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Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático.
Tradução: Luana Bonone
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Há momentos na história que exigem um discurso, ainda que tão breve quanto "Alea jacta est", de Júlio César quando atravessou o Rubicão.
Teve que atravessá-lo nesse dia, justamente quando os ministros da defesa dos Estados soberanos do Hemisfério Ocidental estavam reunidos na cidade de Santa Cruz, onde os ianques têm encorajado o separatismo e a desintegração da Bolívia.
Era segunda-feira e as agências de notícias estavam dedicadas à divulgação e comentários sobre a reunião da Otan [Organização dos países do Tratado Atlântico Norte] em Lisboa, onde essa instituição belicosa, em linguagem arrogante e rude, proclamou seu direito de intervir em qualquer parte do mundo onde sentirem ameaçados os seus interesses.
Ignorava-se por completo o destino de milhares de milhões de pessoas, e as verdadeiras causas da pobreza e do sofrimento da maioria dos habitantes do planeta. O cinismo da Otan merecia uma resposta, e ela veio na voz de um índio aymara da Bolívia, no coração da América do Sul, onde uma civilização mais humana floresceu antes que a conquista, o colonialismo, o desenvolvimento capitalista e o imperialismo impusessem a lei da força bruta, com base no poder das armas e das tecnologias desenvolvidas.
Evo Morales, presidente do país, eleito pela grande maioria do seu povo, com argumentos, dados e realizações irrefutáveis, talvez até mesmo sem conhecer o infame documento da Otan, deu resposta à política que o governo dos EUA pratica historicamente com os povos da América Latina e no Caribe.
A política de poder, expressa através de guerras, crimes, violações da Constituição e das leis; envolvimento de oficiais das forças armadas em conspirações, golpes de Estado, crimes políticos que foram usados para derrubar governos progressistas e instalar regimes de força aos quais sistematicamente oferecem apoio político, militar e da mídia.
Nunca um discurso foi tão oportuno.
Usando muitas vezes as formas expressivas de sua língua aymara, disse verdades que passarão à história.
Tentarei sintetizar, utilizando suas próprias palavras e frases, o que ele disse:
"Obrigado".
"É uma grande satisfação em receber em Santa Cruz de la Sierra os ministros e ministras de Defesa da América, Santa Cruz, terra de Ignacio Warnes, Juan Manuel José Vaca, homens rebeldes de 1810, que lutaram e deram suas vidas pela independência da nossa querida Bolívia".
"Homens como Andrés Ibáñez, Atahuallpa Tumpa, irmão indígenas que durante a república lutaram pela sua autonomia e pela igualdade dos povos em nossa terra".
"Bem-vindos à Bolívia, terra de Tupac Katari, terra de Bartolina Sisa, de Simon Bolívar e de tantos homens que deram a sua luta por 200 anos pela independência da Bolívia e de muitos países na América".
"A América Latina vive [...] profundas transformações democráticas nos últimos anos, buscando a igualdade e a dignidade dos povos ...".
"... seguindo os passos de Antonio José de Sucre, Simón Bolívar, de vários líderes indígenas, mestiços, crioulos, que viveram há 200 anos".
"Há exatamente uma semana atrás, celebramos o bicentenário do Exército da Bolívia: em 14 novembro de 1810, índios, mestiços e criollos se organizaram militarmente para lutar contra a dominação espanhola ...".
"Nos últimos anos a América Latina retoma essa decisão de se libertar, como uma segunda libertação, não só social ou cultural, mas econômica e financeira, dos povos da América Latina".
"... esta IX Conferência de Ministros da Defesa debate gênero e multiculturalidade nas forças armadas, democracia, paz e segurança nas Américas, desastres naturais, assistência humanitária e o papel das forças armadas, um temário acertado, uma agenda bem colocada para discutir a esperança do povo, não apenas da América, mas do mundo ".
"Em 1985 [...] só tinham o direito de ser eleito ou eleger autoridades quem tinha dinheiro, quem tinha profissão e quem falava espanhol ou castelhano".
"Menos de 10 por cento da população da Bolívia poderia, portanto, participar sendo eleita ou elegendo autoridades, e mais de 90 por cento não tinham direito [...] tem havido diferentes processos [...] algumas reformas, mas no ano de 2009, pela primeira vez com a participação do povo boliviano, uma nova Constituição do Estado Plurinacional foi aprovada pelo povo boliviano".
