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Dias antes, durante um congresso em que participei na cidade de Frankfurt (Oder), visitei a primeira cidade socialista da RDA — Eisenhutten-Stadt — a cidade da siderurgia. Por decisão do Terceiro Congresso do PSU, em 18 de Agosto de 1950, sétimo aniversário do assassinato de Ernst Thàlmann, começou a construir-se, numa das mais áridas e desoladas zonas do distrito de Frankfurt, o grande combinado siderúrgico e, paralelamente, a nova cidade dos seus trabalhadores e construtores.
Este é um dos maravilhosos exemplos da integração socialista, essa força de entreajuda e solidariedade do mundo socialista que é a grande alavanca do progresso e cujo papel no futuro será decisivo para uma transformação que apenas se adivinha das sociedades humanas e da essência do próprio homem.
Aqui, numa extensão que mal se determina no nosso horizonte visual, 6 grandes altos fornos se erguem, como figuras mitológicas na paisagem de arabescos férreos. Ali se produz o ferro, a partir do minério soviético e do coque polaco. Também com a ajuda da União Soviética se construiu uma laminagem a frio com matérias-primas vindas da URSS.
A construção deste combinado na margem do Oder teve dois fins em vista: ajudar o desenvolvimento de uma região muito atrasada e facilitar a cooperação com a Polónia e a União Soviética.
Os altos fornos produzem presentemente 1,8 milhões de lingotes de ferro. Paralelamente instalou-se uma central térmica que é utilizada para a cidade de Frankfurt.
Há laminagem a quente e a frio.
O combinado é formado por 7 grandes fábricas, onde trabalham 22 000 operários. Em 8 de Outubro de 1974, o plano para aquele ano estava totalmente cumprido e iniciava-se a produção para o ano de 1975.
Na metalurgia, a percentagem de mulheres é de 32%; de jovens a partir dos 18 anos é de 20%.
Para entrarmos na grande fábrica de laminagem a frio, percorremos um túnel com mais de 200 metros de comprido. Há dois destes túneis com saídas laterais para as muitas secções fabris. Os túneis, espaçosos, arejados e profusamente iluminados, sem ruídos, foram construídos unicamente para benefício dos operários. Para que nas entradas e saídas dos seus locais de trabalho não tivessem de fazer grandes percursos através das várjas secções fabris.
Aqui, como em todos os grandes centros industriais, como nos de menor dimensão, a situação dos operários é igual, quanto a salários, segurança, férias, serviços sociais, actividades culturais e desportivas.
Uma grande escola técnica prepara operários especializados — 1000 alunos.
As medidas quanto à protecção do ambiente são as adequadas. Os acidentes de trabalho em 1974 foram 430, nenhum deles com mais de três a quatro dias de retenção em casa.
A situação dos operários polacos é idêntica à que vimos no combinado de Guben.
A cidade que nasceu, paralelamente ao grande combinado siderúrgico, tem hoje cerca de 55 000 habitantes — uma bela cidade, inteiramente moderna onde o ritmo de construção continua à medida que ela cresce e se desenvolve e onde os trabalhadores da cidade socialista podem viver como homens duplamente livres.
Este distrito de Frankfurt, que vai das margens do Oder até às proximidades de Berlim, foi centro do despotismo prussiano, uma das regiões mais atrasadas do território da RDA, onde, como vimos, as tropas do Exército Vermelho fizeram a grande arrancada, por Seelow, até à conquista de Berlim, e derrota final do nazismo e pode ser mostrado como um índice da obra realizada, através do socialismo, pela classe operária e os camponeses, dirigidas superiormente pelo Partido Socialista Unificado. É também um exemplo impressionante das vantagens da integração socialista. E mais ainda: a demonstração do que significa a fraternidade entre os povos e a defesa intransigente de uma política de paz.
Frankfurt é conhecida como a cidade da Amizade, amizade fraterna entre a nova Alemanha e a Polónia, justamente no Oder, linha fronteiriça fixada em Potsdam.
Há 3 anos que foram abolidos os vistos entre os dois países e que a passagem é livre.
Milhares e milhares de polacos trabalham nos vários ramos de actividade da RDA, em comunidade com os seus camaradas alemães.
Frankfurt, uma cidade moderna de 70 000 habitantes, em pleno desenvolvimento, com os bairros modernos, os grandes edifícios, onde se instalam as organizações administrativas e culturais.
