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No período que separa a fundação da Primeira Internacional da fundação da Segunda, celebraram-se vários Congressos operários, socialistas e sindicais. Esses Congressos, porém, não possuíam nenhuma base comum. Só em 1889, por ocasião da Exposição Internacional de Paris, é que se realizaram nessa cidade dois Congressos socialistas, um convocado pelos possibilistas, o outro pelos marxistas. Fundou-se, assim, a Segunda Internacional. Nesse Congresso, o 1.° de Maio ficou consagrado como o Dia do Trabalho.
A Segunda Internacional realizou Congressos em Bruxelas (1891), Zurique (1893), Londres (1898), Paris (1900), Amsterdam (1904), Stuttgart (1907), Copenhague (1910) e Basileia (1912). Ao todo, oito Congressos. Depois de 1900, sua sede era Bruxelas. Aí se achava o Bureau Socialista Internacional, presidido por Emílio Vandervelde e secretariado por Camilo Huysmans. Cada país aderente enviava dois delegados. Os delegados dos diferentes países reuniam-se periodicamente para discutir os assuntos mais importantes e preparar os Congressos.
A história da Segunda Internacional pode ser dividida em três períodos: 1.º de 1889 a 1896; 2.º de 1896 a 1904; 3.º de 1904 a 1914. No primeiro período, procurou-se estabelecer uma linha divisória entre o socialismo e o anarquismo. No segundo, procurou-se fixar os princípios da luta de classe e a atitude dos partidos socialistas em face dos governos burgueses. Finalmente, no terceiro, procurou-se chamar a atenção dos povos para as crescentes ameaças de uma guerra imperialista e fixar a posição da Internacional em face do perigo de guerra.
Na verdade, o único resultado positivo obtido pela ação da Segunda Internacional foi a exclusão dos anarquistas, no Congresso de Londres (1896). No Congresso de Paris (1900), foi resolvido que só seriam aceitas, no seio da Internacional, as organizações que reconhecessem os princípios do socialismo e a necessidade da luta política.
De 1900 até 1904, a Segunda Internacional resolveu proibir que os socialistas entrassem para governos burgueses, salvo em “circunstâncias excepcionais”. Muitos pensavam que, deste modo, a questão do ministerialismo — que surgira em França em 1898, quando Millerand entrou para o governo Waldeck-Rousseau, após o “caso Dreyfus” — ficaria definitivamente resolvida. Em vista dessa resolução, Millerand foi expulso do partido. Idêntica resolução foi tomada, em 1906, em relação a Viviani e Briand. Mas, a exceção das “circunstâncias extraordinárias”, previstas pela decisão do Congresso de Amsterdam, foi a porta por onde o ministerialismo tornou a entrar durante e depois da guerra, quando grande número de partidos socialistas resolveram formar governos de coalisão com os partidos burgueses.
A ação empreendida pela Internacional contra os perigos de guerra fracassou completamente.
Entretanto, depois do Congresso de Stuttgart, a questão da luta contra a guerra foi sempre colocada na ordem do dia dos diferentes Congressos. Infelizmente, a Internacional não chegou a adotar uma posição definida a esse respeito. A partir de 1900, as causas de guerras não eram mais os conflitos nacionais ou as ambições dinásticas, mas os conflitos imperialistas e coloniais. Por duas vezes, a corrente social, democrata e a corrente sindicalista chocaram-se no seio da Internacional. O primeiro choque verificou-se no Congresso de Bruxelas, em 1891, no qual a corrente sindicalista estava representada por Domela Nieuwenhuis, e o segundo, no Congresso de Stuttgart, em 1907, onde ela esteve representada por Hervé. Nesses dois embates, a concepção social-democrata saiu vencedora. No Congresso de Stuttgart, os socialistas franceses haviam colocado na ordem do dia a questão da guerra. Os recentes acontecimentos de Marrocos tinham feito o mundo ver, como a luz de um relâmpago, a guerra que se estava preparando. No seio da delegação francesa, distinguiam-se três diferentes tendências: uma, dirigida por Gustavo Hervé, preconizava a greve geral e a insurreição, em caso de guerra; a segunda, representada por Eduardo Vaillant e João Jaurès, sustentava a proposição de Hervé apenas como recurso extremo da luta contra a guerra. Uma terceira tendência, representada por Júlio Guesde, julgava que, sendo a guerra consequência inevitável do regime capitalista, qualquer agitação anti-guerreira seria sempre vã e utópica. Na opinião de Guesde, a melhor propaganda contra a guerra era a educação socialista.
Em nome da delegação da Bélgica, Vandervelde manifestou-se a favor da proposição de Vaillant e Jaurès, porque, segundo ele, até os pequenos países tinham interesse na manutenção da paz. “Nossa neutralidade não tem peso muito grande. Em caso de guerra, nosso país pode dar passagem aos exércitos em luta”. Em nome da delegação alemã, Bebel e Vollmar combateram a proposição de Gustavo Hervé, declarando-a absolutamente inaplicável, e falaram enaltecendo a importância cultural da ideia nacional. Bebel frisou ainda que, em caso de guerra, a exaltação dos sentimentos patrióticos tornaria extremamente difícil qualquer oposição a defesa nacional.
A discussão foi longa. Mas não foi possível esgotar o assunto. A imensa maioria do Congresso pronunciou-se ao mesmo tempo a favor da defesa nacional e da luta de classe. “Não trairemos nem a pátria, nem o socialismo”. Num comício realizado em Paris, Jaurès usou da palavra e discursou sobre a resolução do Congresso de Stuttgart. Era essa, aliás, a ideia que havia guiado a maioria dos membros do Congresso. Mas ela não podia eliminar a contradição resultante do seguinte fato: enquanto existirem propriedade privada, capitalismo e concorrência, os interesses das diferentes pátrias não se poderão harmonizar com os interesses do socialismo internacional.