"... Nesta nova Constituição, é claro, entram os setores mais marginalizados [...] que não tinham o direito de ser eleito ou eleger as autoridades do Estado da República da Bolívia".
"Tivemos que gastar mais de 180 anos para fazer mudanças profundas e incorporar esses setores historicamente marginalizados na Bolívia e, espero estar enganado, mas acho que é o único país, não só na América, mas o mundo, que tem 50 por cento de mulheres ministras e 50 por cento de homens."
"É claro que, além das regras, da Constituição [...] sinto que o mais importante é a decisão política de incorporar os setores mais abandonados; após a Constituição aprovada pelo povo boliviano em 2009, agora os mais marginalizados, os mais desprezados, os que eram considerados como animais, que era o movimento indígena, têm sua representação na Assembléia Legislativa Plurinacional, bem como nas assembléias departamentais".
"Algo importante, para os movimentos indígenas que não têm muita população foram criados distritos especiais para a presença de irmãos indígenas de regiões montanhosas, dos vales, do leste da Bolívia".
"Os distritos uninominais também permitem os irmãos indígenas terem sua representação na Assembléia Legislativa Plurinacional ...".
"Desta forma, permitimos que a presença destes irmãos indígenas que estavam abandonados, condenados ao extermínio".
"... Isso não havia antes ...".
"... Quando eu era muito jovem, como líder sindical, muitas vezes me opus às forças armadas e, quando chego à presidência, eu percebo que boa parte das forças armadas vêm das comunidades rurais do vale em especial ..."
"Quero dizer a vocês, queridos ministros, ministras, que nunca houve participação como agora. Anteriormente apenas a cor da pele determinava a hierarquia da sociedade, agora, um índio, agora o dirigente de um sindicato, um intelectual, um profissional, um líder empresarial, um militar, um general, democraticamente qualquer um pode ser presidente, antes não havia essa possibilidade, de mudar tanto a Bolívia e a nossa Constituição".
"Quando esta conferência debate apenas segurança, democracia e paz... rever a história, alterar a legislação, é muito emocionante para mim, é um prazer revisar não só por revisar, mas mudar a democracia na América Latina, a segurança, a paz, na América ou o mundo".
"Se falarmos da democracia na história da Bolívia, no passado havia apenas uma democracia pactuada, não havia nenhum partido que poderia ganhar com mais do que 50 por cento dos votos, como diz a Constituição do Estado Plurinacional ...".
"... Na Bolívia, até 2005, desde 1952, dos anos 50, só havia democracias pactuadas, os partidos venciam com 20 por cento, com 30 por cento ...".
"Um partido que ocupasse o terceiro lugar poderia ser presidente, a depender das alianças e da distribuição dos ministérios, este tipo de aliança era alinhada com o embaixador dos EUA. Nossas compatriotas irmãs, irmãos bolivianos, devem se lembrar, por exemplo de 2002, quando não houve um vencedor com mais de 50 por cento - o partido que obteve mais votos ganhou com 21 por cento - e lá estava o ex-embaixador dos EUA, Manuel Rocha, juntando, unindo os partidos neoliberais para que pudessem governar, e os governos não duraram, não agüentaram".
"Esse tipo de democracia, felizmente, graças à consciência do povo boliviano, superamos, não temos mais uma democracia pactuada, mas uma democracia legítima a partir sentimento povo boliviano, que acompanha um pensamento, um sentimento que vem do sofrimento dos povos expresso em um programa do governo".
"... Um programa de dignificação dos bolivianos, um programa que busca a igualdade dos bolivianos e bolivianas, um programa que recupera seus recursos naturais, um programa que permite que os serviços básicos sejam um direito humano...".
"... Quando alguns dos nossos adversários — como vocês, em cada país, têm a sua oposição — nos dizem um governo totalitário, um governo autoritário, um governo ditador, que culpa eu tenho se esse programa de governo proposto por um partido tem mais de dois terços em diferentes estruturas do Estado Plurinacional? Só não pude ganhar a prefeitura da cidade de Santa Cruz".
"Quanto ao nosso prefeito, o respeitamos. Nos ganharam, mas eu cumprimento o senhor prefeito pelas ações que ele fez na semana passada para combater o ágio, a especulação [...] Felicidades, meu respeito, senhor prefeito ...".