Um grande entroncamento ferroviário — comboios de viajantes e mercadorias, num ritmo intenso. Pela observação dessas mercadorias se pode fazer uma ideia da integração socialista. Da União Soviética passam centrais eléctricas inteiras, laminadoras, máquinas várias, camiões, matérias-primas, como minério, aço e madeira. Da Polónia chegam máquinas para a, construção civil e as estradas, hulha e coque. Da RDA para lá atravessam a fronteira máquinas, instrumentos, equipamentos, gruas, escavadoras, máquinas agrícolas e muitos outros produtos.
No campo da agricultura, encontrámos no distrito de Frankfurt realizações extraordinárias — em Wriezen, pequena localidade quase totalmente destruída em 1945, agora completamente reconstruída, existe um dos maiores centros de criação de patos e perus. Nos campos de Augermunde, cooperativas e comunidades agrícolas altamente mecanizadas com tractores soviéticos K700, transformaram completamente o valor económico da região. Em Schwedt, em Maio de 1945, restavam 26 habitantes. Em 1972, tinha 35 000 habitantes e exportavam 2000 toneladas de tabaco por ano. Em Ebaswalde, construiu-se a maior «fábrica de costoletas da RDA» Em 1973 produziu 13 400 toneladas de carne. O combinado de Bernau produz 300 000 ovos por dia.
Na indústria, temos na cidade grandes fábricas de electrónica, onde se produzem os transistores, etc. Em Oderberg, estaleiros navais fabricam os grandes painéis de escotilha com que são equipados os cargueiros do alto mar.
Em Schwedt passa o pipeline «Amizade» que aumenta de ano para ano. O petróleo é levado para o combinado petroquímico que o transforma em gasolina, diesel, betumes, óleos, matérias-primas para a indústria de fibras e muitos outros produtos. Também aqui estão grandes fábricas de papel e de cartão. As fábricas de papel e celulose de Schwedt fazem parte de todas as novas grandes empresas edificadas aqui.
Em Eberswald/Finow fabricam-se as gruas de alta potência que são exportadas para muitos países. Só em 1973 enviaram para a União Soviética 1000 gruas tipo «Albatroz».
Também aqui estão instaladas as empresas que fabricam tubos de precisão e perfis para construções metálicas ligeiras e, em todas as dimensões, para equipamento de centrais eléctricas, empresas de indústria química e metalúrgica.
Em Rudersdorf, onde há 800 anos os monges de Cister construíram os primeiros fornos de cal, está hoje instalada uma das maiores empresas de materiais de construção da RDA
Em Furstenwalde, existe a fábrica-mãe do grande combinado de pneus que fornece para todo o país os pneus de avião, de autocarros, de camiões, de tractores e de reboques e em 1973 inauguraram-se os primeiros edifícios de uma nova fábrica de pneus radiais.
Também aqui estão as fábricas de desidratação do gás natural, conhecidas mundialmente.
O caminho percorrido em menos de um quarto de século ultrapassa, por vezes, a nossa capacidade de entendimento. E o mais importante e não pode ser esquecido é que este desenvolvimento industrial fulgurante não é um fenómeno isolado do contexto social a que está ligado. No mesmo ritmo se desenvolvem o ensino, a assistência, a actividade cultural, social e desportiva e o aumento constante da melhoria da vida, do bem-estar de todos.
Frankfurt é o exemplo escolhido ao acaso. Mas podemos procurar outro qualquer dos quinze distritos que formam a R. D. A, e o panorama é o mesmo, o espectáculo continua impressionante, empolgante mesmo, em toda a parte.
★★★
Em Dresden visitei uma fábrica da grande empresa Pentakon. Neste combinado trabalham 8000 pessoas, 65% das quais são mulheres. Sou recebido por 5 mulheres e 1 homem, todos trabalhadores dali. Produzem sobretudo aparelhos fotográficos do sistema «Reflex». Também se dedicam à técnica do microfilme.
Têm duas tarefas muito importantes a cumprir: 1.° De acordo com o VIII Congresso, fornecerem à população aparelhos de alta precisão que também servem para trabalhos científicos; 2.° Em cooperação com a União Soviética e a Checoslováquia, fornecerem aparelhos fotográficos aos países socialistas assim como aparelhos para os centros de pesquisa da investigação.
