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Fonte: Cuba Debate
Transcrição e HTML: Fernando Araújo.
Por volta de 35 mil especialistas cubanos da saúde prestam serviços gratuitos ou compensados no mundo. Adicionalmente, um número de jovens médicos de países como Haiti e outros dos mais pobres do Terceiro Mundo trabalham em sua pátria por conta de Cuba. Na área latino-americana fundamentalmente contribuímos com intervenções oftalmológicas que preservarão a vista a milhões de pessoas. Por outro lado, contribuímos para a formação de dezenas de milhares de jovens estudantes de medicina de outras nações, em Cuba ou no estrangeiro.
Contudo, não é uma questão que faz com que o nosso povo fique arruinado, o qual pôde sobreviver graças ao internacionalismo que a URSS aplicou com Cuba, e nos ajuda a pagar nossa própria dívida com a humanidade.
Meditando cuidadosamente e analisando em detalhe a história das últimas décadas, chego à conclusão, sem chauvinismo algum, de que Cuba conta com o melhor serviço médico do mundo, e é importante que tomemos consciência disso, visto que é ponto de partida do que desejo expor.
A base do mencionado sucesso está na rede de policlínicas e consultórios médicos estabelecida em todo o país, que substituiu o desastroso e precário sistema de atendimento médico capitalista baseado na medicina privada, apesar de que a dura realidade tinha imposto um número de centros mutualistas de atendimento médico. Para os mais jovens esclareço que eram instituições de caráter cooperativo onde por um contributo mensal, eram prestados esses serviços. Minha família e eu recebíamos alguns por essa via num hospital localizado na longínqua capital da antiga província de Oriente. Não lembro, contudo, um só cortador de cana-de-açúcar ou operário da fábrica de açúcar que pudesse fazer parte dessa instituição por carecer de recursos e jamais viajavam para essa cidade. Onde quer que reinem os princípios do capitalismo a sociedade retrocede daí o cuidado extremo que devemos ter cada vez que o socialismo esteja obrigado a usar mecanismos capitalistas. Alguns se embriagam e alienam sonhando com os efeitos da droga do egoísmo individual como o único estímulo capaz de mover as pessoas.
A grande necessidade de especialistas médicos gerou neste ramo o espírito burguês de elite, ao qual foi eliminado definitivamente em Cuba quando a Revolução ao longo de muitos anos graduou cifras crescentes de médicos que deviam renunciar ao exercício privado da profissão, e mais tarde convertiam-se em especialistas através do estudo e da prática sistemática, chegando a constituir uma massa de profissionais bem qualificados.
Na sociedade capitalista um reduzido número de especialistas que tinham a ver com a saúde e a vida foram convertidos em deuses. Neles, como entre os educadores de alto nível e demais profissionais que precisam de grandes doses de conhecimentos, não há outra alternativa que cultivar a fundo o espírito revolucionário. A experiência tem demonstrado que é possível, sobretudo numa atividade que tanto tem a ver com a vida ou com a morte.
Nossa rede de policlínicas abrange cidades e campos de toda Cuba; foi criada num processo de desenvolvimento de centros de saúde adaptados às situações mais variadas de nosso território e seus habitantes.
Numa cidade como Havana, a maior do país, um exemplo da complexa vida urbana ― que por outra parte difere pela sua vez de Santiago de Cuba, Holguín, Camagüey, Villa Clara ou Pinar del Río, do mesmo modo que estas diferem entre si ―, cada policlínica atende cerca de 22 mil pessoas.
Após o triunfo do 1º de Janeiro de 1959 os cidadãos da capital saturavam o pronto-socorro dos hospitais, geralmente afastados de muitos quarteirões de sua moradia, para receberem os atendimentos que a Revolução lhes prestava gratuitamente com os equipamentos nessa altura disponíveis, e não iam às policlínicas recém criadas, aonde eram enviados com freqüência os médicos menos eficientes. Depois aprenderam a receber esses serviços na policlínica, cada vez melhor equipada e com médicos de qualidade e profissionalidade crescentes. Optaram finalmente pela melhor variante, ir em primeiro lugar ao consultório médico, onde eram atendidos por um jovem médico que se preparava em cursos teóricos e práticos de seis anos desenhados com esmero por professores eminentes. Mais tarde continuava estudando até se tornar um especialista de Medicina Geral Integral. A policlínica apoiava-o com seus laboratórios e equipamentos.
Numa oportunidade, quando visitei um desses centros para comprovar sua profissionalidade, pedi sem aviso prévio algum que me fizessem um exame dos sinais vitais; foi um dos melhores e mais rápidos que eu vi em minha vida.
Nem por um só instante a Revolução abandonou o esforço de reparar, adaptar ou construir novas policlínicas e consultórios médicos, enquanto milhares de estudantes ingressavam e se graduavam em mais de 20 faculdades de ciências médicas. É uma longa e fascinante experiência.