O Congresso esperava que essa contradição fosse resolvida pela vitória da classe operária nos principais países. Por fim, ele adotou uma resolução, redigida por Augusto Bebel, com o acréscimo de dois parágrafos propostos por Rosa Luxemburgo, Lenine e Martov. Esta resolução dizia o seguinte:
“O Congresso confirma as resoluções dos precedentes Congressos internacionais contra o militarismo e o imperialismo e novamente verifica que a luta contra o militarismo não pode ser separada da luta de classes em geral. As guerras entre os Estados capitalistas não são mais que consequências de sua concorrência no mercado mundial, porque cada Estado procura não só conservar seus próprios mercados, como ainda conquistar novos, submetendo povos e apossando-se de territórios de outros países. Estas guerras, além disso, são também a consequência dos armamentos incessantes do militarismo, que é o principal instrumento da dominação da classe burguesa e da escravidão econômica e política da classe operária. As guerras são facilitadas pelos preconceitos nacionalistas, que as classes dominantes sistematicamente entretêm para afastar as massas proletárias de seus próprios deveres de classe e de solidariedade internacional. As guerras são, por consequência, parte integrante da essência do capitalismo. Não poderão desaparecer senão quando o próprio regime capitalista desaparecer, ou quando os imensos sacrifícios de homens e de dinheiro, necessários ao desenvolvimento do militarismo, e a indignação provocada pela corrida armamentista, levarem os povos a suprimi-lo. É na classe operária, que se recruta a maioria dos soldados. É ela também que suporta a maior parte dos pesados tributos materiais do militarismo. Eis porque a classe operária tem particular interesse em suprimir as guerras, que, além disso, se opõem ao seu objetivo fundamental: a criação de uma ordem econômica baseada no socialismo, capaz de realizar a solidariedade entre os povos. Por esses motivos, o Congresso julga que o dever das classes laboriosas e, em particular, dos seus representantes no Parlamento é, não só desmascarar o caráter de classe da sociedade burguesa como, ao mesmo tempo, combater os armamentos de terra e mar, recusar os créditos que a isso se destinarem e pleitear medidas para a educação da juventude proletária no espírito da fraternização dos povos e do socialismo, incutindo-lhe, ao mesmo tempo uma nítida consciência de classe. O Congresso vê na organização democrática do exército, na substituição dos exércitos permanentes por milícias populares, a garantia fundamental da supressão das futuras guerras de agressão, da fácil solução dos conflitos nacionais. A Internacional não pode fixar de maneira rígida a atitude que a classe operária deverá adotar contra o militarismo, porque essa atitude será naturalmente diferente em cada país. Mas o seu dever é reforçar o mais possível e coordenar a luta da classe operária contra o militarismo e a guerra. Quanto mais os espíritos forem preparados por incessante agitação, e quanto mais os partidos operários dos diferentes países tiverem sido estimulados e grupados pela classe operária, mais eficaz poderá ser a ação da classe operária. O Congresso está convencido de que, sob a pressão do proletariado, a utilização criteriosa dos tribunais de arbitragem poderá substituir às lamentáveis instituições governamentais dos dias presentes e assegurar aos povos o benefício do desarmamento, mediante o qual será possível consagrar à cultura as formidáveis somas e a imensa energia que atualmente são absorvidas pelos armamentos e pela guerra.
“Em caso de ameaça de guerra, as classes laboriosas e seus representantes nos Parlamentos deverão, com o apoio do Bureau Socialista Internacional, fazer os maiores esforços para evitar que ela estale, empregando, para esse fim, todos os meios que puderem ser úteis, meios esses que, evidentemente, deverão ser adaptados ao grau de intensidade da luta de classe e a situação política geral.
“Se a guerra, apesar de tudo, estalar, seu dever será recorrer a todos os processos para fazê-la cessar tão depressa quanto possível, e aproveitar a crise econômica e política provocada pela guerra para sublevar o povo e precipitar a queda do regime capitalista”.
As decisões dos Congressos Internacionais de Copenhague (1910) e de Basileia (1912) foram redigidas com o espírito dessa resolução e reproduziram-lhe textualmente os dois últimos parágrafos.
Infelizmente, a psicose guerreira, que atacou os dirigentes e as massas nos primeiros dias de Agosto de 1914, foi mais forte que todas as decisões dos Congressos. Só algumas pequenas frações do movimento operário começaram pouco a pouco a aplicar os princípios da luta de classe.
Mas só os bolcheviques russos aplicaram tais princípios de modo consequente e enérgico. A guerra mundial (1914-1918) despedaçou a Segunda Internacional. Ou melhor: a Segunda Internacional foi vítima da contradição entre o patriotismo e o internacionalismo, que trazia em si mesma.
Esbocemos agora, rapidamente, a História dos principais partidos socialistas da Segunda Internacional.
Em parte alguma, o movimento socialista se desenvolveu tão rapidamente como na Alemanha. Nas primeiras eleições para o Reichstag (1871), os “eisenachianos” e os “lassallianos” obtiveram cerca de 102.000 votos, e, em 1874, 352.000. O conflito entre os dois grupos persistiu até esta data. As massas, porém, exigiam a unificação. Esta realizou-se em 1875, em Gotha, num Congresso comum. Foi então adotado um programa que não passava de uma mistura social-democrata-pacifista. Nas eleições de 1877, o Partido Socialista Unificado obteve quase um milhão de votos, com 13 mandatos. Esses sucessos eleitorais provocaram violenta repressão por parte do governo. Finalmente, em 1878, depois de dois atentados inúteis contra Guilherme 1.º, o Partido foi colocado na ilegalidade, numa situação de exceção que lhe causou profundas perturbações nas fileiras, mas que não conseguiu destruí-lo. O Partido foi reorganizado clandestinamente e continuou a recrutar novos membros. Nas eleições de 1887, apesar das ameaças de uma guerra franco-alemã, obteve 763.200 votos e, nas de 1889, 1.427.128 votos e 35 mandatos. A lei de exceção foi suspensa. Pouco tempo depois, Bismarck, que a promovera, foi também afastado do cargo de chanceler.
