Contra o Pacifismo

Frederico

1934


Primeira Edição: Frederico, Luta de Classe, ano 4, n.º, 1934

Fonte: http://www.ler-qi.org/ - Na Contracorrente da História. Documentos da Liga Comunista Internacionalista 1930 – 1933. Fúlvio Abramo e Dainis Karepovs (orgs.)

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


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“O único caminho para a libertação para os horrores da guerra ensina Lenine — está na luta revolucionária pelo socialismo”.

Essa fórmula, que sintetiza a maneira marxista de encarar o problema, indica duas coisas: 1 que, não é possível existir capitalismo sem guerra; 2, que a luta contra a guerra, está implícita na luta revolucionária pelo socialismo, e não fora dessa luta. Lenine diz muito claramente:...“está”. Isso significa que toda tentativa de combater a guerra abstratamente (isto é sem a condenação do roguismo [briguento, belicoso] capitalista) ou separadamente (isto é, isolando as duas coisas: guerra e capitalismo), não passa de utopia contra-revolucionária, do pacifismo.

Nunca se teve notícia do que antes da morte de Lenine, existissem comitês anti-guerreiros fundados por marxistas. Os que atualmente surgem em vários países são criações inteiramente novas, brotadas do cérebro de Stalin ou postas em práticas, não por comunistas, não por discípulos de Marx ou de Lenine, mas precisamente pelos que traíram, em todos os setores, a revolução proletária mundial.

Que diferença existe, objetivamente, si não em substância, entre os pacifista dos comitês anti-guerreiros ou as matronas da Ligas da Senhoras Católicas, quando entoam o seu glória a Deus e paz na terra aos homens de boa vontade? Que afinal, os distingues dos patriotas vulgares, si todos bem poderiam formar um coro e cantar os versos da “Canção do Soldado”, com a música do “socialismo num só país”, executada por Stalin, no órgão pontificial, em seus aposentos no kremlin:

“A paz queremos com fervor 
A guerra nos causa dor”...

Quando a burguesia mundial só vê diante de si os “remédios heróicos”, quando o capitalismo que é sua razão de ser, vai passar por essa reação orgânica imperiosa, por esse “parto laborioso” que é a guerra o que, muito provavelmente, lhe ocasionará a morte, — não representa uma “consolação moral” o fato de haver quem lhe dê uma vaga esperança de paz? Grávida das contradições inerentes no seu desenvolvimento como classe social, não existe medicina política capaz de poupar a burguesia por esse período de crise violenta, do extremo aguçamento dos seus males orgânicos, de uma elevada tensão de todas as suas forças, — período através do qual ela deverá passar a um novo ciclo de desenvolvimento, mas também poderá (o que é mais provável quando se trata de um sistema social em decadência) perecer no caminho, dando lugar a uma nova forma superior de sociedade.

Mais do que todos os anti-guerreiros reunidos, é a própria burguesia quem deseja, sinceramente viver em paz. A sociedade das nações não é uma expressão da hipocrisia, como afirmam os stalinistas, mas da sinceridade: tão sincera em seu “amor” como o pacifismo mais santificado, mais stalinizado. Se, apesar disso, as nações dessa utópica sociedade vão afogar-se em sangue daqui a pouco, isso se deve, única e exclusivamente, a existência de certas leis a cuja ação não podem fugir: são as leis do determinismo histórico. A burguesia marcha conscientemente para a guerra, como o enfermo que, não podendo fugir a uma intervenção cirúrgica, entra conscientemente na sala de operações. Em ambos os casos, o que existe apenas, é um desejo sempre sincero, de fugir ao inevitável, porque é a vida o que se procura, mas o perigo do morto, também, nunca foi tão ameaçador.

Por conseguinte, se a guerra imperialista se desencadeia, a receita política revolucionária não deve ser a prescrição do seu contrário – a paz, mas do seu semelhante – a guerra civil. Será pela vacina da guerra civil proletária que as guerras imperialistas deixarão de existir, levando consigo o regime capitalista . Similia similibus curantur, os semelhantes são curados pelos semelhantes.

“Em particular — escreveu Lenine na resolução dos bolcheviques na conferência de Berna, em 29 de março de 1915, a idéia da possibilidade de uma paz democrática sem uma série de revoluções é profundamente errônea”. Eis o que esqueceram ou fingem esquecer os Srs. Stalinistas, sentimentalmente, ou por ignorância, ou por miséria de inteligência, ou ainda – o que é o mais provável — por safadeza consciente, os pacifistas, ajoelhados em nome de um deus ou de um papa (Pio XI ou Stalin), continuam a bradar: “paz, paz” E nos intervalos, lambem as botas dos bandidos imperialistas.


Inclusão: 22/03/2020