Hoje, as mulheres da RDA trabalham em pé de igualdade
com os seus colegas. Sendo especialistas qualificadas, gozam do respeito e reconhecimento tanto na esfera do trabalho como na vida social |
O combinado é formado por 5 fábricas. Aqui é a fábrica mãe. Há mais mulheres que homens porque é um tipo de trabalho especialmente indicado para as mulheres. Já no tempo do capitalismo a mão-de-obra feminina era preferida. Mas por outras razões, visto o salário ser mais baixo nesse tempo.
Nas cadeias de montagem há operárias especializadas e outras altamente especializadas.
A uma pergunta minha sobre a protecção no trabalho, uma operária responde-me: Nós temos uma legislação muito rigorosa sobre protecção no trabalho e há uma inspecção constante nos locais onde o trabalho pode ser perigoso para a saúde. É feita principalmente nas cadeias de montagem onde se trabalha com produtos químicos corrosivos. Os órgãos estatais encarregados da vigilância sobre protecção no trabalho exercem-na de acordo com os órgãos sindicais da «Inspecção da Protecção no Trabalho» que existem em todas as fábricas.
Promovem todos os meses reuniões para estudar as medidas e controlar os problemas da protecção no trabalho. Além disto, os seus delegados exercem uma vigilância constante nos locais de trabalho que lhes são consignados, informando-se directamente junto dos contra-mestres e operários.
Uma outra operária acrescenta: Há certos locais de trabalho onde as operárias têm que montar peças pretas. Para evitar a fadiga ocular e outros perigos, cada operária só pode trabalhar em períodos de 2 horas, repousando em seguida. Além disso, procura-se que o local de trabalho tenha um ambiente agradável para que as operárias não estejam sempre com os olhos fixados sobre peças pretas e possam repetidamente ter em frente de si cores e formas agradáveis.
O único homem ali presente diz-nos que as oficinas não são montadas nem estudadas apenas por técnicos, mas também por médicos e sociólogos, para, em conjunto, resolverem melhor os problemas de protecção ao trabalho.
Além disto, as operárias mais jovens são submetidas periodicamente a um exame oftalmológico, ainda mais rigoroso e feito por especialistas.
Quanto à idade mínima para o trabalho, informaram-me que normalmente se sai da 10.ª classe com 16 anos, podendo então estudar nos combinados fabris como aprendizes. Em casos muito especiais, aqueles que saem com a 8 a classe sem concluírem a 10.ª, podem começar a sua aprendizagem.
Também me dizem que para a juventude escolar, a fim de que aprenda a respeitar o trabalho material, há semanalmente uma sessão chamada «dia da produção» em que a juventude vai trabalhar para as fábricas e outros empregos.
No entanto, nunca com menos de 14 anos.
A partir dos 14 anos, durante as férias, a juventude pode trabalhar, mas sujeita primeiro a um exame médico cuidadoso, feito para tal fim, e com uma autorização escrita pelos pais e pela direcção da escola.
Mesmo assim, só pode trabalhar durante duas semanas por ano e sempre no turno do dia.
Pedi depois a cada uma delas que me dissesse o que fazia, quanto ganhava, se era casada, se tinha filhos, quanto pagava de renda de casa, etc.
Gudrunam Eisrrrann é muito jovem; diz-me: «Sou filha de operários, estudei os 10 anos, depois entrei para um curso de aprendizagem nesta fábrica que durou 3 anos e agora vou obter o meu diploma profissional de mecânica de precisão e uma bolsa para a Universidade, onde me vou matricular no curso de Economia».
Fez a aprendizagem na escola da fábrica. No 1.° e 2.° ano há quatro dias semanais dedicados às aulas teóricas e um à prática. No terceiro ano, há três dias de aulas teóricas e dois de práticas.
Diz-me que em toda a República os aprendizes ganham 100 marcos por mês no 1.° ano e 150 no 2.° e 3.°.
Doris Kraft diz-me que era cozinheira de profissão. «Há catorze anos resolvi entrar para esta fábrica como operária indiferenciada. Nessa altura, a respeito de mecânica só sabia da existência da chave de parafusos, e mal. Depois de cinco anos de trabalho, pude entrar para um curso especial de operárias mais velhas e, ao fim de um ano, recebi o meu diploma de mecânica.
Actualmente as camaradas mais jovens têm mais possibilidades do que eu tive, mas a verdade é que há vinte anos não me passaria pela cabeça ser hoje operária mecânica especializada.