"E alguns dizem que temos pensamento único, não há pensamento único, só um programa trabalhado com diferentes setores sociais, encabeçados pelos movimentos sociais tradicionais e de trabalhadores consegue esse apoio para mudar a Bolívia".
"Mas o que nós enfrentamos no caminho, se falamos de democracia, foi conspiração, golpe de Estado, tentativa de golpe de Estado em 2008 [...], cujo coordenador foi o ex-embaixador dos EUA".
"Eu estava revendo algo da história [...]sobre o golpe de Estado de 1964, quando o presidente era o tenente-coronel Gualberto Villarroel, que disse, como presidente: ‘não sou inimigo dos ricos, mas eu sou mais amigo dos pobres’, o militar patriota foi o primeiro presidente que convocou um congresso indígena".
"Outro presidente, Germain Bush, disse que não chegou à presidência para servir aos capitalistas. Um militar".
"O primeiro presidente que nacionalizou os recursos naturais foi um outro oficial, David Toro. Eu estou falando de 1937 ou 38 [...] em 1946 ele foi atacado, ele foi assassinado no palácio".
"... a ofensiva concentrou-se no Palacio Quemado, que fica na mira da rua Illimani, da esquina Bolívar, da Rua do Comércio, da polícia, da parte de trás do edifício de La Salle e da construção Kersul, onde fica o consulado dos Estados Unidos".
"... o fogo vinha do edifício Kersul, do consulado dos EUA, contra o militar patriota que garantiu o primeiro congresso indígena... do consulado dos Estados Unidos, metralharam, atirando para acabar com a vida de um militar, há documentos que relatam".
"... A história se repete, eu tive que enfrentar um embaixador organizando, planejando acabar meu mandato anti-democraticamente, e eu sinto que isso se repete em todo o mundo".
"Mas um companheiro, um compatriota nosso, vítima de muitos golpes militares, me disse, ‘presidente Evo, cuidado com a embaixada dos Estados Unidos, houve golpes de Estado em toda a América Latina’, e me disse que só não há um golpe nos Estados Unidos porque não há embaixada dos Estados Unidos. Realmente chego a entender que a história não ouve a verdade dos golpes de Estado".
"... Nós, os países que enfrentamos tentativas de golpe em 2002 na Venezuela, em 2008 na Bolívia, em 2009 em Honduras e em 2010 no Equador, temos que reconhecer, compatriotas latino-americanos ou da América, que os Estados Unidos venceram em Honduras, que consolidaram o golpe, o império dos EUA ganhou, mas também o povo da América, na Venezuela, na Bolívia e no Equador, venceu. [...] O que será no futuro, nós veremos no futuro".
"... Esta avaliação interna deve ser uma discussão aprofundada dos ministros da Defesa para garantir a democracia [...] meus antepassados, meu povo, têm sido permanentemente vítimas de golpes de Estado, golpes sangrentos, não porque assim queriam os militares, as forças armadas, mas por decisões políticas internas e externas para acabar com os governos revolucionários, com os governos que partem do povo, assim é a história da América Latina".
"... Nós temos o direito de pautar como garantir a democracia em cada país, mas sem golpes ou tentativas de golpes".
"Queríamos que esta conferência de ministros e ministros da Defesa garantisse uma verdadeira democracia dos povos, respeitando as nossas diferenças de região para região, de segmento para segmento".
"Mas quando falamos de paz, eu pergunto como pode haver paz se há bases militares. E posso falar disso com algum conhecimento, porque eu tenho sido vítima de tais bases militares dos EUA, a pretexto de combater o tráfico de drogas".
"Quando eu era um soldado raso das Forças Armadas de 1978, os oficiais e suboficiais me ensinaram a defender a pátria, as Forças Armadas têm que defender a pátria, os militares não podem permitir que qualquer militar estrangeiro uniformizado e armado permaneça na Bolívia".
"... Quando eu me tornei líder, pessoalmente, testemunho que não só a DEA [Departamento Antidrogas dos EUA] uniformizada e armada conduzia as Forças Armadas ou a Polícia Nacional, mas também, com sua metralhadora, sob o pretexto do combate ao tráfico de drogas, combatia os movimentos sociais, perseguia com seus aviões as marchas de Santa Cruz, de Cochabamba, de Oruro, e não podiam nos encontrar nem com seus aviões, e diziam que eram marchas fantasmas... que marchar fantasmas! Chegavam milhares de companheiros trazendo reivindicações e buscando a dignidade e a soberania do nossos povos".
