Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre

Fidel Castro

31 de Agosto de 2014


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo


capa

A sociedade mundial não conhece trégua nos últimos anos, particularmente desde que a Comunidade Económica Europeia, sob a ferrenha e incondicional direcção dos Estados Unidos, considerou que tinha cegado a hora de ajustar contas com aquilo que restava de duas grandes nações que, inspiradas nas ideias de Marx, tinham levado a cabo a proeza de pôr término à ordem colonial e imperialista imposta ao mundo por Europa e os Estados Unidos.

Na antiga Rússia estourou uma revolução que comoveu o mundo.

Esperava-se que a primeira grande revolução socialista aconteceria nos países mais industrializados da Europa, como Inglaterra, França, Alemanha e o Império Austro-húngaro. Não obstante, esta acontece una Rússia, cujo território se espalhava pela Ásia, desde o norte da Europa até ao sul de Alasca, que tinha sido também território czarista, vendido por uns dólares ao país que seria posteriormente o mais interessado em atacar e destruir a revolução e o país que a engendrou.  

A maior proeza do novo Estado foi a criação de uma União capaz de agrupar os seus recursos e partilhar a sua tecnologia com grande número de nações fracas e menos desenvolvidas, vítimas inevitáveis da exploração colonial. Seria ou não conveniente no mundo actual uma verdadeira sociedade de nações que respeitasse os direitos, crenças, cultura, tecnologias e recursos de lugares acessíveis do planeta que tantos seres humanos gostam de visitar e conhecer? E não seria muito mais justo que todas as pessoas que hoje, em fracções de segundo se comunicam de um extremo a outro do planeta, vejam nos outros um amigo ou um irmão e não um inimigo disposto a exterminá-lo com os meios que tem sido capaz de criar o conhecimento humano?

Por acreditar que os seres humanos poderiam ser capazes de albergar tais objectivos, penso que não há direito algum a destruir cidades, assassinar crianças, pulverizar moradias, plantar o terror, a FOME e a morte em todas partes. Em que canto do mundo poderiam ser justificados tais factos? Se lembrarmos que no final do massacre da última contenda mundial o planeta ficou iludido com a criação das Nações Unidas, é porque grande parte da humanidade a imaginou com tais perspectivas, embora não estivessem cabalmente definidos os seus objectivos. Um colossal engano é o que se constata hoje quando surgem problemas que insinuam o possível estalido de uma guerra com o emprego de armas que poderiam pôr término à existência humana.

Existem sujeitos sem escrúpulos, ao que parece não poucos, que consideram um mérito a sua disposição a morrer, mas sobretudo a matarem para defenderem privilégios vexatórios.

Muitas pessoas ficam espantadas ao escutar as declarações de alguns porta-vozes europeus da NATO quando se expressam com o estilo e o rosto das SS nazis. Por vezes até vestem com fatos obscuros em pleno verão.

Nós temos um adversário bastante poderoso como o é o nosso vizinho mais próximo: os Estados Unidos. Advertimos-lhe que resistiríamos o bloqueio, embora isso pudesse implicar um custo muito elevado para o nosso país. Não tem pior preço do que capitular FACE ao inimigo que sem razão nem direito te agride. Era o sentimento de um povo pequeno e isolado. O resto dos governos deste hemisfério, com raras excepções, se tinha somado ao poderoso e influente império. Não se tratava pela nossa parte de uma atitude pessoal, era o sentimento de uma pequena nação que desde inícios do século era uma propriedade não só política, mas também económica dos Estados Unidos. Espanha nos tinha cedido a esse país após ter sofrido quase cinco séculos de colonialismo e de um incalculável número de mortos e perdas materiais na luta pela independência.

O império se reservou o direito de intervir militarmente em Cuba em virtude de uma pérfida emenda constitucional que impôs a um Congresso impotente e incapaz de resistir. Para além de serem os donos de quase tudo em Cuba: abundantes terras, as maiores fábricas de açúcar, as minas, os bancos e até a prerrogativa de imprimir o nosso dinheiro, nos proibia produzir grãos alimentícios suficientes para alimentar a população.

Quando a URSS se desintegrou e desapareceu também o Campo Socialista, continuamos resistindo, e juntos, o Estado e o povo revolucionários, prosseguimos a nossa marcha independente.

Não desejo, contudo, dramatizar esta modesta história. Prefiro bem mais salientar que a política do império é tão dramaticamente ridícula que não tardará muito em passar à lixeira da história. O império de Adolfo Hitler, inspirado na cobiça, passou à história sem mais glória do que o alento fornecido aos governos burgueses e agressivos da NATO, que os converte no motivo de riso da Europa e do mundo, com o seu euro, que ao igual que o dólar, não tardará em se tornar papel molhado, chamado a depender do iuane e também dos rublos, perante a pujante economia chinesa estreitamente ligada ao enorme potencial económico e técnico da Rússia.