No ano seguinte, no Congresso de Erfurt, o Partido adotou um novo programa, o chamado programa de Erfurt, redigido por Kautsky, que para ele escreveu uma admirável introdução. Mas esse programa era marxista na parte teórica e reformista na parte prática. Não dizia uma só palavra sobre as medidas que os socialistas deveriam adotar no período da Revolução. Não continha também, a ideia de Revolução que Marx tanto procurou salientar na sua Crítica ao programa de Gotha. Na realidade, ao sair da legalidade, o Partido surgiu como um partido de reforma social. A oposição dos jovens, dirigida por Max Schippel, Paul Kampfmeyer e Hans Müller, que combatia esse estado de coisas, era, ao menos no que se refere aos operários que dela participavam, uma oposição verdadeiramente revolucionária. Mas foi rapidamente esmagada, graças à autoridade de Engels, Bebel e Liebknecht. Embora retardada pela longa crise econômica do princípio dos anos 90, a era revisionista começava. Foi oficialmente inaugurada por Jorge von Vollmar, pouco tempo depois da abolição das leis de exceção, e completada no fim do último século por Eduardo Bernstein. Motivou-a o progresso da economia alemã, que por sua vez causou o desenvolvimento paralelo do movimento sindical alemão. De 1890 a 1914, os efetivos dos sindicatos elevaram-se, de 238.000 membros a mais de 2.000.000. Seus dirigentes, Carlos Legien, Roberto Schmidt, Paulo Umbreit, eram essencialmente revisionistas. Carlos Kautsky, Francisco Mehring e Rosa Luxemburgo encabeçavam a luta contra o revisionismo com grande energia, mas sem nenhum resultado. Manifestava-se então profunda contradição entre a teoria e a prática, sem que, aliás, os membros do Partido disso tivessem claramente consciência. Nos Congressos, particularmente no Congresso de Dresden, em 1903, a corrente revolucionária vencera. Mas, no trabalho quotidiano, todo o ideal do Partido se resumia no estabelecimento de um regime parlamentar e na conquista da legislação social. O revisionismo e, com ele, o patriotismo, surgiram finalmente por todos os lados, indispondo o proletariado com qualquer política “realista” de reivindicações imediatas. A admirável organização do Partido, devida a capacidade administrativa e a imensa abnegação de Paulo Singer, ocultava sua profunda debilidade intelectual. O incrível desenvolvimento da indústria alemã e do comércio exterior, assim como o crescimento rápido e quase ininterrupto, dos efetivos do partido, ao lado ainda dos seus triunfos eleitorais, favoreceram o revisionismo. Nas eleições de 1912, o Partido obteve 4.250.000 votos, ou seja, 34,8 % do total de votos, e enviou 110 deputados ao Parlamento, um Parlamento puramente de aparência, inteiramente desprovido de poder real, cuja finalidade única era dar de certo modo unidade aos diferentes Estados alemães e aprovar os impostos. Quando a guerra de 1914 estalou, a maioria esmagadora do Partido alemão, considerava-se parte integrante da nação e não a representante de uma classe, cujos interesses materiais e aspirações são diariamente opostos ao regime capitalista.
O desenvolvimento do movimento socialista austríaco realizou-se paralelamente ao do movimento socialista alemão. Mas, inicialmente, foi muito mais perseguido que este último. Até 1871, foi parte integrante desse movimento. Em 1869-70, seus dirigentes, André Schen, João Most e Pabst foram presos em Viena, após uma grande manifestação operária, e condenados a cinco anos de prisão. Mas, decorridos alguns meses, eram anistiados. Depois de 1871, isto é, depois que a Áustria se separou da Alemanha, o movimento socialista austríaco enfraqueceu. A isso juntaram-se os efeitos da crise econômica e financeira de 1873, que agravaram a situação da classe operária. O movimento cindiu-se em dois grupos: um com tendência radical e outro moderado. Apesar do exemplo alemão da união dos lassalianos com os “eisenachianos” no Congresso de Gotha (1875) e, apesar ainda do governo austríaco, a exemplo do governo alemão, ter colocado, em 1877-88, o movimento socialista na ilegalidade, a cisão conservou-se até 1888. Este estado de coisas foi agravado mais ainda pelo aparecimento dos anarquistas, que adotaram uma tática terrorista e recrutaram grande número de adeptos entre os operários descontentes. Graças aos esforços de Victor Adler, a partir de 1886, conseguiu-se reagrupar os operários e, dois anos depois, restabelecer a unidade, no Congresso de Hainfeld (1888). A partir desse momento, não obstante os frequentes atritos que se produziam entre as diferentes nacionalidades, o Partido fez progressos rápidos.