"... estou convencido de que, se nossos povos lutam por essa dignidade, por essa soberania, não se pode deixar fazer essas coisas com bases militares ou intervenções militares. Todos nós, por menores que sejamos, os países chamados subdesenvolvidos, países em via de desenvolvimento, temos soberania. Além do mais, quando eu estava no parlamento, tentaram me fazer aprovar a imunidade para os membros da embaixada dos EUA".
"O que é imunidade?,Que os funcionários da embaixada dos EUA, incluindo o DEA, se cometerem um crime não serão julgados de acordo com as leis bolivianas, era uma carta aberta para matar, ferir, como fizeram na minha região."
"... A paz é a filha legítima da igualdade, da dignidade, da justiça social, se não há dignidade, se não há igualdade, se não há justiça social, não podemos garantir a paz, de onde se vai garantir? Porque há povos que se rebelam porque há injustiça".
"... ouvi o nosso secretário-geral das Nações Unidas falar sobre doutrinas, as doutrinas que conhecemos na Bolívia são doutrinas anti-comunistas de intervir militarmente nos centros de mineração, porque os movimentos sociais, os centros mineiros, eram os grandes revolucionários da transformação da Bolívia".
"Nas décadas de 50, 60, acusavam-nos de comunistas, de "vermelhos" aos dirigentes sindicais do setor de mineração, e éramos presos, exilados, processados, massacrados. Esse tempo passou, e neste momento já não podem acusar-nos de vermelhos ou comunistas, todos têm direito de pensar diferente".
"Se para um país, para uma região, a solução é o comunismo, tudo bem, se para outro país é o socialismo, tudo bem, para outro país, o capitalismo, tudo bem, é a decisão democrática de um país".
"Mas agora que nós ganhamos essa luta, que não podem mais justificar uma doutrina anti-comunista para calar as pessoas, para mudar de presidente, para mudar os governos, vêm com outra doutrina, a guerra contra as drogas".
"É claro que é obrigação de nós todos o combate às drogas [...] a Bolívia não é a cultura da droga, a Bolívia não é a cultura da cocaína, mas de onde vem a cocaína? Do mercado de países desenvolvidos, que não é de responsabilidade do governo nacional, que no entanto é forçado a combater".
"... Por trás da luta contra o tráfico de drogas não podem haver interesses geopolíticos, pois a pretexto de combater o tráfico de drogas, demonizam os movimentos sociais, criminalizam os movimentos sociais, confundem coca com cocaína, confundem o produtor de folha de coca com o traficante, ou o consumo legal da folha de coca com a dependência das drogas".
"Por que não lutaram contra a coca antes, no século passado, se a coca faz mal, os europeus foram os primeiros proprietários a explorar a folha de coca, provavelmente faziam também cocaína".
"Os governos dos Estados Unidos antes davam certificados de reconhecimento para os melhores produtores de folha de coca, por quê? Para que esse produtor de folha de coca pudesse atender aos mineiros, que exploravam o estanho. A intenção era levar esse estanho para os Estados Unidos".
"... O mundo sabe, você sabe, a chamada guerra contra as drogas fracassou. Há que se mudar essas políticas, é claro. Uma nova política, por exemplo, para acabar com o sigilo bancário, ou os grandes traficantes, os peixes grandes do narcotráfico, andam carregado seu dinheiro na mochila, viajando de avião, não, circulam nos bancos. Por que não pôr fim ao sigilo bancário para acabar com a droga, para controlar o traficante de drogas?".
"Por que não cada país defender a entrada de drogas no seu próprio país? Com as tecnologias de radar, eu sinto que há capacidade de controlar. Mas não podemos controlar, isso é somente um pretexto, o de combater tráfico de drogas, para que se apliquem políticas de controle sobre todos, especialmente voltadas para tomar os recursos naturais para as corporações transnacionais. "
"... O ex-embaixador dos Estados Unidos, Manuel Rocha, disse: ‘não votem em Evo Morales, Evo Morales é o Bin Laden andino e os cocaleiros, os talibans’".
"Isso é, caros ministros, ministras da Defesa, vocês que concordam com esse tipo de doutrina estão neste momento reunidos com o Bin Laden andino e meus companheiros dos movimentos sociais, os talibans, segundo tais acusações e tergiversações".
