No inverno de 1926, diante das sucessivas vitórias da Expedição ao Norte e do vigoroso avanço dos movimentos de massa dos operários e camponeses, as forças direitistas do Kuomintang intensificaram suas atividades contrarrevolucionárias, fomentando uma corrente de oposição tanto à cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista quanto ao movimento operário-camponês. Aterrorizados por essa corrente reacionária, os oportunistas de direita no Partido Comunista, com Chen Duxiu como expoente, em vez de sustentarem a hegemonia proletária, começaram a ceder e a fazer concessões aos direitistas do Kuomintang. Foram nessas circunstâncias que o autor escreveu este artigo, publicado na 37ª edição do Semanário Popular, órgão do Comitê Regional de Guangdong e Guangxi do PCCh.
I
Visto que permanecemos firmes na convicção de que a atual luta política tem um único objetivo — derrubar as forças semifeudais(1) e instaurar a democracia —, alguns se perguntam por que é necessária a existência de um Partido Comunista que opere à margem do Kuomintang(2), considerando a ausência de diferenças entre ambos no trabalho revolucionário atual. Argumentam que, enquanto o Partido Comunista existir e atuar, confrontos e rupturas entre as duas forças serão inevitáveis.
Sobre essa questão, já oferecemos inúmeras explicações, tanto orais quanto escritas, ao longo dos últimos três anos. No entanto, para melhor conduzir a presente luta política e fortalecer ainda mais a unidade e o entendimento mútuo entre os revolucionários, faz-se necessário apresentar a seguinte resposta:
1) A revolução nacional representa a saída comum para todas as classes oprimidas do país. Contudo, no desenrolar desse processo, cada classe tem seus próprios objetivos e, especialmente na construção da democracia, cada uma persegue interesses distintos. Dado que os interesses de classe variam, a classe operária e o campesinato, sendo as mais oprimidas, necessitam naturalmente do Partido Comunista, que atua exclusivamente em favor de seus interesses, para servir à sua causa e ser sua vanguarda. O fato de o Partido Comunista lutar pela classe operária e pelo campesinato, conduzindo-os no caminho da revolução nacional, não impede, de forma alguma, que o Kuomintang lidere as diversas classes em seus esforços para concretizar essa revolução. Pelo contrário, ambos os partidos se beneficiarão ao se complementarem e se apoiarem mutuamente no trabalho prático.
2) Embora a revolução nacional seja um objetivo comum de todas as classes oprimidas, o proletariado é a força revolucionária mais resoluta na luta prolongada, ao passo que a burguesia nacional(3) tende a fazer concessões e a pequena burguesia frequentemente vacila. A libertação nacional e o estabelecimento da democracia, que constituem os verdadeiros objetivos da revolução nacional, só poderão ser alcançados se o proletariado, junto ao campesinato e aos artesãos, impulsionar a pequena burguesia e a burguesia nacional a uma luta intransigente contra nossos inimigos. Por essa razão, o Partido Comunista, que representa os interesses dos operários e camponeses, dedica-se exclusivamente a liderar suas forças revolucionárias na promoção da causa da revolução nacional, protegendo-as das influências nocivas da tendência conciliatória das demais classes. Longe de representar um risco de conflitos ou divisão, essa atuação só pode beneficiar o Kuomintang, encarregado da liderança da revolução nacional, aprimorando seu caráter revolucionário. Pois, se houvesse conflitos, estes ocorreriam entre as massas revolucionárias de operários e camponeses e os setores da burguesia inclinados à conciliação com o inimigo imperialista; se houvesse uma cisão, dar-se-ia entre uma aliança da ala esquerda do Kuomintang e os comunistas, de um lado, e a ala direita que estava abandonando a revolução, de outro. Sendo uma força revolucionária que ocupa a posição de liderança na revolução nacional, o Kuomintang não tem motivo para temer tais conflitos e rupturas. Além disso, os fatos demonstram que, desde o Movimento de 30 de Maio(4), as massas revolucionárias de operários e camponeses, sobretudo o proletariado, mantiveram-se firmes em sua posição anti-imperialista, recorreram às greves como tática e enfrentaram repetidamente os setores da burguesia que buscavam fazer concessões aos imperialistas britânicos. Logo após o assassinato de Liao Zhongkai(5), a ala esquerda do Kuomintang e os comunistas, unidos estreitamente, combateram tanto os envolvidos no assassinato quanto aqueles que se opunham ao Partido Comunista, à Rússia e ao movimento operário-camponês. Como resultado, muitos dos que haviam abandonado a revolução foram expurgados das fileiras revolucionárias. Tudo isso, longe de prejudicar a revolução nacional ou o próprio Kuomintang, fortaleceu ainda mais a unidade das forças revolucionárias e possibilitou os avanços que hoje testemunhamos na revolução nacional.
