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Um ciclo do movimento operário concluiu-se com "o curto século XX". Um novo capítulo está apenas agora no começo. A sequência em que se inscreve a história dos trotskismos conclui-se com a do estalinismo, contra o qual eles foram os primeiros combatentes, em nome do marxismo revolucionário? Certas correntes saídas deste combate saberão reinvestir a sua experiência e a sua memória numa situação nova cujos contornos ainda apenas emergem? Saberão elas mobilizar a sua experiência para enriquecer os movimentos sociais emergentes? Saberão constituir um traço de união entre "já não" e "ainda não"? A resposta não é dada antecipadamente. Ela depende da luta.
Dos diferentes ramos saídos do tronco original, a IV Internacional e a corrente Sociaiismo Internacionai (desenvolvida a partir do SWP britânico) são as mais importantes, pela sua presença em certos países-chave e pela sua realidade internacional efectiva. Os seus grupos e secções estão frequentemente muito activos no movimento internacional contra a mundialização capitalista e contra as guerras imperialistas, bem como no renovar dos movimentos sociais. Estão frequentemente empenhadas em recomposições à escala nacional com correntes saídas do movimento comunista, da ecologia radical e do feminismo revolucionário. Enfraquecidas, as tendências morenistas ou lambertistas encontram-se frequentemente reduzidas a uma influência nacional ou regional. A corrente saída do Miiitant britânico desfez-se. A Lutte Ouvrière, cuja candidata Arlette Laguiller recolheu mais de 5% de votos na eleição presidencial de 1995, e que chega a ultrapassar o candidato do Partido Comunista nas sondagens, constitui um fenómeno específico da França, onde a extrema-esquerda de tronco trotskista no seu conjunto oscila, segundo o tipo de escrutínio, entre 5,5% e 12% (em certos municípios).
A entrada no novo século sem negação nem sectarismo não se fará sem um esforço de actualização teórica e prática, nem de recolocação em causa de uma visão da história ligada ao vocabulário teratológico da "degenerescência" e outras "monstruosidades", pressupondo uma norma e um sentido único do progresso histórico.
Este ensaio detém-se às portas do século XXI. O andamento do mundo, esse, não pára. A época é mais convulsiva e violenta do que nunca. Já não se trata de uma crise de crescimento mas de uma crise crepuscular de civilização. As relações sociais dos seres humanos entre eles e as suas relações com as condições naturais de reprodução da espécie não podem ser reduzidas às arbitragens de vista curta dos mercados e à miséria generalizada do critério lucro. Clamando que "o mundo não está à venda", os manifestantes contra a mundialização imperial de Seattle, de Génova, mas também de Porto Alegre (cidade-símbolo na qual a esquerda trotskista do Partido dos Trabalhadores desempenhou nos últimos vinte anos um papel determinante), colocam a questão de saber em que espécie de humanidade queremos tornar-nos, e em que mundo queremos viver. Se o mundo não é uma mercadoria, que deverá então ser e que queremos nós fazer por isso?
O afundar do "socialismo realmente existente" libertou uma nova geração de anti-modelos que envenenam o imaginário e comprometem a própria ideia do comunismo. Mas, a alternativa à barbárie do Capital não se desenhará sem um balanço sério do século que se concluiu. Nesse sentido, pelo menos, um certo trotskismo, ou um certo espírito dos trotskismos, não está ultrapassado. A sua herança sem manual de instruções é, sem dúvida, insuficiente, mas não menos necessária para desfazer a amálgama entre estalinismo e comunismo, libertar os vivos do peso dos mortos, e virar a página das desilusões.
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Este texto foi uma colaboração |
Inclusão | 27/04/2009 |