Em sua atual concepção, uma policlínica sempre deve estar pronta para atender 10 serviços básicos: meios diagnósticos, urgências médicas, odontologia, reabilitação integral, saúde materno-infantil, enfermaria, clínico-cirúrgico, atendimento ao idoso, saúde mental, higiene e epidemiologia. Foi concebido o sistema para prestar serviços em 32 especialidades, entre elas as que devem ser atendidas a qualquer hora do dia ou da noite, desde uma dor de dente insuportável até um infarto. Deve ter unidades de atendimento de urgência, que aproximam esse serviço das moradias das famílias.
Quando escrevi Os vícios e as virtudes, salientei que toda tentativa de se apropriar dos produtos que passam por sua mão, como fazem alguns, era indigno da conduta de um trabalhador, seja qual for sua categoria social, sua capacidade, seus estudos, seus conhecimentos; isto é, colher batatas, ordenhar vacas, cozinhar num restaurante, produzir numa fábrica, trabalhar numa escola, numa livraria, num museu, manual ou intelectualmente, num lugar qualquer. Ninguém deseja instaurar o trabalho escravo ou semi-escravo em nosso mundo. Todos pensamos que o cidadão nasce para uma vida mais digna.
Aquele que rouba esquece que toda pessoa deseja tranqüilidade e respeito para ela e seus familiares, alimentos variados e de qualidade, moradias decorosas, eletricidade sem cortes, água corrente, ruas sem buracos, transporte cômodo e seguro, hospitais bons, policlínicas bem equipadas, escolas de primeira categoria, armazéns e lojas que funcionem bem, cinema, radio, televisão, Internet e muitas outras coisas agradáveis, que só podem emanar do trabalho metódico, eficiente, bem organizado e de trabalhadores altamente produtivos.
A produção de bens de consumo e a prestação de serviços precisam de equipamentos modernos para a construção, a agricultura, o transporte, a energia elétrica de alta tensão, produtos químicos ou inflamáveis; condições de trabalho que trazem consigo riscos de altura, profundidade e outras muitas variantes iniludíveis; qualquer descuido provoca mutilações e mortes que obrigam a tomar constantes providências para impedi-los ou reduzi-los ao mínimo possível, sem que a cada ano infelizmente possa ser evitado um número doloroso de casos. A isto se acrescentam as doenças profissionais, os sofrimentos e danos que ocasionam. Os bens e serviços que todos anseiam não nascem da nada. Fortes investimentos, tecnologias modernas, matérias-primas custosas, energia abundante, e muito especialmente o trabalho humano, são indispensáveis se não desejamos ficar na pré-história.
Em dias recentes solicitei ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social dados sobre o número de trabalhadores envolvidos nos programas de educação e saúde do país; chegavam a quase 20 por cento da força de trabalho ativa do país na produção econômica e nos serviços.
Os dados que recebi, analisados cuidadosamente, justificam os passos dados para elevar a idade da aposentadoria, que no projeto se associa a melhoras reais na renda familiar e, segundo a minha opinião, também se vincula com a necessidade imperiosa de evitar o excesso de circulante monetário e com o dever de recuperarmo-nos rapidamente do golpe dos furacões sem que ninguém se sinta desamparado.
A questão que coloco é se o ser humano pode ou não organizar com racionalidade a sociedade na qual é obrigado a viver.
Os esforços que fazem os músicos com seus instrumentos são quiçá tão fortes como os que realiza o fundidor da fábrica “Antillana de Acero”. Às vezes não existem diferenças entre o gasto mental e energético de um ou outro, embora possam existir no modo de pensar, porque alguns são conhecidos e aplaudidos constantemente e outros não. Contudo, aqueles com sua influência podem contribuir para a luta contra velhos vícios de sociedades passadas, como muitos fazem, não só músicos, mas também escritores e pintores prestigiosos formados pela Revolução.
Há profissionais especializados nas ciências econômicas, organização do trabalho, psicologia e outros ramos, conscientes destas realidades, que abordam de uma forma ou de outra temas associados a elas; são lidos ou escutados interessantes conceitos em busca de respostas que sem dúvida terminarão apontando na mesma direção na medida em que o debate nacional e internacional se abre.
Os Prêmios Nobel de Economia estão assombrados por uma crise do capitalismo desenvolvido jamais vista, que demanda neste momento 700 bilhões de dólares adicionais que deverão pagar os filhos das famílias norte-americanas. Os peritos do imperialismo não conseguem acertar, enquanto os chefes de Estado, primeiros ministros e altos funcionários participantes na Assembléia Geral das Nações Unidas, exprimem-se os miolos tentando procurar soluções. Chama a atenção ver como muitos dos aliados dos Estados Unidos na NATO não falam seu idioma nacional senão o inglês, esperanto de nossa época, visivelmente mal falado.
Penso que não existe alternativa à necessidade de reavaliar tudo, buscar mais produtividade e menos esbanjamento de recursos humanos nos setores vitais, incluídas a Saúde e a Educação ― e nos outros da economia produtiva e dos serviços ―, sem ater-nos estritamente a cifras elaboradas anos atrás, sem que merme e sim cresça a qualidade de todo o que é levado a cabo em nossa pátria, e sem deixar de cumprir deveres internacionalistas cujos frutos começam a ser percebidos fortemente. São ainda mais do que podemos imaginar e bastante menos do que se precisa. O resto deve ser dado por nós próprios sem hesitar.
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Inclusão | 09/07/2019 |