O Partido trabalhava tão metódica e intensamente na educação das massas, que, sem embargo do caráter díspar dos elementos que as compunham (alemães, tchecos, poloneses, eslovenos, croatas, sérvios) se tornou uma das melhores secções da Segunda Internacional. A classe operária austríaca foi a única que, obedecendo a resolução do Congresso Internacional de Paris (1889), celebrou a jornada do 1.º de Maio, paralisando completamente o trabalho. Graças à sua agitação incessante, o Partido obrigou o governo austríaco a conceder o sufrágio universal (1907). Nas eleições seguintes, obteve 1.042.000 votos e enviou ao Parlamento 87 deputados. O Partido era relativamente rico de intelectuais, entre os quais se encontravam Oto Bauer, Rodolfo Hilferding, Gustavo Eckstein, Carlos Renner, Max Adler. No ponto de vista tático, em quase nada se distinguia do Partido alemão. Apenas o revisionismo era menos acentuado na Áustria que na Alemanha, porque as condições políticas não permitiam que se acreditasse na possibilidade de uma vitória pacífica do proletariado. Além disso, a situação do proletariado austríaco era menos favorável que a do proletariado alemão. Em virtude da absoluta impotência do Parlamento austríaco nas questões de política exterior, a social-democracia não pode exercer nenhuma pressão a favor de uma política razoável em relação à Sérvia e no sentido da manutenção da paz.
Na Hungria, o movimento em nada diferia do movimento austríaco, a não ser no fato de não encerrar nenhum elemento anarquista. Seu desenvolvimento foi fortemente entravado pela ausência completa de liberdades políticas. Apesar de todos os seus esforços, o proletariado húngaro não conseguiu conquistar o sufrágio universal ou mesmo a legalização dos sindicatos.
Depois da ruína do movimento cartista (1855), a classe operária inglesa consagrou-se energicamente ao desenvolvimento dos sindicatos e das cooperativas. Sua participação na Primeira Internacional foi de caráter meramente episódico. Somente em 1882, surgiu o movimento socialista dirigido por Henrique Mayers Hyndmann, homem de grande cultura, mas ainda cheio de preconceitos nacionalistas. Em 1880, depois de ter lido o Capital, em francês, Hyndmann foi visitar Marx. Em 1882, fundou a Federação Democrática, que teve a princípio um programa de reformas sociais, mas que logo depois passou a chamar-se Federação Social-Democrata e adotou um programa socialista. Esta organização fez larga agitação, difundiu a doutrina de Marx e dirigiu manifestações de desempregados. Mas nunca conseguiu penetrar nos meios operários. Os principais colaboradores de Hyndman foram Belfort-Bax, William-Morris e Eleonora Marx, uma das filhas de Carlos Marx, que se separaram por alguns anos da organização para fundar a Liga Socialista, logo voltando, no entanto, para a organização, quando esta caiu na mão dos anarquistas.
Ao lado da Federação Social-Democrata surgiu, em 1884, a Sociedade Fabiana, que fez uma propaganda reformista. Seus principais dirigentes eram Sidney Webb, Beatriz Webb e Bernardo Shaw. Os fabianos eram revisionistas. Para eles, o socialismo não era o fim distante, mas uma série contínua de reformas sociais que seriam obtidas por via parlamentar. Nos países democráticos. é possível conquistar a opinião pública, e principalmente as pessoas cultas para essas reformas, por meio da propaganda oral e escrita.
A respeito da necessidade de um partido operário, os fabianos nada diziam de positivo. Aliás, essa necessidade não aparece claramente nas suas teorias. Na melhor das hipóteses, consideravam a existência de um Partido operário como um meio de fazer pressão sobre os políticos adversários das reformas. Mas assim mesmo os fabianos contribuíram bastante para a difusão das ideias e trabalharam a favor dos interesses dos operários.
Como a Federação Social-Democrata não tinha conseguido fazer surgir um movimento operário-socialista, nem animar o espírito de classe nos sindicatos das organizações, certo número de dirigentes operários da Escócia e do norte da Inglaterra, sob a direção do mineiro Jayme Kleir Hardie, resolveram fundar uma nova organização para introduzir o espírito socialista nos sindicatos e afastar os operários dos partidos burgueses. Foi assim que surgiu, em 1893, o Partido Operário Independente, que se pôs em contacto íntimo com grande número de dirigentes sindicais. A atividade deste Partido foi facilitada pelos processos movidos contra os sindicatos, cuja existência naquele momento periclitava. Diante do perigo, os operários dispuseram-se cada vez mais a empreender uma ação política independente. Em 1900, fundava-se o Labour Party (Partido Operário), que rapidamente se tornou um Partido de massa, porque, pouco a pouco, os grandes sindicatos a ele aderiram. Não era um Partido socialista, mas um Partido de reformas sociais. Atualmente, o Labour Party engloba, além da maior parte dos sindicatos ingleses, a Federação Social-Democrata, a Sociedade Fabiana e o Independent Labour Party. Depois da morte de Kleir Hardie, ficou sob a direção de Ramsay Mac Donald, escritor e orador hábil e socialista moderado. De 1900 a 1914, os efetivos do Labour Party passaram de 376.000 a 1.612.000 membros. Em 1914, era representado no Parlamento por 70 deputados. No começo da guerra, grande parte da Federação Social-Democrata, quase todos os adeptos da Sociedade Fabiana e o Labour Party quase inteiro puseram-se à disposição do governo inglês. Só o Independent Labour Party ficou, de certo modo, à margem dessa loucura guerreira.