Uma coisa que se tem convertido em um símbolo da política imperial é o cinismo.

Como se sabe, John McCain foi o candidato republicano às eleições de 2008. A personagem saiu à luz pública quando na sua condição de piloto foi derrubado enquanto o seu avião bombardeava a populosa cidade de Hanoi. Um míssil vietnamita o atingiu em plena faina e nave e piloto caíram em um lago localizado nas redondezas da capital, contíguo à cidade.

Um antigo soldado vietnamita já retirado, que ganhava a vida trabalhando nas proximidades, ao ver cair o avião e um piloto ferido que tentava se salvar, movimentou-se para socorrê-lo; enquanto o velho soldado emprestava essa ajuda, um grupo da população de Hanoi, que sofria os ataques da aviação, corria para ajustar contas com aquele assassino. O próprio soldado persuadiu os vizinhos para que o não fizessem, visto que já era um prisioneiro e a sua vida devia ser respeitada. As próprias autoridades ianques se comunicaram com o Governo rogando que não se agisse contra esse piloto.

Além das normas do governo vietnamita de respeito aos prisioneiros, o piloto era filho de um Almirante da Armada dos Estados Unidos que tinha desempenhado um papel destacado na Segunda Guerra Mundial e estava ainda ocupando um importante cargo.

Os vietnamitas tinham capturado um peixe gordo naquele bombardeamento e como é lógico, pensando nas conversações inevitáveis de paz que deviam pôr término à guerra injusta que lhe tinham imposto desenvolveram a amizade com ele, que estava muito feliz de tirar todo o proveito possível daquela aventura. Isto, é claro, não mo contou vietnamita algum, nem o teria perguntado nunca. Li-o e se ajusta completamente a determinados detalhes que conheci mais tarde. Também li um dia que Mister McCain tinha escrito que sendo prisioneiro no Vietname, enquanto era torturado, escutou vozes em espanhol assessorando os torturadores o quê deveriam fazer e como fazê-lo. Eram vozes de cubanos, segundo McCain. Cuba nunca teve assessores no Vietname. Os seus militares conhecem bem demais como fazer a sua guerra.

O General Giap foi um dos chefes mais brilhantes da nossa época, que em Dien Bien Phu foi capaz de colocar os canhões por selvas intrincadas e abruptas, algo que os militares ianques e europeus consideravam impossível. Com esses canhões disparavam desde um ponto tão próximo que era impossível neutralizá-los sem que as bombas nucleares afectassem também os invasores. Os demais passos pertinentes, todos difíceis e complexos, foram empregues para impor às sitiadas forças europeias uma vergonhosa rendição.

O zorro McCain tirou todo o proveito possível das derrotas militares dos invasores ianques e europeus. Nixon não pôde persuadir o seu conselheiro de Segurança Nacional Henry Kissinger, de que aceitasse a ideia sugerida pelo próprio Presidente quando em momentos de relaxamento lhe dizia: por que não lhes atiramos uma dessas bombinhas Henry? A verdadeira bombinha chegou quando os homens do Presidente tentaram de espionar os seus adversários do partido oposto. Isso é que não podia ser tolerado!

Apesar disso, o mais cínico do Sr. McCain tem sido a sua actuação no Oriente Próximo. O senador McCain é o aliado mais incondicional de Israel nas maranhas do Mossad, algo que nem os piores adversários teriam sido capazes de imaginar. McCain participou junto desse serviço na criação do Estado Islâmico que se apoderou de uma parte considerável e vital do Iraque, assim como segundo se afirma, de um terço do território da Síria. Tal Estado já possui receitas multimilionárias, e ameaça Arábia Saudita e outros Estados dessa complexa região que fornece a parte mais importante do combustível mundial.

Não seria preferível lutar por produzir mais alimentos e produtos industriais, construir hospitais e escolas para os milhares de milhões de seres humanos que deles precisam desesperadamente, promover a arte e a cultura, lutar contra doenças maciças que conduzem à morte a mais da metade dos doentes, trabalhadores da saúde ou tecnologistas que segundo se enxerga, poderiam finalmente eliminar enfermidades como o câncer, o ébola, o paludismo, o dengue, a chicungunha, a diabete e outras que afectam as funções vitais dos seres humanos?

Se hoje resulta possível prolongar a vida, a saúde e o tempo útil das pessoas, se é perfeitamente possível planificar o desenvolvimento da população em virtude da produtividade crescente, a cultura e o desenvolvimento dos valores humanos, o quê esperam para o fazer?

Triunfarão as ideias justas ou triunfará o desastre.


logo
Inclusão: 11/01/2020