"... Agora que já não podem sustentar essas teses e doutrinas anti-comunistas e anti-terroristas, há uma nova doutrina que ouvimos há dias, e aproveito esta oportunidade para informar ao meu povo através dos meios de comunicação".
"Em 17 de novembro, em uma reunião de alguns latino-americanos e alguns congressistas dos EUA, nos Estados Unidos, em um fórum que se chamou ‘o perigo dos Andes, as ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança norte-americana’...".
"...a congressista Ileana Ros-Lehtinen, disse: ‘nos últimos anos temos observado com preocupação os esforços de diversos governantes na região, como Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega na Nicarágua, Rafael Correa no Equador, para consolidar seu poder a qualquer custo necessário. Os membros da aliança Alba, com Chávez na cabeça, um após o outro, manipulam o sistema democrático nos seus países para servir aos seus próprios objetivos autocráticos".
"É o caso de dizer a essa congressista que não vencemos, como nos Estados Unidos, com uma diferença de um por cento, dois por cento; aqui ganhamos com mais do que 50, ou 60 por cento, e em algumas regiões mais de 80 por cento, isso que é uma verdadeira democracia".
"Disse sobre a agenda de Daniel Ortega, da agenda de coca impulsionada pelo presidente Evo Morales, que é uma aliança que está nascendo com o Irã e a Rússia, sobre o Rafael Correa e as reformas constitucionais de conteúdo duvidoso, anti-americano".
"... A Bolívia sob minha direção tem acordos, alianças com o mundo inteiro, ninguém vai proibir o nosso direito, nós somos a cultura do diálogo".
"...sem parceiros estáveis, democráticos, não pode haver segurança regional. Os Estados Unidos também buscam segurança nacional, e como tal, agora mais que nunca é hora da América decidir entre apoiar os seus inimigos ou enfraquecer os seus inimigos. Por isso, agora é a hora para o Organização dos Estados Americanos absolver o seu legado de duplos padrões e, finalmente, fazer cumprir a todos os Estados-Membros seus princípios e obrigações da Carta Democrática Interamericana, deverá também rever a Carta Interamericana".
"O segundo congressista (está falando de Connie Mack, e explica as suas ideias com estas palavras), eu tenho toda a redação, toda a intervenção, mas para ganhar tempo, para resumir, reproduzo a declaração que diz: ‘eu quero fazer algumas observações, nos últimos seis anos como membro do Congresso, francamente, eu vi as duas administrações: o governo republicano e o governo democrata".
"Nessa linha, eu creio que essa ideia que ambas as administrações têm tido em relação a Hugo Chávez, são: a de não intervir, de sentar e deixá-lo implodir a si mesmo, e outro pensamento é que, talvez, Hugo Chávez esteja louco’, e ele disse: ‘eu não caio em nenhuma dessas noções, eu não acho que Hugo Chávez esteja louco, e não acho que o enfoque de que o deixemos que se imploda vai funcionar, Hugo Chávez é uma ameaça à liberdade e à democracia na América Latina e ao redor do mundo".
"...Isto é o que mais me preocupa, espero que ao nos tornarmos a próxima maioria no próximo Congresso, como presidente do subcomitê façamos exatamente isso, nos encarreguemos de Chávez. Derrotar politicamente ou fisicamente".
Em seguida Evo diz:
"Eu diria que esse congressista Connie Mack já é um assassino confesso ou um conspirador confesso do companheiro irmão presidente da Venezuela, Hugo Chávez".
"Se algo acontecer com a vida de Hugo Chávez é da exclusiva responsabilidade desse congressista dos Estados Unidos, ele disse publicamente e está por escrito na mídia e em seu discurso".
"Camarada, irmão secretário-geral da OEA, você tem que expulsar a Venezuela, o Equador e a Bolívia, e um outro lugar, disse o congressista, a Nicarágua, e aplicar sanções. O que significa? Um bloqueio econômico como o de Cuba, seguramente".
"Penso que é a isso a que se referem as sanções, então como podem alguns países da América garantir a segurança, a paz, quando há as abordagens assim de alguns parlamentares, alguns latino-americanos?".