Os primeiros sintomas do despertar do movimento operário francês, após a derrota da Comuna, manifestaram-se em 1876, ano em que se reuniu em Paris o Primeiro Congresso Sindical depois da guerra de 1870-71. Foi também em 1876 que Júlio Guesde (1846-1920) começou a escrever uma série de artigos socialistas no jornal Os Direitos do Homem. Nesse mesmo ano, ele fundou outro jornal, A Igualdade, e pôs-se em contacto com a social-democracia alemã, travando, mais tarde, relações com Marx e Engels. Paul Lafargue (1840-1913), genro de Marx, foi o seu principal colaborador. A volta dos comunardos do exílio e a libertação do velho Blanqui (1879) contribuíram, sem dúvida, para o despertar do movimento socialista. Mas causaram também a dispersão de suas forças. Em 1880-81, formou-se o Partido Operário Francês, cujo programa foi redigido por Guesde e Lafargue, com o auxílio de Marx. Em 1882, os elementos reformistas, dirigidos por Paulo Brousse e Benoit Malon desligaram-se do Partido Operário e fundaram uma organização independente. Os membros deste novo Partido receberam a denominação de “possibilistas”, porque pensavam que era possível libertar os operários por meio de reformas, ou seja, sem revolução. O Partido Possibilista viveu até 1889. Surgiram também, na mesma ocasião, a Federação Socialista Revolucionária, dirigida por João Allemane, o Partido Blanquista, dirigido por Eduardo Vaillant e uma organização de socialistas independentes com Millerand, Viviani, Briand, Augagneur, Jaurès. Nas eleições, os candidatos desses diferentes Partidos opunham-se uns aos outros, provocando assim a divisão e o desânimo nas fileiras dos eleitores socialistas. A falta de unidade, ao lado das velhas tradições proudhonianas e anarquistas, ainda forte nos meios operários, favoreceram o desenvolvimento da tendência antiparlamentar nas fileiras do proletariado revolucionário.
No começo do século XX, o movimento socialista francês encontravam-se em lamentável situação. As agitações provocadas pelo “caso Dreyfus” aumentaram ainda mais a desordem geral, no meio da qual somente Jaurès trabalhava em prol da unidade. O movimento continuou dividido até o Congresso de Amsterdam (1904). A resolução deste Congresso, que de certo modo se inspirou na do Congresso de Dresden do Partido Social-Democrata Alemão, realizado no ano anterior, marca o início da unificação das fileiras do movimento operário. Depois disto, os diferentes grupos juntaram-se e formaram um Partido Unificado que, graças ao grande talento oratório de Jaurès (1859-1914), logo adquiriu considerável importância na vida política do país.
A primeira consequência dessa fusão foi a expulsão de Millerand, de Viviani e de Briand, que não quiseram abandonar o ministerialismo, isto é, a participação dos socialistas em governos burgueses, formalmente interdita pela resolução do Congresso de Amsterdam. O Partido Socialista Unificado desde então progrediu rapidamente. Nas eleições de 1906, obteve 877.000 votos e 54 deputados; nas de 1910, cerca de 1.100.000 votos e 76 deputados; em 1914, 1.400.000 votos e 110 deputados. Depois veio a guerra. No dia 31 de Julho de 1914, Jaurès foi traiçoeiramente assassinado por um socialista. Os dirigentes socialistas Guesde e Sembat entraram para o governo e Vaillant entregou-se à agitação a favor da entrada da Itália na guerra ao lado da Entente. O Partido mostrou possuir fortes sentimentos nacionalistas. Mas, do ponto de vista teórico, o mais importante movimento do período compreendido entre 1892 e 1908 foi o “sindicalismo”. Os sindicatos, em França, foram organizações ilegais até 1884. Só depois de 1884 é que conseguiram viver legalmente e desenvolver-se. Em 1886, formou-se o Comitê Nacional dos Sindicatos, que se batia ao mesmo tempo por reivindicações econômicas e políticas. Esse Comitê realizou intensa agitação revolucionária. Aristides Briand nele desempenhou importante papel. Preconizou a greve geral como meio de libertação do proletariado. Como o Comitê Nacional — na opinião dos operários antiparlamentaristas e anarquistas — se ocupava excessivamente com a política, formou-se em 1892 a Federação das Bolsas de Trabalho, dirigida por um intelectual anarquista-comunista chamado Fernando Pelloutier. O verdadeiro fundador do sindicalismo foi Pelloutier. Mas essas duas organizações se aproximaram. Em 1896, surgiu a Confederação Geral do Trabalho, no seio da qual elas acabaram unindo-se em 1902. Por influência de Pelloutier, de Hubert Lagardelle e de Jorge Sorel, elaborou-se pouco a pouco a doutrina chamada sindicalista, que unia a ideia de luta de classes à concepção histórica de Marx, à filosofia de Bergson e às concepções anarquistas de Proudhon e Bakunine: supressão do trabalho assalariado, luta de classe, expropriação da classe capitalista por meio da “ação direta” e da greve geral, e controle da produção pelos sindicatos, a fim de abolir completamente o Estado.
A doutrina e a ação sindicalista foram combalidas por grande número de membros da C. G. T. Aliás os efetivos da C. G. T., antes da guerra, não iam além de uns 500.000 homens. Mas esse meio milhão de homens estava animado de grande entusiasmo e de enorme ardor combativo, desenvolvendo intensa atividade antimilitarista. A C. G. T. foi também perseguida pelos governos, particularmente pelos dirigidos por Clemenceau e por... Briand, seu antigo professor de greve geral... Mas, a partir de 1909, a atividade sindicalista declinou cada vez mais. Ao estalar a guerra de 1914, a maioria da C. G. T. pronunciou-se a favor da União Sagrada. Seu órgão, A Batalha, que até então defendera os princípios da luta de classe, começou a defender os interesses do imperialismo francês e a combater o imperialismo alemão. A luta entre Marx e os bakuninistas, no seio da Primeira Internacional, e a exclusão dos anarquistas da Segunda Internacional, foram aproveitados pela A Batalha como pretexto para exaltar as paixões nacionalistas e para apoiar a guerra contra a Alemanha. O professor Guillaume publicou na A Batalha uma série de artigos sob o título: Carlos Marx pangermanista. O anarquista holandês Domela de Nieuwenhuis, expulso da Segunda Internacional em 1896, na base das decisões do Congresso de Londres, publicou nesse jornal artigos germanófobos, defendendo a doutrina da “guerra até o fim”, dignos da pena de um redator da Action Française.