II
Diante dessas explicações, ainda se faz necessário expressar nossa posição de forma mais concreta.
1) Ao liderar as massas de operários e camponeses na revolução nacional, os comunistas têm como objetivo derrubar o imperialismo estrangeiro e as forças semifeudais na China, limitando suas exigências ao escopo da democracia. No entanto, quando os capitalistas sufocam as justas demandas dos trabalhadores por melhores condições de vida, ou quando os latifundiários se aliam às demais forças retrógradas para reprimir o movimento de emancipação camponesa, o Partido Comunista deve permanecer ao lado das massas operárias e camponesas e lutar até o fim para emancipá-las de sua condição miserável. Ao lutar pela democracia, os comunistas se posicionam ao lado dos operários e camponeses e, naturalmente, atribuem maior urgência às suas lutas e demandas do que outros grupos. Isso, longe de extrapolar os limites da revolução nacional, na verdade, contribui para impulsioná-la.
2) Temos plena consciência de que nossa revolução nacional visa exclusivamente à libertação da China contemporânea; ao mesmo tempo, reconhecemos que ela faz parte da revolução mundial. Assim, embora consideremos o Kuomintang revolucionário a força dirigente da revolução nacional e saibamos que os comunistas chineses devem integrá-lo para levar adiante a luta comum, isso não significa que o Partido Comunista tenha perdido sua independência ou deva abdicar de seus próprios postulados. A política do Kuomintang de aliança com os comunistas e a adesão dos comunistas às suas fileiras demonstram, na prática, a estreita relação entre ambos os partidos e a posição de liderança do Kuomintang. Norteado por esse princípio, o Partido Comunista, além de auxiliar e apoiar o Kuomintang e o Governo Nacional, deve formular reivindicações políticas e econômicas em nome da classe operária e do campesinato, dentro da estrutura democrática, e instar o governo do Kuomintang a satisfazê-las progressivamente.
3) Nossa maior aspiração era que o Kuomintang se tornasse um partido revolucionário unificado, sem divisões entre esquerda e direita; contudo, a realidade não correspondeu inteiramente ao que desejávamos. Sendo a revolução nacional fruto de uma aliança entre diferentes classes, é natural que suas distinções, ao se refletirem no Kuomintang, deem margem ao surgimento de distintas facções. É evidente que, até o momento, a ala direita tem se mostrado ativa na oposição ao Partido Comunista, à Rússia e aos operários e camponeses, aliando-se às forças reacionárias; por outro lado, a ala esquerda tem se dedicado resolutamente à revolução nacional e à consolidação da democracia, seguindo as Três Grandes Políticas revolucionárias: aliança com a Rússia, cooperação com o Partido Comunista e defesa dos interesses dos operários e camponeses. Diante dessas tendências divergentes, desde a reorganização do Kuomintang pelo Dr. Sun Yat-sen, os comunistas têm apoiado consistentemente a ala esquerda em sua luta ideológica e prática contra a ala direita. Ao mesmo tempo, sempre nutrimos a expectativa de que a ala direita compreendesse plenamente o significado da democracia e se inclinasse progressivamente para a esquerda, conduzindo todos os membros leais do Kuomintang a uma posição revolucionária. Essa tem sido nossa postura: jamais buscamos fragmentar o Kuomintang, tampouco deixamos de nos empenhar para que este se tornasse um partido plenamente revolucionário.