"Eu estava verificando por qual motivo, por que Cuba foi expulsa em 1962. Por ser leninista, marxista e comunista, expulsaram Cuba da OEA. Agora a nova doutrina é uma doutrina anti-Alba e os seus países organizados. Cumprimentamos Fidel, cumprimentamos Chávez, e outros presidentes, por construírem um instrumento como a Alba, um instrumento de integração, de solidariedade, solidariedade incondicional, que partilha em vez de competir, que pratica políticas de complementaridade e não de competição".
"... Nessa concorrência só se beneficiam pequenos grupos e não as maiorias que têm expectativas em seus presidentes".
"Dentro dessa política de concorrência e não de complementaridade, nem o capitalismo é mais uma solução para o capitalismo, por isso há crise financeira".
"... A nova doutrina não é como antes, quando vinham as doutrinas da escola do Panamá e o comando Sul entregava aos nossos militares; eles acabaram com isso por causa das lutas dos povos. Agora não há a escola das Américas, então o que há — A nova doutrina é implementada por meio de operações conjuntas das forças especiais ".
"... Eu admiro alguns de meus oficiais militares que relataram em detalhes sobre os treinamentos que fazem a cada ano numa base rotativa nos diferentes países da América. Para o quê? Para ensiná-los como acabar com tais países revolucionários, países que estão fazendo mudanças democráticas profundas, treinamentos inclusive para praticar ou ensinar aos franco atiradores que matem os líderes".
"...Com grande indignação eu havia visto algumas imagens dessas operações conjuntas das forças especiais que vão rodando em cada povo. É claro que a Bolívia não está mais envolvida e não estará envolvida enquanto eu for presidente, deste tipo de operações conjuntas que atacam a democracia".
"... Para o movimento indígena [...] este planeta, ou a Mãe Terra, que chamam de Pachamama, pode existir sem o ser humano, mas o ser humano não podem viver sem o planeta, a Pachamama".
"... o capitalismo não é a propriedade privada, porque às vezes tentam confundir e nos dizem que o presidente Evo questiona o capitalismo, que vai tirar nossas casas, nossos carros. Não, a propriedade privada está garantida".
"... a nova Constituição garantirá uma economia plural, e essa economia plural garantirá a propriedade privada, garantirá a propriedade comunal, estatal, de todos os setores sociais, mas quando falamos de capitalismo estamos falando deste desenvolvimento irracional, irresponsável, ilimitado".
"Nossos companheiros já não encontram água na Amazônia. Quando começamos a perfurar em alguma região, a água encontra-se em uma profundidade cada vez maior, e pouca água. E quando não garantimos água por causa de seca, justamente produto do aquecimento global, essa família fica abandonada à sua sorte. São milhares, milhões no mundo. São migrantes climáticos".
"Isso não vamos resolver com a participação das Forças Armadas, não podemos resolver com a participação dos ministros da Defesa e nem com cooperação. É um tema estrutural de caráter rmundial".
"... consideramos que para resolver, a médio e longo prazo, a melhor solução para acabar com os desastres naturais é acabar com o capitalismo, substituindo essas políticas de exagerada industrialização.
"Claro que todos os países querem se industrializar, industrialização para a vida, para o ser humano e não uma industrialização para acabar com a vida, com os seres humanos. Há doutrinas que proclamam e promovem a guerra, e isso tem que terminar. E, sim, temos que acabar com essas grandes indústrias de armamentos que acabam com a vida".
"...eu sei que muitos ministros trazem a mensagem de seus presidentes, de seus governos, de seus povos, mas sejamos responsáveis com a vida. E ser responsável com a vida é ser responsável com o planeta ou com Pachamama, com a Mãe Terra, e ser responsável com a Mãe Terra, planeta ou Pachamama é respeitar os direitos da Mãe Terra".
"... oxalá a América possa encabeçar, mediante vocês, ministras e ministros de Defesa, a garantia dos direitos da Mãe Terra, a garantia dos direitos humanos, da vida, da humanidade, não somente para a América, mas para o mundo. Sinto que temos uma grande responsabilidade nessa conjuntura.
"Quero saudar a participação de nossas Forças Armadas, e também quero ser sincero com vocês, eu tinha muito medo, em 2005, 2006, quando cheguei à Presidência, se as Forças Armadas me acompanhariam ou não nesse processo".
"... as Forças Armadas participaram de trabalhos sociais, nas mudanças estruturais, recuperando as minas, apoiando as políticas de recuperação dos recursos naturais, essas Forças Armadas agora são queridas pelo povo boliviano".