O movimento operário italiano surgiu em 1867, sob a influência da Associação Internacional dos Trabalhadores. Foram organizadas secções da Internacional em Milão, Florença, Gênova, Nápoles, Catânia. Quando, no seio da A. I. T. os partidários de Marx e os de Bakunine se separam, todas as secções italianas, sob a direção de Andrea Costa e de Carlos Caffiero, aderiram a tendência bakuninista. As autoridades sempre perseguiram as organizações operárias da Itália. Mas, pouco a pouco, o movimento operário afastou-se do anarquismo e aderiu ao marxismo. Em 1892, no Congresso de Gênova, as organizações operárias da Itália fundiram-se num Partido único que, no ano seguinte, no Congresso de Reggio, adotou o nome de Partido Socialista Italiano. Seus principais dirigentes eram Felipe Turati e Henrique Ferri. Daí por diante, o Partido, sua imprensa e sua literatura desenvolveram-se rapidamente. Nas eleições de 1892, o Partido obteve 26.000 votos e 6 mandatos; em 1897, 135.000 votos e 16 mandatos; em 1913, 883.000 votos e 52 mandatos. Estando ao mesmo tempo sujeito à influência alemã e à influência francesa, na direita do Partido surgiu uma ala revisionista e, na sua esquerda, uma ala anarco-sindicalista. A ala direita era dirigida por Bissolati, Bonomi, Canepa e a esquerda por Artur Labriola (filho do marxista Antônio Labriola), Leone, Orano. O centro estava sob a direção de Turati, Treves, Mussolini e Henrique Ferri.
A guerra contra a Tripolitânia, parte do prólogo da guerra mundial, exerceu influência notável na vida do Partido italiano. Foi inundado por uma onde de patriotismo. Mas, no congresso de Modena, em 1911, conseguiu restabelecer-se da enfermidade patriótica. Um ano mais tarde, os partidários da guerra, como Bissolati e Bonomi, eram expulsos do Partido. Esses acontecimentos foram extremamente úteis ao Partido por ocasião da guerra de 1914. Nesse momento, ele, por maioria, pronunciou-se a favor da neutralidade. Os intervencionistas foram expulsos. Entre eles, estava Benito Mussolini, que, arrastado pela vaga nacionalista, se tornou exaltado partidário da “guerra até o fim”. Mussolini iria ser, pouco depois, o fundador do movimento fascista, que se pôs ao serviço dos grandes indústrias e proprietários de terras.
O movimento socialista russo teve início por volta de 1880. Não foi, porém, o primeiro movimento revolucionário que surgiu no império dos czares. A luta contra o absolutismo czarista começou logo depois de findas as guerras napoleônicas. O ponto culminante dessa luta foi a insurreição dos decabristas (1826), dirigida por Pestel e Ryleiev, que foram executados. Logo depois, as ideias saint-simonianas e fourieristas invadiram a literatura russa.
O mais notável escritor revolucionário dessa época foi Alexandre Herzen, que começou a agir em Moscou. Bem cedo compreendeu que a luta contra o czarismo deveria coincidir com a luta pelo socialismo. Ele, aliás, preconizava um socialismo agrário bem confuso. Quase toda a sua atividade consagrou-se a publicação da revista Kolokol (O Sino), fundada em Londres em 1857, a qual penetrava clandestinamente na Rússia, onde exercia verdadeira fascinação sobre os espíritos. Na própria Rússia alguns “grupos” de intelectuais também se interessavam pelas questões sociais. Dostoievski fez parte de um desses grupos. Denunciados à polícia, Dostoievski e seus camaradas foram condenados à morte. Mas foram perdoados e exilados por muitos anos na Sibéria.
No fim dos anos 50, o escritor social Tchernichevski (1829-1889) e o critico literário Dobroliubov publicaram na revista O Contemporâneo uma série de artigos em que defendiam ideias democráticas. O primeiro foi preso em 1862. Depois de dois anos de prisão preventiva, durante os quais escreveu o seu célebre romance Que fazer?, foi condenado a sete anos de degredo. Nesta atmosfera de fermentação geral, pesadamente carregadas, das questões relacionadas com a libertação dos camponeses, (1861) é que se organizaram várias sociedades secretas, propondo-se dar ao povo terra e liberdade. Vem, depois, o período do “nihilismo”, assinalado por um vasto esforço de educação popular. Por intermédio de Bakunine, que substituíra Herzen na redação do Kolokol, as ideias da Primeira Internacional invadiram os meios estudantis da Rússia. Em 1873, o Capital, de Marx foi traduzido para o russo por Lopatine. O socialismo moderno na Rússia tinha como representantes vários escritores, dentre os quais o mais notável foi Lavrov. Nesse período, a indústria desenvolvia-se. Em 1870, estalaram grandes greves em S. Petersburgo. Os intelectuais socialistas, que até então haviam sobretudo procurado conquistar os camponeses, voltaram-se cada vez mais para o proletariado. Surgiram, assim, naturalmente, controvérsias em torno da importância socialista das comunidades rurais (mirs) e das cooperativas artesãs (artels). Alguns socialistas julgavam que a Rússia chegaria ao socialismo sem passar pela fase da industrialização e das lutas operárias. Poderia atingi-lo apoiando-se nas cooperativas camponesas. Outros, pelo contrário, afirmavam que o mir devia fatalmente desaparecer, e que a Rússia, como os demais países da Europa ocidental, deveria passar pela fase industrial para poder atingir o socialismo. Os primeiros eram os socialistas agrários. Para estes, os camponeses russos possuíam sentimentos socialistas inatos. Os outros, pelo contrário, voltavam-se cada vez mais para o proletariado, para reforçar a sua consciência de classe e a sua organização. Enquanto a propaganda feita junto aos camponeses não dava quase nenhum resultado, a que se fazia nos meios operários originou organizações clandestinas que, sob a direção de Plekhanov, Axelrod e Vera Zasulitch, rapidamente adquiriram uma feição socialista-marxista.
