(1923-2003): Entre os historiadores marxistas, o mais citado e menos reconhecido pela Academia talvez seja Edgard Carone.
Sua origem não lhe denunciava a adesão ao comunismo. Carone nasceu em 14 de setembro de 1923 na cidade de São Paulo. Cresceu na Rua Florêncio de Abreu. Naquelas imediações, sua família de origem libanesa mantinha comércio.
Nos anos de 1940, como vários de sua geração, recebeu influência da vitória da União Soviética contra a vertente militarista do fascismo, assistiu ao ressurgimento do Partido Comunista do Brasil (PCB), à organização dos intelectuais junto ao Congresso Brasileiro de Escritores e ao desenvolvimento da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), onde estudou História e Geografia.
Reprovado em Tupi, Carone abandonou o curso, assumiu a fazenda Bela Aliança em Bofete e, depois, estabeleceu-se em Botucatu. Nos anos de 1960 concluiu o curso e iniciou carreira docente na Fundação Getúlio Vargas, Unesp e, finalmente, na sua própria universidade, a USP, onde foi professor titular de História do Brasil.
Historiador dedicado ao período republicano, ao movimento operário e à história do marxismo no Brasil, Carone era marcado principalmente pela recusa de participação em falsos debates acadêmicos. Expunha seu trabalho através dos livros e não comentava os ataques velados que começaram a surgir depois de 1980, quando nova vertente historiográfica procurou outras abordagens do movimento operário.
Sua obra é essencialmente narrativa. Ele primeiro coletava e publicava os documentos, narrava a evolução política e analisava as classes sociais, sua posição econômica e as ideologias. O estilo era seco, direto, sem rodeios até surpreender o leitor com uma frase dura que sintetizava a condição trágica de nossa história. Seu método foi apreendido em obras anteriores ao marxismo ocidental e na convivência com seus amigos Caio Prado Junior, Aziz Simão e Antonio Candido. Assim, o método só se desvenda dentro da própria narrativa. Carone era avesso a introduções teóricas.
Ele foi acima de tudo bibliófilo de esquerda e, com Astrojildo Pereira, um dos primeiros historiadores das edições socialistas e comunistas. Manteve coleção de mais de 30 mil volumes sobre o movimento operário num apartamento na Vila Romana em São Paulo. Não gostava de emprestar livros e nem que algum visitante lhes tocasse muito. Por vezes, dava livros sem anúncios ou esperar agradecimento. Dava e pronto.
Edgard Carone faleceu em São Paulo, em 31 de Janeiro de 2003. O corpo, velado no Cemitério do Araçá e sepultado na Consolação, recebeu a homenagem do Núcleo de Estudos de O Capital – PT / SP, do PC do B e de seus familiares e amigos. A Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas deu seu nome a uma de suas salas de aula.
Ele nunca foi filiado ao Partido Comunista. Seu irmão, Maxim Tolstoi Carone liderou a juventude comunista nos anos de 1930. Mas aceitava as missões “intelectuais” que os comunistas solicitavam. Numa ocasião, participou de um debate sobre o Primeiro de Maio juntamente com Paula Beiguelman. Ambos deram verdadeiras aulas de história para os “alunos” apinhados no Sindicato dos Condutores, à Rua Pirapitingui. Terminada a conversa, foi Carone embora com suas sacolas na direção dos sebos da Praça da Sé.