Entre nós, em todo o país, temos dois sistemas de instrução profissional — um é a escola; outro é a academia, onde um curso se destina à obtenção da carteira profissional e outro à reciclagem. A nossa Academia prepara por ano 2000 operários.(5)
Actualmente, 70% dos nossos operários têm carteira profissional e 30% estão em vias de a obter. Neste último número não se trata, no entanto, de operários não qualificados, mas sim de indivíduos que tinham aprendido outra profissão ou especialidade e que agora, por razões diversas, querem mudar. A frequência da escola é gratuita. Em especial para atender à condição das operárias mães de família, a preparação profissional é feita, em grande parte, durante as horas de trabalho, sem que o salário seja diminuído».
Não é casada, nem tem filhos.
«Além do curso de mecânica de precisão, temos o IBM (o curso correspondente). Trabalho no depósito de material e ganho 630 marcos por mês. Tenho um apartamento velho com duas divisões. Pago 20 marcos por mês. Não é muito bom, mas sinto-me ali bem. Exerço o lugar de suplente na secção feminina do sindicato.»
Ruth Grimm — a encarregada da parte cultural.
«Sou casada. Tenho uma filha de dezoito anos que está a terminar a sua aprendizagem como carpinteira de palco. O meu marido trabalha numa empresa em Dresden. Ganho 800 marcos por mês e ele 1000. Vivemos num apartamento velho com 3 quartos, cozinha e quarto de banho. Sem aquecimento central. Pagamos 68 marcos por mês.»
Uma outra diz que tem dois filhos: um com 20 e outro com 17 anos. Fez a aprendizagem e admissão à Universidade. O marido é motorista de pesados num combinado de transportes. Está pouco em casa. Ela ganha 600 marcos, mais que o marido, que não tem carteira profissional, mas como ele faz horas extraordinárias ganha a média de 800 marcos.
A filha mais velha tirou a carteira profissional como economista numa fábrica de precisão. Paga de casa — num apartamento antigo com 3 quartos, cozinha e quarto de banho — 43 marcos por mês. Sem aquecimento central.
Outra diz-me:
«Não tenho filhos. O meu marido é director de economia num combinado de Dresden. Temos um apartamento com 2 quartos, cozinha e casa de banho, sem aquecimento central. Pagamos 77 marcos por mês. Eu ganho 1200 marcos por mês e o meu marido 1900. Podíamos ter uma casa nossa, mas sentimo-nos bem onde estamos. Temos automóvel. Conheci o meu marido na Universidade, em Dresden, onde ambos estudávamos. Faço os trabalhos de casa e o meu marido ajuda-me, como todos os homens fazem. Além disso, ele, como os outros moradores, trata da limpeza da rua e retira a neve quando a há. Esqueci-me de dizer que, entre os dois, pagamos 240 marcos por mês de seguro complementar e 15% de imposto.»
Quanto às actividades culturais da fábrica, dizem-me que fazem contratos com teatros, óperas, orquestras de Dresden para a ida ali frequente dos operários, organizam excursões, bailes, etc.
Operárias do combinado de porcelana, propriedade do povo de Kahla |
Na fábrica, têm um clube com vários grupos de danças regionais, um coro infantil, um coro de adultos, um coral de alpinistas, um grupo de teatro político, um grupo de cinema amador, de desenho e pintura e outro de fotografia.
Têm um curso de preparação técnica de cinema.
A biblioteca tem 10 000 volumes.
Quanto a desporto, há um clube nesta fábrica que se dedica a 14 modalidades. Principalmente desportos aquáticos — remo e canoa. Andebol e atletismo. São muito fortes em saltos e corrida. Têm tido bons resultados em campeonatos nacionais e internacionais.
Têm um grupo de surdos.
Espantei-me: porquê surdos? Explicaram-me que em Dresden há uma escola nacional para preparação de crianças surdas e muitos desses jovens trabalham na fábrica em mecânica de precisão. Há para isso uma oficina de aprendizagem especial. A natureza dos trabalhos da fábrica permite a sua utilização. Fazem ginástica de pausa, 10 minutos por cada 2 horas de trabalho.
Comemos na cantina um belíssimo almoço num ambiente de restaurante self-service, agradável e bastante confortável.
Notas de rodapé:
(5) Estas academias de empresa — Betriebsakaidemien — são instituições radicadas nas fábricas para facilitar a formação profissional e também para que a classe trabalhadora, fora das vias normais de educação, tenha acesso à cultura e à preparação, evitando qualquer possibilidade de surto elitista. (retornar ao texto)
Inclusão | 16/02/2015 |