Além dessas tendências socialistas, agrária e proletária, surgiram, no decorrer dos anos próximos a 1870, várias organizações terroristas, dirigidas por estudantes e intelectuais, que se propunham intimidar ou mesmo, se possível, desorganizar o poder czarista por meio de atentados. As terríveis perseguições a que estavam expostas todas as organizações liberais, levaram grande número de revolucionários à convicção de que, sem a destruição completa do absolutismo e dos seus órgãos de opressão, a Rússia nunca poderia ser livre. Em 1876 aparece a organização revolucionária Terra e Liberdade, depois a temível Narodnaia Volia (A Vontade do Povo), dirigida por Cheliabov, Mikhailov e Sofia Perovskaia. Os seus membros suprimiram, por meio de atentados, um bom número de altos dignatários do czarismo e finalmente o próprio czar Alexandre II, morto no dia 1/13 de Março de 1881 por Hrynevietzki. A atividade da Narodnaia Volia exerce, realmente, uma ação desmoralizante sobre o aparelho do Estado czarista. Depois da morte de Alexandre II, reinou tal pânico nos meios governamentais que o Comitê Executivo da Narodnaia Volia poderia ter-se instalado no poder, se para isso estivesse em condições, pois os elementos liberais da Rússia acompanhavam o movimento com simpatia. Infelizmente, a organização não estava preparada para tal eventualidade. Seus dirigentes foram julgados e executados. Alexandre II foi sucedido no trono pelo czar Alexandre III, déspota cruel, que se deixou guiar em todos os atos pelo reacionário Pobiedonostzev.
No governo de Alexandre III (1881-1894) deu-se, na Rússia, uma transformação de grande importância na História do socialismo: os intelectuais, como guias do movimento revolucionário, passaram para o segundo plano, e o proletariado assumiu a missão, de transformar a Rússia. No Congresso da fundação da Segunda Internacional, realizado em Paris, em 1889, Plekhanov e Lavrov, que representavam o movimento operário russo, resumiram o seu informe da seguinte maneira: “Os intelectuais revolucionários russos foram incapazes de derrubar o czarismo, porque estavam separados do povo. O movimento revolucionário russo, ou triunfará como movimento operário, ou não triunfará”. Nos anos seguintes, a industrialização da Rússia continuou em ritmo bastante acelerado. Foi favorecida pelo emprego de capitais estrangeiros e pela política armamentista do governo czarista. No final do século, estalaram formidáveis greves em S. Petersburgo. Em 1848, as diferentes organizações operárias fundaram o Partido Social-Democrata Russo, que logo depois se dividia em duas tendências principais: bolcheviques e mencheviques. No Congresso de Londres, a fração dirigida por Lenine obteve a maioria (em russo bolchinstvo e a de Martov e Axelrod ficou em minoria (em russo menchistvo). Foram essas duas frações que deram origem aos Partidos que mais tarde receberam as denominações de Partido Menchevique e Partido Bolchevique. Durante a primeira revolução russa, que estalou depois da derrota infligida à Rússia pelo Japão, as duas frações uniram-se de novo, mas não por muito tempo. Os mencheviques eram, de modo geral, evolucionistas. Consideravam a Revolução como o termo final de um longo processo de desenvolvimento capitalista. Os bolcheviques, pelo contrário, consideravam a Revolução como um meio de precipitar a evolução. Na fração operária da Duma, os mencheviques estavam em maioria. Mas, nas organizações operárias, a maioria pertencia aos bolcheviques. Estes, além disso, mantinham no estrangeiro escolas para onde enviavam os operários revolucionários mais dotados.
Uma das melhores secções da social-democracia russa foi o Bund judeu, criado por volta de 1890, cujos adeptos eram, na maioria, judeus da Lituânia e da Polônia Até 1904, o Bund foi a vanguarda do movimento socialista russo.
Além do Partido Social-Democrata Russo, havia, desde 1901, um Partido Social-Revolucionário, que preconizava o socialismo agrário e o terrorismo individual. Nunca chegou a ser um movimento de massa. Seus membros possuíam fortes sentimentos nacionalistas e germanófobos.
No começo da guerra, o Partido Social-Revolucionário, o anarquista Kropotkine e o menchevique Plekhanox colocaram-se no terreno da defesa nacional; os bolcheviques e a maior parte dos mencheviques, pelo contrário, mantiveram-se fies aos princípios do internacionalismo.
A História do movimento socialista na Polônia, até perto de 1880, está indissoluvelmente ligada à do movimento socialista russo. Na Polônia, houve também um socialismo utópico, um socialismo agrário e um movimento terrorista. Vários dirigentes dos grupos de S. Petersburgo das organizações Terra e Liberdade e Narodnaia Volia, eram estudantes polacos de uma energia extraordinária. Os poloneses consideravam Hrynevietzki um dos seus. Em 1878, formou-se a organização polonesa Proletariado, no seio da qual Konnitski, antigo membro do Comitê Executivo da Narodnaia Volia, Ludwig Varynski, S. Mendelsohn e S. Dickstein destacaram-se, o primeiro pelo seu formidável talento de conspirador, e os demais por conhecerem profundamente o socialismo. A maior parte dos pioneiros desse movimento morreram no cadafalso, na prisão ou no exílio.
