(1938-2017): Nasceu na cidade de Holguín, Cuba. Estudou na Escola Normal com o sonho de ser professora. Entretanto, logo se torna uma dedicada militante do movimento estudantil no combate à sanguinária ditadura militar de Fulgêncio Batista. Por sua abnegada dedicação e ativa participação nas passeatas, o Movimento 26 de Julho (M-26-7) decide recrutá-la.
Em abril de 1957, realiza seu novo e maior sonho: tornar-se guerrilheira de resistência ao fascismo e da luta por uma Cuba democrática, soberana e socialista. Foi desta maneira que ela compreendeu o significado do convite para ingressar na organização política clandestina fundada por Fidel Castro, Abel Santamaría e Raúl Castro, cujo nome homenageava a histórica ação do assalto ao Quartel Moncada, realizada em 1953, na cidade de Santiago de Cuba. Este partido foi capaz de levar a revolução popular cubana à vitória em 1° de janeiro de 1959 e de reconstruir, em 1965, o Partido Comunista de Cuba, fundado por Julio Antonio Mella, em 1925.
Já como integrante da sua célula, onde todos passam a ter outro nome para dificultar o trabalho da repressão, adota o nome de “Carmencita”, como seu nome de guerra. Pela confiança e segurança demonstradas na organização, é convocada a participar de várias ações revolucionárias clandestinas.
Merceditas, jovem, inteligente, filha de uma tradicional família de Holguín, com apenas 19 anos, troca o seu curso, seu projeto pessoal para cumprir um arriscado papel de ser militante clandestina da causa da libertação do seu povo. Por sua firmeza ideológica, sua fé na revolução, mereceu ser designada para uma ousada tarefa: a preparação de uma ação militar, cujo objetivo era cumprir o justiçamento do principal chefe da repressão, responsável pelos sequestros, torturas e assassinatos dos revolucionários desta província, o coronel Fermín Cowley Gallegos, comandante do Regimento local. Coube a ela descobrir toda a rotina, os hábitos e os locais frequentados pelo carrasco para repassar as informações a um pequeno destacamento armado do partido, encarregado de impedir a continuidade dos assassinatos em série e a eliminação dos oposicionistas de Batista, especialmente os comunistas. Aquela audaciosa ação só se tornou completamente exitosa na 19° saída do destacamento, em 23 de novembro de 1957.
Enquanto isso, o M-26-7, para protege-la da reação, transferiu-a para as montanhas da Sierra Maestra, em dezembro de 1957, quando foi indicada para ingressar na Coluna 4 do Exército Rebelde, sob a orientação do comandante Che Guevara. Em março de 1958, é deslocada para compor uma nova coluna sob o comando de Juan Almeida Bosque, que recebeu o grau de comandante e a missão de fundar a terceira Frente Oriental Mário Munhóz Monroy ao leste do Pico Turquino.
Logo após o triunfo da Revolução, foi bacharelar-se em História na Universidade da Amizade com os Povos Patrice Lumumba, em Moscou, na ex-URSS, de 1960 a 1966, tornando-se especialista em História do Movimento Operário e Comunista de Cuba, com trabalhos reconhecidos e um livro publicado, La influencia de la Revolucion de Octubre em Cuba. Escreveu ainda La historia del movimento obrero de las minas de Matahambre, editado em 1970.
Na qualidade de pesquisadora, trabalhou de 1966 a 1972 no Arquivo Nacional de Cuba e, de 1973 a 1977, no Instituto de História Geral da Academia de Ciências da URSS, em Moscou. De 1977 a 1983, desempenhou um cargo no Departamento de Educação Superior da Embaixada de Cuba em Moscou. De 1985 a 1989, atuou no Instituto de Desenvolvimento do Ministério da Saúde Pública de Cuba, onde realizou estudos e pesquisas sobre a saúde pública cubana no século 19.
Em 1968, a convite do Centro Cultural Manoel Lisboa, veio ao Brasil, acompanhado do seu esposo, o escritor Enrique Cirules, falecido no dia 18 de dezembro de 2016 (ver A verdade n°191), para o lançamento de sua obra de memórias da guerrilha: Che em Sierra Maestra – Depoimento inédito de uma guerrilheira, sendo o primeiro lançamento das Edições Manoel Lisboa.
Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se a pesquisar, estudar e a escrever sobre a história dos combatentes voluntários de Cuba e dos demais países do nosso continente nas Brigadas da Guerra Civil Espanhola contra o fascismo, de 1936 a 1939. Para realizar este trabalho, com rigor científico, deslocou-se para Moscou por cerca de dois anos, para pesquisar nos arquivos da Guerra Civil Espanhola, em Salamanca e Madri. Destas pesquisas e estudos, resultou uma das obras mais completas acerca deste episódio, obra que, além de trazer novos fatos nos ajuda a compreender o atual momento histórico, marcado pelas guerras e o fascismo, ideologia inseparável da burguesia e de seus governos imperialistas. Uma das revelações do livro é a de que partiu de Cuba a maior quantidade de brigadistas (mais de mil), entre todos os países do nosso hemisfério, para defender a República e barrar o fascismo na Espanha.
A obra já se encontrava com os editores quando Merceditas veio a falecer no amanhecer do dia 3 de maio. Merceditas trabalhou com um esforço gigantesco para finalizar esta obra antes de morrer, pois, ao mesmo tempo, lutava tenazmente contra um tumor canceroso que lhe roubava as forças a cada dia, apesar do imenso esforço dos melhores oncologistas de Cuba. Seu sepultamento e deu no Panteão das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, com a presença do presidente de Cuba, Raúl Castro, seus companheiros, familiares, amigos e de sua filha Alexandra Ramona.
Merceditas foi uma mulher autenticamente revolucionária. Ela pertence àquele raro tipo de pessoas que nunca morrem; e estará presente nas lutas do valente povo de Cuba e do proletariado consciente do Brasil.
Merceditas foi militante do Movimento 26 de Julho, do Partido Comunista de Cuba, diretora da Federação das Mulheres Cubanas, pertencia ao Comitê de Defesa da Revolução, Brigada de Produção e Defesa, Associação dos Combatentes de Sierra Maestra. Recebeu em vida as medalhas de Combatente da Luta Clandestina, de combatente da Guerra de Libertação e medalhas pelas décadas de aniversário das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba.
Fonte: Jornal A Verdade