4) Pelas três razões expostas acima – os interesses dos operários e camponeses, os princípios que norteiam a luta política do Partido Comunista e a esperança depositada no Kuomintang –, não podemos deixar de manifestar abertamente nossas opiniões. Marx afirmou: “Os comunistas consideram indigno ocultar suas ideias e propósitos”(6). Assim, além de difundir nossa doutrina, devemos continuamente tornar públicas nossas posições políticas. No entanto, ao formular postulados e críticas sob o governo do Kuomintang, agimos com boas intenções, na expectativa de que sejam acolhidos, pois diferem radicalmente dos ataques hostis e da propaganda subversiva promovida por imperialistas, senhores da guerra e forças semifeudais. Caso os camaradas do Kuomintang confundam nossas críticas construtivas com as intrigas disseminadas pelos imperialistas e reacionários para semear a discórdia, ou se, ao denunciarmos abusos cometidos por alguns funcionários do governo e oficiais militares, assim como certas medidas equivocadas tomadas pelo governo do Kuomintang, formos acusados de querer difamar o partido como um todo e sabotar o Governo Nacional, incorrerão em julgamentos arbitrários e punirão os justos pelos erros dos pecadores. Nos últimos meses, por exemplo, houve vários casos de funcionários e oficiais que oprimiram operários e sabotaram o movimento camponês. Quando criticamos esses transgressores da lei e quando os operários e camponeses fizeram reivindicações, foi na esperança de que o governo do Kuomintang punisse os culpados, de modo a garantir que sua própria política em relação às massas fosse preservada. Mesmo no Semanário Nacional, dos camaradas da ala esquerda do Kuomintang, lê-se o seguinte: “Sob o governo do Kuomintang, não pode haver espaço para funcionários que não apoiam os movimentos camponeses e operários ou que não sabem como colocá-los a serviço da revolução. Nosso partido não deve, de forma alguma, abrigar membros que sabotem ou menosprezem esses movimentos. O governo de nosso partido deve submetê-los aos rigores de sua disciplina férrea.” “Ansiamos dia e noite para que o partido conquiste a confiança e o apoio das massas, mas, infelizmente, as medidas tomadas por esses governantes, em vez de aproximá-las, têm-nas afastado, que ultrajante!” “... Tememos que o partido perca o apoio popular ou, pior, seja destruído. Essa tem sido a angústia constante dos ‘defensores do partido’. As massas populares, à medida que adquirem consciência política, não podem ser forçadas a agir cegamente em nome da revolução; tampouco podemos agir com hipocrisia e iludi-las com promessas vazias. Não, as massas organizadas não podem ser tratadas dessa maneira. Se, no momento em que o partido mais necessita ser compreendido pelas massas, tais casos de sabotagem forem tolerados, não apenas perderemos esse apoio, mas figuras como Cheng Geng, o qual condenam, surgirão aos montes para organizá-las. Isso só prejudicaria nosso partido. Se sua solução for eliminar um a um todos os Cheng Geng que surgirem, como fará isso? Seria uma tarefa interminável. Esses são fatos reais e profundamente inquietantes”(7). Diante de críticas tão contundentes, como se pode alegar que as nossas sejam excessivas? Nos últimos três anos, incontáveis rumores, falsificações e distúrbios com os quais nada tivemos a ver foram atribuídos ao Partido Comunista. Estamos fartos disso. Os camaradas da ala esquerda do Kuomintang também têm sido alvo de inúmeras acusações infundadas. Mas por que se preocupar em refutá-las? Desde que os revolucionários do Kuomintang compreendam a base de nossas críticas e persistam em seus esforços, a revolução nacional, inevitavelmente, será vitoriosa.
Por fim, proclamemos em alta voz:
Revolucionários, uni-vos!
Classes oprimidas, uni-vos!