Pouco a pouco, entretanto, o movimento abandonou o ponto de vista internacionalista e tornou-se puramente nacional. Em 1892, surgiu o Partido Socialista Polonês, que, cada vez mais, fundiu a libertação da Polônia e a reforma social num ideal único. O P. S. P. tornou-se, logo, o campeão da ideia nacional entre as massas e entrou em conflito com o movimento socialista russo e alemão. Acreditava poder aproveitar-se da guerra para libertar a Polônia, primeiro do jugo da Rússia, e depois do domínio da Alemanha e da Áustria. Foi de suas fileiras que saíram os Daszinski e os Pilsudski, que criaram a Legião polonesa e preconizaram a guerra até o fim.
Rosa Luxemburgo cedo empreendeu a luta contra o Partido Socialista Polonês. Para combater os “social-patriotas” — era assim que ela chamava os dirigentes desse Partido — fundou em 1893 o Partido Social-Democrata da Polônia. Mas só conseguiu cindir a ala esquerda do P. S. P., (1906) que se tornou um Partido independente. Durante a guerra, este Partido uniu-se ao Partido Social-Democrata, com o qual, finalmente, passou para o comunismo.
O movimento socialista americano data de meados do século XIX. Foi iniciado pelos comunistas alemães que tinham abandonado seu país de origem depois do fracasso da Revolução alemã de 1848-49. Excetuando
Weitling, que ocupa uma posição intermediaria entre o socialismo utópico e o socialismo científico, os pioneiros do movimento socialista, na América, eram, na maioria, amigos e partidários de Carlos Marx: José Weydemeyer, Hermann Meyer, F. A. Sorge, José Dietzgen.
A fundação de uma secção americana da Primeira Internacional contribuiu bastante para a difusão das ideias socialistas nos Estados Unidos. Em 1877, surgiu a Gazela Popular de New York. No mesmo ano, fundava-se o Socialist Labour Party (Partido Operário Socialista). Este movimento foi reforçado pela imigração alemã, provocada pela lei de exceção contra os socialistas, promulgada na Alemanha, em 1878. Esta lei trouxe para a América grande número de elementos anarquistas e lassallianos. O infatigável João Most, que, desde o final dos anos 60, trabalhava pela causa da Revolução na Áustria, na Alemanha e na Inglaterra, foi também para os Estados Unidos, onde propagou suas ideias anarco-terroristas. Em 1886, por ocasião de uma greve, houve em Chicago uma grande manifestação operária e vários atentados que motivaram a prisão dos comunistas Augusto Spies, A. R. Parsons, Luis Lingg, Jorge Engel, Samuel Fielden, Adolfo Fischer, Oscar Neebe e Michael Schwab. Spies, Parsons, Fischer e Engel foram executados no dia 11 de Novembro de 1887. Lingg, na véspera da execução, suicidou-se.
Os anos de 1886 e de 1887 caracterizam-se pela agitação de Henrique George em prol da reforma agrária e pela publicação do livro de Bellamy intitulado: No ano 2.000. A agitação de George, que começara em 1879 com a publicação de seu livro Progresso e Pobreza, ecoou profundamente na Grã-Bretanha. O livro de Bellamy, traduzido para todas as línguas, exerceu em toda a parte grande influência sobre os pensadores socialistas. Nesse livro, Bellamy descreve as maravilhas da técnica moderna, colocada a serviço da economia socialista.
No decorrer dos anos 80, alguns elementos americanos aderiram ao Labour Party, entre os quais, Daniel De Leon, professor da Universidade de Nova York e o escritor Lucio Samal. Um e outro eram marxistas intransigentes, adversários de qualquer compromisso. Mas De Leon, em vez de deixar que os socialistas trabalhassem no movimento sindical geral, quis erradamente criar um movimento sindical socialista independente. E, em oposição à American Federation of Labour (Federação Americana do Trabalho), fundou a Socialist Trade and Labour Alliance, tendo por finalidade orientar o movimento sindical pelo caminho do socialismo e substituir os sindicatos profissionais por sindicatos de indústria. Os dirigentes sindicais americanos aproveitaram-se da agitação de De Leon para fazer os operários acreditarem que os socialistas eram adversários dos sindicatos. A maioria dos elementos alemães do Socialist Labour Party opunham-se, aliás, a tática de De Leon e defenderam seu ponto de vista na Gazeta Popular de Nova York, enquanto De Leon defendia o seu na revista intitulada O povo. Afinal verificou-se a cisão. A oposição abandonou o Socialist Labour Party e fundou, em 1901, o Socialist Party of América, que se desenvolveu rapidamente até 1920, enquanto o Social Labour Party permanecia estacionário. Nas eleições para a presidência, os dois partidos obtiveram as seguintes votações:
Anos | S.L.P. | S.P.A. |
1908 | 13.824 | 420.713 |
1912 | 29.259 | 897.011 |
1920 | 31.175 | 915.412 |
De 1903 a 1905, apareceu nos Estados Unidos um forte movimento sindicalista. Esse movimento surgiu em primeiro lugar no Sindicato dos Cervejeiros. Em 1905, De Leon e seus amigos fundaram os Industrial Workers of the World (I. W. W.), organização sindical de luta de classe, que não rejeitava a ação parlamentar, mas colocava em primeiro plano a ação econômica. A organização pouco depois cindia-se, porque parte dos I. W. W. considerava reacionaria qualquer ação parlamentar. A outra fracção, que se conservou fiel ao programa de De Leon, intitulou-se Workers Internacional Union.
Durante a guerra, os membros da I. W. W. foram violentamente perseguidos pelas autoridades americanas. Em Setembro de 1917, 95 deles foram presos e condenados a muitos anos de prisão.