"... o povo sente que tem Forças Armadas para o povo. Agora felizmente temos duas estruturas importantes no Estado Plurinacional: os movimentos sociais que defendem seus recursos naturais e as Forças Armadas, também defendendo os recursos naturais. Se voltarmos a 1810, claro, as Forças Armadas nasceram defendendo os recursos naturais, a identidade, a soberania de nosso povo. Só em alguns momentos fizeram um mau uso de nossas Forças Armadas, não por culpa dos comandantes, e sim pelos interesses oligárquicos ou estranhos a nosso povo, que evidentemente nos fizeram muito mal."
"... com a imposição de políticas ‘pelo alto’ e de fora, que vinham do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, privatizações, desnacionalização de empresas públicas".
"...Dos lucros do solo [...] ficavam 18 por cento para os bolivianos e 82 por cento iam para as empresas transnacionais.
"Em primeiro de maio de 2006, através de um decreto presidencial, em primeiro lugar decidimos o controle do Estado dos nossos recursos naturais, segundo, convencidos de que quem investe tem o direito de recuperar o seu investimento, e tem o direito de ter lucros, dissemos que agora eles poderiam ter 18 por cento do lucro e ainda assim recuperar o seu investimento, pois isso os técnicos me demostraram, e em maio de 2006, 82 por cento ficaram sendo dos bolivianos e 18 por cento para as empresas que transnacionais investidoras, ou seja, fizemos a nacionalização respeitando os investimentos".
Evo concluiu seu discurso, fornecendo dados irrefutáveis sobre os resultados econômicos obtidos pela revolução.
"Antes, o produto interno bruto de US $ 9 bilhões em 2005. Em 2010, tivemos 18,5 bilhões de dólares americanos de Produto Interno Bruto".
"... Com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, o rendimento médio por pessoa era de mil dólares por ano [...] no nosso governo, é de 1 900 dólares".
"... Em 2005 a Bolívia foi o penúltimo país em reservas internacionais, agora temos melhorado, a Bolívia tinha reservas internacionais de US $ 1,7 bilhões, agora, este ano, temos 9,3 bilhões de dólares ..."
"... Quando o governo dependia dos Estados Unidos não poderia mesmo erradicar o analfabetismo. Através da cooperação incondicional de Cuba, especialmente, e também da Venezuela, há dois anos atrás declaramos a Bolívia território livre do analfabetismo, depois de quase 200 anos".
"Em troca desta colaboração de Cuba o que nos pedem? Nada, isso se chama solidariedade, compartilhar o pouco que temos e não compartilhar o que nos sobra, isso eu aprendi com o companheiro Fidel, e lhe tenho grande admiração."
Por pura modéstia, Evo não mencionou os avanços colossais obtidos pelo povo boliviano em matéria de saúde. Somente no campo da oftalmologia, cerca de 500 mil bolivianos fizeram cirurgias oculares, os serviços de saúde chegam a todos os bolivianos e cerca de 5 mil especialistas em Medicina Geral Integral estão se formando e em breve irão receber o seu diploma. Este país irmão latino-americano tem todas as razões para se sentir orgulhoso.
Evo conclui:
"...Sem o Fundo Monetário Internacional, ou seja, sem a imposição de políticas econômicas de privatização, de leilões, pudemos melhorar a vida democrática, sem depender dos Estados Unidos, melhoramos a nossa democracia na América Latina, esse é o resultado de cinco anos de mandato como presidente".
"Claro que eu não quero negar que a Bolívia ainda necessita de cooperação, a Bolívia ainda precisa de empréstimos internacionais, de cooperação internacional, cumprimento os países que colaboraram na Europa, América Latina, que oferecem facilidade de crédito, porque estamos em um processo de profunda transformação ..."
"... Que os povos tenham o direito de decidir por si próprios sobre a sua democracia, sua segurança. Enquanto houver atitudes intervencionistas, sob qualquer pretexto
[...] certamente vai demorar a libertação dos povos, e mais cedo ou mais tarde o povo, como estamos vendo, vai se rebelar".
"Por isso estou convencido da rebelião à revolução, da revolução à descolonização...".
Após o discurso de Evo, apenas 48 horas depois, caiu como um raio o discurso de Chávez. As luzes da rebelião estavam iluminando os céus da nossa América.
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