como desencadeadora das mais importantes propostas de atuação do Movimento Negro Brasileiro. Participou da criação do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU), em nível nacional, do Nzinga Coletivo de Mulheres Negras-RJ, do Olodum-BA, dentre outros. Lélia foi, sem dúvida, responsável pela introdução do debate sobre o racismo nas universidades brasileiras, além de ter entoado a palavra negra brasileira nos mais importantes fóruns internacionais de luta contra o racismo. Tornou-se referência, não só da luta negra como também da luta feminista no Brasil e no exterior. Com fundamentação e determinação, Lélia Gonzalez sabia, como ninguém, conjugar filósofos, sociólogos, antropólogos, psicanalistas, integrando o pensamento de Malcolm X, Frantz Fanon, Steeve Biko, Nelson Mandela e muitos outros, em suas reflexões, palestras, conferências nacionais e internacionais. Com voz firme e forte, falando em bom “pretoguês” (como fazia questão de afirmar), em inglês, francês e espanhol, quando necessário, Lélia conduzia seus ouvintes a uma viagem através dos antigos Impérios egípcios, gregos, romanos, passando pela cosmopolita Nova York e, muitas vezes, terminando na favela da Rocinha ou da Mangueira. Fazia isso no sentido de demonstrar uma articulação universal do próprio ser humano, ao mesmo tempo que identificava e ressaltava a grandiosidade do povo negro.