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Fonte: Arquivo Vania Bambirra - https://www.ufrgs.br/vaniabambirra/ - Datilog. S/d.
HTML: Fernando Araújo.
Todas as ideologias têm seus pressupostos básicos os quais buscam justificá-las. Assim, o fundamento essencial do liberalismo é que todo homem deve ser livre. Enquanto princípio, tal postulação parece justa, mas constatamos que sua efetividade social dentro do sistema capitalista é muito relativa. O que é liberdade? É o direito que cada um tem de optar por suas condições existenciais? É o direito que cada um tem de optar por suas condições existenciais? Em caso afirmativo como se concretizam tais opções? Um mendigo é mendigo porque o quis ser? Um marginal é marginal consciente e consequentemente? E um banqueiro? É banqueiro por um mero esforço empreendedor de sua vontade?
Não podemos, como estudantes de sociologia que somos, cairmos em tal voluntarismo estéril que nos veda a compreensão dos fenômenos sociais, porque “o homem faz sua própria história, mas não a faz segundo o desejo de sua iniciativa nem nas condições livremente escolhidas por ele; está obrigado a utilizar as circunstâncias do momento, tal como as encontra”.
Na sociedade de classes, o papel que cada um dos homens irá desempenhar está determinado, de modo geral, antes de seu nascimento, e suas opções vitais são limitadas de acordo com a condição social a que pertença. Porque, “não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência”. Mas o homem produto é também produtor – e por isso cada indivíduo é responsável diante da história – mas produtor a partir de tudo aquilo que o produziu. A consciência do ser do homem é a consciência do ser social. Portanto, cada pessoa cria somente aquilo que suas circunstâncias existenciais lhe permitem criar. Assim, a própria maneira de cada um ser condicionante lhe é possibilitada pela maneira pela qual é condicionado.
O fundamental do liberalismo é pois abstrato, sem nenhuma efetividade social. As Constituições Liberais pretendem assegurar aos indivíduos o direito à vida, à liberdade, à propriedade, a igualdade perante a lei, etc., etc. Ora, para se viver é preciso ter condições mínimas ou seja, comida, casa, emprego, etc. Na medida em que o Estado liberalista não cria condições para satisfazer essas necessidades básicas de todos, ele de fato deixa que proliferem condições contrárias à existência. Temos a miséria, o analfabetismo, o desemprego. Porque, o que a Constituição Liberalista dá numa linha, retira em outra. Assim, o direito à propriedade privada legaliza a exploração do homem pelo homem, a divisão da sociedade em classes. Quando a Constituição diz: não há distinção entre ricos e pobres, não se admite privilégios, nem distinção de nascimento, classe social, sexo, raça, riqueza, crença religiosa ou ideias políticas… está admitindo que haja ricos e pobres portanto privilegiados e explorados, classes sociais, ideias políticas divergentes, etc. Então a distinção existe reconhecida constitucionalmente. Que não haja distinção só diante da lei, que importa???
Nós compreendemos tudo isso porque tivemos condições de [ilegível].(1) Na medida que nossa compreensão aumenta, aumenta a nossa responsabilidade, porque sabemos que com ela podemos alterar a sociedade [ilegível].(2) Esta alteração é um processo total que deve buscar sim a liberdade do homem, liberdade essa que só se atingirá através da igualdade social, isto é, quando não tiverem mais ricos e pobres, empresários e operários, analfabetos e sábios, quando todos tiverem os mesmos direitos, não só iguais, mas reais.
Notas de rodapé:
(1) Nota do Memorial-Arquivo Vania Bambirra: palavra ilegível no original. (retornar ao texto)
(2) Nota do Memorial-Arquivo Vania Bambirra: palavra ilegível no original. (retornar ao texto)