O Imperialismo e a Economia Mundial

N. Bukharin

Quarta Parte: O Futuro da Economia Mundial e o Imperialismo


Conclusão


capa

A evolução da história é feita de contradições. É por meio delas que se desenvolve a estrutura econômica da sociedade. Existência passageira e renovação perpétua das formas, dinâmica viva que cria continuamente novos modelos, tal é a lei imanente da realidade. A dialética de Hegel, inteiramente revista por Marx, é excelente porque capta a dialética da vida, analisa audaciosamente o presente, sem se emocionar com o fato de que todo estado de coisas traz em si os germes de sua própria morte.

“Em sua forma mistificadora, a dialética esteve em moda, na Alemanha, porque parecia transfigurar tudo o que existia. Em sua forma racional, é em escândalo e um objeto de horror aos olhos dos burgueses e de seus porta-vozes doutrinários, e isso por diferentes razões: na compreensão positiva das coisas existentes, ela implica, ao mesmo tempo, o conhecimento de sua negação, de sua fatal destruição; concebe todas as formas em movimento e, consequentemente, segundo seu lado perecível; não se deixa impressionar por coisa alguma e é, por sua essência, crítica e revolucionária”.

Eis o que escreveu Marx no prefácio do primeiro volume do Capital. Depois disso, muitos anos são passados e eis que se, ouve distintamente um outro destino bater à porta da História. A sociedade moderna, desenvolvendo em gigantescas proporções as forças produtivas, conquistando vigorosa e continuamente novas regiões, subjugando a um grau sem precedentes toda a natureza ao domínio do homem, começa a sufocar na estrutura capitalista. As contradições a ele inerentes — que encontravam-se ainda, nos primórdios de sua evolução, em estado embrionário — desenvolveram-se e aumentaram a cada progresso do sistema, para atingir, no período imperialista, formidáveis proporções. No ponto de desenvolvimento em que se encontram, as forças produtivas reclamam imperiosamente novas relações de produção. A cápsula capitalista tem fatalmente que explodir.

A fase do capital financeiro fez com que melhor sobressaíssem todos os elementos que impedem o organismo capitalista de adaptar-se como tal. Outrora, quando o capitalismo agia como força de progresso, podia — assim como seu agente de classe, a burguesia — dissimular parcialmente seus defeitos internos graças ao caráter retrógrado e a incapacidade de adaptação dos elementos pré-capitalistas. A grande produção, equipada com máquinas monstruosas, esmagava sem piedade a miserável técnica de ofício. Esse processo doloroso marcou a falência dos modos de produção pré-capitalistas. Por outro lado, a presença desses modos e de “terceiros” de toda sorte no processo de produção capitalista permitia ao sistema estender “pacificamente” seu poderio e ocultar os limites impostos à evolução econômica. Assim os traços mais comuns das contradições internas dos capitalismo, que constituem a sua “lei”, só puderam aparecer em toda sua nitidez no estágio de desenvolvimento econômico em que o sistema amadureceu e se converteu, não somente na forma predominante da vida social e econômica, mas na forma universal das relações econômicas — isto é, quando começou a agir como capitalismo mundial. Somente agora é que se vê aparecer, com extrema virulência, o antagonismo interno do capitalismo. As convulsões do mundo capitalista moderno — que, na angústia da agonia, cobriu-se de sangue — são a expressão das contradições do regime e, no final das contas, o farão voar em pedaços.

O capitalismo tentou aprisionar a classe operária e atenuar os antagonismos sociais, diminuindo a pressão por meio da válvula colonial, mas, atingindo momentaneamente seu objetivo, nada mais fez que preparar a explosão da caldeira capitalista.

O capitalismo tentou adaptar o desenvolvimento das forças produtivas aos quadros nacionais de sua exploração, por meio das conquistas imperialistas, mas se mostrou incapaz de resolver esse problema.

Elevou a força do militarismo a um grau nunca visto; jogou na arena da história milhões de homens armados — mas já as armas se voltam contra ele. Despertadas para a vida política, as massas populares, antes humildes e submissas, falam cada vez mais forte. Imersas nos combates que lhe foram impostos, habituadas a ver a todo momento a morte de frente, elas rompem com o mesmo ímpeto a frente da guerra imperialista, transformando-a numa guerra civil contra a burguesia. Assim, o capitalismo, levando a concentração da produção a limites sem precedentes, criando um aparelho de produção centralizado, preparou, ao mesmo tempo, os grandes exércitos de seus próprios Coveiros. No vasto conflito de classes, a ditadura do proletariado substituirá a do capital financeiro.

“Soou a hora da propriedade capitalista. Os expropriadores serão expropriados.”


Inclusão 17/01/2016